“Se eu fosse mulher já teria, sei lá, pegado em armas, porque é muita violência... Ela vai para a maternidade e ou lhe fazem um corte na barriga, desnecessário na maioria das vezes, ou no períneo. De todo jeito alguém vai atacá-la com uma faca” Álvaro Atallah (Lattes), do Centro Cochrane do Brasil, em seminário (Práticas Obstétricas Baseadas em Evidências), no Instituto de Saúde de São Paulo, 1999.Dias atrás, conheci uma mulher que teve seu primeiro filho por um parto "natural" que a traumatizou. Aconteceu há mais de dez anos, nos EUA, segundo ela, num centro de referência para o parto natural, todo "estiloso-natureba". O TP foi longo, a episio infeccionou. Foram mais de seis meses de tratamento da cicatriz. Advinha como nasceu o segundo filho? Em Florianópolis, cidade que é referência para os partos natural, domiciliar e vertical, ela teve dificuldades em encontrar um GO que topasse marcar a data da cesareana. "A recuperação foi bem melhor!", disse ela enfatizando muito o "beeeeeem melhor". É o tipo de encontro que nos faz rever todo o cenário do parto. Eu fiquei imaginando quantos meses mais foram necessários para tratar "da alma" daquela mulher da episio infeccionada... e o que o corte passou a simbolizar para esta mulher ainda não cicatrizou. Nesse climão pesado de violência contra as mulheres, e sobre o assunto do "corte por cima ou corte por baixo", indico a leitura do artigo da profa. Simone Diniz da Faculdade de Saúde Pública - FSP/USP: http://www.mulheres.org.br/rhm1/revista1/80-91.pdf, que é de onde tirei a citação do Atallah. Também indico o vídeo que a Bianca encontrou no Youtube, de um parto tenebroso, e infelizmente, ainda comum. Acesse: http://www.youtube.com/watch?v=_7BkISrU1Tg&NR=1
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quarta-feira, 16 de junho de 2010
O corte por cima e o corte por baixo
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Ai, Ana Carolina, para MEUS conceitos, ela não teve um parto natural, afinal, teve uma episio, uma intervenção importante (se é que foi a única!)
ResponderExcluirEsses partos (a)normais me dão mais medo que uma cesárea!
Acho que está mais que na hora de comerçarmos a falar nos termos cirurgia cesárea e parto vaginal, porque o vaginal praticado por ai está bem longe de ser natural ou normal.. Triste.
Você tem toda razão! Um parto natural não tem episio, também acredito nisso: são pacotes de serviços médicos, produtos que consumimos, e o pacote natural necessariamente exclui a episio. Obrigada pela observação, Dani! Já coloquei o termo entre aspas. O texto que ficou ruim, gerando o mal entendido.
ResponderExcluirMas bem, me fez pensar em uma coisa na argumentação daquela mulher. Ela desejava um parto natural, estava num centro de referência para parto natural, na banheira e tal, ela disse. No percurso do TP houve uma transformação daquilo que era a intenção dela e a condução do evento (episio, no caso, sem fórceps, eu perguntei). Apesar de ter sido uma conversa relativamente rápida, pude notar que a responsabilização pelo desfecho recaiu sobre a mulher. Segundo suas próprias palavras, ela havia sido muito radical, queria muito só o que fosse natural. Como quem diz que não se pode querer um parto ótimo porque ele não existe "normalmente". Mais uma história de um corpo de mulher defeituoso.... pelo menos naquela rápida conversa sobre seu trauma e partos, esta mulher NÃO me escancarou um: “Maldita assistência que me foi dada!”. Aliás, isso eu nunca ouvi. Já ouvi de cordão que causa anóxia, que estrangula, quadril que não dá passagem, bebê que sobe, mulher que fica histérica..... só para citar alguns.