Um estudo da Unifesp mostra que cerca de 60% dos nascimentos acontecem com 37 ou 38 semanas de gestação - quando a gravidez dura cerca de 40 semanas. Segundo consensos internacionais, o ideal é esperar no mínimo 39 semanas. Antes disso, aumentam as chances de complicação para o recém-nascido, como desconforto respiratório e icterícia.
"A tendência é mundial. Está havendo uma antecipação do parto. Antes, os bebês nasciam com 39 ou 40 semanas", diz Cecília Draque, neonatologista do departamento de pediatria e neonatologia da Unifesp, uma das autoras do estudo.
Segundo a pesquisa, o número crescente de cesáreas eletivas (aquelas em que é possível escolher a data) tem levado ao aumento dos partos com idade gestacional inferior à ideal.
"Hoje não se espera a mulher entrar em trabalho de parto", diz o obstetra Marcos Tadeu Garcia, diretor da clínica de ginecologia, obstetrícia e neonatologia do Hospital Ipiranga. "Médicos e mães optam pelo conforto da agenda. Isso nos assusta, porque esses bebês nascem sem estarem prontos."
Bebês que nascem antes do término da trigésima-nona semana têm mais risco de precisarem de intervenções terapêuticas do que os que nascem bem no fim da gravidez. O estudo mostra que ficam mais dias internados e vão mais para a UTI. "A interrupção da gestação antes de 39 semanas só deve ser feita com estritas indicações médicas", diz Draque.
A pesquisa seguiu mais de 6.000 recém-nascidos em uma maternidade particular de São Paulo. Os bebês não tinham anomalias congênitas e as mães passaram por pré-natal.
"Conheço casos de médicos que marcam até para a 35ª semana. Qualquer coisa é desculpa: ou vão viajar para algum congresso, ou não querem que a mãe encha a paciência deles ligando às duas da manhã. A mulher também pode insistir, às vezes a avó manda marcar, ou a mulher não aguenta mais o fim da gravidez... enfim. O bebê vai precisar de um atendimento, mas o médico já passou a responsabilidade para o berçário", diz Renato Kalil, obstetra do Hospital Albert Einstein. Segundo Kalil, 12% dos bebês não prematuros nascidos de cesárea passam pela UTI. De parto normal, só 3%. "O parto normal está mais falado, mas a indicação de cesárea continua a mesma baixaria", afirma.
"Muitas vezes a própria família pressiona o médico", afirma Renato Augusto Moreira de Sá, presidente da comissão de perinatologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
Antecipar o parto também é perigoso porque há chance de erro de cálculo da idade gestacional. Se a mulher não fez um ultrassom no início, que estima com maior precisão essa idade, ela pode estar grávida há menos tempo do que pensa.
Excelente post!
ResponderExcluirChocante a foto!
ResponderExcluirO título foi mal feito. No dia que passarem a indicar cesáreas para depois da hora, preocupe-se. É um fato quase cultural a preferência pelo procedimento naqueles que tem condições de bancá-lo. No serviço publico, principalmente em universidades, vemos que as indicações corretas são realizadas a despeito da vontade da paciente, o que seria o certo.
ResponderExcluirPela praticidade, baixo risco de complicações e dificuldade técnica acaba sendo preferida pelos médicos e pacientes. Para os médicos, não precisam ter que ficar de sobreaviso 24h por dia para realizar o atendimento da sua cliente. Para a paciente, poder ter o parto feito pelo médico que a acompanhou durante o pré-natal e não ter que ir a uma maternidade qualquer é uma vantagem importante. Inclusive a comunicação de parentes, logística mais fácil e uma série de outros pontos relevantes contam para essa preferencia.
Acaba sendo vantajoso para os dois lados. O importante é apenas impedir os absurdos como citados no texto manter as pacientes sempre informadas sobre os riscos de qualquer procedimento cirúrgico, não importando a magnitude da sua complexidade.
Lucas,
ResponderExcluirDiscordo da tua crítica com relação ao título da matéria. Percebo-o como referência ao tempo fisiológico de nascer, (maturidade fisiológica e completude da gravidez). Assim, uma cirurgia eletiva em mulher e feto saudáveis é sempre considerada "antes da hora", se for indicada para período anterior ao início do trabalho de parto.
Com relação aos motivos justificadores, só tenho uma única ressalva: "É um fato quase cultural a preferência pelo procedimento naqueles que tem condições de bancá-lo."
Acredito que tratamos de um fato *exclusivamente cultural* - simbolizado e materializado, por exemplo, por meio dos teus vários argumentos em favor da cirurgia realizada em mulheres saudáveis, ou seja, da cesárea desnecessária.
Você é médico? Se sim, que me diria de *primum non nocere*, especificamente neste contexto? (Desvantajoso demais né para estes tempos....)
Beijos!
Bom, vamos lá!
ResponderExcluirVou apenas incluir algumas notas no comentário de Ana, Lucas.
Justamente esta praticidade, q é apenas do médico, vem alavancando altas taxas de cirurgias cesareanas q deveriam ser realizadas única e exclusivamente qdo necessário, c/ a preeminência de algum risco p/ a mãe-bebê. Não me diga q p/ a mulher levar uma dupla camada de incisão e de pontos é prático, especialmente nos cuidados q um recém-nascido requer! Já passei por essa experiência qdo meu 1o. filho nasceu e não a desejo a nenhuma mulher, pois nada se compara a parir um filho, e, mesmo q vc diga q há mulheres q optam por uma c/ certeza elas, assim como vc, não tiveram informações embasadas cientificamente dos riscos de uma cirurgia eletiva.
Qto a dificuldade técnica essa pode ser ressaltada pelos médicos q não sabem como acompanhar um trabalho de parto/parto, e compreender este evento como fisiológico e natural!
Se vc opta por ser um médico obstetra deveria saber sim q terá q ficar de sobreaviso, faz parte da profissão!
Essa questão de parir c/ o mesmo profissional é relevante no Brasil, mas em países desenvolvidos, como os europeus, a mulher terá seu filho c/ a obstetriz de plantão, e até seu pré-natal será feito por vários profissionais, inclusive c/ atendimentos domiciliares.
Sobre parentes e logística, saliento q o parto é da mulher, e não de sua mãe-sogra-irmã-cunhada. Ela e o bebê são os focos, assim, uma logística perfeita deve levar em conta esse binômio, e não as vontades ansiosas dos parentes.
Este espaço apoia e DEFENDE o parto ativo, natural, vaginal. E, se o tema não fosse algo c/ respaldo a Fiocruz e o MS não estaria realizando uma das maiores pesquisas atuais nas maternidades do Páis sobre os abusos das cesáreas.
Além disso, discutimos temas embasados cientificamente, especialmente pela Medicina Baseada em Evidências(MBE), aliadas as nossas experiências como mulheres-mães, q já pariram seus filhos das duas formas.
Enfim, a prosa é discutível a partir do momento em q não nos baseamos pelo senso comum, pelos achismos, ou condutas e práticas culturais, especialmente as patriarcais e antiguadas usadas ainda em nossos corpos, como templos do saber médico.
Parir é fisiológico, a menos q haja riscos, e não falo aqui de circulares de cordão, por ex., ou dos muitos mitos pregados p/ impedir um parto e proporcionar ao médico um feriado s/ sobreaviso!
Att,
Bianca Lanu - mãe de Ícaro, cesárea desnecessárea e Rudá, parto domiciliar c/ EO.
Correção:
ResponderExcluir"... a Fiocruz e o MS não estariam realizando uma das maiores pesquisas atuais nas maternidades do País..." - Projeto Nascer no Brasil.
Lamentável o pensamento de Lucas. Justamente o texto faz uma crítica a essa praticidade em detrimento daquilo que é melhor para mãe e bebê. A mãe pode preferir a cesárea, por qualquer motivo e deve ser respeitada nisso. Concordo. Mas este movimento caríssimo é pela conscientização que as faltam, de que cesárea é uma cirurgia de emergência e não deveria ser feita por ego e comodidade, visto seus riscos que existem sim, e são muitos.
ResponderExcluir