segunda-feira, 16 de abril de 2012

Brasil está entre os países que menos optam por parto normal

Índices de morte são maiores em cesarianas. Mesmo assim o Brasil, e principalmente São Paulo, são campões em partos com cirurgia

Por Talita Molinero 05/04/2012 às 10:32

Na hora do parto, o Brasil não segue as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Por incrível que parece, os hospitais particulares são os que menos obedecem. Segundo a OMS, o país não deve ultrapassar 15% dos partos cesarianas. Hoje, os nascimentos com cirurgias chegam a 52%.


Em São Paulo, os números são ainda maiores. Só nos primeiros quatro meses de 2011, as cinco mais conceituadas maternidades particulares da cidade tiveram, em média, 89,18% de cesáreas. 

Parto normal, criança saudável

O índice de mortes associadas à cesariana é quase quatro vezes maior do que no método natural, segundo o Ministério da Saúde.

As crianças que nascem sem ajuda de cirurgião também têm mais saúde. É o que prova um estudo feito com 2.250 crianças, realizado no Canadá. Cinquenta e oito por cento das que vieram ao mundo de forma natural têm menos problemas respiratórios. Outro dado curioso é que obesidade pode estar relacionada à forma de nascimento. Durante 25 anos, a Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto acompanhou 2.057 pessoas do nascimento até os 25 anos de idade, dos jovens que nasceram de cesáreas, 15,2% tinham índice de massa corporal acima de 30, definido como obesidade.


A gastroenterologista Helena Goldani ajudou na elaboração da pesquisa. Ela explica que um dos motivos da obesidade é a falta de contato da criança com a flora vaginal da mãe, a falta do contato pode afetar a flora intestinal do filho e, no futuro, ela pode vir a ter problemas de peso.




Desinformação no nascimento

O médico Gonzalo Vecina Neto é superintendente corporativo do Hospital Sírio-Libanês. Quando o assunto é cesariana, ele é rápido na resposta sobre os motivos dos altos índices. "O médico não quer ter trabalho, a mãe tem medo. Quando os dois se unem, a criança nasce de cesárea". Gonzalo ressalta que se a mãe tivesse mais informação este quadro poderia mudar. "Erroneamente a mãe acha que ter um filho pela vagina dói, e que isso vai atrapalhar as relações sexuais do casal. Hoje, é possível que a criança nasça sem dor tanto para ela quanto para a mãe".

Para isso acontecer, o médico precisa informar a grávida. Gonzalo conta que o aumento da cesariana foi tanta que até ganhou apelido: "parto Guarujá". A mulher não quer atrapalhar o final de semana na praia e marca a hora para ter o filho, explica o médico.

A baixa procura de nascimento através da vagina no Brasil, virou motivo de estudo. Pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) vão entrevistar 24 mil pacientes de hospitais públicos e privados para descobrirem o motivo da alta incidência de cesarianas no pais. O anúncio do resultado da pesquisa está prevista para o final do ano.

Outro Caminho - O convencional que virou raro

Há mulheres que têm condições financeiras de pagar anestesia, mas optam por um parto mais tradicional, sem anestesia e com mais contato humano e menos intervenções médicas em excesso. Este parto é chamado de parto humanizado. Ele pode ser feito na residência da mãe, entretanto ao contrario de países europeus, ele não é muito utilizado no Brasil.


A casa de Parto Sapopemba, na Zona Leste da capital, é um destes locais. Na contramão dos hospitais, lá não existem aparelhos cirúrgicos ou a opção de cesáreas. As pacientes não são tratadas como doentes e são chamadas pelo nome. Literalmente parece uma casa.


A ausência dos equipamentos cirúrgicos se deve ao fato do parto ser uma questão fisiológica e não médica. Mas caso a mãe tenha complicações, ela é encaminhada imediatamente a um hospital, mas estes casos são raros. 

O Grupo de Apoio à Maternidade Ativa (GAMA) estimula o parto humanizado e auxilia mulheres que optam por ele. A instituição acredita que essa modalidade é mais afetuosa, além disto, elas ensinam técnicas durante a gestação que amenizam a dor do parto.


Quem dá as dicas são as doulas, mulheres que estudam para auxiliarem as mães antes, durante e depois da maternidade. Mariana Mesquita é doula há mais de dez anos. Ela conta que um dos principais motivos para as mães procurarem o grupo é o apelo sentimental. "Elas chegam bravas, pois são tratadas como crianças durante a gestação. Todas querem vivenciar cada momento da nova vida que estão gerando, principalmente segurar o bebê por longo tempo após o nascimento" gesto impossibilitado no parto cirúrgico pelo alto risco de infecção. 

Publicado originalmente em: http://www.midiaindependente.org/es/blue/2012/04/505990.shtml
Revisão e pesquisa de imagens por Ana Carolina Franzon

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