quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Gestante brasileira precisa de ajuda para parir


Ana Carolina Franzon
A América Latina é o continente campeão em número de nascimentos via cesárea; o Brasil perde apenas para o Chile. Nesta lógica, as gestantes brasileiras são umas coitadas! Mulher brasileira, grávida, sabe muito bem que vai passar por apuros para pôr seu filho no mundo. No SUS, elas sabem que não poderão gritar; não poderão comer ou beber água; terão de ouvir humilhações do tipo "Foi bom fazer né? Agora aguenta pôr pra fora!"; levarão soro na veia, o que aumentará suas dores; sofrerão a episiotomia de rotina; e muitas vezes, viverão tudo isso sozinhas com a equipe de saúde. Se é um plano de saúde que paga pelo parto, elas sabem que farão uma cirurgia; que ficarão mais de uma semana em recuperação; que será outra pessoa que cuidará de seu bebê nestes primeiros dias; que será difícil amamentar e maternar. O marido, a sogra, mãe, irmã ou vizinhas, serão indispensáveis. Se o "evento médico", que é o nascimento, for pago particularmente, a história mais comum é a lenga-lenga da mentira deslavada para justificar uma intervenção cirúrgica. Mas é justamente aqui, nesta situação específica, que a lógica deveria ser completamente outra. Um casal está contratando um serviço para lhes ajudar com o nascimento de seu filho. Você está pagando, você deve pagar por aquilo que quer. Então, o ponto chave se torna o protagonismo da mulher - como muito bem descreve o dr. Ric Jones (aqui você encontra um excelente texto que ele escreveu sobre o assunto). De nada adianta o médico topar um parto humanizado, a presença de uma doula, o marido não se opor e a mãe incentivar, se a grávida não estiver disposta a assumir a responsabilidade pelo nascimento do seu filho. O corpo é da mulher. A saúde é dela e do seu filho. Para uma criança nascer, sempre, há uma série de decisões que precisam ser tomadas - aconteça o parto em casa, na floresta ou no centro cirúrgico. Se a brasileira não tomar as decisões para si, alguém o fará, é certo! Entretanto há salvação. Embasada em evidências científicas e contra essa cultura de que o parto normal é perigoso para mãe e bebê, há milhares de mulheres organizadas e muito bem dispostas a ajudarem as gestantes a darem à luz. É o caso, por exemplo, da Parto do Princípio, Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa, e das tantas listas de discussão que circulam pela internet, como a GestaPR, PartoNosso etc. São nestes espaços virtuais de articulação política que aquelas mulheres que desejam lutar por um parto e nascimento respeitosos encontram alento e orientação certeira. Não dá para ignorar as informações que circulam nestes espaços. Não dá para confiar no sistema médico obstétrico e no padrão de atendimento hospitalar. Para parir em paz, confiante, com prazer e, sobretudo, segurança, a gestante brasileira precisa mesmo de ajuda. Ps.: se for ter parto normal, procure alguém que saiba realmente assiti-lo.

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