sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

31 voltas ao Sol


Meu pai, minha mãe e eu, ainda no ventre materno, em finais de 79 - Acervo Pessoal.
Compartilho com vocês hoje as 31 voltas dadas ao Sol, desde àquela segunda-feira, dia 07 de janeiro de 1980, em que nasci, na pequena e pacata Chavantes, interior de São Paulo, depois de uma cesariana, com bolsa rota.
E já se foram 11.323 dias, contando com os oito anos bissextos de 1980, 1984, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004 e 2008...
Desde criança me recordo de saber que nasci por uma cesárea, feita por um doutor bem velhinho, tendo meu avô paterno soltado rojões na porta da Santa Casa quando soube (adoro essa história, rs!), mas só vim a ter outros detalhes ano passado, visto que imaginava ter sido uma cirurgia eletiva, pois minha mãe já havia perdido três bebês antes deu nascer, incluindo os gêmeos - também só fui saber como foi o parto do meu irmão mais velho, que nasceu em óbito, na cama do quarto, nesta ocasião. Assim, quando soube que ela havia entrado em trabalho de parto e só foi para o hospital com a bolsa rompida fiquei feliz da vida!
O nascimento é nosso primeiro rito de passagem do mundo interior uterino para a vida terrestre, permeada por valores, regras, normas, enfim, pela nossa Cultura, e, apesar de ser um processo natural e fisiológico, está intrinsecamente ligado ao modo como operamos essa cultura. Já dizia o antropólogo Marcel Mauss, em 1926, em Sociologia e Antropologia, que o corpo é nosso primeiro instrumento, um suporte sócio-cultural carregado de simbologias, nesta medida, às técnicas do nascimento e da obstetrícia são formas muito variáveis, dar à luz em pé, o parto na posição deitada sobre as costas, às posições de quatro; há tanto técnicas de parto para a mãe como para seus auxiliares, para a retirada da criança, ligadura e secção do cordão umbilical, para os cuidados com a mãe e com a criança, a escolha da criança, a exposição dos defeituosos, a morte dos gêmeos, enfim, momentos decisivos na história de uma etnia, que constata que o reconhecimento da criança é um acontecimento capital.
Desta maneira, nascemos em um tempo e espaço próprios. Comigo não poderia ser diferente, os avanços tecnológicos do início dos anos 80 já permitiam exames de ultrassonografia e cirurgias para extração dos bebês, e, assim, nasci de um não-parto, com duas voltas de cordão (a justificativa!). Minha mãe também não me amamentou, pois seu leite não desceu, e, já no primeiro dia, na primeira foto lá está ele, o leite artificial! Outro mito da época, que pregava que as mulheres tinham leite fraco!

Ultrassonografia da época - Acervo Pessoal.

Além das protagonistas, mãe e filha, a Nestlé não deixou de imprimir seu rótulo - Acervo Pessoal.

E a teta, cadê?! Na foto, minha querida avó curtindo sua cria e neta - Acervo Pessoal.
Hoje vejo que meus caminhos e escolhas estão relacionados, também, com a forma como nasci e optei pelo nascimento e parto de meus dois filhos, Ícaro, nascido de uma (desne)cesárea e Rudá, nascido em casa (leia aqui meu relato de parto, postado nesta mesma data ano passado no blog!). E você, como veio a este Mundão? Já conversou com sua mãe sobre o parto dela?
* Enquanto redigia o post fui presenteada via Sedex com o livro Humanização do Parto: política pública, comportamento organizacional e ethos profissional, de Mônica Bara Maia - entrevistada por Ana Carolina, em dezembro de 2010, confiram aqui! Delícia! Grata, querida Mônica!
Na lista Parto Nosso circulava uma discussão sobre ultrassonografia, e o Dr. Ric Jones comentou com palavras que se encaixam perfeitamente ao que mencionei acima, que merecem ser divulgadas:
"Lembrem-se que a SOCIEDADE (todos nós) é quem cria esse sistema de crenças. Os médicos são apenas a expressão deste modelo na terapêutica. A medicina (mormente a obstetrícia) contemporânea não se expressa num vácuo conceitual. Pelo contrário: a obstetrícia e sua visão diminutiva contemporânea da mulher faz parte de um sistema muito maior e que não se faz notar apenas na medicina, mas em todas as formas de ação humana. A assistência ao nascimento é uma engranagem de um maquinário gigantesco e poderoso. A verdade dolorosa é que nós gostamos da intervenção, da cesariana, da episiotomia, do soro milagroso, de UTIs, das drogas em geral (legais ou ilegais) e, principalmente, do autoritarismo médico. Não são os médicos os criadores isolados deste modelo, como se fossem ditadores déspotas, que tomaram a consciência pública de assalto com suas idéias positivistas, cartesianas e materialistas. Não: os médicos são exatamente aqueles tecnocratas da saúde que NÓS escolhemos para intervir e consertar nossos corpos. E o fazem através da mitologia da transcendência tecnológica, e o seu imperativo. "Intervenha", grita a sociedade, e o médico acuado e amedrontado, obedece... Enquanto nosso modelo for este a humanização do nascimento estará restrita aos combatentes esfarrapados da heróica resistência... Isto é: nós ... Somente as mulheres poderão levar adiante esta bandeira. Afinal... é em suas tripas que estas batalhas são travadas."

6 comentários:

  1. Uau!!

    Maravilha Bi!

    Feliz Aniversário!!

    Parabéns!!

    Estas fotos tuas estão demais! Que é aquela lata de leite em pó? Certa vez ouvi sobre fotografias de latas empilhadas. Nesta sua foto ela também foi posicionada para o clique. Um luxo de bebê você, amiga! Linda!!

    A década de 80 viveu a conquista médica das cesáreas seguras. As mortes maternas decorrentes de cesáreas havia diminuído muito.

    E assim, nascemos esta geração. Que continua fazendo cada vez mais cesáreas sem, contudo, melhorar os indíces de saúde das mulheres e seus bebês.

    Ótimos textos. Belas representações.

    Obrigada por este seu presente de aniversário.

    Beijos

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  2. Eu falei um pouco sobre meu nascimento, relacionando com o nascimento do meu filho, de parto domiciliar, aqui: http://danielices.blogspot.com/search/label/parto

    Adorei as fotos!

    Dani

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  3. Oi Dani!
    Obrigada pela participação!
    E tb por nos linkar no teu blog, maravilha a divulgação de como foi sua experiência e q sim, podemos parir! E viva Arthur!
    Gde beijo,

    Bianca.

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  4. olá.
    Estava procurando fatos do meu dia de aniversário e encontrei seu blog.
    Me chamou a atenção por eu ter duas irmâs e um irmão natimorto. Também sou nascido de cesária. Interessante. Por acaso teve bronquite?

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  5. Olá, puxa... esse mundo da web é incríel mesmo, rs.
    Não tie bronquite, mas muitos estdos associam a cesárea a alergias e até autismo. Qdo o bebê é tirado por uma cesárea eletiva, sem q a gestante entre em trabalho de parto pode ser q seu pulmão não esteja maduro, por isso os problemas respiratórios. Sua mãe chegou a entrar em trabalho de parto, ou agendou seu nascimento?
    Inté!

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  6. Ops, qtos erros, rs.
    IncríVel - tiVe - estUdos.

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