sexta-feira, 30 de março de 2012

Violência Obstétrica na Espanha

Foto do Calendário 2012 La Revolución de las Rosas
Pelo Fim da Violência Obstétrica


Em setembro de 2011, a Associação El Parto es Nuestro da Espanha, denunciou publicamente, por meio de nota à imprensa, uma coleção de charges publicadas na Revista Eletrônica da SEGO (Sociedad Española de Ginecología y Obstetricia): são reproduções das mulheres em imagens degradantes.

As 21 ilustrações, todas de autoria de um infeliz Dr. Javier - médico associado à SEGO - foram publicadas sob o título infeliz 'Um Toque de Humor'. Confira as ilustrações na página Violência Obstétrica é Violência contra a Mulher. Segundo a denúncia da El Parto es Nuestro,  
"Em quase todas as revistas aparece uma charge, assinada pelo mesmo médico, em que a imagem da mulher é exibida com base em estereótipos machistas e misóginos. 
Mostra a mulher como um ser inferior, pouco inteligente, de aspecto abandonado. Ridiculariza mulheres gordas, prostitutas, idosas ou de baixo nível sócio-econômico e cultural.
Oferecem imagens de 'más práticas', que são desaconselhadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e também pela própria SEGO, como padronizadas e realizadas rotineiramente (por exemplo, parto com a mulher deitada em posição de litotomia). 
Ridicularizam as recomendações da OMS sobre o nascimento (consentimentos esclarecidos, o protagonismo ativo da mãe no parto, etc.) e suprime as mulheres da cena do parto (em muitos dos partos desenhados, das mulheres só aparecem seus genitais).
Dizer que essas caricaturas são uma clara falta de respeito pelos corpos e mentes das mulheres que buscam diariamente suas consultas, fica muito aquém do desejado.
Permitindo sua divulgação, a Sociedad Española de Ginecología y Obstetricia claramente faz piada dos processos fisiológicos femininos e das doenças e enfermidades das mulheres, menosprezando e pisoteando sem pudor sobre a genitalidade e a dignidade de suas pacientes.
Consideramos intolerável a publicação de charges de tão mau gosto em qualquer meio informativo, mas é particularmente revoltante que a origem dessas imagens com pretensões humorísticas seja uma publicação oficial da Sociedad Española de Ginecología y Obstetricia."
Fonte: Nota para a imprensa, em tradução livre

Muitos jornais repercutiram o enfrentamento desta violência institucional, midiática, simbólica, ginecológica e obstétricaA sociedade espanhola reagiu fortemente contra as (des)graças ridicularizadas nos desenhos: acesse aqui a clipagem com mais de 20 veículos da imprensa e 50 blogs


Entretanto, nenhuma ação judicial foi movida, nem mesmo no órgão de classe. Além de impune, a situação permanece silenciada por parte da SEGO há 193 dias. Nem mesmo um pedido de desculpas. 


Segundo Claudia Pariente, coordenadora de comunicação da El Parto es Nuestro, "Nossa intenção foi tornar pública a nossa rejeição da caricaturização dos problemas das mulheres por parte daqueles que buscamos para nos atender. A SEGO protegeu o caso, e salvo pelo impacto midiático, realmente não houve nenhum outro tipo de penalização neste tema."

O movimento de mulheres continuou sua luta por meio das mídias sociais. No Facebook, as mulheres criaram o grupo 'Sres. y Sras. de la SEGO no somos un chiste', e de lá, a intervenção social para o reconhecimento e enfrentamento da Violência Obstétrica 'La Revolucion de las Rosas'.


A ideia da Revolução das Rosas é coletar denúncias de violências no formato: Nome; Breve relato do caso (5 linhas no máx.); Data e maternidade. Em uma data marcada, são enviadas rosas para as maternidades denunciadas, e em cada rosa, o nome de uma mulher que tinha o direito de ter uma lembrança digna. Também articularam o envio postal de centenas de cartões com imagens de rosas para a sede da SEGO. Em cada um, uma denúncia, uma história de vida marcada pela violência obstétrica. Outra ação é a contagem dos dias que se passaram desde a denúncia pública da El Parto es Nuestro até hoje: são 193 dias sem posicionamento oficial da SEGO para com as mulheres e a sociedade espanhola.
Fonte: La Revolución de las Rosas, em tradução livre 
Jesusa Ricoy-Olariaga ('matriativista online', doula e educadora perinatal), é a fundadora da plataforma Revolução das Rosas. Em conversa para a produção deste post, Jesusa informou, de Londres, que algumas mulheres de países distantes estão fazendo contato neste mês de março de 2012: "Parece que todas as mulheres do mundo sentiram necessidade de visibilizar a este tema". 

Não dá mais para ignorar esta forma de violência contra as mulheres. Temos muito trabalho a fazer! Concorda e vem com a gente?

Estamos atualizando a página Violência Obstétrica é Violência contra a Mulher com notícias e imagens sobre o tema, posts de blogs maternos, e relatos de partos que deveriam ter sido diferentes, porque não podem ser qualificados como "assistência adequada e de boa qualidade técnica". Será um canal permanente para discussão e enfrentamento do tema. 



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