Por quê dessa crueldade que não nos ouve, não nos vê?
Como pode que um pré-parto com seis parturientes adquira o sentido de um filme de terror para um médico obstetra?
Como pode demorar 12 anos para que a assistência à nossa saúde cumpra a Lei do acompanhante?
Neste Dia Mundial da Parteira, muitas ações importantes aconteceram no país: tivemos a inédita brasileira Marcha das Parteiras em diversas cidades: Belo Horizonte-MG; Brasília-MG; Caruaru-PE; São Paulo-SP; Sorocaba-SP e Cananéia-SP.
O site Parto com Prazer, além de lançar o livro Parto com Amor, no dia 04, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (veja fotos aqui), publicou artigo da enfermeira Paula Viana, do grupo Curumim. Confira, na íntegra.
Parteiras tradicionais: saga da sobrevivência
Em 5 de maio é comemorado o dia internacional da parteira. Leia o artigo de Paula Viana, enfermeira e coordenadora do Programa Parteira do Grupo Curumim.
Paula Viana*
A parteira tradicional pode ser considerada uma das profissionais mais antigas que existem, e mesmo com tantos avanços tecnológicos na assistência à saúde, continua desempenhando papel fundamental para a garantia de uma vida mais saudável para muitas mulheres e crianças do Brasil. Elas são muito requisitadas, pois tanto em lugares onde há e não há acesso aos serviços de saúde elas atuam e são as primeiras a atender as mulheres.
No Brasil, anualmente, em média são realizados 41 mil partos domiciliares, desses a maioria é assistido por parteiras tradicionais. Mesmo sendo dados subnotificados ao Sistema de Informação à Saúde do Ministério da Saúde (DATASUS), os números nos dão a visão de que as parteiras tradicionais existem e que seus trabalhos deveriam estar dentre as preocupações de gestores e profissionais de saúde de todas as regiões, principalmente Norte, Centro Oeste e Nordeste. Além disso, o parto domiciliar assistido por parteira tradicional é um direito reprodutivo reconhecido por autoridades nacionais e internacionais de saúde, porém a existência no Estado Brasileiro de Marcos Legais e Políticos que respaldem e garantam a implantação de políticas públicas de inclusão do trabalho desenvolvido por parteiras tradicionais não tem se revertido em mudanças significativas no trabalho e na qualidade de vida dessas mulheres guerreiras.
Para se fazer justiça, é necessária a imediata ação de legisladores, profissionais e gestores que viabilizem a efetivação do direito à remuneração pelo trabalho desenvolvido e à aposentadoria dessas mulheres que vêm envelhecendo e morrendo sem apoio, isoladas, doentes e sem o devido reconhecimento do benefício de suas ações durante toda a vida.
Paula Viana esteve em São Paulo no último final de semana. Participou de um roda de conversa com a fotógrafa Stephanie Pommez, autora da exposição Mães de Umbigo. Obstetrizes, parteiras, doulas, pesquisadoras, terapeutas, historiadoras e o pai de Stephanie estiveram presentes.
Eu só cheguei no finalzinho (foi um dia de intercorrência médica-pediátrica), mas ainda assim, tive o grande prazer e privilégio de ouvir coisas tais como:
"A minha racionalidade de mulher branca, ocidental, urbana, não permite que eu compreenda exatamente o significado de um relato como o desta parteira que me confirmou, esclarecidamente, de que a mulher havia parido um jacaré! Um jacaré que caiu ao chão e correu fugido para o rio." Ana Paula Viana
"É um relato que certamente não faz sentido nesta nossa experiência, mas que para o ribeirinho cumpre com exatidão à realidade." Stephanie Pommez
A exposição está linda, as fotos são maravilhosas, realmente imperdíveis! Veja aqui o post da Bia Fioretti quando do lançamento da exposição, lindo!
Stephanie veio ao Brasil apenas para o lançamento de sua exposição, ela mora em Nova Iorque.
O projeto com as parteiras foi realizado durante três anos, durante os quais passava temporadas de 2-3 meses nas florestas. Sua filha costuma embarrigar-se de uma almofada e pedir que a mãe encene dona Dorca, homenageada na exposição, nestas trocas de papéis tão deliciosas que @s pequen@s nos envolvem.
Confira as fotos:
Lugar de nascimento risco zero não é mesmo no hospital...
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