terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Relato: Nascimento de Nahuel - Parto Natural Hospitalar


Quando engravidei estávamos vivendo na Áustria, onde todo o pré-natal foi acompanhado por uma médica homeopata. Durante os nove meses ela me orientou para que caminhasse bastante, tomasse alguns chás, fizesse acupuntura e massagem no períneo.
Fomos conhecer a maternidade da cidade. Os quartos de pré-parto e parto eram lindos: com banheiras, banquinhos de parto, cordas que saiam do teto para a gestante segurar na hora da força, com decoração aconchegante... Para o parto poderíamos levar o que quiséssemos: algum CD com músicas preferidas, alguma coisa que eu gostasse de comer etc...
Já estava de 40 semanas e quatro dias de gestação, alguns cm de dilatação, mas até então, nenhum sinal de que o bebê chegaria logo. Na última consulta, a médica me disse que eu teria um parto lindo e rápido.
Nesta noite estávamos vendo televisão, quando senti o bebê se mexer e uma dorzinha... dali há uns 15 minutos reconheci outra pequena contração. Continuamos a ver TV e comecei a sentir mais contrações, em períodos curtos, mas como não eram regulares e não haviam dores,  não acreditei que a hora tinha chegado. Não havia nenhum programa interessante, mas continuamos a ver a televisão... então, fui uma vez  ao banheiro, depois  mais uma e mais outra. Decidi tomar banho, e ai debaixo do chuveiro senti uma contração mais forte, mas estava  tão gostoso debaixo da água quentinha, que não me incomodei. O Gonzalo vinha a cada minuto com um papelzinho na mão perguntando quando havia tido a última dorzinha... e eu dizia: “ah sei lá, acho que há dois minutos...”.
Voltei pra cama e mais “contraçõezinhas”, depois de meia hora, fui tomar banho de novo, porque era muito relaxante a massagem que a água da ducha fazia nas minhas costas, exatamente onde sentia as dorzinhas. Quando sai do banho, vi um pouco de sangue e ai pensei: "putz, agora temos que ir para o hospital!
Desde a primeira contração até este momento haviam passado duas horas. Gonzalo chamou um taxi.
Pegamos as malinhas e fomos. Quando desci do apartamento, pus cara de “leva a gente pro cinema”, pro motorista não desistir de me levar pra clínica. Felizmente era uma mulher quem dirigia o taxi! Ela me olhou e disse:
            -Como você se sente?
            -Bem, ainda temos tempo, não se preocupe.
            -Ok, sem problema...
 O carro era tipo uma van, e eu pensei: “ah, um carro perfeito para um parto!”.
Entramos e ela parecia estar super emocionada com a aventura de levar uma grávida às 23:45 para o hospital. O melhor de tudo é que ela sabia exatamente em que porta tinha que deixar a gente. Era uma taxista muito gente boa!
Entramos no hospital e as contrações começaram a ficar mais fortes. Me perguntaram desde quando eu tinha as contrações e mandaram a gente se sentar na salinha de recepção. Depois de cinco minutos veio uma enfermeira e nos levou para a sala de parto. Mandou eu tirar a roupa e esperar. Foi nesse momento que vi que a coisa vinha pra valer, porque comecei a sentir dores mais fortes e frequentes como nunca.
Eu dizia pro Gonzalo: “diz pra parteira que eu quero ter na água! Põe o CD com as músicas para o parto!”.
A parteira veio me examinar e quando foi medir a dilatação a bolsa estourou e ela disse: “uau! Você já tem nove cm de dilatação! Muito bem! Vai ser super rápido!”.
Conclusão: não deu tempo de ir para a banheira, todo mundo se esqueceu das músicas e a aventura do parto começou.
Contração atrás de contração e não me lembro exatamente as coisas que pensava nesse momento, só sentia coisas pelo corpo que eu não conhecia e não conseguia controlar. Cada contração era um golpe, e quando elas iam embora, sentia um alivío imenso. Nessa hora aproveitava para respirar com mais tranquilidade e tentar reunir energia para a próxima contração.
A dor de parto foi a única dor que senti que não sei como explicar, como comparar. Me lembro muito mais das dores no dentista, da tatuagem e piercing. Com outras dores cheguei a chorar, às vezes  tremer... com a dor do parto minha reação foi gritar, me sentia meio bicho. E o Gonzalo tentava me trazer de volta, e me lembrava que tinha que respirar. Daí já se vê como foi importante tudo o que a gente aprendeu durante a gravidez. Respirar fundo me ajudava muito, mas era difícil controlar. Também não tinha muita noção do tempo, cheguei a olhar o relógio na parede, mas não o que ele me indicava.
Me lembro que a parteira e o médico diziam: “vamos, você tem que empurrar agora!”. Mas, que era empurrar mesmo? Então senti uma pressão super forte, e meu corpo já fazia tudo sozinho... mesmo que eu não quisesse, era impossível  não fazer força!
Depois de um tempo já me sentia muito cansada, e dizia pro Gonzalo: “não quero mais! Não consigo mais! Em que cilada me meti?”.
O médico me injetou alguma coisa no braço. Eu pensei que era algum tipo de anestesia, mas não, era ocitocina...
A parteira dizia: “estou vendo o cabelo, vamos, empurra mais!”.
E eu  tentava reunir toda a força do planeta, empurrava e gritava!
Em um momento ela pegou a minha mão e colocou no meio das pernas. Senti uma coisa meio mole, estranha, e ela me disse que era a cabeça!
O médico então chamou outra parteira, que veio pro lado da cama, colocou a mão na minha barriga, e deu um empurrão e senti que algo pulava pra fora de mim. A cabeça havia saído, e ele tava roxinho.
Gonzalo dizia: “Vamos chuchu, já saiu a cabeça, falta só mais um pouco.”.
O expulsivo estava demorando muito. Só mais tarde eu fui entender que o bebe era muito grande e as manobras realizadas pelas parteiras foram necessárias. A parteira que estava na minha frente agarrou a cabeça do bebê e começou a puxar,  e vi ela desenrolando o cordão do pescoço dele. Acho que essa foi a pior parte, porque sentir ela puxando o bebê me causava muita dor.
E eu fazia força, fazia força, mas não conseguia terminar com aquilo. Então, com  a segunda ordem do médico, a parteira ninja, desta vez com a mão aberta, apertou a minha barriga e senti que algo escorregou para fora, e foi o maior alívio que senti na minha vida. Já não havia dor nenhuma e a sensação foi uma maravilha.
Olhei entre minhas pernas e vi um corpinho todo mole, e a ficha só caiu quando Gonzalo disse:
            -"Es un machito!".
Então entendi que NAHUEL havia nascido! Eram 2:15 de manhã do dia 17 de Julho.
O Gonzalo  cortou o cordão e em seguida colocaram aquele corpinho em cima de mim, e fiquei ali, sentido aquela coisinha quente. E foi nessa hora, desse jeito que amamentei pela primeira vez!

Já nem me lembro direito o que foi feito depois. Não vi e não senti a placenta saindo.
Entre a entrada na sala de parto e a saída de Nahuel, haviam passado duas horas.
Já com Nahuel vestido, fui levada para o quarto, e não me lembro mais de nada. Toda aquela dor que havia passado já estava esquecida, já não tinha nenhuma importância. Gonzalo ficou comigo e dormiu numa cadeira que havia por lá.
Quando amanheceu, começou a rotina com os bebês. Fui tratada como rainha, e Nahuel como um príncipe. Tirando a minha companheira de quarto, que não era muito simpática, tudo era maravilhoso: os médicos, as enfermeiras, a cama, a comida... e com todo esse apoio, papai, mamãe e filhote fomos nos conhecendo e aprendendo um montão de coisas.
Nesse dia fez um calor terrível, e sofri um pouco pra dormir. Mas, na madrugada esfriou e choveu e na manhã do dia 18, olhei pela janela e as montanhas estavam cheias de neve. Sim, neve em pleno verão! Que sensação estranha... aquela paisagem, que vejo todos os dias, já tinha outro sentido pra mim.
Eu acho que no final todos aqueles chás que tomei, as massagens, a acupuntura me ajudaram. Recomendo as outras futuras mamães!

_Marcela Mölk, Design de Interiores, e mãe de Nahuel e de Natália.

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