quinta-feira, 8 de março de 2012

Teste da Violência Obstétrica - Dia Internacional da Mulher - Blogagem Coletiva

Neste Dia Internacional da Mulher 2012, o Blog Parto no Brasil opera em quinta jornada de trabalho. 


Sim, prezad@s leitor@s, faltam quinze minutos para o dia acabar, então bora blogar!


Enfim, com grande prazer, chegou a hora de publicar a Blogagem Coletiva - Teste da Violência Obstétrica.

Coragem: Quanto mais mulheres responderem, menos violência
O Blog Parto no Brasil apresenta hoje uma ideia de um importante livro feminista, ainda não publicado em português: Sacrificing Ourselves for Love - Why Women Compromise Health and Self-Esteem... And How to Stop. (Tradução livre: Sacrificando nós mesmas por amor - Porque as mulheres comprometem sua saúde e auto-estima.... E como parar.)

O livro faz parte de uma coleção de manuais feministas intitulada "Our Bodies, Our Selves" ("Nosso Corpo nos Pertence") publicados e reeditados anualmente, desde 1970, pelo Coletivo de Mulheres de Boston (The Boston Women's Health Book Collective). Tem cada um maravilhoso, só sobre gravidez e parto, sobre envelhecer, e os clássicos tradicionais que tratam de inúmeros e variados aspectos da saúde, sexualidade e reprodução. Conheça mais aqui.

Sacrificing Ourselves for Love parte da constatação de que muitas regras sociais prejudicam nossa saúde física e emocional; porque subordinam e exploram as mulheres, desvalorizando as suas contribuições e o seu trabalho; além de impor padrões de aceitação dos atributos físicos ou comportamentos. 

Assim, "explora uma série de problemas de saúde que resultam da pressão sobre as mulheres para que conformem em tradições culturais prejudiciais." Em três seções, o livro trata do desejo de ter uma aparência diferente, de viver em relações afetivas abusivas (não apenas com o companheiro), e das doenças sexualmente transmissíveis.

Em todas essas áreas - aparência, relações afetivas, amorosas e sexuais e reprodutivas - nós somos convocadas para agradar e cuidar dos outros, priorizando suas necessidades em detrimento de nossas, concedendo aos seus desejos e opiniões, e evitando o conflito, mesmo quando ficamos irritadas. 
Essa aceitação tão importante dos desejos dos outros, revela que nós não levamos a sério nossos próprios desejos. 
Algumas de nós vivem sentimentos de culpa ou ansiedade quando insistimos em algo que desejamos, ou recusamos fazer alguma coisa, somente para nossa própria saúde e benefício.
De todo modo, com informação, coragem e encorajamento, nós podemos enfrentar as tradições sociais que são prejudiciais à nossa saúde. 
Nós seremos menos propensas a embarcarmos em uma dieta de baixa caloria, se soubermos que "passar fome" quase sempre nos deixa mais pesadas; que a gordura corporal protege nossa fertilidade; e que a "expurgação" da bulimia pode comprometer severamente nossa saúde. 
Poucas de nós iremos escolher uma cirurgia estética ou implantes de silicone nas mamas quando descobrirmos que "levantar" as pálpebras pode nos impedir permanentemente de fechar os olhos; que a liposucção pode deixar pregas contraídas ou matar a pele; que os nossos corpos nunca param de tentar rejeitar implantes; e que o silicone que vaza pode danificar nosso sistema imunológico. 
Nós estaremos mais dispostas a demandar sexo seguro quando a gente se der conta que nós podemos sofrer anos com a saúde debilitada, podemos perder nossa fertilidade, ou morrer de câncer, de doença inflamatória pélvica ou AIDS, em resultado de relações sexuais desprotegidas. 
Se a gente entender que companheiros "abusivos" não compartilham de nosso desejo de construir uma intimidade respeitosa, que eles preferem nos controlar, nós não dedicaremos energia tentando salvar um relacionamento que prejudica nossa saúde e esgota nosso espírito.

Somos nós mulheres que precisamos levar esta discussão adiante, que temos a necessidade de romper com estas tradições e normas culturais que nos impedem de viver uma vida livre de violência.

Agora, diante de tudo isso, convido também a observar a delicadeza do tema.

Por exemplo, muitas mulheres não vêem problemas em suas episiotomias, enquanto outras desenvolvem profunda depressão e levam anos para aprender a viver bem com a cicatriz. 

Muitas mulheres aceitam a cesárea antes do início do trabalho de parto e não sofrem. Outras, não se conformam.

É comum as mulheres - em qualquer situação de violência - sentirem-se envergonhadas, confusas, culpadas. 

É comum as mulheres virarem as costas para os atos de violência que praticaram contra seu corpo e alma. 

É comum praticarem memória seletiva, deixando de lamber as feridas mais doídas.

E isso tudo é legítimo. Porque somos todas diferentes. E únicas. 

São únicos e exclusivos os modos como se formam as percepções que a gente tem sobre nosso próprio corpo, sobre o que é desejável, intolerável, aceito. E também o modo como cuidamos de nós mesmas. As escolhas que fazemos e aquelas outras ocasiões em que não nos são dadas opções.

Então, ao final, o que eu mais gostaria de dizer é que o enfrentamento da violência no parto não é uma luta entre as mulheres. 53% de cesárea é violência sim. Parto vaginal no SUS, maioria absoluta, tem violência também. Mais uma vez, é preciso sair de nossa zona do conforto, e tentar enxergar além da nossa própria experiência. 

Existem vários tipos de parto por aí. 
E eu te pergunto, será que você escolheu mesmo tudo aquilo que fizeram com você?

São legítimas as opções que te foram colocadas pelo obstetra, pela família, pelo marido, pelo espelho, pela mídia, pelo teu cansaço e ansiedade?

Já fez o teste? Como avalia os cuidados que teve em seus partos?

____________________________________________

POR QUE CHAMAR A ATENÇÃO PARA A VIOLÊNCIA NO PARTO

Esta Blogagem Coletiva é uma ação que considera o contexto de regulamentação da Lei Maria da Penha, em contraste com a aceitação e a invisibilidade das variadas formas de violência obstétrica ou institucional, comuns em nossas maternidades.

Diversas pesquisas apresentam dados significativos a partir dos quais podemos afirmar que o modelo padrão de atendimento e cuidados no parto expõe as mulheres a quatro tipos principais de violência, durante sua internação: negligência; violência verbal (incluindo tratamento rude, ameaças, repreensão, gritos e humilhação intencional); violência física (incluindo negação de alívio da dor quando tecnicamente indicado); e violência sexual. (Ana Flávia Pires Lucas d’Oliveira, Simone Grilo Diniz, Lilia Blima Schraiber. Violence against women in health-care institutions: an emerging problem. Lancet 2002; 359: 1681–85).

Em 2011, a divulgação da pesquisa de opinião da Fundação Perseu Abramo e SESC, coordenada pelo Prof. Dr. Gustavo Venturi Jr (FFLCH/USP), Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado provocou ampla repercussão: uma em cada quatro brasileiras relata ter sofrido maus-tratos durante o trabalho de parto e parto. Ao mesmo tempo, a tese de doutorado na Faculdade de Medicina da USP de Janaína Marques Aguiar evidenciou que "quanto mais jovem, mais escura e mais pobre, maior a violência no parto."

Mais recentemente, as denúncias chegaram à base de nossa "pirâmide de hierarquias reprodutivas", as presidiárias e seus partos algemadas. Muitas instituições governamentais, civis e feministas posicionaram seu repúdio, e a sensibilização gerada pelas notícias culminaram no Decreto pelo Governador de São Paulo Geraldo Alckmin 'vedando' a prática. (http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/noticias/estado-de-sao-paulo-proibe-uso-de-algemas-em-detentas-gravidas)

____________________________________________

INSTRUÇÕES - COMO PARTICIPAR

Para participar, basta responder as questões e depois clicar em SUBMIT.
Seus dados são anônimos e confidencias.

O Teste da Violência Obstétrica ficará no ar até o dia 15 de abril. No dia 30 de abril, divulgaremos os resultados desta pesquisa informal, que tem como objetivo sensibilizar as mídias sociais e outras instâncias para a grave questão da violência obstétrica.


Ao final, você terá o convite para denunciar sua história para o movimento social (Rede Parto do Princípio) ou para uma pesquisa de Doutorado em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina (de autoria da Lígia M Sena).

Se quiser divulgar o Teste da Violência, deixe seu email nos comentários ou escreva para partonobrasil@yahoo.com.br e receba as instruções.

Agradeço a todas as bravas mulheres que tornaram este trabalho possível, todas as que compartilham suas histórias, que nos ensinam sobre as coisas que acontecem contra nossos corpos e dignidade. Muito obrigada!
E, por favor, não deixem de nos enviar os links de seus posts nesta blogagem!

Agradeço especialmente às companheiras Lígia e Nanda, que trabalharam para que fosse prazeroso, respeitoso e memorável!

Se tiver problemas para visualizar o teste aqui no Blog Parto no Brasil, acesse direto no link.




2 comentários:

  1. Oi Gente!

    Só pra informar, eu não consegui ter acesso ao teste inteiro no Blog Parto no Brasil e Cientista que virou mãe (ele fica cortado nas laterias e não aparece até o final, então não consegui enviar), não sei se é problema no meu computador, mas conseguir ter acesso ao teste inteiro no seguinte endereço: https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dFZobU1FZEhHLW1SeUdnS0lISk9PVFE6MQ
    Acho importante esta informação para que, caso as mulheres não consigam ter acesso ao questionário inteiro nos blogs, entrem neste endereço e façam o teste, é muito importante!

    Parabéns pela Campanha!

    Abraços,

    Luciana Marcolino

    ResponderExcluir
  2. Olá Luciana, obrigada pelo apoio!

    O Teste pode ser respondido no link que dá acesso direto ao formulário online.

    Colo aqui também:

    https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dFZobU1FZEhHLW1SeUdnS0lISk9PVFE6MQ


    Abraços e gratidão!

    ResponderExcluir

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...