quinta-feira, 26 de maio de 2011

Casa Angela: o sonho de uma parteira

Hoje vamos contar como foram nossos (deliciosos) dias juntas, com atividades maravilhosas e integrantes de nosso aprendizado diário no universo da humanização às assistências obstétrica e neonatal. (Texto de Bianca Lanu e Ana Carolina; Fotos: Bianca Lanu).
Nos dias 13, 14 e 15 de maio a Casa Angela - Associação Comunitária Monte Azul, na Estrada p/ Itapecerica, em São Paulo, capital, contou c/ a presença de aproximadamente 30 mulheres que participaram do 2o. módulo da formação em Educação Perinatal pela ANEP Brasil, c/ a presença das psicólogas Eleanor Luzes e Laura Uplinger e também da terapeuta Carla Machado, que coordenou os trabalhos cujo tema foi Concepção Consciente - confiram a programação em http://partonobrasil.blogspot.com/2011/05/fomacao-em-educacao-perinatal-pela-anep.html.
Na casa, também estavam expostas fotos do livro recém-lançado Parto com Amor, do casal Lucina Benatti e Marcelo Min - que logo será sorteado pelo blog!
Além da companhia de Laura e sua prosa baseada na Ciência Iniciática, que pode ser conferida em seu site Wonder Soft the Womb - http://www.wondersofthewomb.com/index.html, também pude conhecer Bia Fioretti, fotógrafa e coordenadora do projeto Mães da Pátria (acessem aqui!), que fotografa parteiras e já tem cerca de 1000 imagens registradas, com parteiras da América Latina. Para firmar o elo, Bia nos recepcionou c/ saborosas mexiricas, sem ao menos saber o quão simbólica é para mim a fruta, já que passei os últimos dos nove meses da gestação de Rudá comendo muitas mexericas, e nossa placenta num pé foi plantada, 15 dias depois de seu nascimento em nossa casa. Nem preciso dizer o quanto meu coração ficou acalentado! Bia, foi um grande prazer ter por perto aquela que há alguns anos já apreciava o inovador e magnífico trabalho, sem ao menos saber que também trilharia esse caminho de partejar!
É... nada é mesmo por acaso!
Assim, 30 mulheres, 30 histórias, 30 singularidades em um rico e lindo (micro)Cosmos!
Todas nós ali presentes, naquele final de semana frio e ensolarado na capital paulista, nos entregamos à experiência de pensar sobre o ato consciente de ser mulher, filha e mãe.

Laura Uplinger e Carla Machado nos brindaram com seus conhecimentos sobre a concepção, sobre todo o processo que compreende o momento exato em que nossos corpos deixam de ser dois, exatamente, e passam então a ser três.... sobre o momento exato em que nosso corpo de mulher recebe, materialmente, a entidade, nossa cria, que em termos médicos-objetivos-científicos-desprovidos de emoção ou individualidade é chamado concepto ou produto da concepção.

Sim, querid@s, é possível nos beneficiarmos também da percepção e vivência consciente e ativa dos processos que antecedem o nascimento, de nossos filhos sobretudo, mas de nossa própria existência. É possível e prazeroso estar atento às sutilezas de nossos gestos e pensamentos, e o nosso contexto.
E participar daquela roda organizada pela Anep-Brasil foi um mergulho intenso nas origens de nossas maternidades... Falando agora por mim, Ana Carolina, não é mesmo à toa que ambas as editoras deste blog trataram de rumar a casa de suas respectivas progenitoras tão logo fosse possível. (Em Bauru-SP, o delicioso III Seminário de Humanização era nosso único compromisso pendente).



Além da partilha intensa de relatos, com mistos de lágrimas e risos, pudemos conhecer a Casa Angela (suspiro!), uma casa de parto aconchegante, onde cada detalhe foi pensado e sonhado pela parteira alemã Angela Gehrke, mas que sem recurso não pode operar, já que a Secretaria Municipal da Saúde não firmou convênio com a instituição. A Casa Angela foi criada para atender a comunidade Monte Azul, na Zona Sul, tendo capacidade p/ 14 partos de baixo risco diários, em suítes PPP, c/ banheira, bola suíça, cavalinho, banqueta, além de um ambulatório de aleitamento materno e uma ambulância a postos, em um ambiente acolhedor que poderia ser atendido por enfermeir@s obstetras e obstetrizes, porém por questões políticas não é disponibilizado seu uso.







No sábado, após a formação com a ANEP, a querida Dal, enfermeira obstetra Romilda Dias, nos guiou pelo edifício, contando-nos das dificuldades que enfrentam para trabalhar. Também relatou experiências super gratificantes, como por exemplo, da chefe de enfermagem que foi conhecer o local após ter recebido em sua maternidade 04 parturientes que informaram terem frequentado o pré-natal da Casa, e que, segundo seu julgamento (claro!) estavam muito bem preparadas para o parto vaginal em maternidade padrão brasileira.

A Dal também tem um história que ficou famosa na obstetrícia paulistana: uma versão externa aos 45 do segundo tempo, sabe? Médico alemão, amigo da Angela, maternidade tradicional (pública) UTI de prontidão. Mas..... deu certo! E o bebê nasceu duas semanas depois! Esta é apenas uma de todas as tantas histórias que conhecemos nesta oportunidade. Gratidão!

No site encontramos como esse lindo projeto teve início, e agradecemos muito a Dal, que nos acolheu e nos contou como funciona a Casa Angela atualmente.
Nascida e formada na Alemanha, a parteira Angela Gehrke chegou ao Brasil em 1983 para trabalhar na área de saúde da Associação Comunitária Monte Azul e logo passou a se dedicar ao acompanhamento da gravidez, do parto e do pós-parto das mulheres da favela de mesmo nome, na zona Sul de São Paulo.
Inspirada em sua formação com o médico obstetra francês Frederick Leboyer, um dos pioneiros do parto humanizado, e comovida com a falta de acesso das mulheres da comunidade a serviços de saúde adequados, Angela passou a oferecer assistência ao parto e ao nascimento no ambulatório da Associação Comunitária Monte Azul.
A divulgação desse serviço sem precedentes entre as mulheres e adolescentes da favela e dos bairros adjacentes foi enorme, atraindo um número cada vez maior de interessadas. Com o tempo, a fama do parto humanizado oferecido por Angela na Monte Azul ultrapassou os limites da região e chegou até os bairros mais ricos da capital, de onde muitas mulheres passaram a se deslocar para ter seus bebês com a parteira na favela.
Primeira casa de parto
Em junho de 1997, foi inaugurada a primeira casa de parto da Associação Comunitária Monte Azul, na rua Vitalina Grassman, onde hoje fica a Casa da Trilha, que oferece orientação e tratamento para dependentes químicos e seus familiares.
A proposta da casa de parto era dar prosseguimento ao trabalho desenvolvido por Angela durante 10 anos no ambulatório da Monte Azul. Nesse período, ela realizou um total de 1500 partos normais, com baixos índices de intervenção, alto grau de satisfação das mulheres e nenhum caso de morte materna ou neonatal.
Em 1998, Angela adoeceu. No ano seguinte a casa de parto da Associação Comunitária Monte Azul fechou suas portas. A parteira alemã, que se tornou uma das pioneiras do movimento pela humanização do parto no Brasil, morreu vítima do câncer em 2000. Seu trabalho constitui um importante legado que até hoje, mais de dez anos depois, continua inspirando mulheres de todas as classes sociais, profissionais de saúde e pessoas dedicadas à elaboração de políticas públicas em prol da humanização do parto e do nascimento no Brasil.
Casa Angela: o projeto
Em 2003 a Associação Comunitária Monte Azul, em cooperação técnica com o Hospital Municipal do Campo Limpo e com a Secretaria Municipal da Saúde elaborou o projeto de uma nova casa de parto, batizada de Casa Angela, em homenagem à parteira Angela.
O primeiro passo foi realizar um levantamento da situação da assistência materno-infantil na região em termos de oferta e de qualidade. Foram encontrados números alarmantes: taxa de cesárea por volta de 50%, taxa de mortalidade materna acima da média do município, além de altos índices de prematuridade e baixo peso ao nascer. Analisando diversos indicadores como esses, chegou-se à conclusão de que existia demanda por uma casa de parto na região.
Em 2004 o projeto foi apresentado à Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Na época, houve o entendimento de que, para garantir a manutenção do serviço, inclusive o custeio da equipe profissional, a Prefeitura incluiria a Casa Angela no Programa Saúde da Família por meio de um convênio entre a SMS e a Associação Comunitária Monte Azul. Em contrapartida a entidade, com a ajuda de parceiros internacionais, assumiu os custos com as obras de construção e a aquisição de equipamentos básicos e mobiliário. Em setembro de 2005 o projeto de edificação da Casa Angela foi aprovado pela Vigilância Sanitária. A construção inciou-se em 2006.
Casa Angela: a realidade
A Casa Angela ficou pronta em 2008 e começou a funcionar parcialmente em março de 2009, com os primeiros atendimentos de pré-natal e pós parto.
No primeiro ano de funcionamento, de março de 2009 a março de 2010, foram realizadas 734 consultas de pré-natal e 369 de pós-parto (incluindo visitas domiciliares e orientação em planejamento familiar). Os grupos de apoio, oficinas e palestras para gestantes e pais atraíram 763 participantes. Além disso, 60 adolescentes foram atendidos a cada semana no programa de educação sexual “Jovens Tecendo Laços”.
Em 2008 a Casa Ângela também se tornou sede das reuniões do Comitê de Mortalidade Materna e Infantil da Supervisão Técnica de Saúde M´Boi Mirim. Desde então, 1490 profissionais de saúde participaram de palestras e cursos de capacitação voltados à saúde materno-infantil, realizados pela Casa Angela.
Pronta para funcionar
A organização, a infraestrutura física, os materiais e equipamentos, bem como a qualificação dos profissionais da Casa Angela estão de acordo com os padrões estabelecidos na RDC 36/08 da Anvisa que estabelece padrões para o funcionamento de serviços de atenção obstétrica e neonatal.
A planta arquitetônica foi elaborada de acordo com as normas estabelecidas na Portaria nº 985/GM, de 5 de agosto de 1999, que cria a figura do Centro de Parto Normal, e aprovada pela Anvisa em setembro de 2005. Desde dezembro de 2008, a Casa Angela possui o alvará de funcionamento da Anvisa.
Assim, a Casa Angela possui toda a documentação necessária para funcionar como Centro de Atenção Integral à Saúde Materno-infantil com Centro de Parto Normal e Núcleo de Educação Sexual e Aconselhamento para Adolescentes.
Apresentado em 2004 à Secretaria Municipal da Saúde, seu projeto de implantação obteve, na época, parecer favorável da Prefeitura. De lá para cá, num contexto de mudanças na gestão municipal, ao primeiro parecer favorável seguiram-se cinco respostas negativas da Secretaria Municipal da Saúde. Na mais recente delas, de novembro de 2009, a Prefeitura alega que não existe esgotamento da capacidade pública de atendimento que justifique investimento privado na região. Em outras palavras, que não existe demanda pelo serviço de uma casa de parto nesse local.
Sem o convênio que possibilitaria o repasse de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), a Casa Angela funciona atualmente de forma parcial, oferecendo atendimento pré-natal, mas sem realizar partos.
Fonte: http://www.casaangela.org.br/?page_id=64


Para conhecer também um pouco da vida desta parteira acessem: http://www.casaangela.org.br/?page_id=62
O Blog Parto no Brasil, em novembro de 2010 noticiou o lançamento de sua biografia, em Brasília/DF: http://partonobrasil.blogspot.com/2010/11/livro-reune-historias-da-parteira.html
Conheçam também a localidade:
A Casa Angela fica ao lado da Estrada de Itapecerica, a aproximadamente 300 metros do terminal de ônibus João Dias e da estação Giovanni Gronchi do Metrô (Linha 5 – Lilás), na Rua Mahamed Aguil, 34, Jd. Mirante, CEP 05801-060, em São Paulo/SP. Para contato: Tel.: (11) 5852-5332 - Email: casaangela@monteazul.org.br - Site: http://www.casaangela.org.br/
Vejam também a entrevista apresentada por Juliana Cardoso no Programa Expresso Paulistano, da TV Câmara, com a enfermeira obstetra Romilda Dias, em fevereiro deste ano:


Nós desejamos imensamente que este sonho se concretize, e que muitas mulheres-mães possam parir c/ amor e respeito, como deve ser!
É exatamente como foi destacado em The Lancet, Série Saúde no Brasil (acesse aqui os PDF's em português, até 31 de maio!): os desafios para melhorar a assistência à saúde de brasileir@s é essencialmente político.

Um comentário:

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