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Neste último domingo, dia 28, o Fantástico, da Rede Globo, exibiu uma matéria sobre a questão da mortalidade materna, e como hospitais e maternidades, especialmente das regiões mais afastadas e empobrecidas do Brasil, sofrem c/ o descaso na saúde pública. Como fruto temos, ainda, altos índices de mortes entre gestantes e neonatos, s/ contar a violência institucional sofrida por estas mulheres, que enfrentam, também, profissionais despreparados e a saúde sucateada!
Leiam, na íntegra, o assunto:
Na semana passada, a ONU condenou o Brasil por violação dos direitos humanos depois da morte de uma jovem grávida, no Rio de Janeiro. Poucos dias depois, em Belém, uma outra jovem perdeu os filhos gêmeos após ter o atendimento recusado em dois hospitais. E no interior de Pernambuco, o Fantástico descobriu que existe uma cidade onde os bebês só "podem" nascer entre segunda e quinta-feira.
Nesta semana, uma jovem perdeu os filhos gêmeos após ter o atendimento recusado em dois hospitais de Belém. E o Fantástico foi ao interior de Pernambuco contar a história de outra mãe, que acompanhou a filha em trabalho de parto, sem obstetra, durante 18 horas. A menina e o bebê morreram.
“Eu falei: ‘Mainha, foi meu filho, meu filho morreu, não foi? Ela respondeu: ‘Você tem que aceitar, porque o que Deus faz a gente tem que aceitar’. Mas eu não aceito perder meu filho assim”, lamenta a dona de casa Taciana Maria da Silva Gomes.
Maria de Lourdes Alves da Silva, também dona de casa, conta como tudo aconteceu: “Me perguntaram: ‘É você que é a mãe da Marcela? Sinto muito, mãe. Mas o bebê dela morreu, e ela está com hemorragia".
“Ele disse a ela assim: ‘Quando você está com problema de vista, minha filha, você procura um oculista ou um açougueiro?’ Você se lembra que você disse isso a ela?, pergunta Ana Luiza Carvalho Silva.
“Eu quis dizer que quando a pessoa precisa ter um parto, tem que procurar um obstetra. Aqui não é maternidade”, explica o clínico geral José Maurício Leite.
“Nós estamos aqui abandonados”, diz a professora Maria José da Silva.
O Fantástico foi a Barreiros, a 110 km da capital de Pernambuco. Na cidade, a tristeza de avós sem netos e as roupinhas de bebê sem uso são a face mais dolorosa do caos na Saúde . Marcela foi a vítima mais recente. Pouco antes do parto tudo parecia bem.
“Ela escutou a barriga da menina, disse que o menino estava mexendo. O coração dele também, bulindo e muito na barriga dela” conta a mãe de Marcela.
Mas, na Casa de Saúde João Alfredo, o trabalho de parto acompanhado por uma parteira se complicou. “Ela gritava muito, muito mesmo. Dizia que não estava aguentando mais”, conta a mãe de Marcela.
E o pior é que era sexta-feira. Pela escala, bebês em Barreiros só podem nascer de segunda a quinta.
“Nós não temos obstetra no final de semana, sexta, sábado e domingo”, conta o médico José Dhália da Silveira.
Encontramos o médico que foi chamado às pressas para ajudar no parto de Marcela. Ela estava sofrendo havia 18 horas.
“Eu cheguei e a mulher tinha parido há uns 20 minutos, tinha parido o feto morto. Faltava anestesista, faltava sangue, faltava outro médico para ajudar. Não tinha nada disso. Só tinha eu, quando eu cheguei lá. Eu não podia fazer nada”, contou José.
O sistema de Saúde em Barreiros já não era bom e piorou em 2010, quando as enchentes de inverno destruíram o hospital público. A cidade passou então a viver uma situação absurda: há médicos sem hospital e um hospital onde falta médico.
O secretário de Saúde Elídio Moura relata: “O município vive, desde junho de 2010, uma situação de guerra. A partir do momento que nossa rede de saúde foi completamente dizimada.
Agonizando, Marcela foi transferida para o Hospital Dom Helder Câmara, a quase uma hora de Barreiros, mas a tentativa de retirada do útero para conter a hemorragia também aconteceu tarde demais. O diretor do hospital, Audes Feitosa, justificou: “Se a gente conseguisse abreviar o tempo do atendimento do início do sangramento para realizar a histerectomia, talvez o resultado pudesse ser outro”. Marcela morreu aos 21 anos.
Taciana, aos 20, perdeu o primeiro filho, também na Casa de Saúde de Barreiros. Em um dia em que não havia obstetra.
“Quando foi oito horas da manhã, eu ainda lá, sangrando, perdendo muito sangue, já não tinha mais líquido. Minha mãe disse: ‘Minha filha não vai mais agüentar’. Então disseram ‘Aguenta sim, aguenta, ela soube fazer’.
Novamente chamado às pressas, o médico tirou o bebê já quase sem vida. Ele lutou por três dias, mas não resistiu. Taciana lamenta: “Meu primeiro filho, era meu sonho, era um menino. Meu filho ir embora assim. Sofrer tanto e não poder estar aqui comigo”.
Nesta semana em Belém, um casal também deixou a maternidade sem os filhos. Wanessa e Raimundo esperavam gêmeos. “Era nossa vida. Era um plano que a gente tinha com os dois”, conta o pai.
Grávida de sete meses e sentindo dores, Wanessa procurou a maior maternidade do estado na terça-feira (23). Foi barrada na porta. Raimundo buscou socorro no Hospital das Clínicas, mas lá também não conseguiu atendimento.
Wanessa ficou na calçada durante uma hora e meia. Um dos bebês nasceu na ambulância durante a volta para a Santa Casa. O parto do outro foi feito no hospital. Os dois nasceram mortos.
“Morreram do lado de fora, ninguém socorreu meus filhos”, conta o pai.
“Nenhum médico. Tanto aqui como no HC, o Hospital das Clínicas. Nenhum médico veio me ver, e eu fiquei lá na calçada do HC com dor”, lembra a mãe.
A direção da Santa Casa foi afastada e a polícia vai investigar se houve omissão de socorro.
São histórias que mostram como o Brasil está longe de alcançar o compromisso assinado com as Nações Unidas. A meta é reduzir a mortalidade materna para 35 em cada 100 mil nascimentos até 2015. Ainda morrem cerca de 75 mulheres para cada 100 mil nascimentos.
Há menos de duas semanas, o Brasil foi responsabilizado pela morte de outra grávida. Alyne da Silva Pimentel procurou uma casa de saúde em Belford Roxo, reclamando de vômito e dor abdominal. Ela recebeu remédios e foi mandada de volta para casa. Dois dias depois, os médicos notaram que o coração do bebê já não batia.
A Mãe de Alyne, Maria de Lourdes da Silva Pimentel, contou: “Na hora da visita, eu cheguei lá e ela chorava e falava: ‘Mãe, não está tudo bem, não’. O médico falou que o meu neném está morto e que ele vai fazer o meu parto’”. Alyne morreu três dias depois em outro hospital.
“Alyne representa várias outras mulheres que faleceram na mesma circunstância. Então, é assim: Olha, Brasil, você não está cumprindo suas normas, suas regras e tampouco as regras internacionais de que você pactuou, de que você é membro e que tem a obrigação de fazer”, explicou a coordenadora da ONG Advocacy, Gleyde Selma da Hora.
Assista aqui o vídeo desta matéria!
Em São Paulo, amanhã, dia 25, Partos Naturais sob à Sabedoria e Cura da Floresta com a Parteira Tradicional Dona Francisca, a partir das 20 horas. Valor: R$ 30,00.
Neste encontro, Dona Francisca compartilhará sábia, espiritual e doce presença, trocando informações sobre os métodos naturais de acompanhamento de partos, nos banhando com os conhecimentos ancestrais e suas medicinas na arte do parto natural, além do conhecimento sobre diversas plantas que auxiliam o parto, como a Ayuascha; conhecimentos estes perdidos e não aplicados no atual sistema médico dominante e responsável pelo altíssimo índice de cesarianas.
Dona Francisca é Parteira Tradicional, habita o seio da Floresta Amazônica no vale do Juruá, onde lida com as ervas e prepara medicinas naturais e florais de cura. Mãe de 11 filhos e avó de 10 netos ( todos nascidos pela sua mão). Aprendeu com o pai Pajé, com a mãe e avós o uso medicinal das plantas e o acompanhamento da gestação.
Dona Francisca das Chagas, índia Shawã, desde cedo presta atendimentos diversos contribuindo com a melhora da saúde e da qualidade de vida tanto das gestantes como dos demais membros de sua comunidade. Em 2002, participou do curso de Formação de Agentes de Saúde da Medicina da Floresta, em Cruzeiro do Sul/AC, e, em 2004, participou da Oficina Participativa de Fitoterápicos e Fitocosméticos, realizada na Fundação de Tecnologia do Estado do Acre. Desde 2006, Dona Francisca vem a São Paulo p/ divulgar seu trabalho e suas experiências. Em 2007, acabou, inclusive, assistindo na capital o nascimento de mais duas crianças.
Informações e inscrições na Morada da Floresta - R. Diogo do Couto, 47 - Jd. Bonfiglioli - Tel.: (11) 3735-4085; 2053-0046; 2503-0038 - www.moradadafloresta.org.br - contato@moradadafloresta.org.br
Módulo Aleitamento Materno 2011: Apoio, manejo e promoção
Tendo como objetivo capacitar e desenvolver habilidades clínicas e interpessoais para o manejo, apoio, aconselhamento e promoção em aleitamento materno e fornecer conhecimento teórico e prático para profissionais que desejem aperfeiçoar sua atuação junto à gestantes, parturientes, puérperas, mães e bebês em diferentes contextos, propiciando ligações com a prática clínica e institucional de forma a ampliar o olhar sobre a mesma.
Para profissionais e estudantes de saúde e educação interessados no trabalho junto à gestantes, parturientes, puérperas, mães, bebês e famílias, em diferentes contextos clínicos e institucionais.
Carga Horária: 20 horas
Dias:
09/set - Das 8 às 22 horas;
10 e 11/set - Das 8 às 17h30.
VAGAS LIMITADAS!
Inscrições: atende@institutogerar.com.br
Matrícula: R$ 54,00 - Curso: R$ 540,00 (Até o dia 31/ago - desconto de 5%)
Na R. Jericó, 255 - Térreo (próximo ao Fórum) - Vila Madalena
Receberão certificado os participantes que tenham frequência mínima de 75% das aulas.
Professores:
* Daniela de A. Andretto (Coordenação) - Psicóloga, Doula, Mestranda da Faculdade de Saúde Pública FSP/USP - Departamento Materno Infantil, Especialista em Estudos e Intervenções com Famílias - Univ. Lisboa/Portugal, Especialista em Psicologia Hospitalar - INCOR-USP, Conselheira em Aleitamento Materno - OMS/Unicef, Consultora Método Canguru - Min. da Saúde/BR - www.gestamater.com.br
INSTITUTO GERAR DE PSICOLOGIA PERINATAL - R. Ferreira de Araújo, 221 - Pinheiros - São Paulo/SP - CEP: 05428-000 - Tel./Fax: (11) 3032-6905 ou 7338-3974
Dos posts diários, apenas nossa Agenda Parto no Brasil e o Multimídia Parto no Brasil tenho conseguido cumprir c/ certo afinco. O bom disso tudo é que Ana Carolina tem subido algumas matérias incríveis, que tem nos levado à reflexão, além de compartilhar novidades do meio acadêmico e oportunidades - parceria vinda lá da Patota da Cozinha.
Mas, essa "sumida" é por um ótimo motivo!
Vocês se recordam do Projeto "Parteiras Caiçaras" que coordeno atualmente? Então, esse trabalho tem como objetivo concretizar um levantamento e registro das parteiras tradicionais caiçaras de Cananéia (saiba como tudo começou aqui!), região situada no Vale do Ribeira, no litoral sul paulista, que abriga comunidades indígenas, quilombolas e caiçaras, fruto da miscigenação das etnias Carijó e Guarani M´Bya, c/ europeus degredados da Coroa Imperial Portuguesa e africanos, considerada o 1o. povoado do Brasil, c/ ocupação datada de 1502, além de Patrimônio Natural da Humanidade, pela Unesco e Reserva da Biosfera, contendo o último remanescente contínuo de Mata Atlântica do País, c/ diversas unidades de conservação, como a Ilha do Cardoso, além de reservas de uso sustentável, extrativista e áreas de proteção ambiental, que abrigam manguezais, costões rochosos, praias, lagamares!
Sim, aqui é um paraíso!
E, associada a beleza verdejante e úmida dessa flora e fauna também temos a riqueza humana e cultural! E, algumas poucas parteiras, já idosas, mas fonte de saberes e práticas pertencentes ao nosso patrimônio imaterial brasileiro.
Neste sentido, o Projeto "Parteiras Caiçaras" além de encontrar essas mulheres, também registrou, através de relatos em entrevistas in locco, isto é, feitas nas comunidades, especialmente nas áreas continentais e insulares, suas histórias de parto e nascimento, sendo que a memória dos tempos antigos direciona o caminho trilhado entre pesquisador e pesquisado, onde o protagonista é o narrador. Como metodologia uma pesquisa participante, c/ bases na Antropologia Interpretativa, História Oral e Memória.
Pois bem, desde o início do ano algumas ações ocorreram, como o Dia da Parteira, em 05 de maio, c/ a presença da parteira Cleuza da Silva dos Reis p/ uma prosa no Ponto de Cultura "Caiçaras", c/ exibição do filme Dia de Nascimemto (Birth Day), da parteira mexicana Naoli Vinaver, e a exposição de fotos de parto da Rede Parto do Princípio. O encontro fez parte, ainda, da Marcha das Parteiras, conforme nos conta Bia Fioretti em Marcha das Parteiras pelo Brasil.
Também participamos em maio do 3o. Seminário de Humanização das Assistências Obstétrica e Neonatal, em Bauru/SP, organizado pelo GAAME e Senac Bauru, c/ a apresentação de um pôster e de uma entrevista no Programa Conexão Futura, do Canal Futura, c/ a presença em estúdio da parteira Suely Carvalho, da Cais do Parto, em Olinda/PE.
Para outubro temos agendada a Oficina de Arpilleras, c/ Esther Vidal, p/ confeccionar um artesanato têxtil bordado, através desta técnica chilena utilizada durante a Ditadura de Pinochet como forma de lutar contra a opressão do Estado, feita por mulheres, geralmente as mães e esposas dos refugiados e presos políticos. O material será a capa da obra literária "Parteiras Caiçaras: relatos e retratos de parto e nascimento", apoiada pela Secretaria da Cultura, do Governo de São Paulo, pelo Programa de Ação Cultural.
Além de muito trabalho pela frente, visto que estou na fase das transcrições das entrevistas, redação, edição e produção do livro - fôlegofôlegofôlego!
Soma-se: cria full time (há quatro dias de comemorar dois anos!), home-office, craft-room (sim, ainda me meti a ser aprendiz de modelista/costureira - ah, e blogueira assumida, pois criei o Comadre para contar minhas aventuras manuais), 26 metros quadrados (o chalezin onde Rudá nasceu - Lar Doce Lar!), companheiro leonino agroecológico e, desde ontem três frangotes!
Tem q ser capricorniana, c/ ascendente em Libra, Carneiro no ano, Boi no mês e Coelho no dia, e, Tormenta Azul, filha de Iemanjá. Claro, antropóloga!
Brincadeiras a parte (mas, é verdade, sou toda essa miscelânea citada acima!) estou adorando ter essa dádiva, agradecida todo dia (obrigada, obrigada a todos os deuses e deusas!) de poder realizar este trabalho que valorize e reconheça a sabedoria de nossas parteiras tradicionais. Em lugares longínguos como esses elas eram as únicas que podiam amparar as parturientes e seus bebês. Mais do que tarde merecem este destaque!
Aproveito para agradecer também cada mulher que me recebeu em seu lar, que compartilhou comigo histórias de vida, de amor, de fé!
Cleuza da Silva dos Reis
Enquanto isso, bora trabalhar - prometo um lindo slide show c/ as imagens das atividades!!!
O objetivo é identificar os pais que não reconhecem seus filhos e garantir que assumam as suas responsabilidades, contribuindo para o bom desenvolvimento psicológico e social dos filhos.
Pais desertores, crianças na lixeira!
Ida Peréa Médica, mulher, mãe , avó, cidadã...Gostaria de iniciar esta conversa assim: “hoje ao ligar a televisão para assistir ao noticiário matinal fui surpreendida com a terrível notícia que uma mulher deixou seu filho em uma lixeira”. Seria uma maneira bonita e até eloquente de iniciar. Acontece que não seria verdade, pois fato semelhante já não me surpreende embora me deixe consternada e apreensiva, dada a frequência com que ocorre. E desta vez a própria mãe (que deixou a criança na lixeira) ligou para a polícia, certamente preocupada com seu bebê. Em seu depoimento à polícia devidamente gravado pelo meio de comunicação, a mãe confessou que deixou seu filho na lixeira por que, segundo ela, não tinha condições de criá-lo, mas ligou para a polícia e ficou aguardando para ter certeza que a criança ficaria bem.Em seguida a matéria mostrou entrevista com trabalhadoras do hospital para onde foram levados mãe e filho e como era de se esperar, todas fizeram mais ou menos a mesma fala; “como uma MÃE tem coragem de abandonar seu filho?”Mas como já disse, este não é um caso isolado muito menos raro e muito menos novo como mostram as manchetes:“Desprezo materno: Mulher abandona menino no Rio de Janeiro e o manda procurar outra mãe” Veja 11/10/2000“Mulher abandona filho recém-nascido em banheiro de oficina em Belo Horizonte” Globo Minas 20/09/2009“Mulher que abandonou o bebê no lixo, tem ao todo dez filhos” BRA notícias 27/04/2011“Mulher é presa depois de abandonar bebê de 3 meses” Manchete on line 18/04/2011Em uma rápida busca na internet qualquer um encontrará inúmeras histórias de mulheres que descartam seus filho(a)s em lixeiras, banheiros, lagoas, etc. e certamente nem tomamos conhecimento daquelas que os abandonam nas florestas, nos rios (os filhos de boto), porque lá de tão ermo, a imprensa nem chega...Mas nos casos que viraram notícia e que tive oportunidade de assistir, vi com tristeza rostos alguns endurecidos outros transtornados outros assustados e todos muito, muito solitários. Olhares que não buscavam nada e nem ninguém, provavelmente porque não tinham a quem buscar. Ninguém quer ser parte de uma história tão abominável. Para uma sociedade que professa o cristianismo mariano que tem em Maria Mãe, o modelo feminino a ser buscado com forma de perfeição é difícil evitar o sentimento de repulsa por um ser humano que tem coragem de abandonar de forma tão cruel sua cria, sangue do seu sangue, carne da sua carne. Há quem até questione a humanidade destas mulheres.Mas sabe o me chama atenção? Jamais vi qualquer manchete assim: “Desprezo paterno: homem abandona filho...” ou “homem é preso após abandonar bebê na barriga da mãe”, ou após o nascimento ou a qualquer momento da vida... Como será que nós reagiríamos diante de tais notícias? Numa sociedade machista e patriarcal onde a masculinidade pressupõe apenas a direitos e nenhum dever, seria realmente espantoso...Ao longo da história deste país, aos homens foi dado o direito de gerar filhos sem a menor preocupação ou responsabilidade e de abandoná-los sem o menor remorso ou receio de punição.O estabelecimento da filiação paterna, na legislação e na cultura patriarcal brasileira está fortemente vinculado à vontade e ao arbítrio do homem-pai e está efetivamente garantido apenas para as crianças nascidas dentro da família tradicional.Os números de NÃO reconhecimento paternos no Brasil, que chegam à espantosa cifra de 30% em alguns municípios, constituem uma perversa modalidade de machismo que impacta negativamente a vida das crianças e das mulheres que sozinhas, sem a solidariedade do companheiro, arcam com todos os encargos financeiros e sociais assumindo inteira responsabilidade pelo futuro da prole. O quadro torna-se particularmente devastador quando esta mãe (mulher/menina) é adolescente com baixa escolaridade constituindo um circulo de total vulnerabilidade para todos os membros daquele grupo familiarFico imaginando se somos mesmo um estado democrático... Que democracia é esta onde 30% dos cidadãos e cidadãs já nascem capengas de um direito elementar que é a identidade biológica?E a proverbial e internacionalmente famosa solidariedade do povo brasileiro? Só fachada! Como posso acreditar na solidariedade de homens que abandonam suas mulheres e seus próprios filhos?Espero viver o suficiente para ver os homens do meu país transformados em cidadãos realmente solidários; homens que ao praticar sexo com uma mulher, pensem que aquela relação pode gerar uma criança e se ele não tem intenção de assumi-la deve se proteger; homens que ao gerar uma criança assumam com ela, com a mulher que engravidou e consigo próprio um compromisso de solidariedade com o sustento, com a educação e com futuro daquela criança.Enquanto existirem homens desertores teremos crianças na lixeira.
Obs.: O Blog Parto no Brasil solicitou entrevista à Kleyde Ventura, pedindo esclarecimentos sobre os motivos para tal levantamento, expectativas e disponibilização dos resultados. Perguntamos, também, se as obstetrizes serão incluídas no levantamento. Devido à urgência da tarefa, publicamos o anúncio e aguardamos a resposta!