segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Dia Internacional pelo Fim da Violência Contra a Mulher

Neste 25 de novembro o mundo se une para lutar contra a violência que arrebate milhares de mulheres, sejam em seus lares, no ambiente profissional, e/ou num dos momentos que deveriam ser dos mais zelosos e respeitosos, da vida feminina: o parto.


É da violência obstétrica que estamos nos referindo, e que é um dos temas centrais deste espaço, trazendo e divulgando informações sobre o assunto, e militando na causa, tendo oportunizado a criação de algumas ações, em rede, e coletivas, com grande repercussão, como foi o Teste da Violência Obstétrica, e o documentário popular Violência Obstétrica - A Voz das Brasileiras, premiado no Seminário Internacional Fazendo Gênero 10, em Florianópolis/SC, este ano, como Melhor Filme, da Mostra Audiovisual.

Assim, nesta data, compartilhamos mais uma produção brasileira, desta vez de Brasília/DF, A Dor Além do Parto, de Letícia Guedes, Amanda Rizério, Nathália M. Couto e Raísa Cruz, com edição de Léo Preto, pela Branco Preto Produções, sobre esta violência velada e ainda invisível, que não nos cansamos de denunciar e lutar, para que chegue seu fim!



Divulgamos também a exibição de Violência Obstétrica - A Voz das Brasileiras em Ourinhos, interior paulista, no Curso Técnico de Enfermagem, da ETEC, em 02 de dezembro, às 19h30!

Assista aqui!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Parto no Brasil entrevista Adriana Vieira - Agosto de 2013


Publicamos hoje uma entrevista realizada em agosto c/ a querida Adriana Vieira, doula, educadora perinatal, instrutora de Yoga e coordenadora do Namaskar Yoga, na Baixada Santista. Na ocasião ela estava em seu puerpério da filhota Dora, nascida de um parto normal após duas cesáreas!








PARTO NO BRASIL Adriana é um prazer ter você neste espaço para nos contar como foi gestar após os 40 anos, e, também buscar um parto natural, após duas cesáreas anteriores! Conte-nos como foi este processo!

ADRIANA R: Obrigada pela oportunidade em estar aqui também. Sempre li o blog, e por aqui aprendi muito com outras mulheres, com as informações que vocês passam, então, fico feliz em estar falando sobre o meu parto e minha vivência e espero poder ajudar também. 
O processo foi longo e cheio de aprendizado. Posso dizer agora que havia uma Adriana antes do parto normal e outra agora. Renasci como mulher! Foi a experiência mais divina que já tive.
Bem, tive duas cesárias: uma há 22 anos e outra há 20. Na época achei que a cesariana era o melhor pra mim e para meu bebê, pois ouvia isso constantemente, tanto de amigas, familiares, como de médicos, e não questionei. Por sorte, entrei em trabalho de parto em ambas gestações, mas como tive uso de ocitocina (o que chamam de sorinho, no hospital) não aguentei a dor e acabei indo pra cesariana. 
Mas tudo começou há sete anos, quando estive na Holanda e acabei fazendo um curso de Iyengar Yoga em Amsterdã.  Lá comecei a ouvir falar sobre Yoga pré-natal e Yoga para casais grávidos, e então comecei a estudar por lá. Assim, conheci o trabalho das midwifes e das doulas.
Fiz um curso em Amsterdã e me encantei com esse mundo das gestantes, e dos casais que se preparavam pra ter seu parto, pra serem protagonistas desse momento. E vi uma realidade por lá muito diferente do que via aqui: a maioria das mulheres queriam o parto normal e tinham seus bebês em casa, com todo apoio da família, marido, e também do governo.
Quando voltei ao Brasil comecei a dar aulas de Yoga bem direcionadas para as gestantes,  e elaborei alguns cursos para os casais grávidos, pois em Santos, onde moro, não havia nenhum curso que realmente preparasse os casais pra um parto natural, ou normal. 
Então, conheci um grupo em São Paulo que falava a língua que eu estava começando a entender, e lá fiz vários cursos para começar atuar como doula aqui no Brasil. 
Realmente aprendi a importância do parto normal para a mulher, para o bebê, para o casal em si! Me apaixonei por esse mundo e há cinco anos abri a Namaskar Yoga, com esse intuito: levar informações para que as mulheres e casais pudessem fazer suas escolhas conscientes em relação ao seu corpo, ao seu parto. Por isso, temos grupos gratuitos, encontros para gestantes e casais que realmente buscam essas informações.
Bom, essa viagem a Holanda que mudou minha vida profissional, mudou ainda minha vida pessoal. Me casei com um holandês e viemos morar no Brasil, e então, quando completei 42 anos, em 2012, decidimos ter um bebê, já que meu marido ainda não tinha filhos, e eu estava realmente louca pra ser mãe de novo!
A gravidez foi de baixo risco, sem nenhuma intercorrência, ou seja, saúde perfeita: pressão ótima, peso ok, nenhuma doença crônica.
Bom, com tudo normal, minha médica, um anjo na minha vida, me liberou para uma viagem que eu já tinha marcado antes de saber que iria engravidar. Então, com quatro meses de gestação fui para Dubai e Índia, onde estive por 22 dias, estudando mais sobre Yoga e saúde da mulher, bem como passeando bastante com Dorinha na barriga.
Continuei a levar minha vida normalmente, mas claro, sem excessos. Doulei alguns partos durante a gravidez, até completar 30 semanas. Mas como dou aulas de Yoga para gestantes, continuei com essa atividade, e acrescentei a caminhada na praia e mais meditação. Mas depois, com 36 semanas parei de dar aulas de Hatha Yoga e Yoga para crianças, pra descansar um pouco mais, fisicamente. Senti essa necessidade e assim fiz.
Eu e meu marido queríamos tentar o parto em casa e já tinha o apoio de uma equipe, com quem trabalho já aqui na minha cidade, Santos. 
Como eu já tinha duas cesárias anteriores, durante o trabalho de parto eu não poderia ter nenhum medicamento, caso precisasse ajudar a dilatar, então, decidimos ficar em casa. Entrei em trabalho de parto num domingo, e tive minha bebê na madrugada de terça-feira, 23 de julho. Passamos a segunda-feira toda em TP (trabalho de parto). A equipe trabalhou muito comigo, e me ajudou bastante, pois foi um parto longo. E meus dois filhos, Aline, 22 anos e Thales, 20, ficaram comigo o tempo todo também me ajudando, bem como meu marido. Cada momento foi importante. 
Num trabalho de parto longo como foi o meu, todo o preparo anterior é de total importância! Eu praticava Yoga e meditação, e ambos me ajudaram muito, pois o parto é físico e mental! Ambos precisam estar em sintonia. 
Bom, outra coisa que me ajudou muito foi a total sintonia com meu marido e meus filhos. Cada olhar, cada palavra. 
Num longo TP , qualquer coisa poderia ter me desanimado, mas com uma boa equipe, pessoas te ajudando e preparo físico e mental anterior, resultou no que tive: um parto normal vaginal.

PARTO NO BRASIL Compartilhe conosco seu parto, e nos conte como foi a participação de seu companheiro, e filh@s durante o trabalho de parto e parto.

ADRIANA R: Ficamos em casa domingo e segunda, e eu entrei em trabalho de parto franco, na segunda-feira. Liguei para a doula na segunda de manhã, mas as contrações ainda estavam espaçadas, porém, ritmadas. Como eu já não havia dormido bem de noite, devido às contrações, resolvi ligar pra ela. Ela chegou em casa, ficamos fazendo alguns movimentos na bola, eu caminhava, agachava etc. Eu ainda estava conversando e interagindo bem com todos em casa. Quando as contrações começaram a ficar mais fortes, comecei a querer ficar mais em silêncio, e a usar mais o chuveiro. Aliviava muito as dores, a água quente na lombar. E então, depois do almoço, eles montaram a banheira no meu quarto. Foi excelente também! Tomamos um lanche, feito pela minha mãe, já no final da tarde, pois entre uma contração e outra, parece que nada havia acontecido. Com isso, aguentei bem as contrações nesse período. Depois das 18hs, aí sim comecei a achar que as contrações estavam bem fortes, e a coisa foi ficando pior e pior! Enfim, a equipe auscutava sempre os batimentos da bebê, e ela colaborava sempre. Coraçãozinho sempre ótimo. Então, eu poderia continuar meu TP. E então, comecei a fazer força. Chegava ao período expulsivo. Contrações mais perto umas das outras e muito doloridas. Nessa hora lembro que o que eu mais queria é que alguém da equipe, ou meus filhos, marido, continuassem a acreditar em mim e que eu iria passar essa fase, e então minha filha ia nascer. E foi exatamente o que fizeram. Me falavam que já estavam vendo o cabelinho do bebê, e brincavam comigo, enfim, me incentivavam sempre. 


Mas, a equipe viu que eu estava com um edema na vagina, e que a dor que eu sentia era também do edema, e esse período do expulsivo foi se tornando mais e mais longo. A bebê estava bem, mas já há muito tempo no canal vaginal, então, resolvemos ir para o hospital e tomar uma analgesia pra não sentir mais tanta dor. Foi tudo bem rápido. Cheguei no hospital depois da 1 da manhã, e ela nasceu antes das duas. Na terceira força que eu fiz Dora coroou. Parto vaginal, sem episiotomia, sem corte nenhum na vagina. Um bebê bem esperto, sadio e lindo! Minha Dora chegou e foi o momento mais emocionante da minha vida, do meu marido, da minha mãe e dos meus dois filhos mais velhos. Eles não  haviam assistido um parto anteriormente. E viram e vivenciaram tudo comigo, na sala de pré-parto, pois nem entramos no centro obstétrico. Tive ela no quarto.
Meu filho, Thales, foi quem cortou o cordão, e foi extremamente emocionante pra mim assistir de certa maneira, meu filho e minha filha. Detalhe:  eu tirei a foto dele cortando o cordão, uma cena inesquecível! Minha filha e minha mãe estavam comigo e adorei tê-las por perto. Maridão o tempo todo pertinho, e logo que Dora nasceu, ele a segurou no colo, e só largou para que ela viesse mamar, o que aconteceu logo nos primeiros minutos.
Me senti a mulher mais feliz do mundo, mais poderosa, mais forte e vi que minha família toda vibrou com minha alegria! Foi divino. Nos trouxe uma união incrível.

PARTO NO BRASIL Você também atua como doula e educadora perinatal, além de instrutora de Yoga. Como está sendo a vivência da maternidade durante o puerpério, e os primeiros dias amamentando Dorinha, aliado à vida profissional, nessa área.

ADRIANA R: Como mulher, mãe e doula, fico feliz em ter tido essa experiência, e aos 42 anos. Me percebi ainda mais. Senti o poder que temos sobre nossa mente, sobre nosso corpo, e também como podemos aprender sobre nossos limites, medos e como ultrapassá-los. Percebi, que tudo que venho aprendendo e ensinando com o Yoga foi fundamental pra que eu tivesse essa percepção, física e mental, e como é importante sermos responsáveis pela nossa decisão do que queremos, do que podemos fazer por nós mesmas. E como é importante escolher bons profissionais pra ter nesse momento, e apenas as pessoas importantes e essenciais pra você nesse momento tão importante, tão privado, que é nosso parto e o nascimentos de seu bebê, de uma nova família. 
Percebi ainda mais a importância da privacidade e do silêncio durante o trabalho de parto e no parto realmente. E o respeito à gestante para que ela possa ficar consigo mesma e perceba o que seu corpo pede, que posição ficar, como agir, pois no fundo, cada mulher sabe o que precisa fazer e como agir.


Dora nasceu num ambiente amoroso, sem intervenções desnecessárias e veio logo pro meu peito mamar. Ficou comigo o tempo que quisemos. Pôde mamar, pôde parar de mamar quando quis. Fomos pra casa no dia seguinte. Tomei banho sozinha, claro, e me sentia inteira, física e mentalmente. Sem cortes ou cicatrizes, sem dores, sem medos, pelo contrário, me sentia a super mulher, super mãe. Percebi a admiração também de meu marido por tudo que fiz, que consegui. Na verdade, tudo o que juntos conseguimos! 
Hoje me sinto uma profissional também mais completa, como doula e educadora perinatal me sinto plena. Pude passar pelas duas experiências diferentes, e assim, sinto-me mais capaz pra ajudar muitas mulheres, pois saber na prática o que a teoria nos diz e isso é realmente algo profundo. Espero assim, poder ajudar ainda mais as gestantes e os casais grávidos.
Vejo hoje, ainda mais, também que devemos dar uma extrema importância para o período pós-parto. Pois, começamos uma nova fase,  tanto para o casal, que se torna uma família, como para o binômio mãe-bebê, que tem que se adaptar a tudo: amamentação, dormir menos etc. 
Como eu já havia amamentado meus dois primeiros filhos, e já sabia que queria amamentar exclusivamente também até os seis meses, e que no início, nem sempre amamentar é fácil, então, tive bastante paciência, até eu e Dorinha nos adaptarmos uma a outra, nesse balet que é o amamentar. Depois de uma semana, tudo já estava fluindo naturalmente, sem dores, sem medos, sem ansiedade. Ela mama bem, e claro, dorme muito bem. 
E adoro fazer massagem nela, a Shantala, pra que ela não tenha muitas cólicas. Ela ama receber. Também logo dei o banho de ofurô nela, com três dias, pois acredito que remeta o bebê ao útero, e eles amam esse tipo de banho. Embalo ela numa fralda e a mergulho até o pescocinho, deixando o rostinho de fora, claro, e mantendo o corpinho dela imerso no baldinho. Ela fica paradinha, apenas sentindo, e ama também.
Como casal também conversamos muito sobre as mudanças que passamos. Acho isso importante, principalmente pra quem é pai ou mãe de primeira viagem, pois meu marido, que é pai agora, pela primeira vez, aos 47 anos, está percebendo como as mudanças são grandes para o casal. E ele tem aprendido muito e cuidado muito bem da Dorinha também, pois achamos importantíssimo para que eles dois criem um bom vínculo, que ele também faça todas as atividades e tenha os cuidados com ela, como dar banho, trocar fralda, fazê-las dormir, etc.
O pós-parto é um período que requer muito cuidado de ambos, marido e mulher, para que passem bem por essa fase, com um novo serzinho a ser cuidado, uma fase sem sexo pelo menos nos 40 primeiros dias, enfim, muitas mudanças e novidades. Bater papo é o melhor para um bom entendimento e para que a nova família se vincule e se fortifique. Se tivesse que dar um conselho diria pra o casal e bebê terem sempre um tempo sozinhos, sem visitas, sem compromissos e preservem o bebê desses tumultos, por pelo menos 15 a 20 dias. Isso, acredito, faz o trio se vincular mais e melhor! 
Eu me sinto privilegiada por tudo que passei. Me sinto privilegiada por ter conhecido esse caminho, meu marido, essa família que tenho, e pela profissão que estou trilhando. E creio que toda mulher que tiver essa vontade, esse desejo de ter seu parto normal, corra realmente atrás de informações úteis para realizar esse sonho, que nos realiza como fêmeas realmente. 
E claro, aprendi e aprendo muito com as mulheres que doulei, e também com as alunas que ministrei aulas de Yoga pré-natal, e quero cada vez mais retribuir tudo isso. E através do meu trabalho, penso que posso dar um pouco do que recebi!
Se tive meu parto lindo e tão gratificante dessa maneira, foi porque outras mulheres me ensinaram muito! E isso me faz amar mais e mais o trabalho que faço como doula. E acredido muito, que nosso "trabalho" na vida seja realmente nossa "missão". Algo muito maior do que "ganhar" dinheiro pra viver. O trabalho depende da nossa energia e essa depende de como lidamos com o que fazemos, então, quanto mais amor, melhor você se doa, e mais você recebe. Uma roda cíclica de linda em nossas vidas!
E assim tudo foi acontecendo em minha vida. O espaço Namaskar Yoga foi se moldando dia após dia. E fico feliz, porque, se tem tido procura pelas aulas e cursos que ministramos por lá, é porque as mulheres e os casais grávidos estão realmente buscando ser protagonistas de seus partos. Isso vai fazer mudar a triste realidade do nosso país, que hoje é um campeão de cesárias desnecessárias. 
Eu estou retomando as atividades na Namaskar aos poucos, percebendo o ritmo que seja bom pra minha bebê Dora também. Quando ela fez 15 dias participamos do encontro mensal e gratuito que transmitimos ao vivo, via internet, e é dedicado aos casais grávidos, nossa Roda de Mães da Baixada. 


Quanto às aulas de Yoga também volto a dar em setembro, quando completo 40 dias de pós parto.
Em setembro vamos voltar ainda com as aulas de Babyoga, que é pra ser feita pela mãe com o bebê.
Mas claro, devemos perceber nosso bebê, e sentir como eles se comportam, se essas saídas atrapalham ou não o sono e a mamada deles. Por enquanto, Dora fica muito bem no meu colo, no wrap ou sling, quando participamos desses eventos. 


E assim é a fase de puerpério, um eterno aprendizado entre pais e bebês, com uma linda jornada pela frente: a Vida!


(Re)leia outras entrevistas!

Rebeca Celes

Janet Balaskas

Kalu Brum

Mayra Calvette

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A legislação brasileira e a violência institucional no parto e nascimento - VIII COBEON (2013)

Entre os dias 30/10 e 01/11/2013, foi realizado, em Florianópolis-SC, o VIII COBEON – Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal. Promovido pela ABENFO – Nacional e organizado pela ABENFO-SC e Departamento de Enfermagem da UFSC, o evento reúne centenas de profissionais que trabalham diretamente com o ciclo gravídico-puerperal. 

O grupo de pesquisa Gênero, Maternidade e Saúde esteve representado por alunas e as docentes líderes, as profas. Dra. Carmen Simone Grilo Diniz (FSP/USP) e Dra. Camilla Schneck (EACH/USP).

A advogada Prisicila Cavalcanti apresentou uma série de marcos legais que protegem as brasileiras da violência obstétrica. Confira a íntegra do trabalho na imagem abaixo.

Priscila Cavalcanti, que também é doula em São Paulo-SP, considera ainda que o trabalho apresenta um “panorama geral” dos marcos legais, não incluindo as normas vigentes que decorrem de tratados internacionais ratificados pelo país.




Você também pode enviar seu trabalho apresentando no COBEON para publicação no Blog Parto no Brasil. 
Escreva para lunabianka@yahoo.com.br

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Maternidade precoce: enfrentando o desafio da gravidez na adolescência

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) divulgou hoje, 30 de outubro, o relatório "Situação da População Mundial 2013 - Maternidade precoce: enfrentando o desafio da gravidez na adolescência". Acesse todo o documento aqui. O lançamento ocorreu em mais de 150 países, mobilizando agências de informação, organismos internacionais, governamentais e da sociedade civil.

O relatório destaca os principais desafios da gravidez adolescente e seus graves impactos sobre as meninas em termos de educação, saúde e oportunidades de emprego de longo prazo. Também mostra o que pode ser feito para frear esta tendência e proteger os direitos humanos e bem-estar das adolescentes.
"A gravidez na adolescência é simultaneamente uma causa e uma consequência de violações de direitos. A gravidez mina a capacidade de uma adolescente de exercer seus direitos à educação, saúde e autonomia. Por outro lado, quando ela é impedida de desfrutar de direitos básicos, também é mais vulnerável a engravidar. Para cerca de 200 adolescentes por dia, a gravidez precoce resulta na mais definitiva violação de direitos: a morte."
Morte materna - 90% das quais poderiam ser evitadas com a aplicação do conhecimento médico hoje disponível - resultado de agravos clínicos da gravidez, parto ou abortamento. 
Para o movimento feminista, as mortes maternas representam a mais grave violação dos direitos humanos das mulheres. Isso porque elas resultam da ineficiência dos governos em executar as políticas públicas que garantem os direitos reprodutivos daquelas que engravidam. E vale lembrar que, atualmente, mais de 50% das gravidezes do país não foram planejadas.


Gravidez na adolescência no Brasil - acesse aqui o resumo

No Brasil, são os determinantes sociais da saúde que elevam os números para índices de saúde alarmantes, tal como é considerada a taxa de natalidade entre as adolescentes. São as meninas pobres, negras ou indígenas e com menor escolaridade as quais engravidam com maior frequência. 
  • 26,8% da população sexualmente ativa (15-64 anos) iniciou sua vida sexual antes dos 15 anos no Brasil
  • Cerca de 19,3% das crianças nascidas vivas em 2010 no Brasil são filhos e filhas de mulheres de 19 anos ou menos
  • Em 2010, 12% das adolescentes de 15 a 19 anos possuíam pelo menos um filho (em 2000, o índice para essa faixa etária era de 15%)  
Acesse aqui a matéria
E para completar, "Muitas gravidezes de adolescentes e jovens não foram planejadas e são indesejadas; inúmeros casos decorrem de abusos e violência sexual ou resultam de uniões conjugais precoces, geralmente com homens mais velhos. Ao engravidar, voluntaria ou involuntariamente, essas adolescentes têm seus projetos de vida alterados, o que pode contribuir para o abandono escolar e a perpetuação dos ciclos de pobreza, desigualdade e exclusão."

Nos últimos meses, por meio do Conselho Municipal de Direitos da Mulher de Londrina-PR, pudemos constatar a ineficiência das nossas políticas de planejamento reprodutivo, que excluem as adolescentes e exigem presença de um "responsável" para as adultas. Nos postos de saúde, as adolescentes só têm acesso ao programa municipal de planejamento familiar após darem à luz ao primeiro filho. Daí então poderão receber informação e métodos de contracepção. Além disso, mulheres adultas devem ser acompanhadas por um responsável... arram... mesmo que seja ela a pessoa responsável pelo domicílio... É motivo daquele riso de nervoso, sabe?

Voltando às meninas, antes de se tornarem mães, nem mesmo o contraceptivo de emergência é disponibilizado, contrariando as diretrizes do protocolo do Ministério da Saúde (acesse aqui). Isso também acontece em São Paulo capital e cidades do interior, segundo relatos ouvidos nas disciplinas do Quadrilátero da Saúde da USP. É como se toda a política de planejamento reprodutivo não reconhecesse a sexualidade dos jovens. Não há atribuição específica.... quem deve garantir informação e educação em sexualidade? A Saúde? A Educação? O Serviço Social? 

Destaco que, em minha cidade, são os CRAS aqueles que mais propiciam o tema para adolescentes. Eu tive a oportunidade de participar de um dos encontros do Programa PROJOVEM Adolescente, em uma escola pública da Zona Oeste de Londrina. Esperava encontrar-me com cerca de 25 jovens. Preparei 20 slides de conteúdo e um vídeo de 10 minutos, para 2h30min de conversa sobre "Saúde, sexualidade e gravidez na adolescência". Inesperadamente, cerca de 70 meninos e meninas entre 14 e 17 anos estavam diante de mim, e durante a minha apresentação, no momento em que eu disse que eles poderiam me interromper a qualquer momento com dúvidas e questões, cinco mãos foram erguidas. Mais risos nervosos.

Foram mais de 70 perguntas, 10 delas sobre aborto, outras 25 sobre métodos contraceptivos, 25 sobre comportamento e discriminação sexual, 10 sobre situações clínicas específicas, as quais não pude ajudar, a não ser indicar: consulte um médico se os sintomas permanecerem ou procure segunda opinião médica, se possível. Eu fiquei impressionada, muito positivamente.

Nas aulas sobre saúde e sexualidade, as quais tenho grande prazer de organizar, sempre utilizo referências de políticas públicas nacionais e recomendações de organismos internacionais. São as diretrizes para a garantia dos nossos direitos reprodutivos, direitos humanos. Quando conversamos sobre sexualidade com meninas e meninos, não corremos o risco de incitar neles o exercício prático. Estudos comprovam que os jovens que conhecem conteúdos sobre saúde sexual e reprodutiva, direitos sexuais e direitos reprodutivos, tendem a ser mais responsáveis com o exercício de sua sexualidade. Isso porque a informação lhes dá escolhas. Nem a sexualidade, tampouco a gravidez ou o aborto, são evitáveis com o silêncio. 

Nós sabemos que, para algumas meninas, a maternidade adquire um significado de melhor status, mas precisamos defender a educação e o trabalho porque proporcionam melhores oportunidades de autonomia e cidadania nos países em desenvolvimento, marcadamente patriarcais, machistas, racistas e homofóbicos.

Para finalizar, uma defesa das meninas. Não raro ouvimos argumentos do tipo: as mulheres fazem uso rotineiro da pílula do dia seguinte se ela é distribuída sem consulta médica nas UBS; ou, as mulheres farão mais abortos se descriminalizado. Isso é mais uma expressão da infantilização das mulheres, de sua irresponsabilidade de gênero, nas palavras da feminista Angela Freitas, em entrevista a Conceição Lemes para o Blog Viomundo: "um descaso com a honestidade das mulheres. É achar que, por princípio, elas são desonestas e mentirosas." - acesse aqui a entrevista.

E para que a crítica não deixe de ser construtiva, nesses casos, a proposta é que seja dever dos serviços de saúde acompanharem o fluxo das mulheres pelos programas de planejamento reprodutivo, o que só é possível com sistemas de informação eficientes.

Em livre tradução: Ações que os governos deveriam implementar para melhorar a saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e garantir seus direitos humanos:
1. Fazer com que as escolas trabalhem conteúdos de edução sexual;
2. Revisar suas diretrizes de educação sexual para quem sejam adequados à idade, sensíveis às relações de gênero e baseadas em conhecimento científicos (e não crenças, tabus, dogmas religiosos, etc.)
3. Organizar o financiamento nacional para tais ações;
4. Firmar parcerias com jovens, especialistas e grupos da sociedade civil, para sua execução;
5. Assegurar que a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos de meninas e meninos estejam incluídos nas políticas nacionais e supranacionais.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

9o. Congresso Internacional de Parteiras Tradicionais, em Pernambuco

É com grande alegria que divulgamos este congresso, que acontece neste início de novembro, em Pernambuco, sendo um encontro fechado para convidad@s, entre elas parteiras tradicionais, aprendizes e doulas na Tradição, organizado pelo CAIS do Parto

Mais informações, abaixo! 

Quem puder contribuir, doações estão sendo aceitas, já que o evento não conta com recursos de editais, ou outros tipos de financiamento.


O 9º Congresso Internacional de Parteiras Tradicionais, de 3 a 8 de novembro de 2013 reunirá parteiras tradicionais de vários países da América Latina como México, Colômbia, Chile, Bolívia, Argentina, Uruguai, parteiras aprendizes de São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Goiás, Paraíba.

Na programação o congresso realizará o I Encontro Nacional de Doulas na Tradição. A reunião das escolas de parteiras da América Latina promoverá um grande impacto para a ressignificação da assistência ao parto e nascimento. Participarão parteiras de seis etnias indígenas, de quatro estados do nordeste e parteiras quilombolas da Paraíba.



O CAIS do Parto solicita doações de recursos econômicos para as despesas de hospedagem, alimentação, transportes locais, blusas e bolsas para 30 parteiras na Tradição que não podem pagar sua inscrição. Não contamos com financiamento, estamos construindo um outro formato de congresso que possa atender as necessidades verdadeiramente e ao final tenhamos atingido todas os objetivos com propostas factíveis e que possamos vislumbrar uma transformação real e efetiva.

Gratidão,

Suely Carvalho - Parteira Tradicional

Para doações:

BANCO DO BRASIL
AGÊNCIA 2365-5 - VARIAÇÃO 51 (POUPANÇA)
CONTA 31413-7
SUELY CARVALHO/CPF 316751239-34


Fonte: http://caisdoparto.blogspot.com.br/2013/10/ix-congresso-internacional-de-parteiras.html

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Maternidade e carreira profissional, ou como conciliei em home-office a maternagem ativa

O coletivo FemMaterna organizou a Blogagem Coletiva Maternidade, Paternidade e Carreira Profissional, e venho contribuir com meu relato de experiência desses mais de quatro anos em que meu companheiro e eu maternamos nossa cria, um menino sapeca e falante, que como luz guia nossos passos, desde sua gestação. Nosso Deus do Amor, Rudá, em tupi guarani, como reza a lenda, semeia a amorosidade por onde passa!


Refletindo sobre esse trilhar não posso deixar de conectar a vinda desse que foi meu segundo filho com o nascimento do primogênito, do primeiro casamento, um canceriano sensível e querido, Ícaro, mas que, também como a lenda, voou para longe de mim, com apenas dois anos, e vive, atualmente, com o pai e sua madrasta, e já se tornou um pré-adolescente questionador, com 11 anos de idade, e que pouco eu vi crescer.

Foi a falta dessa maternidade, em feridas hoje já bastante cicatrizadas que quando engravidei de Rudá prometi a mim mesma que tudo seria diferente. A começar pelo parto, já que Ícaro veio ao mundo por uma cesárea intraparto, daquela menina de pouco mais de 22 anos, que apesar de graduada pouco sabia sobre o sistema obstétrico brasileiro, tendo como fonte a Revista Crescer e Cia.

Nesta segunda gestação, numa fase bem difícil da vida, não planejada, com poucos recursos financeiros, tivemos a revelação, com o exame de farmácia. Nas próximas semanas da novidade, dois projetos que havíamos enviado foram aprovados, pela Secretaria de Cultura, do Governo de São Paulo, pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) e Juliano passou no vestibular, dando início, no ano seguinte, os estudos em Agronomia, em outra cidade.

Nesta época estávamos na Ilha de Cananéia, onde Rudá nasceu, em nossa casa, nove meses depois, em um parto demorado, mas transformador - literalmente.

Desde aquele 23 de agosto de 2009 que nossas vidas nunca mais foram a mesma, e olhando agora para ele, que brinca ao meu lado enquanto escrevo essas palavras, faria tudo e mais um pouco de novo!

Com o parto domiciliar, a criação com apego foi inevitável, para mim. Amamentação exclusiva, até o sexto mês, e sob livre demanda, sendo prorrogada até seus dois anos e dois meses, quando houve o desmame, associada a cama compartilhada e aos cuidados integrais com aquele bebê que mostrou qual caminho, aquele do coração, que eu deveria seguir.

Organização e participação no evento Dia da Parteira, em Cananéia/SP
Foto de Leandro Cagiano.

Eu já tinha uma rotina de trabalho em home-office, como pesquisadora na área da Antropologia, com comunidades tradicionais caiçaras e ribeirinhas, e assim foram os primeiros anos de sua vida, agarrado no sling em nossas saídas-de-campo, nas assembleias de uma ONG em que éramos associados, nas vivências, cursos, formações. Todo tempo ele estava lá! E, para mim não poderia ser diferente!

Intercâmbio cultural em um quilombo carioca.

Com quatro meses prestei um concurso para professores do Estado de São Paulo, e passei em segundo lugar do Vale do Ribeira, sem ao menos ter consultado a bibliografia antes da prova. Prova em que Rudá também estava, com o pai, e que foi amamentado entre uma questão e outra. Eu teria dez aulas de Sociologia garantidas, todos os anos, mais os benefícios que a categoria permitia, porém, a amamentação como eu sonhava teria que ser mudada, ou tirando o leite, ou introduzindo leite artificial. A decisão?! Não, obrigada. E, foi aí que eu entendi que aquela maternidade ativa tinha sido uma escolha consciente, e que por ela eu abriria mão de outras coisas, mas muito menos importantes do que Rudá.

Fechamento de encomenda, com cria a tira-colo e direito a joinha!

Isso não quer dizer que não trabalhei. Desde lá foram intensos anos de muita labuta, escrita - com a criação deste blog, com Ana Carolina, em dezembro do mesmo ano de nascimento de nossos filh@s - de projetos culturais aprovados e coordenados, de quatro livros publicados - sendo o último sobre as parteiras tradicionais caiçaras - da descoberta pela paixão pela costura e bordados, com a criação do empreendimento feminino Comadres, onde eu e duas comadres amadas produzimos peças exclusivas e utilitárias. Além dessas tantas e diversas funções, iniciei um caminho na sagrada arte de partejar, através da Escola de Aprendizes de Parteira na Tradição, pelo CAIS do Parto, em Olinda-PE, atuando, ainda, como doula, e tendo a alegria de acompanhar outras mulheres, que como eu, tomaram a rédea de seus partos, e tiveram suas vidas transformadas pela maternidade.

Há pouco mais de quarenta dias nos mudamos de nosso chalezin, na ilha cercada pelas majestosas montanhas e estamos em Botucatu, interior paulista.  O motivo foi uma escola não tradicional para Rudá, onde ele não será alfabetizado aos quatro anos de idade, e sim irá brincar, correr, cantar, ouvir histórias e fábulas, enfim, irá ser o que uma criança dessa idade deveria ser, criança! Com esta nova etapa, novos caminhos profissionais para meu companheiro e eu estão se construindo, com vagarosidade e calma. Fase de adaptação, de nostalgia, de aperto no peito, lágrimas nos olhos, questionamentos, mas como disse uma amiga esses dias é para fazer a semente que está lá na terra esticar, brotar, florescer e semear novamente.


Assim, finalizo essas minhas impressões, tão sinceras com a minha verdade, na contramão de uma sociedade e seu status quo, que extraí, terceriza, medica, e pouca (ou quase nenhuma) importância dá a maternidade - reflexo do patriarcado, e da dominação em que nós mulheres sofremos, há muitos anos. Desta forma, posso dizer que para ser mãe não precisamos deixar nossa carreira profissional, e sim podemos adaptá-la, tendo em vista que essa primeira infância, tão sagrada e única, dura pouco, e lá na frente teremos saudades dela, ao ver nossos "...filhos fortes, sonho semeando o mundo real..."


* Confira outras histórias aqui!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Maternidade, feminismo e estudos além mar, com Carol Pombo

É com grande satisfação que publicamos um relato consciente, crítico, e atual sobre o que nós mulheres passamos ao nos depararmos com uma gravidez não planejada, frente a falta de apoio que nossa sociedade reflete em nossa maternagem, incentivando um parto sem acompanhante, um não aleitamento materno exclusivo, e por seis meses, a tercerização de nossos filh@s e todas as outras ambiguidades culturais. 

Quem vem para a prosa é Carolina Pombo, que está em solos franceses, em seu doutorado, com cria e companheiro a tira colo, como um dia sonhou - antes de ser mãe!

Minha maternidade transitória

A maternidade chegou na minha vida de forma inesperada. Eu não tinha o sonho de engravidar, eu não era casada nem tinha uma relação amorosa estável, eu estava no meio do mestrado acadêmico e acabara de voltar a namorar com meu companheiro, meu atual marido. Eu sonhava em fazer o doutorado no exterior e ter dias mais livres, com o pé na estrada.

Quando soubemos da gravidez, foi um choque. A resposta positiva foi lida na companhia do meu namorado, duas amigas e minha irmã mais nova. Comemorações e lamentos ao mesmo tempo rodearam a minha cabeça, que girava em direções completamente opostas. Eu não queria mudar totalmente o curso da minha vida. Eu não queria parar de trabalhar, abandonar o sonho do doutorado no exterior, e nem queria casar, mesmo amando muito o pai da minha filha. Eu não queria ser outra pessoa – e a maternidade, diziam, faz com que o mundo a enxergue prioritariamente como “mãe”. Eu não queria ser limitada a essa identidade.

A primeira questão que eu encarei quando me vi grávida foi, então, a do aborto. Faria um aborto e continuaria meu percurso profissional e pessoal sem grandes mudanças?

A conversa com meu companheiro, na ocasião, foi fundamental para que eu tomasse uma decisão. Para ele, a gravidez não me impediria de fazer nada do que eu vinha sonhando, apenas retardaria um pouco meus planos. Ele me apoiaria em qualquer decisão, mas deixou claro que não via a maternidade como uma redução ou uma transformação completa da minha identidade. Eu poderia ser mãe, profissional, amante, doutoranda no exterior, com o mochilão nas costas e família ao lado...

Eu topei o desafio, e fui, gradualmente, retomando minha autonomia, fazendo da maternidade uma escolha e não um destino. Eu não tinha planejado o tempo em que Laura viria, mas eu poderia responder à essa novidade com o meu protagonismo. Foi com essa decisão que me preparei para um parto natural e enfrentei os constrangimentos do sistema obstétrico brasileiro. Abandonei a primeira obstetra que certamente me induziria a uma cesária desnecessária, depois tive que desistir de parir em casa porque o novo médico não me apoiava a esse ponto, e me indispus com ele por causa de uma atitude anti-ética em relação ao preço de sua assistência. Pari muito bem numa maternidade privada, tendo consciência, porém, de que eu representava os 10% de uma classe econômica privilegiada que sustenta a enorme desigualdade social entre as mães no meu país. Esse foi um dos primeiros processos que me levou a entender a contradição dessa identidade materna compulsória: se, depois da concepção, passam a nos olhar prioritariamente como “mãe” é geralmente para nos tornar em receptáculos dos conselhos (e cobranças) alheias e não para nos apoiar em nossas escolhas.

O fato é que, mesmo com todo o apoio do meu companheiro, tive que lidar com os enormes desafios da maternidade compulsória – essa que querem nos fazer vestir a todo custo emocional, econômico, e conjugal possível. Ela é composta das pressões para que, enquanto mães, adotemos certas práticas de maternagem que deixam muito pouca margem de autonomia. São práticas tidas como “naturais” (ou seja, normais), quando na verdade são moldadas por padrões de consumo que invadem os corpos e o tempo das mulheres, que impõem sobre elas a responsabilidade quase integral do bem estar das crianças, oferecendo pouco ou nenhum suporte para tal. São padrões que oferecem soluções “privatistas” para os cuidados com os bebês: que defendem hipocritamente a amamentação materna enquanto nos seduzem com bicos de plásticos em cada esquina; que nos “educam” para ter empatia pelas necessidades dos bebês, mas que não enxergam as nossas necessidades como indivíduos e cidadãs; que nos empurram a “terceirizar” a maternagem e depois nos culpam por fazê-lo. Percebi que, para exercer de fato uma maternidade “natural” – ou seja, espontânea e autêntica – eu precisava lutar contra o aliciamento de discursos contraditórios que sempre, invariavelmente, apontavam para a “culpa materna” e não problematizavam a “culpa da sociedade”.

Enquanto me debatia com os constrangimentos diários dessa maternidade, passei a debater com o meu companheiro: vamos fazer diferente?

Apesar do mercado de trabalho exigir que os homens estejam muito mais tempo fora do ambiente doméstico e das mulheres que se dividam entre trabalho do cuidado e trabalho (menos) remunerado, eu e ele passamos a negociar uma maternidade diferente. Ele passou a se integrar mais, cada vez mais, nos cuidados com a Laura (a começar pela participação no parto e na amamentação). E eu continuei buscando alternativas coletivas, que me proporcionassem o protagonismo materno e ao mesmo tempo a manutenção dos meus sonhos pessoais e profissionais. Esbarrei na falta de instituições de qualidade, para as crianças e os pais, na falta de espaços públicos de lazer, na falta de receptividade às crianças em ambientes diversos, nas poucas (ou nenhuma) ofertas de trabalho remunerado que me permitissem conviver de verdade com minha filha. Enfim, comecei a lutar com uma sociedade despreparada para a cidadania das crianças e de suas mães. Enquanto essa sociedade esperava que eu assumisse o cuidado integral da minha filha e abandonasse uma carreira profissional, ou que explorasse o trabalho de outra mulher e me ausentasse demais de casa, eu tentava esboçar soluções alternativas, negociando sempre com o marido. Não foi simples, não foi fácil. Discutimos muitas vezes, peitamos os patrões, os parentes, os especialistas, e as expectativas alheias – e seguimos na tentativa de conciliar nossos sonhos com o bem estar de nossa filha.

Hoje, falamos de maternidade transitória porque entendemos que “ser mãe” é algo diverso, que muda ao longo da História e das culturas das sociedades. Porque a forma como as mulheres são afetadas por essa função não é universal, mas é mutável, é transitória, varia de acordo com as expectativas e os recursos coletivos que elas vêem. E por isso, nem ele nem eu podemos impor sobre a “mãe da Laura” as expectativas de uma maternagem padronizada. Por isso, ele se integra muito mais do que o “esperado” nas práticas de maternagem que estabelecemos. A maternidade transita entre nós, e hoje, é compartilhada com as estruturas coletivas que são amigáveis e receptivas às famílias com filhos, no país que escolhemos passar os próximos três anos. Estamos na França, onde faço meu doutorado e ele aprende o francês e se dedica bastante à filha de quatro anos; onde eu acabo de escrever meu primeiro livro sobre o assunto e ele se prepara para renovar sua vida profissional. (Tudo com muito menos dinheiro do que tínhamos no Brasil, mas também com muito mais tempo para usufruir da companhia uns dos outros).

No livro A Mãe e o tempo: ensaio da maternidade transitória (que será publicado no final de outubro pela editora Memória Visual, no Rio de Janeiro), narro as dificuldades que vivi no primeiro ano de minha filha, e ensaio explicações sociológicas para elas, identificando contradições em discursos feministas e maternistas que, muitas vezes, nos fazem parar na cadeira de terapeutas e analistas, ou nos levam a tocar um ativismo apaixonado – sem que nos demos conta da reprodução de desigualdades sociais tão arraigadas. Eu busco, com esse livro, entender meu próprio percurso e incentivar a outras mulheres e famílias que busquem seus caminhos de forma autêntica, contribuindo para que Estado, empresas e demais organizações se responsabilizem também por nossos pequenos cidadãos.

O blog Parto no Brasil é um dos exemplos de ativismo materno que não se ilude com soluções privatistas, mas que nos leva a pensar na complexidade do sistema obstétrico brasileiro, que nos leva a reconhecer realidades e maternidades tão diferentes das nossas, a aprender com elas e a olhar de forma mais crítica para nossos padrões de maternagem. Agradeço demais a Bianca e a Ana Carolina que tem dialogado comigo nesses anos de blogosfera (a Bianca até publicou seu relato de parto no meu antigo blog, o What Mommy Needs)! Espero voltar aqui mais pra frente, para contar do desenrolar de minha pesquisa que é basicamente sobre o primeiro ano de transição da maternidade de mães brasileiras que vivem no Brasil, em Portugal, na França e na Suécia. Até breve!


* Carolina Pombo é escritora, pesquisadora e psicóloga social, e escreve seus diários de trabalho, viagens e escrita nos blogs Kaléidoscope e Com a cabeça fora d´`aguaalém de participar do coletivo feminista FemMaterna. Neste mês publica seu primeiro livro!




E, já que o tema é maternidade versus carreira fica o convite para a Blogagem Coletiva que o FemMaterna está organizando, abaixo:



quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Mais Médicos, o tratamento homeopático perfeito para o complexo da medicina da Nação

Por Cláudia Rodrigues *

Bianca Lanu, convidou-me a escrever um texto sobre a entrada de médicos no Brasil para suprir, não a carência de médicos no país --temos médicos brasileiros em número suficiente-- mas para garantir cobertura de medicina básica nos rincões do país, carentes dos nossos elevados profissionais.

Nossos médicos não querem ir aos rincões. Os motivos são muitos e os argumentos fazem algum sentido. Falta de garantias trabalhistas, estabilidade, plano de carreira e principalmente falta de equipamentos de ponta. No interior não há hospitais equipados. Dentro desse paradigma, estão cobertos de razões.

Formados por universidades tecnicistas, por uma medicina focada mais na doença do que na saúde, nossos médicos saem das universidades sem condições mínimas de atender um parto natural sem intervenções. Passam cinco anos viciando-se no uso de equipamentos, são inseguros para fazer exames clínicos, aprendem a ver o corpo humano como uma máquina que precisa se adequar, menos ao ambiente familiar, ecológico em que estão inseridos e mais às premissas de uma medicina extremamente invasiva, muito focada no achado da doença e menos no restabelecimento da saúde, na auto-regulação, no equilíbrio do corpo humano.

Nossos médicos de maneira geral -- excetuam-se aí os médicos de família, os homeopatas, os humanistas que foram contra o Ato Médico e são favoráveis a uma interdisciplinaridade entre todas as profissões da saúde -- fazem parte de um nicho mercadológico, crias de conselhos corporativos que nos últimos anos cresceram dentro do paradigma consumista que está a ruir.

Nesse nicho de mercado dominante a química de um medicamento se sobrepõe aos benefícios químicos dos alimentos, por exemplo. O corpo humano, essa máquina antiga que sempre vai precisar de água pura, entope-se de líquidos açucarados, salgados, comidas literalmente envenenadas. Não importa, mais química é preciso. Comeu sal, a pressão está alta? Tomemos remédios, química para regular a pressão. É o menos mal sobre o mal já feito, o nosso doutor também bebe coca-cola, o nosso doutor não sabe ajudar a jovem mãe a amamentar, ele precisa ter em mãos no posto de saúde um leite artificial. O nosso doutor não pode visitar a casa do doente e reparar se ali é possível ter uma horta, dar dicas sobre o assunto, ele não é agrônomo, esse não é o serviço dele.

Assim que não vou escrever sobre a medicina e o caso dos médicos argentinos, espanhóis, portugueses e cubanos que estão chegando para viver a aventura de prestar serviços médicos básicos de saúde, mas sobre como nós todos, cidadãos do país, leigos em medicina, usuários de serviços médicos, passamos a comprar e crer nessa medicina que nos foi passada como ideal, para não dizer perfeita, para não mencionar que no fundo já acreditamos em elixir da vida eterna via entubação e cirurgias em velhinhos de 90 anos.
Quero escrever sobre o medo que essas corporações têm apresentado diante de soluções simples e eficazes, principalmente de baixo custo e que nos fazem muito mais bem do que mal nos recolocando no lugar de onde nunca deveríamos ter saído. Somos bípedes que andam 4 km/h. Podemos e a maioria de nós nasce bem melhor de parto natural humanizado, sem intervenções, com notáveis vantagens, do que via cirurgia. Isso mudou na medicina moderna. O paradigma tecnicista conseguiu transformar o parto em doença de alta periculosidade. Depois disso é preciso ter duas pulgas atrás da orelha para qualquer recomendação médica, especialmente se ela vem atrelada a dezenas de exames, vinculadas à máquinas que emitem radiação, o que é o caso dos mamógrafos.

Ano passado morreram em acidente no RS algumas mulheres de 40 anos que estavam viajando para fazer mamografias preventivas na capital. Elas não haviam lido estudos da Força- Tarefa canadense, que não recomenda esse exame para mulheres de menos de 50 anos, que vê a recomendação desse exame para mulheres entre 50 me 65 anos com restrições e novamente não recomenda a partir dos 65 anos, posto que o número de sobrediagnósticos e superdiagnósticos é muito alto. O sacrifício de deixar o trabalho, os filhos, a casa, não valia a pena de morte do acidente, mas elas morreram sem saber e os jornais noticiaram o problema: falta de mamógrafos nos rincões do Brasil.

Milhares de pessoas no mundo têm migrado para o questionamento às vacinações em massa, estão se dando o direito de pensar, ler e estudar sobre os eventuais efeitos colaterais das vacinas, escolhendo que vacinas querem tomar ou dar em seus filhos. Não é coisa de natureba, as vacinas não são inócuas, pesquisas independentes, não vinculadas aos interesses dos grandes laboratórios, estão disponíveis para consulta e reflexão. Difícil decisão, vacinas têm salvado a humanidade de calamidades, mas em nome disso muitas falcatruas vêm tomando conta do mercado em altas negociatas em nome da saúde. Milhares de pessoas no mundo estão migrando para outras formas de prevenção de doença, manutenção e restabelecimento da saúde. Essas pessoas são formadoras de opinião, essas pessoas não temem questionar seus médicos, essas pessoas querem saber mais e se recusam a ser peça no jogo econômico.

O grande boom do mercado da medicina está sendo ameaçado e nos últimos meses isso ficou muito claro. Dezenas de presidentes de conselhos e sindicatos que representam a categoria médica no país escreveram artigos, deram entrevistas para rádios e televisões criticando o programa “Mais Médicos”. Esses profissionais não falam de saúde, não falam de agrotóxicos, não estão engajados em programas sociais, não fazem parte de comunidades de bairro Defendem claramente um mercado, não uma ideologia, defendem a complicação das doenças, não falam de gente, não falam para as gentes, não inserem as pessoas no território em que estão, em seu ambiente, não criticam o sistema que adoece, lucram com ele, investem nele.

Não é estranho que tendo como público os ricos que frequentam lindos consultórios particulares ou sejam atendidos via planos de saúde, eles se ressintam tanto com o futuro do Brasil de pés descalços. O projeto era maior e estava encravando-se no sistema público de saúde como uma peste. A exemplo das fundações nas universidades, o mesmo vem ocorrendo no SUS, a medicina privada com vínculos estapafúrdios com o SUS. Reformas em hospitais públicos com dinheiro privado dão uma cara de assistencialismo e benfeitorias, mas são na realidade sugadoras do SUS com intenções e modos de operação muito bem definidos para sucatear o que é público e de direito e vender serviços. A classe C e D estavam migrando maciçamente para os planos de saúde, enquanto a A e a B começavam a questionar e debandar, com milhares de processos e queixas.

Ao importar médicos, ao investir em postos de saúde com interdisciplinaridade, o governo trai o sistema privado, retirando dos conselhos o poder político de gerir a saúde. É pouco ainda, merecemos e queremos mais médicos humanizados, mais médicos de família, mais liberdade para as parteiras, para os enfermeiros, mais valor ao trabalho dos psicólogos, dos nutricionistas, dos fisioterapeutas, dos terapeutas, dos optometristas, dos acupunturistas e de todos aqueles que podem tratar o ser humano de forma realmente preventiva, antes que ele vire um doente que realmente necessita de médico e serviços médicos.

A ideia de que a prevenção de doenças se dá exclusivamente por máquinas, exames, remédios e cirurgias em larga escala está na berlinda e isso é assustador para um sistema que gera bilhões de reais. Isso é amedrontador para uma classe profissional que cresceu como rainha absoluta no mercado.

Isso causa pânico naquele jovem urbano que fez medicina pensando mais em trocar de carro anualmente do que em olhar nos olhos de dezenas de seres humanos carentes e pobres do nosso país. É um medo imenso que surge na classe médica brasileira porque afinal os formadores dessa opinião que aprendemos a ouvir, estão sendo desmascarados em seus reais interesses, que são evidentemente corporativos e extremamente capitalistas.

Mas afinal, os médicos estrangeiros vão resolver os problemas de saúde no Brasil?
Não, eles vão no máximo atenuar. Eles não são deuses. Haverá casos de pessoas que precisarão ser relocadas para hospitais, para grandes centros, haverá uma série de problemas que só poderão emergir com diagnósticos médicos graças a esses médicos importados.

A saúde no Brasil só vai melhorar quando a consciência sobre o que é a prática da medicina for aprofundada antes dos estudantes prestarem vestibular, durante a faculdade e com estágios obrigatórios em hospitais públicos. Infelizmente a vocação para a profissão, mais voltada para status e poder, precisa ser repensada e isso diz respeito a toda sociedade, que aprendeu a mitificar a figura do médico e a desqualificar outras importantes figuras na saúde preventiva. Ainda falta algo muito importante a ser feito, que é apertar ainda mais o cerco à medicina privada no Brasil, encarar a privataria, questionar os conselhos e se for o caso, instalar CPI.

Encerro o texto com a narrativa de uma amiga, mãe de um estudante de engenharia da computação e de um estudante de medicina.

Sabe, Cláudia, que coisa estranha isso do status do médico no Brasil, parece até uma doença. Imagine você, eu tenho igual apreço pelos cursos que meus filhos escolheram, os dois estão bem com o que escolheram, em ambas as profissões há coisas boas e más, mas no elevador do meu prédio, estava descendo com meu filho que faz engenharia da computação, e isso aconteceu duas vezes, duas vezes com o mesmo filho, a vizinha perguntou...É esse o seu filho que vai ser médico? Eu respondi que não, esse é o que vai ser engenheiro de computação e daí ela fez assim uma cara de decepcionada. Na segunda vez, o mesmo filho, a mesma pergunta, a mesma vizinha, ainda estiquei explicando que esse filho havia feito um estágio fora do país e estava já se formando e ia casar, de tão bem que estava. A mulher de novo fez cara de decepção

É isso, é a mentalidade “mais médico” infiltrada nas entranhas da população que fez com que o governo necessitasse desse programa emergencial, cujo nome não poderia ser mais ironicamente adequado. É um nome homeopático, um tratamento homeopático, similibus.


* Jornalista e terapeuta reichiana desde 1998. Além disso, escreveu os livros: "O lado esquerdo da asa da borboleta amarela" e "Bebês de mamães mais que perfeitas", tendo realizado Brasil afora oficinas de Gravidez, Parto & Simbiose, e Inscrições Corporais. 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Mães empreendedoras

Este ano compartilhamos c/ vocês algumas histórias de mães que após os filhos nascerem resolveram atuar em outra área, p/ estarem mais perto das crias!

(Re)lembram-se?!

Jardim de Om

Espaço Materno

Bem Gerar

Maternati

O intuito deste post é convidá-las p/ nos contar outras narrativas de empreendedorismo materno, através de nossa fanpage Blog Parto no Brasil!

Envie-nos uma mensagem, se possível c/ fotos, do empreendimento que coordenam, bem como um relato de como foi esta mudança, c/ a vinda d@s filh@s!

Será um prazer ;)

sábado, 10 de agosto de 2013

Quando a voz é do pai


Por Juliano Codorna


Lembro que uma das primeiras histórias que marcaram o início desse meu processo de transformação como homem e como pai, foi quando minha companheira Bianca Lanu comentou comigo durante sua gestação que gostaria de parir o nosso filho em casa, e a minha reação foi única e imediata:
             - Não me venha com essa conversinha de antropóloga!!! rs
Mas, a partir desse momento foi dado o ponta pé inicial, mesmo sem nossa percepção, de um processo que mudaria nossas vidas para sempre e principalmente a minha, pois sou pai de “primeira viagem”. 
Bianca começou uma empreitada em busca de informações sobre parto humanizado, gestação ativa, e sempre a procura de textos, livros, vídeos, relatos de parto e com isso ela ia me passando alguns. Lembro que li durante a gestação Nascer Sorrindo, de Leboyer e O Camponês e a Parteira, de Michel Odent, além de alguns relatos de parto, mas acabava sempre assistindo algum vídeo ali meio que por acaso durante o cotidiano.
Claro que todas essas informações estavam sendo processadas em mim e a essa altura já via aquela ideia maluca como algo possível, pois aos poucos iam sendo desmistificados as impressões que tinha sobre essa possibilidade, e percebia como isso seria realmente importante para receber o Rudá e também de dar todo apoio a Bianca que desde o início pretendia ter um parto domiciliar de forma mais humana e calorosa. Outros fatores, como não acreditar no Sistema Único de Saúde e nem na Medicina convencional me ajudaram a realmente ter certeza do que seria melhor para todos nós.
No dia 23 de agosto de 2009 às 3h46 da manhã recebemos Rudá em nosso “Chalézinho”, em uma noite de chuva fina e de pouco frio... momentos inesquecíveis com pessoas que tenho o maior apreço nessa vida.
Realmente a vinda de Rudá foi algo maravilho em minha vida!
Eu sempre pretendi ter filhos, talvez até mesmo pela minha própria criação, e como filho único, sempre tive por perto dois corujões de marca maior, além do meu pai ter sido muito presente em minha criação, então acho até meio que óbvio ter Rudá como um parceiro pra essa caminhada chamada.
Mas, confesso que nunca pensei que a paternidade poderia ser algo tão transformador, pois me fez entender muitas coisas, como também me fará entender tantas outras, espero eu. E, me faz refletir de como matamos a criança que existe em nós para vivermos esse mundo cada dia mais maluco, cartesiano, e consumista.
Muita coisa sobre essa nova paternidade chegou até mim através dos relatos, textos, blogs, vídeos e livros e por isso acredito ser fundamental essas ferramentas como forma de empoderamento paterno e materno, como esse texto mesmo. Desde o nascimento do Rudá ensaio para escrever  um relato, mas a criatividade e a falta de tempo são fatores limitantes - por exemplo, esse texto mesmo era pra ser pro Dia das Mães, mas está saindo no Dias dos Pais! rs

* Mariana Massarani, A franja.

sábado, 13 de julho de 2013

Multimídia Parto no Brasil - 13 de Julho - Dia do Rock

A convite de Rebeca Charchar, que já foi entrevistada pelo Blog, Bianca Lanu e Rudá estampam o post no blog De peito aberto, integrante da Vila Mamífera, em homenagem às mães roqueiras, sambistas, clássicas e muito mais!

Simbora conferir!


Tem mãe que trabalha fora, outras em casa. Depois do trabalho elas ainda cuidam da casa, e de toda família.
Minha mãe pede ajuda e também apóia quem pede.
Ela me amamenta com prazer, mas às vezes com pressa também!
Há dias em que ela come muito para produzir leite, outros mal tem tempo para comer.
Ela me ajuda a dormir, e às vezes sou eu quem a ajuda!
Com seu colinho ela me acalma, e com o mamá ela tenta me ajudar, e se não consegue fica impotente…
A minha mãe é popular, é clássica, é jazz, é MPB, mas no dia do rock só posso dizer:
Mom, you rock! Ou melhor: mamãe, você é demais!

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Como um bardo

Foi assim que pelos olhos de Elaine Miragaia fui vista em 07 de julho, em São José dos Campos, numa manhã fria de domingo, quando cheguei para bordar com um pequeno grupo de mulheres, numa Oficina de Bordados Arpilleras, junto de Rudá.

Bardo na antiga tradição europeia era o encarregado pela transmissão oral das histórias, lendas e poemas, como um trovador. Quanta identificação senti ao ler o post de No Quintal, onde Elaine, que produziu o encontro relata suas sensações, emoções e cura.

Cinco mulheres, e suas narrativas em linhas e estampas sobre gestação, parto, nascimento e maternidade, tão profundas onde retalhos unem a alegria, a dor, a fuga, a entrega. E, como é bom fazer de minhas mãos esse instrumento.

Compartilho, pois bem, com vocês:

Daquilo que cura

Pra bordar uma Arpillera, usamos linha, tesoura, agulha, tecido e tela (no caso em específico, saca de café). Numa análise simbólica, retalhos são fragmentos não só de tecidos, mas também de histórias. Os tecidos que usamos já passaram pelas mãos de muitas mulheres e carregam em si a essência de tantas histórias já contadas sobre eles. Histórias de maternidade, de entrega. Bianca, levando os tecidos de cidade em cidade, é uma espécie de contadora de histórias, um bardo, que perpetua esses contos fantásticos.

Elaine

Denise 

Estela 

Maria 

Myrian 

Fotos de Bianca Lanu.

sábado, 6 de julho de 2013

Multimídia Parto no Brasil - Como alitas de chincol


COMO ALITAS DE CHINCOL from Vivienne Barry on Vimeo.


Já que falamos sobre Arpilleras essa semana, nosso audiovisual de hoje compartilha um belo trabalho de Vivienne Barry, Como alitas de chincol sobre a ditadura chilena através da arte têxtil feita em sacas de farinha.

Um ótimo fim-de-semana de feriado à vista ;)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

22 anos atendendo a gestação, parto e puérpeio, em Olinda/PE

Hoje é dia de festa!

CAIS do Parto completa 22 anos!



O início de sua história pode ser lida aqui, no blog que acaba de ganhar uma nova roupagem, 
mas que está no ar desde 2005. 

ACESSEM:



Rodas de Casais Grávidos, Doulagem, Partería Tradicional com as parteiras Suely Carvalho e Marcelly Carvalho, Formação de Doulas na Tradição e de Aprendizes de Parteira, além de acompanhamento de pré-natal e terapias complementares, em Olinda/PE.

Neste mês temos mais um curso de Doulas na Tradição, c/ Marcelly Carvalho e Marla Carvalho, em parceria com o CAIS da Luz.


quinta-feira, 4 de julho de 2013

Arpilleras, mais que uma técnica

Em agosto de 2011 subi para São Paulo para ir a exposição Arpilleras da Resistência Política Chilena, no Museu da Resistência, na Luz. Dias antes tinha visto no site da Secretaria de Cultura essa oportunidade, já que estava pesquisando técnicas têxteis para a arte gráfica do livro Parteiras Caiçaras, que organizava na época, sobre a prática das parteiras tradicionais caiçaras de Cananéia, c/ apoio também da Secretaria de Cultura, pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) - saiba mais em Projeto Parteiras Caiçaras.

No dia do evento me encontrei com um amigo queridíssimo, e lá fomos nós ver as sacas de farinha, as Arpilleras, que contavam a opressão vivida durante a Ditadura de Pinochet, na década de 70. Produzidas especialmente na Isla Negra, sul do Chile, mulheres artesãs contavam suas dores, perdas, desamores com companheiros, filh@s, parente exilados.

Bianca Lanu

Das mortes, arte!

Foi amor a primeira vista!

E, para alegria pudemos ter uma oficina com a curadora Roberta Bacic, e com a educadora e psicóloga Esther Vital, que passou a ser comadre e a nos ensinar, em três outras oficinas como produzir telas Arpilleras - mais tarde tive a sacralidade de ser uma de suas doulas e virei uma arpillera (suspiros) *.


A 1a. foi em outubro do mesmo ano, onde um grupo de mulheres bordou a capa de Parteiras Caiçaras, e, ainda, três outras telas que introduzem os capítulos.

Leandro Cagiano

Na segunda visita de Esther foram partilhados bordados sobre o Rio Ribeira de Iguape, o único rio que corre livre no Estado e que há mais de 20 anos o Grupo Votorantim, de Antônio Ermírio quer construir uma série de barragens para sustentar a extração de alumínio de sua empresa. Comunidades de ribeirinhos, caiçaras e quilombolas lutam décadas contra este outro tipo de opressão - a do capital!

Mira

Por fim, tecemos no outro dia arpilleras pessoais, sobre nossa biografia.

Mira

Assim, cada vez mais a técnica ganhou forma, e atualmente venho atuando como facilitadora de oficinas de Arpilleras, Brasil afora!

A intenção é trabalhar nesta arte-terapia relacionada à educação perinatal, as sensações, emoções, conflitos de períodos como gestação, parto, nascimento, maternidade, com grupos de mulheres para bordarmos nossa história!

Abaixo alguns desses locais onde tive o prazer de compartilhar linhas, agulhas, risos, cafés :)
Quem se interessar, vem c/ a gente ;)


Em Ourinhos/SP, na casa pangea.


Em Curitiba/PR, na Casa João de Barro.

E, neste fim-de-semana, na PatchAula, em São José dos Campos, 
no Vale do Paraíba/SP!

Em agosto. em Bauru, interior paulista, no Jardim de Om!

\o/ \o/ \o/

Bianca Lanu

*


Esther Vital - Imagem e arte têxtil.

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