Nossa sessão
Parto no Brasil entrevista convida para a prosa a brincante Maribel Barreto, co-proprietária, junto de seu companheiro, do
Ocitocina Atelie, ao lado de três filhos! Adept@s da educação antroposófica e da Pedagogia Waldorf, o casal fabrica produtos artesanais feitos com matérias-primas naturais, incentivando o livre brincar, além de atuarem, também, junto da
Aliança pela Infância.
Simbora conhecer mais esta experiência de maternagem e cuidado unindo trabalhos manuais, empreendimento familiar e a vida na roça carioca!
PARTO NO BRASIL Maribel é um prazer trazer até nosso espaço a questão da ludicidade, e de como o brincar é importante para as crianças. Fale-nos, por favor, dessa questão do ponto de vista da tua atuação, com o Ocitocina Atelie.
MARIBEL R: Grata pelo convite, é uma alegria estar aqui! No Ocitocina Atelie procuramos oferecer brinquedos diferenciados que estimulem a criança a criar sua brincadeira, são feitos em materiais naturais, como lã de carneiro, madeira, tecido de algodão.
Acreditamos que o brincar seja um alimento vital para a formação da criança. Através do brincar a criança se relaciona com o mundo. Quanto mais livre e natural for, tanto melhor. A criança precisa de espaço, tempo e natureza. E levamos isso muito à sério!
PARTO NO BRASIL Como você vê essa tecnologia exacerbada dos dias de hoje à serviço das crianças?
MARIBEL R: Acho um desperdício de recursos em todos os sentidos. Uma criança precisa de muito pouco para se sentir apreciada. Uma folha ou pedra natural é muito mais interativa que um aplicativo. É um engano completo acreditar que a criança se desenvolverá mais usando a tecnologia a seu favor. As coisas tem o tempo certo de acontecerem, e o tempo da criança é movimento, é interação real. Acelerar o processo de amadurecimento intelectual da criança pode parecer promissor num primeiro momento, mas não o é logo mais adiante. É como uma fruta. Se a retiramos do pé no tempo certo temos uma fruta rica em minerais e sabor, porém se tiramos antes e a colocamos para madurar num processo artificial, teremos uma fruta doce, mas bem menos nutritiva. O que é mais importante?
Como pais, temos de estar atentos às demandas de mercado. E perguntar incessantemente se a moda do momento está à serviço de quem ou o quê.
Meus filhos não têm acesso a tv (nem temos o aparelho em casa) e tampouco aos computadores. Não é da cultura da família assistir tv, seja ela aberta ou fechada. Antes do Francisco nascer jogamos nossa tv na lixeira e foi libertador.
Há cerca de um ano as crianças passaram a ver alguns vídeos selecionados por nós. Na casa dos amigos também é permitido, sob nossa observação. Pode parecer radical, mas a experiência me diz que estou num caminho bacana. A resposta eu vejo no corpo deles, no resultado de uma brincadeira rica em imaginação. Isso para mim é mais importante. Meu filho fez cinco anos e já tem um repertório de árvores, plantas e insetos bem maior que o meu, por exemplo.
PARTO NO BRASIL Na perspectiva antroposófica, a criação não terceirizada d@s filh@s tem um papel fundamental na construção biográfica desta criança, especialmente na primeira infância, até os sete anos, onde temos o primeiro setênio. Conte-nos como é trabalhar em seu home office, com três crianças, sendo uma delas um bebê, e percorrer essa corrente filosófica como estilo de vida.
MARIBEL R: Conhecemos a Antroposofia quando nosso primeiro filho nasceu e desde então nos aproximamos do movimento antroposófico através da Pedagogia Waldorf, por trazer respostas muito convincentes aos nossos questionamentos. Desde a gestação já sabíamos que iríamos investir tempo e dedicação aos filhos, só não sabíamos como. O Atelie foi nascendo na medida em que o Francisco crescia, comecei fazendo peças para bebês e com o tempo os brinquedos foram surgindo. Trabalhar em home office exige de nós uma boa dose de disciplina e foco. Nem sempre conseguimos, pois a prioridade são eles. A gente se reveza nos cuidados das crianças pra que cada um possa fazer sua parte no atelie, pois trabalhamos juntos, meu marido e eu. É comum a gente trabalhar até tarde da noite pra poder atender as demandas. As crianças fazem parte do cotidiano atelie/casa. Fiz uma cortina e amarrei em volta da mesa de costura, enquanto trabalho eles brincam em baixo da mesa.
Esse cotidiano só enriquece o repertório deles. Sob o ponto de vista antroposófico a criança precisa ver de perto esse labor para que tenham exemplos a serem seguidos. Eles nos ajudam a cuidar da horta, fazer pão, varrer a casa, as vezes limpam lã comigo, tudo de maneira lúdica. Isso pra eles é vida, é movimento. Decidimos sair de uma grande capital pra morar num sitio, a fim de dar a elas mais espaço e contato com a natureza. Até o ano passado não iam à escola, o nosso dia a dia era muito intenso. Esse ano, nos mudamos novamente de cidade sem abrir mão do contato com a natureza, afim de oferecer escola para eles.
PARTO NO BRASIL Dentro da Pedagogia Waldorf os materiais de que são feitos os brinquedos tem muita influência na percepção dos bebês e crianças. Você poderia nos dizer quais tipos são mais indicados, e os motivos?
MARIBEL R: A criança é um ser sensível, ainda ligada às esferas mais sutis. Ao brincar com elementos naturais ela é capaz de perceber as nuances de cada material enriquecendo o tato, uma qualidade que mais tarde se refletirá na maneira como lidará com as outras pessoas. Devemos perder o receio e permitir que as crianças se sujem mais de terra, e molhem-se mais na chuva ou poças d’água, que elas possam manipular diferentes sementes mesmo que sejam ásperas ou espinhosas, carregar pedras ou madeiras com diferentes pesos. Criança precisa sentir o mundo através dos sentidos. Claro que não vamos permitir que se coloquem em riscos, mas podemos ser mais permissivos e deixar de temer a natureza. Quanto ao brinquedo feito à mão, a criança também é capaz de perceber o esforço impresso na execução daquele brinquedo. Ela sabe que nesse brinquedo tem trabalho, erros e acertos, que não é um brinquedo perfeito, assim como a vida. Isso é um bom exemplo a ser dado às crianças. O ideal seria que cada família pudesse produzir os brinquedos de suas crianças, que elas pudessem acompanhar o processo disso. Isso seria riquíssimo.
PARTO NO BRASIL Você lançou pela internet uma espécie de apoio às bibliotecas infantis, com descontos na aquisição de seus brinquedos, para serem doados a esses espaços. Como funciona?
MARIBEL R: A ideia é incentivar as pessoas a doarem brinquedos novos para as brinquedotecas e escolas. As escolas Waldorf´s, por exemplo, são escolas associativas e nem sempre tem verbas para renovarem suas brinquedotecas, embora a prática da maioria delas é a de manter grupos de trabalhos manuais onde os brinquedos feitos pelas mães fiquem para a escola. Porém a demanda da escola é mais dinâmica, enquanto que a produção do grupo tem um caráter pedagógico junto às famílias e nem sempre atende a demanda imediata da escola.
Nesta ação que estamos propondo, cedemos um bom desconto nas compras feitas por pessoas físicas que indique uma instituição que trabalhe com crianças para receber a doação, seja ela ligada a Antroposofia ou não.
O bacana é que os pais podem organizar uma vaquinha e fazer uma compra grande onde cada um paga o que pode. Nós do Ocitocina Atelie colaboramos com o desconto, as famílias se cotizam e quem ganha são as crianças.
* Veja aqui -
www.ocitocinaatelie.com.br/website/?p=1729
_Maribel Barreto Me chamo Maribel Barreto, Mãe de 3. Francisco Bento, Catarina Maria e Antonio José, todos nascidos em casa. Atriz, contadora de histórias, brincante no Ocitocina Atelie onde faço brinquedos e mimos. Meu trabalho começou quando me tornei mãe em 2008. Hoje o Ocitocina Atelie é um projeto familiar. Somos membros da Aliança Pela Infância, um movimento mundial que atua facilitando a reflexão e ação das pessoas que se preocupam com a infância.