domingo, 24 de janeiro de 2010

A humanização do parto como alternativa para um nascimento com respeito

Foto de Anne Geddes
_Por Ana Carolina Arruda Franzon & Bianca Cruz Magdalena_
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Hoje em dia temos muita pressa; é preciso viver rapidamente, pois “tempo é dinheiro”. A velocidade das informações e os avanços tecnológicos invadiram nosso cotidiano tão intensamente que mudaram até a forma de nascer. Nossos filhos vêm ao mundo com hora marcada, e já não recebem mais o mesmo respeito que tinham no tempo dos partos de nossas avós, por exemplo. Isso porque muitas mulheres são levadas pelos seus médicos a optarem pela cesárea, tanto por falta de informações, quanto por quadros clínicos aterrorizantes, como sofrimento fetal, circular de cordão, bolsa rota há muito tempo. Enfim, são inúmeros os motivos dados por aqueles doutores do saber biomédico que acreditam serem eles os protagonistas do nascimento, papel que deveria ser desempenhado pela mulher.
Em tempos passados, as mulheres podiam dar à luz e receber cuidados em casa, acompanhadas por parteiras e entes queridos – vale lembrar que, atualmente, o número de partos domiciliares vem crescendo nos grandes centros urbanos. Outra alternativa, que pode ser realizada também no ambiente hospitalar, é a escolha pelo parto natural e humanizado, sem as intervenções desnecessárias ou de rotina, que apenas servem para atender protocolos.
O medo das dores do parto sempre foi tão certo quanto o nascimento. Mas, muita coisa mudou nestes últimos anos. A medicina moderna possibilita um rol de procedimentos cirúrgicos “seguros” para aquelas mulheres que preferem não passar pelas dores do parto. Em 2008, aumentou para 84,5% o número de cesáreas na rede de saúde privada, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar[1]. No Sistema Único de Saúde (SUS) a proporção é de 31%, caracterizando o Brasil como o segundo país da América Latina com maior índice de cesarianas, após o Chile.
Mas qual seria o motivo dessa escolha? Porque as mulheres não se apropriam de seus corpos e de sua saúde ao invés de confiá-los a um médico? Será que elas sabem exatamente por tudo o que vão passar no centro cirúrgico e no pós-operatório? Sabem realmente o que vão perder se optarem por deixar de dar à luz de forma natural?
Partos de baixo risco podem ser realizados seguramente em casa, com auxílio de profissionais da saúde como enfermeiras obstetras ou parteiras. Em algumas cidades brasileiras, as mulheres já podem optar pelas Casas de Parto, onde o nascimento é realizado sem as “cascatas” de intervenções que geralmente ocorrem nos hospitais (como por exemplo, a indução do parto com uso de ocitocina sintética, medicamento que aumenta as contrações uterinas, porém aumenta a intensidade das dores; analgesia para combater a dor, que impossibilita a mulher de participar ativamente desse momento, já que estará anestesiada, sendo obrigada a ficar deitada; episiotomia, que é um corte realizado na região do períneo, entre a vagina e o ânus, para facilitar a passagem do bebê). Ao invés de auxiliarem a parturiente, estes procedimentos muitas vezes são realizados de maneira desmedida, somente para acelerar o ato fisiológico que é o parto.
Um nascimento requer tempo, paciência e intimidade, pois quanto mais relaxada a mulher estiver, melhor será a experiência para ela e para o bebê, bem como a liberação de hormônios naturais como a ocitocina e a endorfina. E melhor ainda será se puder ter um trabalho de parto ativo, onde possa assumir a posição que melhor lhe conforte, podendo ficar em pé, caminhar, agachar, tomar banho, receber massagens e apoio emocional. Assim, poderá sentir e entender suas tensões e contrações, entrar no ritmo delas, e viver o nascimento de seu filho como algo prazeroso.
Afinal, trata-se da perfeição da natureza humana, já que segundo o obstetra francês Michael Odent, 73, “no parto normal, há a liberação de um coquetel de hormônios, que podemos chamar de hormônios do amor, que aumenta a capacidade da mãe e do bebê de amar.”.



[1] Caderno de Informação da Saúde Suplementar: Beneficiários, Operadoras e Planos, publicado em junho de 2009 pelo Ministério da Saúde/Agência Nacional de Saúde Suplementar.

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