quarta-feira, 30 de junho de 2010

E dr., como vai ser o parto?

Tenho lido que várias pesquisas brasileiras indicam que um dos maiores problemas relacionados à assistência ao parto e nascimento é a comunicação entre médico e parturiente. Mas, no caso de quem não pariu no SUS, a interação começa na gravidez, e é uma relação que rende um caldo de considerações...
Sobre o que conversamos com o médico durante o pré-natal?
Vitaminas, alimentação, pressão arterial, e todo aquele universo mágico do desenvolvimento do filhote na barriga. Misteriosa e esotérica imagem ultrassonográfica! Cria linda e amada...
“- Mas, dr. e como vai ser o parto? - Ainda é muito cedo, sobre isso conversaremos mais adiante!”.
Quem nunca levou esta, levanta o mouse, por favor!
Passam alguns meses, queremos falar do assunto, sempre, por motivos óbvios.
A sensação é que, de fato, há uma indisposição para o assunto. Os olhos que brilham ao falar que a fisiologia do nosso corpo está funcionando suficientemente bem mudam imediatamente quando a pergunta corta o ar. O dr. encosta-se na poltrona e de lá responde sobre a dinâmica da internação, do expulsivo, da episiotomia, economizando palavras.
A impressão que dá é que somos tolas, o dr. não dedica importância para estes nossos anseios (e nestas horas, ainda bem que existem as amigas das listas de discussão, os blogs e sites com quem dialogar).
Mas, voltando ao pré-natal, é melhor pensar em outros termos. Temos que insistir na conversa sobre o parto, mesmo que rapidamente, em toda consulta. Insistir na conversa que queremos. Temos que ser exigentes de nossos direitos. Infelizmente, eles não são auto-exercidos.
A internet é nossa ferramenta de transformação, quantas de nós começamos nossas buscas no Google. Mas, o padrão da consulta pré-natal (e no caso deste texto, no sistema de saúde privado) também tem que ser transformado. E você que leu este post pode ser responsável por uma mudança.
Para finalizar, só porque eu comecei falando destas pesquisas que tenho lido, compartilho que os outros grandes problemas da assistência ao parto são as experiências de parto anterior (maioria que teve primeira cesárea, tem segunda; e também, maioria que teve primeiro parto normal, tem PN de novo), falta de informação e medo. São pesquisas qualitativas, realizadas nos últimos 10 anos, tanto em instituições públicas como privadas, de várias partes do Brasil.
Ilustração de Bruno Nunes.

domingo, 27 de junho de 2010

Mamãe eu quero

Eu também! Pedida de boa leitura com certeza deve ser o livro Mamãe eu quero, de Sonia Hirsch, sobre alimentação infantil com um guia prático que informa qual a melhor maneira de alimentar um bebê depois do sexto mês, quando iniciamos a introdução de novos alimentos, que antes (deveria ser!) era privilégio do leite materno. Confira um trecho:

a

ntes de mais nada: leite, só de mãe. Todo animal mamífero mama no peito até poder alimentar-se sozinho, mas é no peito de sua própria mãe. As histórias de Rômulo e Remo, amamentados por uma loba, e de Tarzan, criado por uma macaca, e de Mowgli, criado também por uma loba, são meras exceções que confirmam a regra: leite, só de mãe.

Leite é sangue que deixa de correr pelo umbigo e sai pelo bico do seio. Até do masculino, afirmam as Amigas do Peito, se for bem sugado: a glândula desperta. As mães-de-leite que o digam, se é que ainda existem, criando no peito o filho dos outros – que passava a ser seu, com seu sangue circulando pelas veias.

E na boca a criança começa a aprender. Tem que puxar, tem que querer, às vezes chora de tão difícil que é no comecinho. Para a mãe às vezes também é difícil, encontrar a melhor posição às vezes leva uns dias, às vezes cansa. Mas sempre acabam se ajeitando. Da boca do neném o leite desce para o estômago, de lá para os intestinos, ativando no corpinho tudo aquilo que está pronto a funcionar. Devagar, devagarinho, deixando o tempo passar...SONIA HIRSCH.

sábado, 26 de junho de 2010

Chupeta: eis a questão

O acessório infantil desperta muitas controvérsias, de um lado profissionais, como pediatras e dentistas, do outro mães desesperadas por um pouco de sossego (e silêncio!). Costumo brincar que chupeta é para acalmar a mãe, e não o bebê, que com um pouco de colo e paciência logo para com o choro, mas quem atire a primeira pedra e nunca errou nesse aprendizado (diário) que é a maternidade. Me recordo que antes mesmo de Ícaro nascer, meu primogênito, já tinha uma coleção "fofíssima" de chupetas, com estampas para combinar com todo tipo de traje, o duro foi convencê-lo de deixar ela de lado, já com seus quase quatro anos! Com Rudá, o caçula que está com 10 meses (e dois dentes!), nem titubiei na ideia de dar-lhe a chupeta, mesmo com aquela pressão básica que sofremos por escolher caminhos conscientes e alternativos para criar nossos filhos, assim, ele nunca chupou nada a não ser meus seios até os dias de hoje, para água e sucos uso desde o sexto mês o copo de transição. Como me interesso pelo assunto encontrei dois materiais bem bacanas sobre o tema, dentre eles um relato de Fabíola Cassab - Uma Visão Mamífera das Chupetas, postado no Blog Mamíferas em 16 de março de 2009, sobre sua experiência com o uso e depois a escolha por não usar mais e um artigo de revisão do Jornal de Pediatria, da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre os Fatores de Risco para Otite Média Aguda Recorrente, relacionado, entre outros fatores, ao uso de chupeta. E vocês, como administram esse quesito: usar ou não usar? Eis a questão! Desenho de Mariana Massarani_alguns-nunca-largam_

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Leite de Mãe

Na onda de boas ilustrações, como foi nossas páginas virtuais dessa semana, o post deste finzinho de sexta-feira pós partida da seleção canarinho é extraído do blog Deixa Sair, da jornalista e autora de vários livros sobre saúde e alimentação, Sonia Hirsch, com a cartilha Leite de Mãe, em parceria com Cesar Lobo. Confira esses links clicando nas palavras em destaque!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Parto Normal vs. Cesárea: a magnitude do problema - PARTE I

O artigo Parto Normal vs. Cesárea: a magnitude do problema, redigido pela Dra. Melania Amorim e publicado ontem no Guia do Bebê trata da incidência de cesáreas no mundo e quais são os problemas oriundos dessa prática quando realizada sem necessidade.
Para ler, clique no título acima em destaque.
Confira um trecho: "Ao longo das últimas décadas, as taxas de cesárea têm se elevado em todo o mundo, chegando a atingir taxas superiores a 50% em alguns países da América Latina (1). Esta elevação tem sido vista com preocupação por muitos profissionais de saúde e organizações internacionais incluindo a Organização Mundial de Saúde, uma vez que cesarianas desnecessárias podem se associar a riscos maternos e perinatais (1)."

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Babás

Minhas andanças pelo blog Muitos Desenhos, de Mariana Massarani, ilustradora de livros infantis que adoro e que inclusive nos cedeu o uso do desenho que ilustra nossa logotipo, cuja arte gráfica é de Pata, me fez descobrir uma crônica de Fernanda Torres, publicada na Veja Rio em 06 de janeiro desse ano e que fala sobre babás, cujo título leva esse nome, Babás. No blog Parto no Brasil postei no dia 07 de janeiro uma outra crônica sua, Parto Normal, e refletindo sobre as duas vejo que opinião é algo muito individual e cada um tem a sua mesmo! Leia também e deixe seu comentário! Nos diga o que você pensa sobre as babás, sobre o papel da maternidade nos dias atuais, como você vê a "terceirização" de nossos filhos ou conte-nos sua experiência como mãe/pai! Para ler os textos de Fernanda clique sobre o título das crônicas e aproveite para conhecer/ver os lindos desenhos de Massarani, apaixonantes! Mas, não esqueça de postar seu comentário! Desenho de Mariana Massarani_babas-web_

terça-feira, 22 de junho de 2010

Workshop com Michel Odent em São Paulo/SP

Odent estará na capital paulista dia 10 de julho, sábado, das 10 às 17 horas, falando sobre vida fetal, nascimento e saúde. Inscrições e vagas limitadas! O curso será certificado pelo Primal Health Research, de Londres, para as pessoas que estiverem presentes integralmente na vivência. O investimento é de R$80,00 para estudantes, até dia 03 e R$100,00 após essa data; R$120,00 para quem não é estudante, até dia 03 e R$140,00 após essa data. O evento será na CASA JAYA, na Rua Capote Valente, 305 – Pinheiros (5 minutos do metrô Clínicas). Informações e inscrições com Mayara Boareto pelo e-mail: ma_boareto@hotmail.com

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Nascimento: da fisiologia à prática - PARTE I


"Estamos prontos para amar?".
Foi assim que o obstetra Michel Odent iniciou sua conversa com um grupo de pessoas no Espaço Aobä, em Curitiba/PR, de diversas áreas, incluindo obstetras, enfermeiras, doulas, psicólogas, cientistas sociais etc. em abril, em seu workshop Nascimento: da fisiologia à prática, desta forma, o post de hojé é o resultado da compilação dessa prosa boa (demorou, mas saiu!)!
Nossa sociedade, tecnocrata e cartesiana, não pode aguardar, com naturalidade, a vinda de nossos bebês. A indução do parto, pelo uso de ocitocina sintética, hormônio que contribui com as contrações uterinas, é uma das intervenções mais corriqueiras, mas não aparece nos estudos científicos e nas estatísticas de parto e nascimento, assim, é impossível saber quem teve o processo de Trabalho de Parto (TP) induzido, e, por que não falamos disso? Será apenas "um detalhe"? Por que tantas mulheres precisam de ocitocina sintética? Elas não conseguem naturalmente liberar esse hormônio fundamental para o parto? Será que o lugar em que elas estão parindo influencia? A ocitocina atravessa a placenta? Atinge o bebê? A quantidade introduzida de ocitocina é muito maior do que a produzida pela glândula perianal?
Na literatura médica encontramos apenas um estudo de 1996, de um jornal de Medicina Fetal e Materna em que foram relacionados os índices de ocitocina produzida pela mãe e a sintética introduzida na veia e na artéria umbilical e o que se concluiu, portanto, é que a ocitocina atravessa sim a placenta, assim, quando a mãe recebe ocitocina sintética o bebê também recebe, indo para seu cérebro e ocasionando durante seu efeito estresse nesse precioso momento de vida extra uterina, com a interação dos genes e do ambiente.
Desta forma, interferimos rotineiramente e continuamente no sistema ocitocinógeno dos humanos, que também interfere na vida social e na capacidade de amar.
Atualmente, passamos por um momento de revolução cultural e questionamos o uso demasiado dessa substância, utilizada mundialmente, e reavaliar as estatísticas é de suma importância, pois esse fato não é um "mero detalhe".
Algumas doenças comuns em nossa sociedade estão associadas ao sistema ocitocinógeno, como o autismo e a anorexia, então, vale questionarmos o uso de ocitocina sintética durante o TP. Como conclusão, podemos perceber que estamos no caminho de redescobrir o que há de básico na fisiologia do parto e esquecer tudo o que já foi dito e estudado.
Fisiologia - Período Perinatal: qual a necessidade da mulher no TP?
Podemos redescobrir hoje essas necessidades depois de tantos anos de aplicação científica/cultural/ritualística?
No século XX, descobrimos através de um acúmulo de informações que o bebê precisa da mãe, mas algumas sociedades separam mãe e bebê após o parto, tendo a amamentação atrasada, seja por mitologias culturais ou tecnologias científicas, assim, o instinto protetor agressivo da mãe, inato, é reprimido, anulado pelas culturas, crenças e rituais, sendo o colostro, considerado nos cinco continentes, um fluido que faz mal, justificando, portanto, a separação, mesmo sendo tão precioso... outras crenças também são transmitidas, ritualizadas e difundidas, como o corte do cordão umbilical e a expulsão da placenta.
Nos anos de 1953 e 1954, em um hospital de Paris, ainda como estudante de Medicina, Odent pode acompanhar os procedimentos de parto e nunca os bebês ficavam com as mães após o nascimento, a parteira cortava o cordão e o bebê era separado, comprovando o condicionamento cultural pelo qual sofremos.
A partir de testes de controle randomizados, e a introdução do contato entre mãe/bebê, pele a pele, através da autorização de cômites éticos e a defesa de que o bebê precisa de sua mãe verificou-se a presença de hormônios que flutuavam nesse período perinatal e a produção de anticorpos, assim, se não interferimos na relação mãe/bebê e o filhote encontra o seio na primeira hora após o parto uma imunização bacteriológica natural acontece.
O bebê precisa de sua mãe!
Essa descoberta de suma importância é também aceitável?
Os exemplos tem demonstrado que sim!
Alojamento conjunto: mãe e bebê juntos versus Berçário.
Cuidado Mãe Canguru: criado em Bogotá, na Colômbia, em 1979, sendo a mãe a melhor incubadora.
Mesmo essas práticas serem aceitas intelectualmente tais descobertas culturalmente não foram tão aceitáveis.
Um outro ponto nesta discussão é a presença do pai durante o TP e parto, sendo uma nova "doutrina" aplicada, além das atendentes de parto, com uma nova geração de parteiras e doulas. Desta forma, se foi possível no século XX redescobrir que o bebê precisa da mãe também podemos redescobrir as necessidades da mulher durante o TP.
Nesta perpectiva temos dois entraves que atrapalham o processo fisiológico do parto e nascimento: a Ciência e a cultura, portanto, qual a razão para otimismo?
A fisiologia ultrapassa e supera as intervenções científicas e culturais! A grande questão é o antagonismo entre ocitocina e adrenalina, visto que quando os mamíferos liberam adrenalina não podem liberar ocitocina, o hormônio que facilita as contrações uterinas para o parto e expulsão da placenta e sensações como medo, frio, sentimento de estar acuado ativam o neocórtex, parte do cerébro responsável por "pensar", que garantiu o desenvolvimento dos humanos, produzindo mais adrenalina!
Durante o parto ou outros processos sexuais inibições do neocórtex interferem no desenvolvimento dos mesmos, assim, quando falamos de fisiologia do parto temos que centralizar na ocitocina, como ocorre sua liberação, quais são os fatores para a sua produção, tendo em vista que em pessoas tensas e ou observadas age como um "hormônio tímido", portanto, temos que verificar as situações que dependem da liberação da ocitocina.
Tanto a ocitocina como a endorfina estão presentes em todos os processos sexuais, reflexo de ejeção, como da ereção, do esperma, da lubrificação vaginal, do feto, do leite.
Em todas as sociedades, até àquelas em que são mais livres, casais se isolam para copular. No reflexo de ejeção do leite, por exemplo, quando a mulher está sozinha, em um lugar escuro, com portas e janelas fechadas esse processo é mais fácil.
Mas, existem estratégias para não observação quando se está parindo? Em sociedades pré agriculturas, mulheres se isolavam para parir, comprovados em documentos antropológicos, assim, os partos ocorriam na floresta, em casas específicas para o parto e quando acompanhadas eram de uma figura materna, como a mãe, avó, tia, parteira ou outra mulher, nesta medida a origem do ofício das parteiras surge como protetoras do espaço.
Mas, as coisas mudaram de lá para cá...
Atualmente, o parto é um evento socializado! Esqueceram que a ocitocina é um hormônio tímido.
E o papel da parteira ganha outros contornos. Antes ela era a mãe ou outra mulher experiente, hoje ela tem o controle do processo, guia a mulher, realiza alguns procedimentos de intervenção, como o uso de ervas, massagens, toques para acelerar o TP ou aliviar as dores da parturiente; quando as mulheres começaram a parir em suas casas o processo de socialização do parto se desenvolveu, e isso historicamente é recente, tendo início em meados do século XX, quando ainda parto era assunto de mulher e ser obstetra era usar o fórceps; ninguém, ainda, antes disso, tinha pensado no acompanhante de parto e na presença do homem nesse momento.
Foto: Acervo Espaço Aobä.
* Quer ler mais sobre Michel Odent no Blog Parto no Brasil? Clique aqui! *

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Estrelinha lá no céu

Meu filho Ícaro fala que quando alguém falece "vira estrelinha"... hoje perdemos o escritor português José Saramago, que completa mais um pontinho brilhante no céu... vá em paz! Um pouco de seus poemas -
Retrato do poeta quando jovem - Há na memória um rio onde navegam os barcos da infância, em arcadas de ramos inquietos que despregam sobre as águas as folhas recurvadas. Há um bater de remos compassado no silêncio da lisa madrugada, ondas brancas se afastam para o lado com o rumor da seda amarrotada. Há um nascer do sol no sítio exacto, àhora que mais conta duma vida, um acordar dos olhos e do tacto, um ansiar de sede inextinguida. Há um retrato de água e de quebranto que do fundo rompeu desta memória, etudo quanto é rio abre no canto que conta do retrato a velha história. (Integrante de Os Poemas Possíveis, Editorial Caminho, Lisboa, 1981 - 3ª ed.). Saramago também escreveu O evangelho segundo Jesus Cristo, Memorial de um Convento e Ensaio sobre à Cegueira.

Meu bebê é como um vício

Por que o feminismo não admite o prazer de ser mãe?
Por Katie Roiphe
Nas seis semanas que se seguiram ao nascimento do meu bebê, pareço ter perdido todas as ambições mundanas. Só com pavor consigo pensar no retorno ao trabalho. Tenho uma aula para dar. Tenho de voltar a escrever. Mas a ideia de falar de ideias diante de alunos ou de digitar uma frase coerente (ou seja, minha vida normal) mostra-se implausível. Parte do meu medo de voltar ao trabalho reflete algumas das minhas incapacidades. Outro dia, ficou claro que eu careço das faculdades intelectuais para arrumar uma mesa: era desafiador demais manter na cabeça, no caminho da cozinha para o terraço, o número de pessoas no jantar. Uma das causas disso pode ser atribuída aos meus hormônios; outra, certamente, é a falta de sono, por culpa das noites de vigília.
Quando o bebê tinha quatro semanas, tive de fazer uma leitura na (livraria) Barnes & Noble junto com Gay Talese, já que eu havia escrito a introdução do seu A Mulher do Próximo. Naquela noite, deixei o bebê com alguém em quem tenho completa e absoluta confiança. Consegui pôr um vestido e ficar parecida com a "pessoa que faz leituras" que eu costumava ser. Mas, quando saí à rua, senti como se estivesse me faltando um membro. Embora Talese, sob qualquer parâmetro objetivo, fosse absorvente, minha concentração claudicou. Enquanto as pessoas faziam perguntas, eu calculava quanto tempo o táxi levaria para me deixar em casa.
Durante o percurso de volta ao lar, chorei. Só quando o bebê estava novamente nos meus braços eu me senti bem outra vez. Lembro-me de ter visitado uma das minhas melhores amigas durante a sua licença-maternidade. Ela é escritora, e conversamos sobre como as autoras que mais admiramos não tiveram filhos, ou no máximo tiveram só um, mas nunca dois. (Edith Wharton, Virginia Woolf e Jane Austen não tiveram filhos; Mary McCarthy, Rebecca West, Joan Didion e Janet Malcolm tiveram um.) Minha amiga olhou para a sua recém-nascida e para seus diminutos cílios. Ela poderia manter a conversa de forma acadêmica, mas ao ajustar o chapéu da menina eu pude ver como ela estava alheia a qualquer outra coisa que pudesse interessá-la.
As pessoas costumam comparar o fato de ter um bebê aos primeiros dias de um namoro, o que faz sentido até certo ponto. Mas a fixação física e o anseio pelo bebê são muito mais intensos. Com que frequência num namoro você se vê literalmente às lágrimas porque ficou longe de um homem durante três horas? Imagino que uma metáfora melhor seria a dependência química.
Uma das desonestidades menores do movimento feminista tem sido subestimar a paixão dessa fase da vida, para em vez disso tentar uma avaliação racional e politicamente vantajosa. Historicamente, as feministas enfatizam as dificuldades e o peso de se tornar mãe. Elas tentaram traçar uma analogia entre a puericultura e o trabalho masculino; então, por muito tempo as mulheres chamaram a maternidade de "vocação". A tarefa de cuidar de um bebê é árdua e exigente, é claro, mas é mais bárbara e narcótica do que qualquer tipo de trabalho que eu já tenha feito.
Imagino que pessoas normalmente inteligentes e descomplicadas achem esse tipo de conversa sobre bebês muito chato. Noto que, quando tento me forçar a conversar sobre outra coisa que não o meu filhote, tenho de pensar: "Agora é hora de conversar sobre outra coisa que não o bebê". Admito vagamente que isso é que é maçante nos pais, e certamente na nossa atual cultura da paternidade/ maternidade: esse fluxo subterrâneo de autocongratulação.
Parte da atração da licença-maternidade é precisamente esta: você abre mão de tudo. Os livros na estante não são os seus livros; as roupas penduradas no armário não são as suas roupas. Você é o animal vago, lento e exausto, tomando conta dos seus filhotes. Qualquer coisa graciosa, original, aguda ou inteligente que você tivesse sumiu, é a negação total do mundo exterior – mas eis o apelo desse período.
Sei que em algum lugar por aí há um grande mundo, onde as pessoas conversam, pensam e escrevem, mas ainda não estou interessada em ir para lá.
Katie Roiphe é escritora e jornalista especializada em temas femininos.
Foto: Anne Geddes.
Fonte: Ediçao especial Veja Mulher, maio de 2010.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Vale a pena espiar as leituras

Algumas indicações de matérias encontradas pelo cyber espaço, em busca de boa informação com embasamento e esclarecimento! Os links vão desde um especial do Diário de Pernambuco - Á Luz, com um panorama do parto humanizado e diversas experiências e ações pelo País (incluído também em nossa sessão Consulta - web); dois textos da Dra. Andreia Mortensen sobre cama compartilhada e a natureza do sono do bebê, encontrados no Blog Bebedubem, de Flavia Penido e Kátia Zeny, além do artigo já disponibilizado em maio pela Dra. MD PhD Melania Amorim sobre evidências sobre parto na água, acompanhado do vídeo de um parto na água amparado por sua equipe. Para finalizar, o trailler encontrado no Youtube do vídeo Orgasmic Birth! Divirtam-se!!!

"Tirania da mãe perfeita": maternidade e feminismos



Pessoal, nos últimos anos, as teorias e movimentos políticos feministas concordaram que não existe "uma mulher", no sentido de que haveria uma natureza essencialmente feminina determinante do comportamento e emoções de todas as mulheres do mundo. Para os feminismos (no plural, porque são várias correntes), somos todas singulares e específicas. Isso porque somos animais culturais, e é justamente a dinâmica cultural que nos torna únicas. Assim, o debate sobre parto, maternidade, amamentação é sempre bastante complexo nestes meios. E para botar lenha aqui no nosso fogo, hoje eu trago uma matéria da BBC publicada no portal eletrônico Diário da Saúde, sobre o mais novo livro da filósofa feminista Elizabeth Badinter. O texto me foi enviado por uma colega do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFSC, a Heloisa Regina Souza, que também pesquisa o parto no Brasil. Na matéria vocês lerão o porque
"A filósofa acusa os movimentos ecológicos de contribuir para a regressão do papel da mulher na sociedade ao 'impor' a amamentação, o uso de fraldas de pano, e a necessidade de alimentar os bebês somente com produtos naturais preparados em casa."

Também vão ler:

"Não somos todas iguais, como os chipanzés. Há mulheres que não gostam de amamentar."
Acesse aqui a matéria completa. O outro polêmico livro de Elizabeth Badinter ("Um amor conquistado: o mito do amor materno") está disponível na internet, o link você encontra aqui no Blog Parto no Brasil, na seção Estante. Boa leitura!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O corte por cima e o corte por baixo


“Se eu fosse mulher já teria, sei lá, pegado em armas, porque é muita violência... Ela vai para a maternidade e ou lhe fazem um corte na barriga, desnecessário na maioria das vezes, ou no períneo. De todo jeito alguém vai atacá-la com uma faca” Álvaro Atallah (Lattes), do Centro Cochrane do Brasil, em seminário (Práticas Obstétricas Baseadas em Evidências), no Instituto de Saúde de São Paulo, 1999.
Dias atrás, conheci uma mulher que teve seu primeiro filho por um parto "natural" que a traumatizou. Aconteceu há mais de dez anos, nos EUA, segundo ela, num centro de referência para o parto natural, todo "estiloso-natureba". O TP foi longo, a episio infeccionou. Foram mais de seis meses de tratamento da cicatriz. Advinha como nasceu o segundo filho? Em Florianópolis, cidade que é referência para os partos natural, domiciliar e vertical, ela teve dificuldades em encontrar um GO que topasse marcar a data da cesareana. "A recuperação foi bem melhor!", disse ela enfatizando muito o "beeeeeem melhor". É o tipo de encontro que nos faz rever todo o cenário do parto. Eu fiquei imaginando quantos meses mais foram necessários para tratar "da alma" daquela mulher da episio infeccionada... e o que o corte passou a simbolizar para esta mulher ainda não cicatrizou. Nesse climão pesado de violência contra as mulheres, e sobre o assunto do "corte por cima ou corte por baixo", indico a leitura do artigo da profa. Simone Diniz da Faculdade de Saúde Pública - FSP/USP: http://www.mulheres.org.br/rhm1/revista1/80-91.pdf, que é de onde tirei a citação do Atallah. Também indico o vídeo que a Bianca encontrou no Youtube, de um parto tenebroso, e infelizmente, ainda comum. Acesse: http://www.youtube.com/watch?v=_7BkISrU1Tg&NR=1

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Glossário

Para tirar dúvidas e ou esclarecer termos técnicos ligados a questão do parto e nascimento dê uma olhada no Glossário que a Parto do Princípio disponibiliza aqui.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Direitos da gestante

No Blog da Zazou há uma série de posts sobre os direitos da grávida, clique aqui para conferir! Foto de Bianca Lanu, arte de Silmara Guerreiro.

Acompanhante no parto: todas nós temos direito

A Rede Parto do Princípio iniciou a divulgação essa semana no site das Leis, Portarias e Resoluções que amparam o direito ao acompanhante no parto, além de um FAQ com perguntas frequentes de como proceder em caso de descumprimento dessa Lei Federal que está em vigor há cinco anos e também uma página para denúncia. Com a colaboração de Cris Kondo essa nova sessão da Parto do Princípio também dispõe de um endereço eletrônico para esclarecimento de dúvidas, basta escrever! Conheça ainda a campanha realizada no Dia da Mulher pela PP, em território nacional!

XI Encontro Nacional de Aleitamento Materno

Teve início dia 08 de junho, terça-feira, em Santos, litoral paulista, no Mendes Convention Center, o XI Encontro Nacional de Aleitamento Materno - ENAM, com o tema Fortalecendo as redes de promoção, proteção e apoio do aleitamento materno e da alimentação complementar, que ocorre até o dia 12, com a presença de vários profissionais e palestras. Mais informações aqui! Além do evento, hoje mil mães se reuniram na ação Mil Mães Amamentando, no Emissário Submarino, na Praia José Menino, a partir das 15 horas, organizada pela Rede Social de Amamentação Santos e Região, co-realizadora do ENAM.

Palestra com Jean-Paul Rességuier

Aconteceu hoje, dia 09 de maio, no Golden Park Hotel, no Rio de Janeiro/RJ, a palestra gratuita Maternidade e Feminilidade com Jean-Paul Rességuier, pesquisador e criador do Método Rességuier de reabilitação que se baseia essencialmente na integração da qualidade de presença na relação terapêutica. Mais informações aqui!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Chuva e internet

Pós feriadinho recheado a chuva e leituras na internet, intercalado com os cuidados com a cria, que descobriu como abrir a porta do banheiro, rs!!!

Estou de saco cheio

Maravilhosos (e complementares!) os dois últimos posts do Blog Mamíferas, de Kathy e Kalu, respectivamente - Exercitando a ironia & Chega de ladainha. Ativismo na rede! Perdõem a falta de neutralidade antropológica, mas a bandeira da humanização, muito mais que a imparcialidade científica de meu ofício (uma faca de dois gumes) me cercou... ainda sonho (e acredito) em um mundo onde mulheres possam parir com respeito e bebês nascerem amparados com amor!

Por aí

No Blog de Gisele Bündchen tem uma sessão interessante sobre parto humanizado, vale a pena uma espiada - O Despertar da Vida, clique aqui!

Visita Aberta e Direito ao Acompanhante

Visita aberta é um dispositivo da Política Nacional de Humanização, do Ministério da Saúde, que amplia o acesso dos visitantes às unidades de internação para garantir o elo entre o paciente, sua família, amigos, enfim, sua rede social e os serviços da rede de saúde. O acompanhante representa a rede social da pessoa internada e está com ela durante toda sua permanência nos ambientes de assistência a saúde.

Para que serve esse dispositivo?

Visitas e acompanhantes fazem bem à saúde! São representantes legítimos da pessoa internada e ajudam na sua reabilitação. A presença de um visitante no ambiente hospitalar possibilita que a equipe de saúde capte dados do contexto de vida da pessoa internada e do momento existencial por ela vivido, possibilitando um diagnóstico abrangente. Ela auxilia ainda na identificação das necessidades da pessoa internada e, através das informações fornecidas pela família e amigos, a equipe de saúde pode elaborar e acompanhar com mais eficácia seu projeto terapêutico singular.

A presença de visitantes/acompanhantes de forma mais constante no ambiente hospitalar traz o 'cheiro' da comunidade a este ambiente, tornando a comunidade também responsável e co-produtora do cuidado, aumentando a autonomia dos membros da família quanto ao seu papel de cuidadores leigos. O acompanhante colabora na observação das alterações do quadro clínico e comunica-os a equipe. Além disso, esse dispositivo mantém a inserção social do doente durante sua internação, que pode perceber a participação dos familiares no tratamento, fortalecendo sua identidade e auto-estima.

Então, todo paciente do SUS tem direito a visita e acompanhante?

De acordo com a carta dos direitos dos usuários em saúde, as crianças, adolescentes, pessoas com deficiência e idosos têm direito a acompanhamento durante todo o período de internação. A lei 11.108 de 07 de abril de 2005 dá à mulher o direito de ter, durante o trabalho de parto, parto e pós-parto, um acompanhante de sua escolha, e recomenda que toda maternidade adapte seu espaço físico para receber este acompanhante. Os demais usuários têm direito a visita diária de no mínimo duas horas durante as internações, com exceção para situações técnicas contra indicadas. A proposta da visita aberta é mais ousada e tem demonstrado ser possível. Hospitais têm ampliado seus horários de visita para até dez horas por dia, constatando que este dispositivo de inclusão traz novos padrões de comportamento, aumentando a solidariedade e o compromisso de todos para com o cuidado.

Como implantar a visita aberta e direito ao acompanhante?

• Conhecer experiências de hospitais que já implantaram este dispositivo, e os dados referentes aos dias de internação, infecção hospitalar, satisfação dos usuários e trabalhadores;

• Promover atividades de sensibilização com todos os setores do hospital;

• Construir de forma coletiva os passos para a implantação, envolvendo o pessoal da portaria, administração, enfermarias, copa, laboratório, etc.;

• Adequar espaços para a permanência de visitas/acompanhantes fora dos quartos, como por exemplo, áreas verdes que podem ser adaptadas, varandas;

• Informar à comunidade e abrir espaço de discussão permanente sobre o dispositivo (rodas de conversa no hospital).

Para mais informações sobre visita aberta e direito ao acompanhante, acesse o site da Política Nacional de Humanização.

Fonte: http://bvsms.saude.gov.br/html/pt/dicas/165visita_aberta

Biblioteca Multimídia

Para àqueles que gostam de pesquisar e ler uma ótima dica, repassada por Ana Carolina, da Biblioteca Multimídia da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca - ENSP, do Rio de Janeiro/RJ, com muitas opções de pesquisas, teses, cartilhas etc. Vale a pena conferir, clique aqui! Desenho de Ziraldo.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Renascença

Conheça o segundo post do Blog Parto no Brasil, sobre o livro "Dar à Luz... Renascer", de Lívia Penna Firme Rodrigues: acesse aqui.
Sou mulher, sou mãe, sou deusa, e assim mereço ser cuidada. Se parir faz parte da natureza, que esta força seja respeitada. Respeitada pelos homens e por mim mesma, pois fazemos a humanidade crescer. Que as cesáreas, induções, tecnologia, sejam usadas com magia e saber. Saber que os médicos dominam, e nós, mulheres, também. Conhecendo nosso corpo e instinto, sabemos mais do que ninguém. Portanto, minha gente, é hora de parir como e com quem quiser. Se durante a noite ou na aurora, a ordem é esperar quando vier. Chega de intervir na natureza! As mulheres precisam compreender, receber o bebê no coração, experimentar o "dar à luz e renascer".

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Cama de Procusto

Por Dr. Ric Jones
"Procrusto era um bandido que vivia na serra de Eleusis. Em sua casa, ele tinha uma cama de ferro, que tinha seu exato tamanho, para a qual convidava todos os viajantes para se deitarem. Se os hóspedes fossem demasiados altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, os que tinham com pequena estatura, eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. Ninguém sobrevivia, pois nunca uma vítima se ajustava exatamente ao tamanho da cama. Procusto representa a intolerância do homem em relação ao seu seme­lhante. O mito já foi usado como metáfora para criticar tentativas de imposição de um padrão em várias áreas do conhecimento, como na economia, na política, na educação, na história, na ciência e na admi­nistração." (Wikipedia)
Eu, obviamente, incluiria a sanha homogeneizante da biomedicina contemporânea como exemplo entre os acima.
Se o mito existe, então é representativo do inconsciente coletivo. Passou pelo imaginário social e deixou sua marca na ficção. Segundo o psicanalista Slavoj Zizec, aquilo que é insuportável aos sentidos e à razão brota do inconsciente como narrativa ficcional. E mito.
O Mito, portanto, está querendo nos dizer algo a respeito dos "core values", dos valores funda­mentais que sustentam a cultura. Os mitos nos levam (direta ou indiretamente) ao poço pro­fundo onde se encravam as pilastras dos nossos códigos valorativos. Porque cortar as pernas e "normatizar" os visitantes? Porque tínhamos que nos adaptar à cama de Procusto?
Seremos nós, profissionais da saúde, vigários da "Religião da Boa Saúde" os Procustos hodi­ernos? Teremos todos que morrer (ou sofrer as agruras de uma homogeneização abjeta e cruel) se não coubermos nos moldes impostos pela tecnocracia?
É sempre surpreendente (porém esclarecedor) perceber quanta dificuldade nós (da área biomé­dica) temos para aceitar o fato de que as expressões da oralidade são manifestações de con­teúdos psicológicos de ordem inconsciente, as quais se enraízam no oceano obscuro das vi­vências sexuais infantis. Ao mesmo tempo em que tentamos tratar o "evento" chupar dedo (ou chupeta), fechamos - freqüentemente - os olhos às questões a serem resolvidas pela pró­pria criança no que diz respeito à satisfação das necessidades fundamentais do seu desenvolvimento. Pior: tentamos estabelecer tratamentos às vezes cruéis (meu tio tinha as unhas pintadas com Buscopan para afastar o dedo na boca) no afã de restituir uma "normali­dade" por nós (tecno-bio-medicina) estabelecida sem levar em conta a subjetividade (das constituições e dos caminhos trilhados).
Na área do nascimento humano o mesmo tratamento des-umano se observa quando forçamos o tempo de nascer dentro de normas rígidas, cegando-nos à evidência avassaladora de que ninguém ama igual, ninguém geme igual e ninguém vai parir da mesma forma. Os tempos são construídos sobre a rocha bruta das emoções vividas, e estas são irreprodutíveis. Somos ca­minhantes das estrelas e temos nosso pegadas na poeira das estrelas, como dizia Max, e isso nos confere uma vivência absolutamente particular do universo à nossa volta. É a "paralaxe" que Zizec nos fala: a capacidade de encarar o mesmo evento (amar, amamentar, chupar o dedo, parir) de ângulos diversos, e com isso observar objetos distintos, em função de subjetivi­dades únicas. Na obstetrícia contemporânea, as curvas de Friedmann, usadas para estabele­cer tempos de trabalho de parto, são usadas como "moldes" nos quais as mulheres precisam forçadamente se adaptar, sob pena de serem vítimas do bisturi fatal a lhes cortar a carne e os sonhos acalentados.
Zeza sempre me dizia que um dia virá em que um funcionário de Motel baterá à porta de um casal que namora acima de tempo normal padronizado, segundo a "curva de Ric"... E dirá: "Vocês não podem mais ficar aí. É perigoso. O tempo médio de utilização libidinosa destas sala já foi ultrapassado. Saiam, ou arrombaremos".
Chupamos dedos, mamamos, amamos e trepamos de acordo com uma história que é única, mas a visão positivista e homogeneizante da sociedade espera que nos adaptemos ao modelo imposto por uma noção tacanha de "normalidade".
Não se iluda: a mesma força que nos obriga a inexorabilidade no tratamento das crianças que chupam dedo também se faz presente na visão diminutiva do sujeito que ama e pari.
Segundo Maximilian é a mais brutalizante das epidemias médicas: a "normose"...
A propósito... Friedmann nunca desejou que suas curvas fossem utilizadas para normatizar o nascimento humano. Da mesma forma que estabelecemos a altura média das pessoas em um determinado local ou país, fizemos com o parto - e o desenvolvimento infantil. Mas ainda não vi ninguém cortando pernas para que alguém se adaptasse ao tamanho médio da popu­lação. Por enquanto, pois o espectro de Procusto paira sobre nossas cabeças.
* O texto redigido circulou na lista virtual Parto Nosso em maio de 2010.
Imagem: The Modern Bed of Procustes - Punch Cartoon.

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