quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Relato: Nascimento de João – Cesárea




 Meu filho nasceu em novembro do ano passado e hoje finalmente pari o relato do que considero um "quase-parto", pois ao contrário do que aconteceu no nascimento do meu primeiro filho, dessa vez eu pude pelo menos experimentar a dor e a delícia de um trabalho de parto de que eu fui protagonista até o momento da indicação da cesárea.

Sintam-se livres para me questionar, meu objetivo em postar o relato aqui é justamente entender e digerir a cesárea.

Coloquei algumas fotos tiradas durante o TP e cesárea (quase todas "by Helô Lessa") no álbum: http://picasaweb. google.com. br/biancaz/ NascimentoDoJoao #


ANTES

Eu já estava de 42 semanas pela ultra e minha estimativa da concepção, e 43 semanas pela DUM. Já tinha tido vários episódios de falso trabalho de parto e desde as 40 semanas estava seguindo todas as dicas pra entrar em trabalho de parto (chá de canela, sexo, caminhada, banhos quentes, exercícios, homeopatia). Fiz uma ultra e estava tudo ótimo, então já tinha combinado com a Helô e o Rodrigo de esperar mais uns dias e tentar fazer um descolamento de membranas, já que indução mesmo eu não poderia fazer por conta da cesárea prévia.

Meu pai me indicou um médico acupunturista que segundo um amigo dele era muito bom pra estimular trabalho de parto (aliás, indico: Alcio Gomes). Então marquei uma consulta com ele. Ele me disse que se eu já tivesse um pouco de dilatação, as chances de funcionar seriam grandes. Fiz uma seção com ele e ele me disse pra voltar no dia seguinte se não tivesse entrado em trabalho de parto.

No dia seguinte fui andando a pé da minha casa até a Gávea pra segunda sessão de acupuntura e durante a seção comecei a sentir contrações. Saí de lá sentindo contrações espaçadas e pouco doloridas. Estava muito calor e eu saí de lá direto para passear no shopping (andei, andei, andei) porque na rua não dava, o calor estava demais.


EM CASA

À noite finalmente as contrações ficaram mais doloridas e regulares, apesar de ainda estarem bem espaçadas (a cada 7 minutos, mais ou menos). Liguei para a Helô e quando disse que estava em TP ela disse "Oba! Não era isso que você queria?" Ela veio aqui pra casa lá pelas 22h. Me olhou e me disse pra tentar descansar. Passamos a noite na sala, cada uma deitada em um sofá. O Roberto ficou tocando violão por um tempo, tocou de tudo, mas lembro principalmente de Elomar. Em algum momento as luzes se apagaram e fomos pra varanda ver se tinha sido só aqui. Vimos que estava tudo escuro, até onde a vista alcançava. Era o apagão que apagou grande parte do Brasil. Acendemos algumas velas pela casa, ficou um clima ótimo. Eu conseguia dormir entre as contrações, mas acordava e ficava na posição que me parecia mais confortável quando vinha a contração. Passamos a noite assim e de manhã ela fez o primeiro toque da minha gravidez: 2cm. As contrações continuavam espaçadas. Ela decidiu sair pra resolver algumas coisas na rua e disse pra eu ligar quando precisasse.

O meu filho Antônio acordou e eu fiz de tudo pra dar café-da-manhã normalmente pra ele, mesmo tendo que parar durante as contrações. Expliquei pra ele que logo, logo o irmãozinho dele estaria chegando. O Antônio saiu para a escola e meu marido foi para o trabalho (o trabalho dele é pertinho da nossa casa). Eu fui pra cama tentar dormir mais um pouco porque estava muito cansada. Nisso eu dormi por uma meia hora e acordei assustada porque não estava mais sentido as contrações. Eu tinha muito medo que o TP parasse. Liguei pra Helô e contei pra ela o que estava acontecendo. Contei que tinha feito acupuntura e que estava com medo que fosse um falso TP causado pela acupuntura. Ela me disse que isso não tinha nada a ver, que era normal dar uma parada e depois recomeçar com mais força. Disse pra eu tentar dormir mais. Dormi mais um pouco e acordei com uma contração mais forte. Aí peguei a bola e fiquei quicando nela. As contrações foram ficando mais fortes e regulares, comecei a realmente sentir dor. Liguei pra Helô e ela me disse pra tomar um banho de chuveiro, não de banheira. Me disse que teria que resolver algumas coisas e mais tarde passaria aqui em casa. Eu fiquei entre o chuveiro e a bola mais algum tempo. Nisso muita gente (minha mãe, meu pai, meus sogros) ligou pra saber como estavam as coisas, já que o plano era fazer o descolamento naquele dia. Eu nem falei que estava em TP e disse que só iria fazer o descolamento mais tarde.


NA MATERNIDADE

Lá pelo meio-dia liguei pra Helô e disse que não estava aguentando mais que queria ir logo pra maternidade porque se demorasse mais não sabia se iria aguentar a viagem de carro. Ela aceitou, já que meu plano era parir na maternidade, não em casa. Me disse que ia ligar para o Rodrigo, pra ele tentar conseguir vaga. O Rodrigo ligou depois de um tempo pra dizer que não tinha vaga na Perinatal de Laranjeiras, que ele sugeria a Promatre no Centro. A Helô tinha me falado dessa Promatre, mas eu fiquei com pé atrás (infelizmente) e perguntei se não podia ser na Perinatal da Barra. O Rodrigo ligou pra lá e conseguiu vaga. Ele e a Helô iriam encontrar com a gente lá.

Fui no banco de trás do carro me contorcendo nas contrações. Chegando lá, enquanto meu marido resolvia a internação, o Rodrigo quis fazer o exame de toque e pra minha surpresa ainda estava em 2cm. Fomos para o quarto e ficamos lá só eu e o Roberto por um tempo. Ficamos um tempão juntos no chuveiro e pra minha surpresa meu marido foi perfeito nessa hora me ajudando a relaxar e ficar mais ocitocinada. Quando a equipe voltou umas duas horas depois eu já estava com quase 5cm. Aí como eu estava muito cansada, resolvemos que era melhor ir pra banheira na suíte de parto humanizado. Tive que colocar aquela roupa de hospital e ir pra lá na maca (reclinada) me contorcendo e gritando muito. Os enfermeiros me olhavam como se eu fosse uma louca, acho que nunca tinham visto aquilo por lá. Nessa hora eu já estava começando a entrar na Partolândia, ficava entoando uma espécie de mantra, que eu mesma tinha inventado e que me acalmava. Chegando na suíte, vi a equipe toda e o meu marido com aquela roupinha de hospital, muito estranho. Pediram pra encher a banheira e a louca da enfermeira resolve colocar espuma de banho na água. A Helô quase teve um treco, tiveram que esvaziar tudo, limpar e encher de novo. Fiquei um tempão na banheira, a Helô e o Roberto se revezavam pra jogar água na minha barriga porque a banheira era muito rasa. Acho que foram quase duas horas na banheira porque deu tempo de ouvir duas vezes o CD da Monica Salmaso cantando Afro-Sambas.

As contrações mesmo na banheira estavam punk, eu tentava mentalizar que elas estavam trazendo meu filho, mentalizava "vem João, vem João", mas o que me aliviava mesmo era mentalizar "vou conseguir, sou forte, vou conseguir". Aí a água esfriou e eu saí da banheira. Novo exame de toque e a dilatação não tinha evoluído quase nada. Mas, o bebê tinha girado e agora estava com o dorso a esquerda, não mais com dorso a direita. Falaram pra eu ficar fora da banheira e tentar ficar em outras posições, mais agachada, pendurada. Me pendurava no meu marido e a Helô me fazia massagem nas costas, que aliviava muito. A dilatação progrediu um pouco mais, mas como eu estava muito cansada depois de algum tempo eles me propuseram analgesia e eu aceitei. Entrou a anestesista, me explicou que daria só uma anestesia bem fraca que duraria mais ou menos uma hora pra eu descansar. Não vou negar que foi um grande alívio. Fiquei deitada vendo a minha barriga mexendo durante as contrações. Falei pro Roberto ir jantar porque ele já estava há horas sem comer nada. Eu tinha comido antes de sair de casa e confesso que nem me passou pela cabeça comer (só beber água, o que eu fiz). Pedi pra chamarem a minha mãe que fiquei sabendo que já estava na maternidade. Ela entrou e ficou do meu lado junto com a Helô, falando de como tinha sido o meu parto. Depois de um tempo pedi pra ela sair, porque estava me tirando a concentração e eu sentia que a anestesia ia passar e eu precisaria voltar ao trabalho.

Fizeram um exame de toque e pra minha surpresa minha dilatação tinha progredido muito durante a analgesia, estava com 7cm. A analgesia passou e voltei pras posições de cócoras e de repente senti uma água escorrendo e comecei a falar que tinha feito xixi (não sei por que falei isso, já que era óbvio que era a bolsa). Depois de algum tempo, novo toque e eu já estava com 9cm, mas o João ainda estava um pouco alto e eu com edema de colo. Disseram pra eu ficar um pouco em posição semi-reclinada pra colocar gelo e tentar diminuir o edema. Depois de um tempo, novo toque, edema tinha diminuído só um pouco e saiu mecônio (não tinha mais líquido, era mecônio puro). Senti que aí o Rodrigo começou a ficar preocupado. Eu comecei a tentar fazer força nas contrações pra ver se ajudava. Estava na Partolândia total e sabia que de vez em quando ele media os batimentos, mas eu não conseguia ouvir o que estavam falando. Só sei que uma hora o Rodrigo falou que não dava mais pra esperar, que os batimentos não estavam mais recuperando depois das contrações e que tínhamos que ir correndo pra cesárea. Eu fui de cócoras na maca fazendo força nas contrações com esperança de que meu filho nascesse no caminho. Ainda fiz um auto-toque e tive a impressão de sentir a cabeça dele em cima do colo inchado. Mas, quando me deitaram na mesa da cirurgia e começaram a dar a anestesia, vi que não tinha mais jeito, tentei me acalmar e apesar de tudo ficar feliz porque veria meu filho em breve. Falei pro meu marido: "Amor, vamos finalmente conhecer o João". A cesárea foi feita rapidamente e meu filho nasceu de olhos abertos e coberto de mecônio, a 00:25 do dia 12 de novembro de 2009. Colocaram ele um pouco no oxigênio, o Apgar foi 6/8 e o capurro 41 semanas e 6 dias. Puseram ele em cima de mim e ele mamou logo em seguida.


_Bianca Zadrozny, mãe de João.

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