Hoje o
post é papo sério.
Nosso assunto é a violência institucional a que são submetidas as mulheres brasileiras em situação de parir.
Vamos falar de procedimentos dolorosos, vexatórios, que humilham a moral feminina e não têm respaldo cientifico. Não mais. *
É importante notar aqui que o conhecimento científico é motivado por hipóteses, e assim, suscetível a falhas durante todo o seu processo de produção.
As condutas abaixo relacionadas são consideradas pela Organização Mundial de Saúde como claramente prejudiciais ou ineficazes: devem ser eliminadas!
Mas vamos considerar alguns pontos. Estes procedimentos foram incluídos no ensino e na prática obstétrica por terem sido capazes, em algum momento, de comprovar algum benefício. Não vamos agora investigar quais são eles – embora aqui a gente acredite principalmente em motivos “machistas”, em justificativas que se aplicam exclusivamente porque quem pári é a mulher e não o homem... O foco deve ser: desde que considerados prejudiciais por novas pesquisas, pelo viés da medicina baseada em evidências, são condenáveis na assistência obstétrica e ponto.
Mas por quê então continuam sendo rotina?
Esta ainda não é a pergunta mais adequada para este nosso espaço. Não podemos esperar que a mudança seja do outro; muito menos quando dentro de nós cresce e aparece o inevitável: o nascimento de uma criança.
A melhor resposta é o empoderamento feminino. Informe-se o máximo que puder e busque pelo melhor, ele existe, é real e tod@s merecemos. * Estamos gerando demanda por profissionais mais sensíveis à nossa sexualidade e individualidade.
É você quem deve bater na porta das maternidades e perguntar:
Como é o parto aqui? - Faz enema? É enema, lavagem intestinal, faz? - E tem que vir depilada? - Tem sorinho? Começa que horas? - Eu vou poder andar pela maternidade? Meu acompanhante junto comigo.... - Quais são as condições de indicação da ocitocina? Eu posso não aceitar? Quais os métodos de alívio de dor não farmacológicos aos quais terei livre acesso? - Como é a mesa de parto? Parto vertical é possível? Qual a incidência deste tipo de posição?
Estas compreendem as dez primeiras condutas. As cinco últimas referem-se ao atendimento obstétrico específico de uma pessoa. E são tão técnicos que nem o Google consegue resolver!
Neste sentido, trago um texto da
Ana Cris Duarte que colabora com a discussão.
“É muito fácil tomarmos decisões baseadas em "consensos" que nem sempre correspondem à verdade. Esse consensos partem não só de pessoas leigas, mas também de profissionais da saúde, que nem sempre têm tempo e condições de se atualizar adequadamente. Por exemplo, muitos médicos ainda afirmam que após uma cesárea a mulher só pode ter cesáreas. Pesquisas multicêntricas, ou seja efetuadas em vários locais, com grande número de participantes, já provaram que o parto normal após a cesárea é mais seguro que a repetição da cirurgia.
O mesmo se aplica à posição deitada para o parto, uso rotineiro de hormônio para aceleração das contrações, rompimento artificial da bolsa d'água, uso rotineiro da episiotomia, corte precoce do cordão umbilical e muitos outros procedimentos.
Portanto o melhor a fazer é desconfiar dos "consensos". Os profissionais da saúde são seres humanos como nós, mães, e estão sujeitos aos seus próprios temores, crenças e cultura. Cada mulher deve se responsabilizar integralmente por sua gestação e parto, estabelecendo com o médico uma relação de parceria. Cada decisão deveria ser tomada com base em evidências científicas e não em observações pessoais, mitos, histórias de partos que tiveram problemas, crenças e "procedimentos obrigatórios".
Esse é o primeiro passo para tomarmos posse de nossos corpos, reivindicamos o que nos é de direito e responsabilizarmo-nos por nossas escolhas, erros e acertos.”
Fonte:
Medicina Baseada em Evidências - Amigas do Parto.
A Ana Cristina também tem um texto em que descreve um atendimento obstétrico padrão. É aquela triste realidade.... Conheça aqui:
O Parto Hoje – Condutas Hospitalares.
Abaixo, as condutas claramente prejudiciais ou ineficazes, que deverm ser eliminadas.
Pergunto: você que teve parto normal hospitalar ou cesárea intraparto, quais destes procedimentos foram aplicados contra você? * Atente para a indicação de uso rotineiro ou não.
1. Uso rotineiro de enema (lavagem anal-intestinal);
2. Uso rotineiro de raspagem dos pelos púbicos;
3. Infusão intravenosa rotineira em trabalho de parto;
4. Inserção profilática rotineira de cânula intravenosa;
5. Uso rotineiro da posição supina durante o trabalho de parto (supina é a única não recomendada, significa de barriga para cima);
6. Exame retal;
7. Uso de pelvimetria radiográfica;
8. Administração de ocitócicos a qualquer hora antes do parto de tal modo que o efeito delas não possa ser controlado (teve ocitocina no soro);
9. Uso rotineiro da posição de litotomia com ou sem estribos durante o trabalho de parto e parto (a litotomia é a posição de exame ginecológico – pernas para cima, afastadas e apoiadas pelos joelhos);
10. Esforços de puxo prolongados e dirigidos (manobra de Valsalva) durante o período expulsivo;
11. Massagens ou distensão do períneo durante o parto;
12. Uso de tabletes orais de ergometrina na dequitação para prevenir ou controlar hemorragias;
13. Uso rotineiro de ergometrina parenteral na dequitação;
14. Lavagem rotineira do útero depois do parto;
15. Revisão rotineira (exploração manual) do útero depois do parto.
Lembramos que este
post lança a segunda enquete da pesquisa sobre as Recomendações da OMS para o Parto Normal. A participação de vocês é fundamental, para que outras gestantes tenham material a partir do qual se informarem, se apropriarem dos argumentos adequados e se empoderarem.
O lançamento da pesquisa você encontra aqui:
http://partonobrasil.blogspot.com/2010/09/recomendacoes-da-oms-para-o-parto.html
Outras informações sobre as Recomendações da OMS estão disponíveis nos vídeos sobre o
projeto ISEA, da
Dra. Melania Amorim.
Conheça:
http://partonobrasil.blogspot.com/2010/08/video-do-projeto-isea-da-dra-melania_3133.html;
http://partonobrasil.blogspot.com/2010/08/video-do-projeto-isea-da-dra-melania_6979.html
Lembrando que o espaço de comentários fica aberto para quem quiser compartilhar um pouco mais da experiência do parto, relacionando-a com as recomendações da OMS.
ResponderExcluirCada voto nesta enquete é de extrema importância, e sugiro até que, aquelas que tiveram o pacote completo de intervenções danosas, venham aqui nomear a maternidade violenta.
Beijos e Obrigada!