Com imensa satisfação que publico a
entrevista inédita que a educadora perinatal inglesa,
Janet Balaskas, cedeu ao
Blog Parto no Brasil em Curitiba, PR, no dia 17 de abril, na
Formação Profissional em Parto Ativo, pelo
Espaço Aobä.
Um domingo inesquecível que com certeza ficará na memória ao ver aqueles lindos olhos verdes tão expressivos daquela incrível mulher que clamou que
nós mulheres precisamos de parteiras! A entrevistadora aqui (rs) não se conteve e confirmou: "
Simmm!!!".
Confiram abaixo!
(re)Leiam também outros
posts sobre
Janet:
Anotações da Formação Profissional em Parto Ativo, c/ Janet Balaskas;
Parto Ativo: a História e a Filosofia de uma Revolução;
Manifesto pelo Parto Ativo, por Janet Balaskas.
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PARTO NO BRASIL Já falamos do Parto Ativo e do teu trabalho no Blog Parto no Brasil, e eu queria que você contasse p/ nós como que o Parto Ativo é mais do que uma aplicação do Yoga na gestação e posturas verticais no trabalho de parto/parto, mas sim uma filosofia, um novo paradigma de atenção obstétrica?
JANET R: É fisiológico p/ a mulher que ela tenha liberdade de se movimentar durante o trabalho de parto e parto, e que ela tenha um ambiente onde ela possa ter o parto de forma fácil e de forma natural, mesmo que a princípio seja uma questão de se manter vertical, a diferença entre ficar em uma postura vertical e ficar deitada, é que deitada a mulher fica passiva e ela perde o poder. Ela está vulnerável às intervenções das outras pessoas. Ela perde a privacidade e a sua dignidade. Ela também perde muitas vantagens, como por exemplo, melhor fluxo sanguíneo do bebê p/ a placenta, mais possibilidades do seu corpo se abrir, e todo o processo do parto é mais fácil quando a mulher pode seguir seus próprios instintos. Quando a mulher segue seus próprios instintos ela sabe exatamente como parir seu bebê. Esse é um conhecimento instintivo de todas as mulheres, que todas as fêmeas de mamíferos tem. O bebê também tem reflexos inatos, ele sabe como nascer, e, eu sempre falo p/ as mães que o corpo delas foi perfeitamente desenhado p/ darem conta de parir um bebê. O corpo foi perfeitamente desenhado p/ conceber o bebê e nutrir o bebê na gravidez, assim como dar à luz e nutrir o bebê depois. Isso é algo que as mulheres sabem fazer, então o Parto Ativo reconecta a mulher c/ suas habilidades instintivas de ser mãe e de dar à luz. Porque quando tem intervenções médicas desnecessárias, essa cadeia de eventos fisiológicos fica interrompida. É um desenho da natureza muito delicado, e envolve uma liberação hormonal especial, e quando nós usamos uma intervenção médica sem ter a necessidade real inibimos a liberação desses hormônios naturais. Quando uma mulher está assustada, ou ela está ansiosa, também a liberação desses hormônios fica inibida. Então, o objetivo principal do Yoga no Parto Ativo é permitir que as mulheres possam relaxar e liberar medo e ansiedade, que elas acreditem mais na capacidade de dar à luz, daí elas querem que este evento aconteça, porque vai ser uma das experiências mais maravilhosas da vida delas. E, foi assim que a natureza desenhou o parto, é um momento importante na vida da mulher, um momento de desenvolvimento, e é o nascimento de uma criança. Nós não deveríamos deixar isso ser levado, tirado de nós e de nossos bebês, ainda mais porque o Parto Ativo é mais fácil e mais seguro, e ele é totalmente baseado em estudos e evidências de que é assim mesmo que deveria ser. È preciso achar um novo equilíbrio, onde a maioria das mulheres que estão saudáveis possa dar à luz de forma natural e normal, no ambiente certo, onde a ajuda obstétrica está lá para os casos mais difíceis, quando realmente é necessário. A natureza não é perfeita, nós precisamos da Obstetrícia moderna, e nós precisamos de obstetras competentes, mas não p/ o parto normal, p/ o parto normal nós precisamos de parteiras!
PARTO NO BRASIL Como esse modelo de Parto Ativo poderia ser aplicado como uma Política Pública num País como o nosso, com elevadas taxas de cesárea, que correu o risco agora de perder o curso de Obstetrícia, o único do País, da USP, e como que esse modelo poderia ser transformado p/ todas, porque hoje ainda é p/ poucas, ainda é elitista, p/ quem tem aquisição, p/ quem tem acesso a informação, enquanto a maioria da população fica a deriva?
JANET R: Eu acho que as parteiras e as mulheres tinham que protestar muito contra o fechamento desse curso, porque esse movimento deveria incluir treinamento das parteiras, condições e locais p/ o Parto Ativo acontecer. Eu acho que as mulheres devem ser educadas a respeito disso e que elas devem mesmo exigir essas mudanças nos hospitais públicos. Trinta anos atrás era assim também no Reino Unido, nós fomos p/ as ruas, nós tínhamos passeata, nós fizemos conferências, nós insistimos nos nossos direitos de fato. Isso não é um método, ou uma técnica, esse é o modo com que as mães humanas devem dar à luz, o modo como elas foram desenhadas p/ dar à luz. E vem acontecendo assim há milhões de anos, no mundo todo, c/ todas as culturas, em todos os países, é universal, global, basicamente é a verdade! Então, até que nós tenhamos o Parto Ativo possível p/ todas as mulheres existe um abuso do direito do parto natural, e é preciso encontrar um novo equilíbrio entre a Natureza e a Ciência, de modo que os dois possam nos servir, em nossa Humanidade.
PARTO NO BRASIL Qual é a sua expectativa nos eventos em São Paulo, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e no workshop no dia seguinte?
JANET R: Estou super empolgada p/ ir p/ São Paulo, e empolgada p/ ajudar o curso de Obstetrícia da USP, porque é muito importante que as mulheres tenham parteiras que sejam comprometidas c/ o trabalho, que sejam apaixonadas pelo trabalho, que acreditem e que confiem no poder das mulheres de dar à luz! È muito importante que existam parteiras, esse curso não pode fechar! Estou louca p/ conhecer essas pessoas, pois em São Paulo tem pessoas muito ativas e participantes. Também estou muito feliz pelo workshop profissional em Curitiba, onde encontrei pessoas do Brasil todo super comprometidas e que conhecem muito e que trabalham muito pela melhoria das condições de nascimento no Brasil, então estou muito feliz de estar aqui!
PARTO NO BRASIL E, nós também!!!
* Tradução de Talia Gevard.
Foto de Mario Lima - Talia, Janet e eu após a deliciosa prosa!
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