segunda-feira, 30 de abril de 2012

Atenção ao Parto e Nascimento: A Qualidade da Assistência em Debate



O evento "Atenção ao Parto e Nascimento: A Qualidade da Assistência em Debate" tem objetivo de promover uma discussão sobre formas inovadoras de organização do trabalho, e em benefício da saúde das mulheres no momento do parto.
A partir da exibição do filme "Hospital Sofia Feldman - Experiências do SUS que dá certo", o debate seguirá pelos temas das boas práticas já implementadas nos serviços e os desafios que permanecem.


Estarão reunidas, pela primeira vez, as enfermeiras responsáveis pelas cinco maternidades de Londrina. Também será apresentada uma pesquisa de mestrado sobre as profissionais de enfermagem que atuam na assistência ao parto, em Londrina, defendida na Escola de Enfermagem da USP de Ribeirão Preto, em 2010.


Para profissionais da área da saúde e afins, estudantes, movimento de mulheres e toda a comunidade interessada.


Confira a programação abaixo.

Atenção ao Parto e Nascimento: A Qualidade da Assistência em Debate
Data: 11 de maio de 2012 - 14h30 às 17h30
Local: Auditório Hospital Universitário/UEL
Inscrições e certificados: ENVIE NOME COMPLETO para partonobrasil@yahoo.com.br 
Grátis 


Programação:
14h30 - Abertura: Porque deste encontro
14h40 - Exibição do filme "Hospital Sofia Feldman (Belo Horizonte-MG): Experiências do SUS que dá certo"
15h40 - Mesa redonda e debate com o público: Mediadora Profa. Dra. Thelma Malagutti Sodré (Depto Enfermagem UEL)
17h30 - Encerramento


Convidadas:
Profa. Ms. Maria Angélica Motta da Silva Esser (Coord. Enfermagem Pitágoras)
Enfermeira Obstetra Regina Adelaide Adário (Maternidade Municipal Lucilla Ballalai)
Enfermeira Obstetra Andrielli Martins Barbieri (Hospital Evangélico de Londrina)
Enfermeira Obstetra Lígia Elayne Ananias (Hospital Araucária)
Enfermeira Renita Jesus Costa (Maternidade do Hospital Mater Dei)
Enfermeira Valéria Costa Evangelista da Silva (Hospital Universitário HU/UEL) - a confirmar


Comissão Organizadora:
Thelma Malagutti Sodré (Departamento Enfermagem UEL)
Maria Angélica Motta da Silva Esser (Coord. Enfermagem Pitágoras)
Ana Carolina Arruda Franzon (Instituto CRIAS - Cidadania, Direitos, Saúde; GEMAS/FSP/USP)


Promoção: 
Instituto CRIAS - Cidadania, Direitos, Saúde


Apoio e Realização:
Universidade Estadual de Londrina
Faculdade Pitágoras de Londrina
Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres 
GestaLondrina - Grupo de Apoio à Gestante e ao Parto Ativo
Blog Parto no Brasil


O evento ocorre em deferência ao Dia Internacional das Parteiras e Parteiros Profissionais - 05 de maio.

sábado, 28 de abril de 2012

Multimídia Parto no Brasil - Imagens da semana

Um deleite!

A Seção Multimídia Parto no Brasil apresenta uma coletânea com as melhores imagens que circularam no Facebook nesta semana. Cenas imperdíveis da nossa realidade obstétrica, que repercutiram (e muito!) entre as pessoas conectadas à nossa rede. 

Histórias de luta e transformação, de mulheres reais, com corpos reais que sentem dores e prazeres. 
Porque o parto é nosso!



Foto 1 - acesse aqui 


"Muitas pessoas se perguntam por que algumas mulheres se esforçam tanto para ter um parto normal, natural, fisiológico. Se as cesáreas são hoje em dia tão comuns e aparentemente tão simples, rápidas e descomplicadas. O Núcleo Carioca de Doulas inicia hoje uma série de posts-imagens sobre uma das inúmeras razões para essa busca: Queremos parir porque é bom!



Foto 2 - acesse aqui

Você se sentiu coagida a se submeter a uma cesárea?
Quais argumentos foram usados?



Foto 3 - acesse aqui




Foto 4 - Dia Internacional das Parteiras  


O Blog Parto no Brasil agradece a todas estas mulheres poderosas que se dispõem a transformar nossa realidade!
Porque parir naturalmente é bom demais!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Post Extraordinário - "Não aceite deitada": Janet Balaskas e o Parto Ativo


Na terra das Araucárias, em Curitiba/PR, com um friozinho gostoso, cerca de 40 mulheres, de várias localidade do Brasil, e, também, do Chile, receberam no Convento São José, Janet Balaskas, para uma vivência e formação em Parto Ativo, sendo este o 2o. módulo da capacitação, pelo Active Birth Centre e Parto Ativo Brasil, sob coordenação de Talia Gevaerd, também intérprete das atividades.


Exercícios, relaxamento, massagem, posições e posturas verticalizadas e um mergulho no universo feminino, tão sagrado e profundo contagiam estes dias! Sem contar o grupo que nos faz sentir como formigas fortes e trabalhadeiras, pelo resgate desta feminilidade tão esquecida neste País, campeão das cesáreas eletivas, e dos partos hospitalares desrespeitosos e violentos.

Sim! Não estamos sós...

Nesta quinta, o grupo terá o prazer de acompanhar Janet conduzindo um Workshop de Parto Ativo para casais, atuando no empoderamento para um parto natural, ativo e consciente, da mãe, seu companheiro, e sua família.

O post de hoje é só um tira gosto do que pretendo subir para o blog, e, aproveito, ainda, para compartilhar o relato "Janet Balaskas ministra curso sobre parto ativo", da jornalista, doula e instrutora de Yoga Adriana Vieira, lá das bandas do marzão de Santos/SP, e, também, divulgar a formação do 3o. Módulo - Parto Ativo com Yoga, que acontecerá entre 28 a 30 de abril, na Pousada Varshana, na área metropolitana de Curitiba.

Apreciem a publicação autorizada "Manifesto pelo Parto Ativo", de Janet Balaskas, escrito em 1982, que comemora neste mês de abril 30 anos, e confira a entrevista que o Blog Parto no Brasil teve o prazer de realizar c/ a autora de Parto Ativo: guia prático para o parto natural, em abril de 2011 - aqui!

Fotos de Bianca C. Magdalena.

Agenda Parto no Brasil

Confiram os eventos e encontros p/ este fim de abril, e início de maio, em nossa agenda semanal!











segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ao Ministério Público: Queremos parir com dignidade, respeito e excelência técnica!

A ReHuNa publicou ontem à noite um Fact Sheet para ativistas da humanização do parto participarem da Consulta Pública que o Ministério Público Federal está promovendo nesta semana, em 21 capitais de estados: 

A audiência será realizada hoje à tarde em:  
Belo Horizonte/MG
Cuiabá/MT
Fortaleza/CE
Maceió/AL
Natal/RN
Porto Alegre/RS
Porto Velho/RO 
São Paulo/SP 
Vitória/ES 
Confira o endereço e a programação completa no link: 
São três áreas que necessitam de ação/investigação, e o descumprimento da Lei do Acompanhante é uma delas. Como podemos ver no documento, o Inquérito Nascer no Brasil está divulgando resultados preliminares sobre acompanhantes no parto: 25% das mulheres ainda têm descumprido seu direito fundamental. Os últimos dados 'oficiais' que tínhamos eram de 2006, quando apenas 16% das mulheres tinham tido acompanhante. 

Todas as pessoas podem escrever suas sugestões! Participe!



Este é o texto simples com o qual eu participei.

Se você conhece a atuação do MPF, informe quais ações da instituição são mais benéficas para a sociedade:
A proteção dos direitos fundamentais da pessoa humana, com especial e equitativa atenção para os marcadores sociais da diferença (classe, gênero, cor da pele, geração). 
Na sua opinião, das ações elencadas acima, quais devem receber atuação prioritária?
O enfrentamento de todas as formas de violência contra as mulheres. Pela defesa de uma legislação que garanta ampla proteção aos direitos das mulheres, pelo direito de viver uma vida livre de qualquer forma de violência. 
Deixe aqui suas sugestões de melhoria para a atuação do MPF ou formule perguntas que você gostaria que fossem respondidas durante a consulta pública:
1) Excesso de cesáreas em toda a rede (52%), especialmente na saúde suplementar (85%)  
2) Descumprimento da Lei Federal do Acompanhante no Parto, de 2005. Dados de 2006, traziam que 16% das mulheres tiveram garantido seu direito à presença do acompanhante. Dados de 2011, registram que 25% das brasileiras ainda não têm acesso a este direito fundamental.
3) O enfrentamento da violência institucional praticada por profissionais da saúde contra as gestantes e parturientes, e o reconhecimento da especificidade de gênero na violência obstétrica. Em 2011, um quarto das brasileiras disse ter sofrido algum tipo de violência durante a assistência ao parto.


E este é o modelo enviado por Daphne Rattner à lista da ReHuNa.





Nota de retificação: A ReHuNa corrigiu a informação sobre a porcentagem de mulheres que têm direito ao acompanhante. O texto deste post foi editado, e os dados aqui apresentados já foram acertados.

sábado, 21 de abril de 2012

Multimídia Parto no Brasil - Parto humanizado em Londrina

Em Londrina-PR, uma cidade de 500 mil habitantes em que há menos de uma dúzia de parteiras-enfermeiras-obstetrizes atuando (pegando bebês), falamos sobre parto humanizado, como aliviar as dores sem anestésicos, e o prazer de parir naturalmente!

Confiram os dois vídeos que foram veiculados AO VIVO ontem, durante o programa Vitrine Revista, da apresentadora Julie Bicas, no Canal de TV Tarobá (Bandeirantes).




quarta-feira, 18 de abril de 2012

Agenda Parto no Brasil

Confiram os eventos e encontros p/ este fim de abril em nossa agenda semanal de divulgação!




Curso de Enfermagem da PUCPR promove palestra sobre Parto Ativo

Evento acontece no dia 19 de abril, das 18h às 22h, no auditório Gregor Mendel. Inscrições abertas - aqui!

O curso de Enfermagem da PUCPR promove na próxima quinta-feira (19) a palestra “Nossos Bebês, Nosso Futuro”, sobre a técnica do Parto Ativo. O curso, ministrado pela fundadora do Movimento Internacional pelo Parto Ativo, Janet Balaskas, propõe ao público descobrir por que o início da vida é tão importante e por que as mulheres precisam retomar o controle e a responsabilidade sobre o seu corpo, protagonizando um parto amoroso, seguro e transformador. A palestra acontece no Auditório Gregor Mendel, das 18h às 22h.
A palestrante irá explicar como o Parto Ativo desafia a visão obstétrica do parto tradicional na sociedade ocidental e proporciona ensinamentos revolucionários e ancestrais. O Parto Ativo, de acordo com Janet, oferece soluções simples e práticas que já transformaram as condutas profissionais em maternidades do mundo todo.
Além do Movimento Internacional pelo Parto Ativo, Janet colaborou com a 1ª Conferência Internacional do Parto em Casa, fundou o Movimento Internacional pelo Parto em Casa, e ainda conduz o Centro para o Parto Ativo em Londres.

Na R. Imaculada Conceição, 1155 – Prado Velho.

Mais informações pelo e-mail 60anosenfermagem@pucpr.br

Fonte: http://www.pucpr.br/noticia.php?ref=1&id=2012-04-12_34780





segunda-feira, 16 de abril de 2012

Brasil está entre os países que menos optam por parto normal

Índices de morte são maiores em cesarianas. Mesmo assim o Brasil, e principalmente São Paulo, são campões em partos com cirurgia

Por Talita Molinero 05/04/2012 às 10:32

Na hora do parto, o Brasil não segue as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Por incrível que parece, os hospitais particulares são os que menos obedecem. Segundo a OMS, o país não deve ultrapassar 15% dos partos cesarianas. Hoje, os nascimentos com cirurgias chegam a 52%.


Em São Paulo, os números são ainda maiores. Só nos primeiros quatro meses de 2011, as cinco mais conceituadas maternidades particulares da cidade tiveram, em média, 89,18% de cesáreas. 

Parto normal, criança saudável

O índice de mortes associadas à cesariana é quase quatro vezes maior do que no método natural, segundo o Ministério da Saúde.

As crianças que nascem sem ajuda de cirurgião também têm mais saúde. É o que prova um estudo feito com 2.250 crianças, realizado no Canadá. Cinquenta e oito por cento das que vieram ao mundo de forma natural têm menos problemas respiratórios. Outro dado curioso é que obesidade pode estar relacionada à forma de nascimento. Durante 25 anos, a Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto acompanhou 2.057 pessoas do nascimento até os 25 anos de idade, dos jovens que nasceram de cesáreas, 15,2% tinham índice de massa corporal acima de 30, definido como obesidade.


A gastroenterologista Helena Goldani ajudou na elaboração da pesquisa. Ela explica que um dos motivos da obesidade é a falta de contato da criança com a flora vaginal da mãe, a falta do contato pode afetar a flora intestinal do filho e, no futuro, ela pode vir a ter problemas de peso.




Desinformação no nascimento

O médico Gonzalo Vecina Neto é superintendente corporativo do Hospital Sírio-Libanês. Quando o assunto é cesariana, ele é rápido na resposta sobre os motivos dos altos índices. "O médico não quer ter trabalho, a mãe tem medo. Quando os dois se unem, a criança nasce de cesárea". Gonzalo ressalta que se a mãe tivesse mais informação este quadro poderia mudar. "Erroneamente a mãe acha que ter um filho pela vagina dói, e que isso vai atrapalhar as relações sexuais do casal. Hoje, é possível que a criança nasça sem dor tanto para ela quanto para a mãe".

Para isso acontecer, o médico precisa informar a grávida. Gonzalo conta que o aumento da cesariana foi tanta que até ganhou apelido: "parto Guarujá". A mulher não quer atrapalhar o final de semana na praia e marca a hora para ter o filho, explica o médico.

A baixa procura de nascimento através da vagina no Brasil, virou motivo de estudo. Pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) vão entrevistar 24 mil pacientes de hospitais públicos e privados para descobrirem o motivo da alta incidência de cesarianas no pais. O anúncio do resultado da pesquisa está prevista para o final do ano.

Outro Caminho - O convencional que virou raro

Há mulheres que têm condições financeiras de pagar anestesia, mas optam por um parto mais tradicional, sem anestesia e com mais contato humano e menos intervenções médicas em excesso. Este parto é chamado de parto humanizado. Ele pode ser feito na residência da mãe, entretanto ao contrario de países europeus, ele não é muito utilizado no Brasil.


A casa de Parto Sapopemba, na Zona Leste da capital, é um destes locais. Na contramão dos hospitais, lá não existem aparelhos cirúrgicos ou a opção de cesáreas. As pacientes não são tratadas como doentes e são chamadas pelo nome. Literalmente parece uma casa.


A ausência dos equipamentos cirúrgicos se deve ao fato do parto ser uma questão fisiológica e não médica. Mas caso a mãe tenha complicações, ela é encaminhada imediatamente a um hospital, mas estes casos são raros. 

O Grupo de Apoio à Maternidade Ativa (GAMA) estimula o parto humanizado e auxilia mulheres que optam por ele. A instituição acredita que essa modalidade é mais afetuosa, além disto, elas ensinam técnicas durante a gestação que amenizam a dor do parto.


Quem dá as dicas são as doulas, mulheres que estudam para auxiliarem as mães antes, durante e depois da maternidade. Mariana Mesquita é doula há mais de dez anos. Ela conta que um dos principais motivos para as mães procurarem o grupo é o apelo sentimental. "Elas chegam bravas, pois são tratadas como crianças durante a gestação. Todas querem vivenciar cada momento da nova vida que estão gerando, principalmente segurar o bebê por longo tempo após o nascimento" gesto impossibilitado no parto cirúrgico pelo alto risco de infecção. 

Publicado originalmente em: http://www.midiaindependente.org/es/blue/2012/04/505990.shtml
Revisão e pesquisa de imagens por Ana Carolina Franzon

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Para minha filha, sobre o dia em que o Brasil reconheceu a dignidade das mulheres como preceito fundamental


Nesta sexta, 13, compartilhamos c/ água nos olhos um texto de comemoração, de uma mãe, p/ sua filha. Nele, a autora, comadre por excelência, conta sobre a vitória frente ao direito das gestantes de fetos anencéfalos poderem abortar, sem serem punidas por Lei, ou terem que seguir na clandestinidade. O Estado laico e democrático em atividade, p/ nossa felicidade, frente a um fato tão doloroso, por si só.

Também nos pronunciamos sobre o tema nesta semana - aqui, como muitas outras mídias, e fechamos, então, nas palavras tão claras, p/ Clara, abaixo:


Por Ligia M. Sena - Blog Cientista que virou mãe


Clara, minha filha! O Brasil está mudando. Hoje é um dia importante e eu quero te contar isso.


"Era uma vez um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza onde o direito que as mulheres deveriam ter de decidir sobre o próprio corpo não era reconhecido. Mas, mais que isso. Muito mais importante que isso. Onde o sofrimento humano era considerado algo menor, passível de ser ignorado.
Nesse país, abençoado por Deus, muitas mulheres grávidas descobriam que seus bebês possuíam terríveis malformações, que não permitiriam que eles sobrevivessem além de, no máximo, poucos dias fora da barriga de suas mães. Eu sei, filha, isso é muito triste... É mesmo muito triste que um bebezinho não tenha condições de sobreviver. Se um filho tem um problema de saúde, uma malformação, mas há esperança, uma mãe luta, luta bravamente para que ele viva dignamente. A mamãe lutaria, se fosse com você. Mas se não há esperança de vida, então há ainda mais sofrimento.
Nesse país, muitos bebezinhos não sobrevivem por diferentes motivos, por doenças que deveriam ter sido erradicadas há muito tempo, por mau atendimento, por violência cometida por seus próprios pais, por má alimentação, por fatores relacionados à pobreza. Mas não é dessas mortes que o pessoal está falando, filha. Essas mortes são comuns e - você vai saber um dia - o pessoal não liga muito pras mortes comuns... O pessoal está falando sobre um tipo de morte específica de bebês: chama-se anencefalia. Bebês nessas condições não conseguem sobreviver, ainda que se faça qualquer coisa. Nesse país do qual estamos falando, isso acontece com tanta frequência que ele é considerado o quarto país em termos de sua ocorrência. Então são muitas mães que descobrem que estão gerando filhos que irão morrer...
Não só nesse país, abençoado por Deus, mas em todos os demais, as mães que descobrem que estão grávidas de bebês que irão morrer sofrem muito. Muito. Além do que a gente pode imaginar. Sofrem pelo fato de que precisam lidar com a morte inevitável de seus filhos. É tanto sofrimento que muitas delas decidem interromper a gestação, uma gestação que inevitavelmente terminaria em morte. Escolhem assim para evitar sofrer ainda mais. Quando essas mães moram em países como Canadá, Alemanha, Áustria, Bélgica, Itália, Irlanda, Polônia, Portugal, Reino Unido e muitos outros, elas já podiam receber ajuda médica para interromper a gravidez (a gravidez, não o sofrimento; esse é infindável...), com segurança e sem se tornar uma criminosa. Mas se essas mães moram na grande maioria dos países latino-americanos ou nos países muçulmanos, elas não podem fazer isso. Não que elas não façam. Fazem. Mas fazem clandestinamente, ilegalmente, muitas vezes com pessoas que nem médicos são, ou ainda com médicos, mas por baixo dos panos.
Nesse país do qual estamos falando, filha, era crime fazer isso. Sim, era crime interromper a gestação de um bebê que, de qualquer forma, morreria logo após nascer. Era crime impedir que essas mães sofressem ainda mais. Elas eram obrigadas a viver essa gestação até o fim, obrigadas por outras pessoas, por leis. Ruim, né? Eu sei que é difícil entender como uma pessoa pode obrigar um ser humano a sofrer assim. Mas obrigavam. Em nome de tudo o que você pode imaginar. Principalmente de Deus - aquele mesmo que diziam abençoar o país...
Muitas vezes esse assunto tentou ser discutido. E, em todas, a discussão não avançava e tudo continuava como antes: condenadas a aumentar seu sofrimento ou a recorrer à clandestinidade se não se sentissem preparadas para viver aquilo.
Foi então que, nos dias 11 e 12 de abril de 2012, 8 ministros do Supremo Tribunal Federal (você vai aprender que esse pessoal decide coisas muito importantes sobre a vida das pessoas), de nomes Marco Aurélio Mello, Ayres Britto, Luiz Fux, Joaquim Barbosa, Rosa Weber, Gilmar Mendes, Carmen Lucia e Celso de Mello, disseram: "Chega! Chega de descumprir o direito fundamental que uma mulher tem de ter dignidade. Chega de obrigar uma mulher a sofrer além do sofrimento imenso de ver um filho morto!". Não foi exatamente essa frase que eles disseram, filha, foram frases muito mais compridas, mas o significado foi mais ou menos esse. Um dos dez ministros disse: "Não! Não pode mudar a lei! Se mudar a lei, o que será da lei? A lei tá lá, não dá pra ser mudada! Ainda que os tempos mudem, ainda que um ser humano sofra, não dá pra mudar a lei!" e outro disse: "Não! Eu acho que interromper a gestação desse bebê que não vai viver é egoísmo!". É, eu sei... Também acho estranho que um ser humano decida o que o outro ser humano deve fazer e ainda considere este último, que deverá obedecê-lo, como um egoísta...
E foi assim, filha, com 8 votos a favor e 2 contra, que as mulheres daquele país, até então abençoado por Deus, passaram a poder decidir não sofrer além do suportável, além do inevitável, e adquiriram o direito de receberem atendimento médico para isso. Elas não mais se tornariam criminosas.
Não, não se preocupe. Aquelas que não concordam em interromper a gravidez de um bebê sem condição de vida não serão obrigadas, jamais, a interrompê-la, imagine! Não é porque se obrigava uma mulher a seguir com uma gestação que terminaria em morte que devemos obrigar quem quer continuar com a gestação a interrompê-la. Isso não é ético. Isso não é correto. Ético, correto, é deixar que as pessoas decidam se podem, se conseguem, se suportam passar por esse sofrimento, de acordo com suas características individuais, suas crenças e sua filosofia. Aprenda isso, minha filha: um ser humano tem direito de decidir sobre sua vida sem ser obrigado, coagido, ameaçado ou intimidado.
E foi assim, Clara, que no dia 12 de abril de 2012, deixou de ser crime, no Brasil - um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza -, a antecipação do parto de fetos anencéfalos. Foi assim que muitas mulheres brasileiras deixaram de peregrinar por fóruns e instâncias durante 9 meses para ter permissão de interromper seus sofrimentos. Foi assim que muitas mulheres, mulheres que estavam sofrendo, deixaram de se submeter a clínicas clandestinas e a riscos à sua saúde.
Sim, filha, eu também sinto que não há alegria nisso tudo. Há tristeza, há dor, há gente sofrendo, há morte. Mas agora, há respeito. Antes não havia...
Um dia você vai entender como é importante para um ser humano poder decidir por si. Como foi importante para nossa história o reconhecimento de que nenhum ser humano é superior a outro a ponto de poderem decidir por ele. Um dia você vai entender que as maiores tragédias da espécie humana foram geradas justamente quando uns tentaram ter total domínio sobre os outros, baseado num juízo de valor de que eram superiores sobre os inferiores.
Um dia, como mulher, você vai entender como é importante que respeitem nosso direito de decidir por nós mesmas o que queremos fazer com nosso corpo e com nossos sentimentos.
Se o país ainda é abençoado por Deus?
Bom, andam dizendo que não. Alguns estão dizendo que isso é coisa do diabo, os mesmos quefizeram vigília de dois dias pedindo ao Deus deles que a lei não fosse aprovada. Imagine, filha! Dois dias de vigília! Enquanto centenas de mulheres faziam vigília de muitos meses, peregrinando entre fóruns, pedindo o direito de serem respeitadas como seres humanos... Outros se reuniram na frente do tribunal e fizeram até exorcismo. É, eu também tenho medo deles.
Nesses dois dias, muito se falou também sobre uma menininha com quase a sua idade, chamada Amada Vitória de Cristo. Os pais dela foram até o tribunal pedir aos ministros que não votassem a favor. Ela nasceu bastante doente, filha. Mas ela não tem anencefalia, ela tem outra coisa, também bastante grave, chamada acrania, mas que não obrigatoriamente leva à morte. Mas, ainda assim, os pais dela foram lá no tribunal fazer o pedido deles. Eles disseram: "Queremos levar aos ministros informações que os ajudem a tomar a melhor decisão neste assunto. A ciência não tem a última palavra. A última palavra é de Deus. É ele que decide as coisas. A nós coube dar todo o nosso amor à nossa filha". O amor deles pela filha é admirável, claro e transparente. Mas parece um pouco estranho que acreditem que a decisão deles seja a melhor para todos. Parece um pouco de arrogância achar que aquilo que uns consideram melhor para si, o seja para todos. Se no fim, eles realmente acreditam que a última palavra é a de Deus, então parece que Deus também concorda com o respeito ao sofrimento de quem não consegue passar por ainda mais sofrimento.
Depois que se encerrou a votação e a decisão foi tomada, muitos começaram a tentar encontrar responsáveis pela descriminalização, e aí virou um show de horror. Culparam os cientistas, o PT, os ateus, chamaram os que defendiam a descriminalização de assassinos, de desalmados, de almas vendidas. Buscaram explicações no imaginável e no inimaginável, criaram algumas dignas de roteiro do Tim Burtom. Tudo em função, apenas, de não conseguir se colocar no lugar de uma mulher, uma mãe, que descobre que o filho é anencéfalo, irá morrer e não suporta viver uma gestação sabendo como vai acabar...
Mas é assim mesmo.
É natural.
Para as grandes rupturas com padrões arcaicos sempre surgiram reações extremadas, violentas. Mesmo as que ajudaram a tirar a humanidade de sua cegueira relativa ou de sua insensibilidade.
É, minha filha, mas o trabalho está só começando. Não adianta nada permitir, se não se dá condições adequadas a isso. Agora, é preciso capacitar e preparar as equipes de saúde para receber adequadamente, com respeito e dignidade, essas mulheres, para que as opiniões ou crenças individuais não representem ainda mais reforço à violência obstétrica. Para que elas não continuem a ser desrespeitadas, em um ciclo sem fim.
Então, filha, essa história não termina com FIM no fim. Termina com COMEÇO.
E foi assim que as coisas começaram a ficar diferentes.
Agora, não somos mais um dos poucos países no mundo a não reconhecer o direito das mulheres de terem sua dignidade respeitada num momento de tanta dor.
Espero que você cresça num mundo que nos respeite cada dia mais.
É isso que grande parte de nós queremos deixar a vocês.
Com amor,
Sua mãe"




Fotos: 12 de abril de 2012 - José Cruz/Agência Brasil.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Arte de Nascer


O nascimento é uma operação simples nos países com menores taxas de mortalidade e de complicações pós-parto, como Japão, Holanda, Inglaterra e Suécia. Já o Brasil sofre excesso de medicalização: as maternidades privadas parecem hotéis ou empresas. São raros os obstetras que "permitem" à mulher assumir a posição que quiser para dar à luz. 


por Ieda Estergilda de Abreu

Ter filhos sem intervenções, com poucos medicamentos, sem anestesia ou cortes na região perineal, a grande maioria das mulheres, sem dúvida, consegue. Ao longo da história foi assim. Gravuras antigas mostram mulheres ajoelhadas, de cócoras ou em banquinhos baixos, com as costas na posição vertical. Até o começo do século passado, muitas preferiam a assistência da parteira, tida como mais segura e conveniente. O parto horizontal foi introduzido sob a influência da escola obstétrica francesa, liderada por François Mauriceau. Desde que ele passou a ser hospitalar, feito somente pelos médicos, as opções foram restringidas a parto natural ou cesariana, a verticalização foi substituída pela posição ginecológica e o corte embaixo passou a ser realizado sem questionamentos.

A simplificação desse atendimento começou na Europa e nos Estados Unidos e veio para o Brasil nos anos 1950. Hoje, 80% dos partos realizados nas maternidades particulares e 27% dos realizados nas maternidades públicas são cesáreas, contrariando a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de não ultrapassar a taxa dos 15%.

Mas, mesmo com toda a tecnologia dos hospitais, a cesárea ainda é considerada uma intervenção de risco. Não é à toa que existe um movimento pela retomada do parto natural promovido por obstetras preocupados com o excesso de medicalização e por grupos de mulheres que reivindicam melhores condições para ter seus bebês.

“Quando bem utilizada, a tecnologia reduz efetivamente a morte de mães de bebês, mas o excesso de intervenções acaba gerando mais malefícios que benefícios”, diz a médica epidemiologista Daphne Ratter, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília, que alerta para a ocorrência de uma inversão. “Quando se ultrapassa e se começa a utilizar uma tecnologia indicada para casos de risco em pessoas que não têm risco nenhum, o mais provável é que se induza ao surgimento de um problema onde ele não existia.”

Na verdade, há várias técnicas graduais de parto amigável e participativo para mulheres que desejam compartilhar o nascimento dos seus filhos.

Leboyer
O obstetra Frédérick Leboyer, ainda ativo na França, foi um dos pioneiros na defesa de uma forma menos violenta de nascer e da importância do vínculo mãe-filho no parto. Introduzido no Brasil em 1974 pelo médico Claudio Basbaum, do Hospital São Luiz, em São Paulo, o parto Leboyer é feito com pouca luz, muito silêncio e massagem nas costas do bebê, que não recebe a famosa palmada “para abrir os pulmões”. Além disso, o primeiro banho é feito próximo à mãe e a amamentação precoce é estimulada. O foco é o recém-nascido.

Nesse tipo de parto, a mulher continua deitada de costas, com as pernas apoiadas em estribos, e é realizada a episiotomia, uma incisão no períneo (a região muscular entre a vagina e o ânus) para ampliar o canal do parto, em geral com anestesia local.

De cócoras
Sob o foco da liberdade de movimentos para as mulheres, o parto de cócoras ou ativo é bem aceito. Mais rápido, dado o auxílio da gravidade, é mais saudável para o bebê e evita a compressão de importantes vasos sanguíneos, o que acontece com a mulher deitada de costas. Agachada, ela pode se apoiar nos ombros e nos braços do companheiro, que exerce papel decisivo tanto físico quanto psicológico.

A técnica é indicada para mulheres que tiveram gravidez saudável, sem problemas de pressão e também se o feto estiver na posição cefálica correta (com a cabeça para baixo). O médico curitibano Moysés Paciornik (1914-2008) promoveu essa modalidade no Brasil inspirado nas índias da tribo caingangue. Juntamente com seu filho, Cláudio Paciornik, inventou uma cadeira para ser usada em hospitais que permite várias posições para a mãe.

Em Londres (Inglaterra), a educadora perinatal Janet Balaskas lidera um movimento pelo parto ativo trabalhando com gestantes em aulas de ioga. Após anos de prática, ela observa que depois da preparação física e psicológica raramente ocorrem depressões pós-parto, problemas com a amamentação ou com a recuperação da parturiente. Para Janet, a grávida tem de esquecer o calendário de papel e se concentrar no calendário do seu corpo.

Protagonismo
Para o Ministério da Saúde, “parto humanizado” significa o direito de toda gestante passar por pelo menos seis consultas de exame pré-natal e ter seu lugar garantido em um hospital na hora do parto.

Para a Rede Brasileira pela Humanização do Nascimento e ONGs como Parto do Princípio (São Paulo, SP), Bem Nascer (Belo Horizonte, MG) e Despertar do Parto (Ribeirão Preto, SP), trata-se de devolver à mulher o protagonismo do parto, “fortalecendo a capacidade de parir”, enfatiza a médica Daphne Ratter. Os defensores do movimento entendem a gestação e o parto como eventos fisiológicos perfeitos, nos quais apenas 15% a 20% das gestantes apresentam problemas, necessitando de cuidados especiais. Cabe ao médico acompanhar, interferindo em caso de real necessidade.

Na água
“Para mudar o mundo é preciso mudar a forma de nascer”, diz o obstetra francês Michel Odent, teórico do parto humanizado. Precursor do home-birth (parto domiciliar) e do parto na água, praticado em banheiras especiais ou improvisadas, o obstetra introduziu a utilização das piscinas aquecidas nas maternidades, permitindo que as mulheres parissem acompanhadas.

Estudos científicos comprovam que o uso da água quente combate a tensão e a dor e ajuda na dilatação do colo do útero. O bebê nasce de forma mais suave e o períneo da mãe ganha maior flexibilidade. Segundo Odent, durante o processo de parto, tanto a mãe como o bebê atingem taxas hormonais específicas ao mesmo tempo. Todos esses hormônios, antes de serem eliminados, têm uma função muito particular imediatamente à primeira hora após o nascimento. Esse início de vida é o momento chave, o que acontece pode vincular bem a mãe ao bebê, ou não.

Natural, sem dor
Com a popularização das questões ecológicas e a retomada de uma vida mais saudável e espiritualizada, muitas mulheres passaram a optar pelo parto natural. Quase idêntico ao normal, ele dispensa intervenções como anestesia e indução. O médico apenas acompanha a movimentação da mulher, no hospital ou em casa.

O parto normal é a forma convencional de dar à luz, mas não precisa ser doloroso. Anestesias como a peridural e a raquidiana aliviam as dores sem impedir que a mãe participe. A anestesia bloqueia a dor, mas também diminui as sensações das pernas e do assoalho pélvico, responsáveis pela força que a mulher faz na hora de “empurrar” o bebê. Comparado com a cesariana, o parto natural evita complicações como hematomas, dores pélvicas e infecções e diminui muito o tempo da recuperação.

Parto sem dor é um termo que remete aos métodos psicoprofiláticos (que usam a palavra como anestesia). Eles propõem treinamento preparatório às gestantes, baseado em técnicas respiratórias, de relaxamento e de concentração. Um dos mais conhecidos é o Lamaze, que surgiu na Rússia e foi difundido por todo o mundo pelo médico francês Fernand Lamaze.

Não há dúvida de que uma mulher bem preparada e bem acompanhada durante todo o processo, entendendo o mecanismo simples do nascimento, pode ter muito menos dor do que uma mulher assustada e tensa.

Box
A índia shawãnaua Francisca das Chagas, 59 anos, mora no vale do Juruá, no Acre, e é parteira tradicional. Desde 2006 ela vem a São Paulo divulgar seu trabalho e experiências e realizar partos. Com 11 filhos e 10 netos, todos nascidos sob suas mãos, Francisca aprendeu com os pais e os avós o ofício de ajudar a nascer, junto com o preparo e o uso medicinal das plantas da floresta amazônica.

Começou com 15 anos, na aldeia, fazendo o parto da cunhada. Desde então, trabalha para melhorar a saúde e a qualidade de vida das gestantes e dos membros da comunidade.

Enquanto faz massagens na barriga das parturientes, ajeitando o nenê, Franscisca conversa com ele: ”Você ajude a sua mãe para ela ter um parto feliz e você ser feliz também.”

Francisca explica que no parto de cócoras, com o marido segurando por trás, “o nenê desce mais rápido, não é como a mulher deitada na maca do hospital.”Nessa posição, quando dizem para ela fazer força, em vez de a força ser para baixo, é para cima. O médico diz que ela não tem força e aí corta, mas ela tem força, sim. Só não está na posição correta.”

Durante a gestação, a parteira receita banhos de assento feitos com folhas do algodão roxo e de capeba, que a mãe deve tomar até entrar em trabalho de parto, para ajudar na dilatação do útero. A partir do sétimo mês, ela também deve começar a tomar florais, como o da vitória-régia, que ajuda a lidar com o medo e a ansiedade, reforçando sua resistência física e emocional.

Fonte: Revista Planeta - http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/469/artigo240219-1.htm

terça-feira, 10 de abril de 2012

STF decide nesta quarta-feira sobre aborto de anencéfalos

O tema do post de hoje é polêmico. E, apesar do foco do Blog Parto no Brasil ser sobre gestação e parto, numa perspectiva que traga o protagonismo à mulher, também debatemos sobre Direitos Sexuais e Reprodutivos, e a questão do aborto entra nesta pauta.

Amanhã, quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF), depois de oito anos, irá votar p/ que mulheres que gestam fetos c/ anencefalia possam ter o direito a interromper a gravidez, ou não. Neste Estado brasileiro laico e democrático, o mínimo que poderíamos esperar era que fosse concedido sim este direito, longe dos olhares morais cristãos, ou de qualquer outro dogma que incrimine o ato.


Não é de desconhecimento de ninguém que o aborto é amplamente realizado em nosso País, sendo, inclusive, causa de muitas mortes maternas. Na clandestinidade, muitas mulheres realizam a intervenção, quer nas clínicas particulares, a preços caríssimos, ou fazendo uso de medicamentos que contenham Misoprostol, ou, nos porões suburbanos. Fato! Não podemos negá-los. Tampouco cabe a qualquer um de nós o julgamento perante uma mulher, que por quaisquer motivos que sejam, o faça. Quem de vocês nunca ouviu alguma história ou conheceu alguém que tivesse abortado? E, mais uma vez, nós mulheres temos decidido como atuar em nossos corpos, em Leis retrógradas, paternalistas e misóginas.

Abortar não é realizar sem dores e angústias a interrupção de uma gestação não planejada, ou indesejada. É ter que decidir entre ser mãe, ou não. Sofrer na própria pele uma escolha, que por mais que seja oportuna no momento traga feridas por toda a vida, não somente no âmbito psicológico, mas também no espiritual, moral, sexual e reprodutivo.

Mais uma vez ressaltamos: não nos cabe c/ nossos valores julgar! Nossas lentes veem aquilo que nos faz sentido, de acordo c/ a roupagem que a Cultura e sociedade nos trás, assim, é de se esperar que @s brasileir@s tenham esse repúdio contra o aborto, sendo um País predominantemente católico/protestante. De qualquer forma a Saúde Pública e novos estudos estão aí, à luz da Tecnologia, p/ nos mostrar que permitir juridicamente o ato é contribuir p/ que as altas taxas de morte materna por aborto caiam. É aliviar a dor de inúmeras mulheres. É estar em par c/ muitos Países que legalizaram há anos a prática.

P/ elucidar trazemos outras opiniões em texto e audiovisual, abaixo:

Arguição de descumprimento de preceito fundamental 54-8, pelo Ministro Marco Aurélio/ Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS) - ADPF é a "(...) denominação dada no Direito brasileiro à ferramenta utilizada para evitar ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder Público (União, estados, Distrito Federal e municípios), incluídos atos anteriores à promulgação da Constituição".
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Argui%C3%A7%C3%A3o_de_descumprimento_de_preceito_fundamental

Diante da gestação de anencéfalos, mulheres relatam momentos de dor e de difícil decisão, por Paula Laboissière, da Agência Brasil.

Chega de torturar mulheres, pela jornalista Eliane Brum, que também produziu o documentário Uma História Severina, c/ a antropóloga Debora Diniz, pela Imagens Livres.



Neste outro link, o vídeo Habeas Corpus, postado em outubro de 2011 pelo blog.

Pesquisa sobre o aborto no Brasil: avanços e desafios para o campo da saúde coletiva, de Greice Menezes e Estela M. L. Aquino.
Resumo: O texto apresenta um panorama dos estudos sobre aborto no país, no campo da Saúde Coletiva, apontando lacunas e desafios para a investigação. A maioria das pesquisas está concentrada em hospitais públicos, com mulheres admitidas para tratamento do aborto incompleto, restringindo-se portanto aos abortos que apresentaram complicações. Descrevem o perfil das mulheres, métodos e razões para o aborto e conseqüências imediatas para a saúde física. Entretanto, permanecem limites relacionados à necessidade de estudos para mensuração da incidência do aborto; para investigação das especificidades dos óbitos por aborto e casos de morbidade grave; para análise da relação do aborto com anticoncepção; para investigação das repercussões do aborto na saúde mental das mulheres e para incorporação da perspectiva masculina. É urgente o desenvolvimento de pesquisas de avaliação da atenção ao aborto nos serviços públicos. Os resultados dos estudos devem ser divulgados, contribuindo para superar a visão ideologizada da discussão do direito ao aborto no país.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Aumentam partos em casa por falta de alternativas naturais

É gente que não abre mão de respeito, acima de tudo. E também de cuidados especializados, boa técnica, individualidade, e garantia dos direitos humanos, reprodutivos. É sempre uma escolha verdadeira, comprometida.

Foi chamada na capa do domingo, uma matéria sobre o aumento da demanda por partos domiciliares em Portugal. 
Aumentam partos em casa por falta de alternativas naturais


Publicada em jornal de grande circulação, o Público, a reportagem é clara e diretamente questionadora da medicalização da saúde das mulheres, do excesso de intervenções e do culto à alta tecnologia.

Em entrevista ao Blog Parto no Brasil e Rádio UEL FM, em dezembro de 2010, a cientista social e ativista dos direitos das mulheres, Monica Bara Maia, alertou que, por vezes, a militância pelo parto natural perde um importante foco em suas ações quando silencia sobre a super-valorização das tecnologias 'duras' - como são chamados todos os aparatos e procedimentos tecnológicos operados por especialistas em saúde e ciência. Em oposição, as tecnologias 'suaves' são consideradas as formas relacionais de trabalho (sendo a comunicação a principal delas), além das técnicas não-farmacológicas para alívio da dor.

É nesse contexto que faz todo o sentido a frase citada por Esdras Daniel Pereira - "Retornar a naturalidade do parto é um ato revolucionário frente a mercantilização da vida." O contexto de sua fala é a fotografia das esculturas de uma indígena de cócoras pegando o próprio bebê/realizando o próprio parto, que circulou amplamente no Facebook na última semana. Veja aqui.

A nossa luta é pelo direito que as mulheres têm de escolher qual profissional da obstetrícia irá assistir seu parto; onde acontecerá o nascimento; e quais os recursos tecnológicos que serão usados. O 'parto tecnológico' requer a presença de um médico, o 'parto suave' dispensa sua presença.

Afinal, é direito das mulheres escolherem - esclarecidamente - se querem/aceitam/refutam analgesia/massagem e bola/cesárea. 

Mas é preciso ir além da resistência desses profissionais para com os 'partos naturais'; é preciso contrapor-se à uma cultura que desvaloriza as mulheres de forma genérica e massiva, que não pergunta sobre sua satisfação com a experiência de dar à luz, que não se interessa se há uma mãe recém-parida assustada, frustada, com dor.

Em poucos dias, começaremos a divulgar os resultados da ação de blogagem coletiva Teste da Violência Obstétrica. Apesar da informalidade da pesquisa, poderemos conhecer um pouco das mulheres que se dispuseram a participar. Vamos saber, por exemplo, se os sentimentos percebidos pelas mães no pós-parto são, por elas mesmas, relacionados com os cuidados médicos que receberam durante a internação na maternidade.



Porque nós, mulheres, ativistas dos direitos reprodutivos, nos preocupamos (e muito!) com a (in)satisfação das mulheres sobre a qualidade da assistência obstétrica que receberam.


Confiram a reportagem, na íntegra.

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Saúde

Aumento de partos em casa por falta de alternativas naturais nos hospitais

08.04.2012 - 10:41 Por Catarina Gomes

Depois de um parto no hospital "traumático", Joana Duarte optou por ter o segundo filho em casa
Depois de um parto no hospital "traumático",
Joana Duarte optou por ter o segundo filho em casa
 
(Foto Rui Gaudêncio)
 Depois de, em 2004, Portugal ter atingido um número mínimo de partos em casa, 454, em 2006 houve uma viragem e, desde então, o número de mulheres que têm filhos no domicílio tem-se aproximado dos mil - ainda assim, cerca de 1% do total dos nascimentos. Para o presidente do Colégio de Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica, Vítor Varela, este é um movimento claro de fuga a um parto hospitalar excessivamente medicalizado e intervencionado. Porém, os hospitais públicos pouco se adaptaram a esta chamada de atenção.

Recuemos 42 anos, a 1970: em Portugal, 93% das crianças nasciam em casa, situação que, um ano depois do 25 de Abril, já está invertida, nasce-se sobretudo em hospitais. Quando chegamos a 1997, o país já está reduzido a pouco mais de mil partos domiciliários, face a uns esmagadores 111.226 nascimentos em ambiente hospitalar.

Rita Cruz teve de procurar muito para ter um parto natural num hospital. Passou-lhe pela cabeça ter um parto em casa, mas diz que não se sentiria segura porque o país não está preparado e porque sente que seria difícil "encontrar um profissional que lhe inspirasse segurança". O que queria era algo que lhe parecia quase impossível: ter um parto o mais natural possível mas num hospital público. Conseguiu. As fotos do nascimento de Marc mostram-na a ela e ao marido dentro de um tanque de água onde esteve grande parte das suas cinco horas de trabalho de parto, numa sala do Hospital de Setúbal. Pouco foi tocada e os enfermeiros que a assistiram limitaram-se a fazer ajustamento das posições do bebé, conta.

Rita, que vive em Faro, pensa que a atitude das mulheres quando vão ter um filho a um hospital é "tirem-me o bebé, vocês é que sabem fazer isso". É como se os profissionais de saúde fossem possuidores desse saber e nada estivesse nas mãos da grávida. 

Fisioterapeuta de profissão, esta mulher sabia que não era assim: sabia que é bom a mulher ter liberdade de movimentos e não ter de estar deitada, que o facto de o bebé estar sempre a ser monitorizado impede essa liberdade de movimentos, que a epidural desacelera as contracções. Tudo o que Rita não queria no seu parto. E foi isso que levou escrito no seu plano de parto, um documento assinado por si e pelo marido depois de uma pesquisa no site da Organização Mundial de Saúde. Visitaram o hospital às 30 semanas e discutiram o plano de parto com o enfermeiro responsável. Claro que, se houvesse complicações, deixavam "margem de manobra" para todas as soluções técnicas necessárias, da cesariana aos fórceps.

Partos na água

No sistema público, o Hospital de São João, no Porto, foi anunciado em 2008 como tendo uma experiência pioneira de partos na água, mas está desactivado, confirma Lisa Vicente, chefe da divisão de saúde reprodutiva da Direcção-Geral de Saúde, ressalvando que "as medidas de promoção de partos normais menos intervencionados e em segurança vão aparecendo nos vários serviços". Para tal concorrem também os esforços de diminuição das cesarianas.

A responsável afirma que foi importante o apoio de um documento que define o que é "um parto normal em ambiente hospitalar", reconhecendo que há práticas que se instalaram relativamente às quais não existe demonstração científica de terem qualquer utilidade no desfecho de parto. É o caso das tricotomias (rapagem dos pêlos púbicos) e dos clisteres antes do parto.

O bastonário da Ordem dos Enfermeiros (OE), Germano Couto, veio dizer, no mês passado, que o aumento do número de partos no domicílio, em Portugal, está muito relacionado com a "falta de resposta dos serviços de saúde às opções assistenciais que as mulheres e os casais desejam ver asseguradas no nascimento do seu filho". Aquele responsável vê os partos em casa como "um "novo" paradigma assistencial requerido pela sociedade civil".

Retrocesso, dizem médicos

A Ordem dos Médicos respondeu aos enfermeiros dizendo que o que entendiam ser "uma campanha em favor dos partos no domicílio" representava "um retrocesso". Alegam os médicos: "Para que o parto em casa pudesse ser uma opção admissível, seriam necessários meios logísticos sofisticados e dispendiosos, para nós incomportáveis, para apoio assistencial ao domicílio e transporte medicalizado dos recém-nascidos e grávidas com problemas inesperados".

Joana Duarte, escriturária de 34 anos, teve o seu primeiro filho num hospital público da Grande Lisboa há seis anos e toda a experiência foi traumática: "Aceleraram-me o parto com ocitocina [hormona], rebentaram-me as águas com um gancho metálico, vários profissionais fizerem-me toques vaginais sem me pedirem autorização" e "o corte [do períneo] foi mal feito, rasguei até ao ânus. Estive dois meses sem me conseguir sentar. Não me lembro da cara e do nome de ninguém, de um carinho, nada". Todo o parto aconteceu com Joana deitada e ela, que tanto queria amamentar, saiu do hospital com o filho alimentado com leite artificial. Prometeu-se, na altura, "que se tivesse outro filho não tinha de passar por aquilo". O segundo nascimento foi uma fuga a tudo por que passara no hospital. Decidiu que iria ter o parto em casa, apesar de quando estava grávida ter sido tornado público o caso da apresentadora Adelaide de Sousa, que esteve em casa quatro dias em trabalho de parto, correu risco de vida e teve de ser levada para o hospital, onde o bebé nasceu de cesariana.

Andar duas horas

A filha de Joana Duarte nasceu em casa em 2010, com o seu corpo mergulhado na banheira da sua casa de banho, com um enfermeiro e uma doula (profissionais que fazem assistência emocional em partos em casa). Quando as contracções se intensificaram, foi para a rua andar durante duas horas e foi Joana quem disse ao enfermeiro que estava na hora de nascer. "Foi tudo mais normal", recorda.

Vítor Varela defende que "as mulheres sentem-se mais seguras nos hospitais mas é necessário criar nos hospitais serviços de obstetrícia de baixa intervenção que respeitem o processo de parto natural". 

O responsável não tem dúvidas de que a tendência será para o aumento dos partos em casa, também por causa da "falta de cumprimento das expectativas e desejos e necessidades das parturientes pelos profissionais de saúde". Um entrave ao aumento dos partos em casa, que costumam ser procurados por casais mais escolarizados, é o preço: ter um filho em casa não custa menos do que dois mil euros, admite o presidente do Colégio de Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica.


Fonte: http://www.publico.pt/Sociedade/aumento-de-partos-em-casa-por-falta-de-alternativas-naturais-nos-hospitais-1541217?all=1


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