segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Antes que eles cresçam

_Por Affonso Romano de Sant´Anna*_
Há um período em que os pais vão ficando órfãos de seus próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados. Crescem sem pedir licença à vida. Crescem com uma estridência alegre e, às vezes com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias, de igual maneira, crescem de repente... A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil... Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias, e da ditadura das horas... Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e das festas... Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas... Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto... O jeito é esperar: qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam.
* Poeta, cronista e jornalista, editor do blog e site, respectivamente: http://www.affonsoromano.com.br/blog/ http://www.affonsoromano.com.br/ Desenho de Mariana Massarani_mãe e filha_

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