domingo, 26 de setembro de 2010

Triste realidade

Postamos essa semana uma enquete para saber se nossas leitoras tiveram as recomendações úteis na assistência ao parto e nascimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) garantidas e realizadas, tendo sido encerrada ontem. Outras três virão nas semanas subsequentes, dado que são quatro categorias. Sem fazer nenhuma análise profunda a partir do resultado já dá para levantar a hipótese de que o nosso público teve boa parte destas recomendações cumpridas - dos 67 votos, 50 mulheres tiveram um parto normal (29 - parto natural; 21 - parto normal hospitalar), em um País onde vigora a cultura cesarista, indicando que temos também um público seleto, que tem acesso à informação/internet, o que não pode ser considerado como privilégio de tod@s neste sistema político-econômico desigual. O cenário da maioria das parturientes é triste, seja no Sistema Único de Saúde (SUS) onde ter um parto normal é tão "doloroso" quanto uma cesárea eletiva da rede privada de saúde, e quando digo "doloroso" me refiro às questões emocionais pelas quais a mulher terá que passar, e, sozinha, pois como sabemos muitos hospitais e maternidades ainda não cumprem a Lei 11.108/05 - a Lei do Acompanhante! Só quem já passou, atua profissionalmente ou conversa com outras mulheres sabe! Tendo como pressuposto este debate saliento o relato de uma doula que é voluntária em um hospital do SUS que circulou na lista virtual Parto Nosso, com a narração de como é a realidade da assistência à mulher durante seu trabalho de parto e parto. Pergunto a vocês: o que nós podemos fazer para galgar a transformação?
"... ontem eu estive no meu plantão voluntário no SUS. Lá não se permite acompanhante, a parturiente é `devidamente protocolizada´ ao passar pela admissão (recebe a camisola e as intervenções), não tem direito a peridural, o tp é quase sempre induzido. Não se respeita o tempo de descida da criança, o período expulsivo fisiológico e a saída suave da criança. Estamos falando de 99% de enema, tricotomia, soro com ocitócito, jejum, privação de companhia, comandos, espisiotomia, kristeller. A taxa de PN é de 45%, baixa para SUS, e a um elevado preço. Precisamos de métodos não farmacológicos, farmacológicos bem indicados mas muito mais de respeito, devolução do protagonismo... Essa luta é tão grande, precisamos fazer a diferença, fazer educação em saúde! Informação é poder!".
Amanhã estaremos com uma nova enquete no ar, por mais três dias, com a 2a categoria de procedimentos, que são corriqueiros na assistência obstétrica brasileira, como demonstra o relato acima - os claramente prejudiciais. Confiram e participem!!!
Foto do livro Nascer Sorrindo (Birth without Violence), de Frederick Leboyer.

3 comentários:

  1. Nossa eu adorei a enquete e esta postagem é sei lá perfeita. Passei por isso tudo que foi descrito quando pari meu filho no hospital universitário aqui do RJ. Sabe, você se sente um gado sofrendo as dores sem ter uma mão para apertar, uma massagem, um toque, uma palavra de consolo, um abraço, nada! E se você fizer escândalo por causa da dor insuportável, te largam de mão mesmo. Fiquei 13 horas sozinha sem ter um amparo e na hora do parto, nem os estudantes que "podem" assistir o teu parto são capazes de te dar a mão, ou sei lá alguma palavra de conforto para te ajudar pois estão muito mais interessados em prestar a atenção na "aula", é porque meu parto foi uma aula e em menos de 30 minutos que eu entre na sala de parto, fizeram a episiotomia e ainda para meu desespero usaram o forceps, totalmente desnecessário. Desumano!!!!!!!!!! Hoje meu filho está com quase 5 meses e sei lá, até hoje não consigo dormir direito lembrando de como fui tratado como bicho, mas meu desejo era ter parto normal e fiz de tudo para ter, o obstétra que faria meu parto um dia antes da bolsa romper queria marcar uma cesária e eu não aceitei e como ele estava super atarefado com cesárianas marcadas era melhor eu procurar um hospital público porque só lá iriam ficar a minha disposição... Essa é uma realidade para quem tem plano de saúde aqui no RJ, pois os obstétras te induzem à cesariana, muitas mulheres confiam tanto em seus médicos que vão na onda.

    Precisamos fazer algo para acabar com essa mercantilização da saúde, do parto!!

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  2. Beca,
    Cruzes três vezes!
    O seu parto não teve nada de normal, sinto muito!!!
    Concordo com vc! No RJ é uma vergonha. No interior do estado pior ainda.
    Mesmo nas unidades "humanizadas" os profissionais humanizados são pontuais!!!
    O négócio tá feio por aqui!

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  3. Estou amando o blog a cada dia que passa! Pois é, sabe o que parecia? Ah já que você é toda rebeldezinha natureba, quer tanto um parto normal, então toooma!!! Sofra!!! E na próxima faça uma cesária para me dar menos trabalho!!!

    Muito triste isso! Infelizmente aconteceu comigo, e eu estou aqui depois de 5 meses não sei se estou curada do trauma que ficou, mas disposta a ajudar sei la como, a dar um basta, pois somos seres humanos e merecemos respeito!

    Enviei um email para a secretaria de saúde do rj e ministério da saúde relatando o meu parto e implorando que muita coisa fosse revista nas maternidades públicas e particulares. Até agora não recebi nenhuma resposta!
    Mas não vou sossegar!

    um bjo

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