Separe os ingredientes: fígado cru e gordura de galinha recém-abatida. Ovos quentes, café, vinho do porto, cebola e cachaça. Leve tudo para um quarto, junto com panos limpos e água fervente. Conte com a ajuda de quatro mulheres experientes para a realização desta receita um tanto indigesta: um parto no Brasil Colônia.
Cercado de misticismo, o nascimento de uma criança era tenso. O risco de morte da mãe e do bebê era alto e se acreditava que com amuletos e alimentos específicos o dano seria menor. Durante o trabalho de parto, a mulher se agarrava a escapulários e a uma pedra, chamada mombaza, que, segundo a historiadora Mary Del Priori, tinha a função mágica de atrair a criança para fora.
Um cordão de santo Antônio era colocado em volta da barriga. Nossa Senhora do Bom Parto, Nossa Senhora do Leite e santa Margarida eram algumas das invocações da futura mãe. Enquanto isso, as parteiras untavam suas partes íntimas com gordura de galinha e óleo de açucena. Ou, ainda, vinho quente.
A placenta era rompida com a unha do dedo mínimo da parteira. Quando começava a perder líquido, a parturiente ingeria ovos quentes, café e vinho do porto. Para espantar a dor, o indicado era mastigar cebola, tomar goles de cachaça e amarrar fígado de galinha na coxa.
Ao nascer, a criança era banhada com cachaça e estopada – uma mistura de ovos com vinho. Depois, era enrolada com uma faixa. Acreditava-se que a sujeira protegia. Estima-se que 30% dos bebês não sobreviviam ao primeiro ano de vida.
SAIBA MAIS - História das Crianças no Brasil, organizado por Mary Del Priori (Contexto, 2006).
SAIBA MAIS - História das Crianças no Brasil, organizado por Mary Del Priori (Contexto, 2006).
Por Mariana Albanese, Almanaque Brasil, outubro de 2009.
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