quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Reserve o seu!

Hoje compartilho um texto muito especial e significativo! É o Prefácio da publicação "Parteiras Caiçaras: relatos e retratos sobre parto e nascimento, em Cananéia, SP", que venho organizando neste inverno de 2011, p/ ser lançada em dezembro, em Cananéia, Vale do Ribeira, onde resido, tb em comemoração aos 79 anos de nossa parteira mais idosa, Enedina Coelho - tão querida e especial!
Redigido por minha parceira, Ana Carolina A Franzon, co-editora deste blog, jornalista, pesquisadora do Gemas (Gênero, Evidências, Maternidade, Saúde), e estudante do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP).
Tenho a intenção de realizar o lançamento em outras cidades e Estados, p/ divulgar esse trabalho de levantamento das parteiras tradicionais caiçaras de Cananéia. Enquanto isso, transcrevo as últimas entrevistas, e a comadre borda algumas páginas do livro, que Leandro Cagiano fará a arte final, c/ capa, ainda, de Bia Fioretti! Trabalho há muitas mãos, e muito amor!
Confiram, abaixo, o referido texto:

Há uma história sobre as mulheres que nos conta de poderes femininos, de saberes ancestrais sobre plantar, cozinhar e curar. Mas acontece que nem sempre, e até hoje nem todas as mulheres puderam ler e escrever. Foi então conversando, criando versos, músicas e contos, que fizeram com que muitos dos seus ensinamentos chegassem às gerações mais novas.
Ainda é assim que continuamos a aprender sobre como chegamos à vida – pela voz familiar de uma mulher, suas lembranças e impressões. Elas sempre nos contam esta história... nós sabemos, já ouvimos, que antigamente todos os bebês nasciam pelas mãos de uma parteira. Esse evento era marcado por uma intensa reunião de algumas mulheres que ajudavam a mãe com a nova cria, e ajudavam também com a casa, as outras crianças, toda a família.
Aos poucos, com o desenvolvimento da medicina, também das cidades e universidades, muitas tecnologias foram surgindo e transformando o modo como as pessoas viviam. E todos nós sabemos, sempre ouvimos, que o parto dói, e essa dor... sempre tão incompreendida! Quanta dedicação para o alívio de um sofrimento que se sobrepõe à dádiva da nova vida!
Nos hospitais, o parto começou a ficar diferente daquilo que as mulheres conheciam. Lá, eram levadas sozinhas para a “sala de parto” – deitadas em uma mesa, entre estranhos vestindo uniformes, viviam uma experiência que não mais lhes pertencia, seus corpos invadidos... E ainda lhes foi pedido que fizessem silêncio... Foi então que as mulheres pararam de conversar sobre o parto.
Hoje, esta ausência causa grande impacto na saúde reprodutiva e mental das mulheres. Em 2011, temos no Brasil uma obstetrícia violenta, que pratica cesárea em 50% das mães, e ensina para seus estudantes médico(a)s e enfermeiro(a)s o uso do fórceps e da episiotomia de rotina, em mulheres obrigatoriamente deitadas sobre suas costas.
Tal é a magnitude da importância deste livro sobre parteiras de Cananeia-SP. Documentar as narrativas destas mulheres sábias é preservar um patrimônio riquíssimo de nossa cultura. Também é promover valores mais saudáveis entre as mulheres brasileiras e seus corpos. É valorizar suas ideias, seus desejos e seu empoderamento feminino, cheio de entusiasmo.
Agora, há uma parte específica desta história de mulheres que me cabe especialmente lhes contar. É sua outra face, uma bela versão!
Dois anos atrás, bem junto e¬ misturado com um menino caiçara Rudá, nasceu esta publicação.
Em uma fria e úmida noite de agosto, em casa, Rudá foi pego por uma parteira. E fez viver um momento de resgate ancestral de três poderes femininos: a mãe, a parteira, a comadre. E é claro que vale lembrar de seu pai, que também viveu toda experiência.
O nascimento de Rudá pode ser percebido como algo extremamente inovador e vanguardista, por ter sido um parto domiciliar planejado – como convencionou-se nomear este tipo de evento no início do novo século. No entanto, os textos produzidos e reunidos na ocasião desta obra observam que trata-se apenas de um novo nome para uma experiência remota, que apesar de resistente contra fortes instituições, permanece sob o domínio de algumas mulheres, em algumas rodas.
Possível para uma pequena e privilegiada parcela da população, as experiências recentes das parteiras contemporâneas brasileiras apresentam excelentes resultados em seus indicadores de saúde materna e neonatal: menos de 5% de episiotomia, 10% de transferência para o hospital; 3% de cesárea; alto grau de satisfação familiar.
Naquela noite, Bianca Lanu viveu um intenso ritual de passagem, e da força que precisou gerar em seu corpo, passou a fazer despertar outros poderes em outras mulheres – o parto e o nascimento respeitosos e os cuidados centrados na mãe e no bebê tornaram-se um novo ofício, uma nova disposição.
A contento, alguns pontos desse processo são de “acesso público”, e estão disponíveis de forma especial no Blog Parto no Brasil <http://partonobrasil.blogspot.com>, veículo do qual sinto imensa satisfação em coeditar. Um espaço em que a amizade foi ressignificada pela maternidade, projeto contínuo de aprendizagem sobre os temas da Saúde Materna e Feminismos, que tanto gostamos de fazer juntas.
Outras impressões e expressões de Bianca Lanu estão publicadas nos seguintes livros: (i) Aventuras na Ilha de Cananeia; (ii) O Uso de Plantas Medicinais por Comunidades Tradicionais Caiçaras de Cananeia; (iii) Histórias e Lendas Caiçaras de Cananeia; (iv) Reza a Lenda: A cultura caiçara de Cananeia vivenciada no bairro rural de Santa Maria; e (v) Saberes Caiçaras: A cultura caiçara na história de Cananeia. Documentos da antropóloga em harmonização, o todo é um conjunto de registros que revela um afetuoso olhar/ ouvir/ escrever sobre seus encontros em Cananeia, sujeit@s e parceir@s de pesquisa.
Coragem, calma e amor.
A mãe, a parteira e a comadre.
Eis chegada mais uma oportunidade de abrir-se para uma nova experiência.
Sinta-se à vontade. E seja você também bem-vind@ a este círculo.
São Paulo, fins do inverno de 2011

5 comentários:

  1. O carinho e cuidado das palavras digitadas por Aninha definitivamente emocionam... Ai, ai, ai... a comadre chora ao ler o belo texto e ao relembrar aquele momento de resgate e de realização de um sonho! Sou uma mulher de sorte!!!
    Valeu Bianca Lanu por me fazer conhecer o "verbo" comadrear... E valeu Ana Carolina por me fazer relembrar aquele momento e a importância que ele teve na minha vida.
    Um brinde à nova antiga forma de parir, com parteiras e comadres (e companheiros)!!!

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  2. Muitos brindes! Muita celebração! E, q as mulheres possam resgatar essa ancestralidade!!! E, por essa e tantas outras q nós, do blog Parto no Brasil, lutamos e seguimos!
    Avante!

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  3. Aêêê!! Um brinde! Viva!


    Não vejo a hora de sentar juntinho para saborear o frescor de 'Parteiras Caiçaras' com aquele café! E não poderá faltar, claro, o variado e permanente "papo-p", rs.

    Beijos apertados nas duas!

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  4. Bi! sou sua fã, comadre!
    Estou aqui enviando as vibrações pra essa celebração! E obrigada por compartilhar as suas palavras, os seus pensamentos, todos os dias!
    Amor! Sucesso!
    Beijos

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  5. Oba, Dê!
    Será q vou ser a Dinda do filhote, é, rs?!
    Compartilho pq acredito e confio em nós, mulheres, e nossos corpos e vaginas!
    Muito amor e sucesso p/ tdas nós!
    E, Ana, não quero choro, nem vela, como diria a canção, quero vc e a Iá no lançamento - 06 de dezembro - 79 anos de Enedina!!!
    E, c/ muitoooo papo monotemático!!!

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