Segundo Ministério da Saúde, foram feitos 3,1 milhões de procedimentos entre 1995 e 2007 - Por Adauri Antunes Barbosa.
SÃO PAULO. Uma das cirurgias mais realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a curetagem (procedimento para limpar o útero após o aborto) foi feita na rede pública por 3,1 milhões de mulheres, entre 1995 e 2007.
O número, revelado em tese de doutorado pela médica Pai Ching Yu, do Instituto do Coração (Incor) da Universidade de São Paulo (USP), mostra a gravidade do problema. O aborto que precede a curetagem é uma das principais causas de morte no País — e motivo de maus tratos, por parte de profissionais da saúde, a mulheres que buscam atendimento médico.
Não há números oficiais sobre aborto no Brasil. A mulher que procura atendimento médico depois de abortar geralmente não informa se o procedimento foi legal, espontâneo ou ilegal, temendo punições. Em alguns estados, como Bahia e Pernambuco, as complicações do aborto são a primeira causa de morte de mulheres, conforme constataram as ONGs Ipas Brasil e Grupo Curumim, que pesquisaram o assunto em cinco estados, incluindo o Rio de Janeiro.
De acordo com a enfermeira Ana Paula Lima Viana, da ONG Grupo Curumim, a lei restritiva não impede que os abortos continuem sendo realizados no País e, ao mesmo tempo, encobre “tabus e estigmas” em torno do problema.
Um deles, contou, é que o aborto é tratado como crime e pecado pelos profissionais da saúde, que se negam a dar o atendimento, provocando o agravamento do estado das mulheres e causando a morte.
Isso é grave violação a um direito humano. A mulher não tem atendimento ou tem atendimento de péssima qualidade — afirmou Ana Paula Viana.
Conforme as pesquisas feitas pelo Grupo Curumim e Ipas Brasil, a crueldade da curetagem em mulheres que fizeram aborto foi constatada no Rio, Bahia, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Paraíba. Em vez de utilizarem o método de aspiração manual, um processo simples que não põe a mulher em risco, as ONGs observaram que a raspagem é feita com instrumento perfurante que, em muitos casos, provoca hemorragias e infecções.
Esse método arcaico de raspagem com objeto perfurante é verificado em mais de 90% dos casos, quase 100%. Inclusive no Rio — disse Ana Paula, que é parteira em Recife.
Segundo dados do Ministério da Saúde foram realizados no SUS mais de 32 milhões de procedimentos cirúrgicos entre 1995 e 2007. Entre os 1.568 tipos de cirurgias, as curetagens ficaram em primeiro, com 3,1 milhões de registros. Na sequência, ficaram as cirurgias para correção de hérnia, com 1,8 milhão de casos; retiradas de vesícula, 1,2 milhão; plástica de vagina e períneo, 1,1 milhão; e retirada do apêndice, 923 mil. As cirurgias cardíacas, partos e intervenções sem internação ficaram de fora da pesquisa.
Fonte: O Globo, 15/07/10. Foto extraída de: http://oglobo.globo.com/fotos/2008/09/17/17_MHG_mul_aborto.jpg
Ai ai!
ResponderExcluirÉ com grande pesar que penso na realidade dos fatos que estão por trás destes números de curetagem.
Descriminalizar o aborto não significa que mais mulheres o praticarão, mas assegura que este momento, que é super delicado (para todas), possa ser vivido com alguma segurança jurídica e fisiológica.
Olá....
ResponderExcluirLi com espanto os dados e informações a respeito desta cirurgia, que é tão necessária para mulheres que passaram pelo processo de aborto seja ele espontâneo ou "provocado", concordo plenamente que quase sempre os atendimentos médicos são de má qualidade, inclusive na rede particular. Será que teremos que assistir a tantas outras mulheres morrerem, por mãos de médicos que simplesmente deixam de realizar os compromissos assumidos mediante a sua formação?