quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Reportagem - Parto humanizado: Falta esclarecimento e divulgação

O Blog Parto no Brasil publica, na íntegra, reportagem de Rodrigo Gomes para a Rede Brasil Atual, sobre assistência humanizada ao parto e nascimento, falta de informações sobre diferentes locais de parto (Centro de Parto Normal) - e o posicionamento contrário do Conselho de Medicina -, e a boa experiência das mães com o parto fora dos hospitais.

Uma série de matérias que nos falam sobre o cerceamento da liberdade de informações sobre as diferentes possibilidades de parto e, consequentemente, o constrangimento da autonomia das mulheres. Os grifos são nossos.

A primeira é simplesmente imperdível! Foi republicada hoje no Blog do Luis Nassif, com vários comentários.
A segunda é maravilhosa, sobre mães que tiveram experiências super satisfatórias com o parto natural assistido por enfermeiras obstetras e obstetrizes - com acompanhante e contato com o bebê permanentes.
A terceira é super interessante, trata de algumas das políticas públicas que preconizam serviços obstétricos em CPN, e as dificuldades para sua implementação.
A última dá voz a um Conselheiro do CREMESP. Prefiro não comentar - de novo.

Um grande axé para Rodrigo Gomes e a turma da RBA, eles merecem!
E para minha comadre Bianca Lanu - com quem, há exatamente 3 anos, estava parindo este blog do  nosso coração.

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Em São Paulo, parto humanizado carece de esclarecimentos e divulgação

Casa de Parto de Sapopemba tem sido escondida pela prefeitura, que não permite visitas ou divulgação dos trabalhos; Conselho de Medicina é contra este tipo de nascimento


Por: Rodrigo Gomes, da Rede Brasil Atual
Publicado em 19/12/2012, 09:13

São Paulo – Ao buscar alternativas ao parto em hospitais, atualmente dominados pelas cesarianas, as futuras mães têm dificuldade em obter informações e orientações que ajudem a escolher qual método querem para trazer seu filho ao mundo. O parto humanizado, técnica que valoriza o processo de nascimento, dispensando intervenções cirúrgicas ou medicamentosas, pode ser realizado nos centros de parto humanizado, conhecidos como Casa de Parto. Porém, a prática sofre com a desinformação, a não divulgação e a oposição da classe médica.


Nossa reportagem não recebeu autorização da Secretaria Municipal da Saúde para visitar a Casa de Parto de Sapopemba (Foto: Gerardo Lazzari/RBA)


“O parto natural respeita o tempo da mulher e do bebê, promove ações como massagens, banhos, exercícios com bola suíça, caminhada, incentiva o acompanhamento do companheiro e da família, e possibilita à mulher decidir onde quer realizar o parto: na banheira, na cama, de cócoras, etc. É feito, em geral, em locais determinados especialmente para isso, chamados casas de parto. Já o parto normal é o parto vaginal, feito de maneira convencional nos hospitais, com a mulher deitada, podendo utilizar medicamentos que estimulam as contrações, realizar anestesia, incisões e até o rompimento artificial da bolsa”, explica a presidenta da Associação de Obstetrizes do Estado de São Paulo, Ruth Osava.

As Casas de Parto foram oficializadas em agosto de 1999, por meio da Portaria 985 do Ministério da Saúde, de autoria do então ministro José Serra. Neste mesmo ano foi criada a Casa de Parto de Sapopemba, anexa a Unidade Básica de Saúde Reunidas I, no bairro São Lucas, zona leste de São Paulo. No entanto, o processo estagnou e nenhuma outra casa de parto ligada ao Sistema Único de Saúde (SUS) foi aberta desde então na capital. A Casa Ângela, mantida pela Associação Comunitária Monte Azul com auxílio de parceiros internacionais, que, desde 2009, funciona no Jardim São Luiz, zona sul de São Paulo, não está integrada ao SUS.

Ruth Osava dirigiu a Casa de Parto de Sapopemba por cinco anos, desde sua fundação. Ela reclama da falta de transparência da prefeitura de São Paulo. “Parece que a prefeitura não quer que as pessoas saibam da existência da Casa de Parto. Desde 2009 temos solicitado autorização para realizar estudos sobre parto humanizado na casa e a Secretaria Municipal da Saúde não nos autoriza. Esse trabalho seria fundamental para comprovar, ou não, a segurança do parto natural”, lamenta a obstetriz. Ela afirma, ainda, que os funcionários da Casa não podem fazer divulgação ou outra ação de promoção do trabalho desenvolvido.

O procedimento de parto natural possui alguns requisitos. As mães não podem apresentar complicações durante a gravidez, como hipertensão, diabetes gestacional ou outros fatores de risco. Além disso, se qualquer problema ocorrer durante o parto, como o bebê estar em posição sentada, por exemplo, a gestante será removida para um hospital próximo por uma ambulância que permanece à disposição da unidade todo o tempo. As duas casas citadas nesta reportagem permanecem abertas 24 horas por dia e podem ser visitadas por futuros pais a qualquer momento.

Ruth destaca diversos pontos para a necessidade de "desospitalizar" o parto, o que, inclusive, surgia como recomendação da OMS à época da publicação da Resolução 985. “O ambiente hospitalar é muito estressante para uma mãe em trabalho de parto. Muita gente estranha, luzes fortes, muitas vezes sem acompanhante. Tem ainda a medicalização, que afeta não só a mãe como o bebê. Além disso, existe uma preocupação com o tempo, com a ocupação do leito, que é uma lógica mercantilista, de produção industrial. Um parto natural pode levar até 12 horas, já uma cesária não consome mais do que uma hora, o que é mais vantajoso na ótica financeira”, considera a obstetra.

O número de cesarianas no Brasil tem crescido de maneira alarmante. Em 2010, as cesárias foram 52% de todos os partos, sendo 82% dos partos na rede privada e 37% na rede pública. No entanto, a cidade de São Paulo apresenta um índice ainda maior, com 54% de cesarianas, nos partos realizados na rede pública, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os procedimentos cirúrgicos respondam por somente 15% dos partos.

Para a obstetriz do Grupo de Apoio à Maternidade Ativa (Gama) Ana Cristina Duarte, é preciso um processo de educação para que o parto seja visto com naturalidade e não como prenúncio de sofrimento. “É preciso investir em informação para as futuras mães, desconstruindo essa ideia de sofrimento ligado ao parto que leva tantas delas, até mesmo, a optar pela cesariana. Muitas consideram que o parto foi bom, que foram bem atendidas, se não sentiram dor. O parto é um processo natural, que envolve, sim, alguma dor. Mas que pode ser amenizada se forem construídas experiências que coloquem a mãe e o bebê como protagonistas, que proporcionem um ambiente tranquilo e a presença de pessoas queridas”, esclarece Ana Cristina.

Para ambas as profissionais, o problema da omissão de informações e de não se incentivar a prática se deve à resistência por parte de alguns setores da saúde, como os conselhos de medicina. “Como a Casa de Parto não demanda, necessariamente, um profissional médico, ocorreu um movimento de desaprovação que evoluiu para a pressão pelo fechamento das casas e a proibição de os médicos atuarem nas unidades”, disse Ana Cristina. Em 2004, o Conselho emitiu a Resolução 111, proibindo os médicos de atuarem nestas unidades por considerá-las inseguras e inadequadas.

O Conselho Regional de Medicina (CRM) de São Paulo é contrário à existência das casas de parto por considerar que estes locais não possuem estrutura para o profissional trabalhar adequadamente, além de não poder dar a assistência necessária em caso de complicação. Para o Conselho, o parto um processo complicado, de risco, e existem dezenas de condições em que a intervenção do médico deve ser imediata.

Casa Ângela, na Zona Sul de São Paulo, preza por um ambiente familiar que tranquilize as gestantes na hora do parto (Foto: Gerardo Lazzari/RBA)
Ruth afirma que essa preocupação se deve mais ao embasamento das escolas de medicina que, segundo ela, adotam o pensamento das escolas dos Estados Unidos. “É o medo da natureza. Nos Estados unidos tem-se a ideia de que o parto não é exatamente natural, que se deve atuar preventivamente, o que nos leva a essa quantidade de intervenções e cesarianas. Na Europa o número de cesarianas é muito baixo, pois a ideia é de que parto é um evento da natureza, que pode, eventualmente, apresentar complicações”, pondera a obstetriz.

A assessora de políticas públicas da Casa Ângela, Regina Wrasse, apresenta informações que contradizem o potencial de risco afirmado pelo CRM. “Desde fevereiro deste ano, quando começamos a realizar partos, foram 106 nascimentos, sem nenhum problema. Quando houve potencial de risco, a mãe foi transferida, em segurança, para um hospital. Vejo esse posicionamento contra as casas de parto muito mais em uma perspectiva política, de controle da atuação em saúde, do que efetivamente por um risco que elas tragam”, afirma Regina. Para ela, na defesa das casas de parto está implicado também o direito de decisão da mulher, como destacam as mães ouvidas pela nossa reportagem.

Segundo Ana Cristina, o parto natural é melhor, quando possível, porque contribui para o desenvolvimento da criança e a relação entre mãe e filho. “O processo do parto natural promove a produção de hormônios específicos que fortalecem o vínculo entre mãe e bebê, ajudam na amamentação e, também, no desenvolvimento da criança. As mães se recuperam mais rápido e vão para casa, em geral, 24 horas depois. Não somos contra a cesariana, mas defendemos que ela só deve ser utilizada, como procedimento cirúrgico que é, quando as condições apresentarem risco para a mãe ou para o bebê, ou seja, quando houver necessidade de intervenção”, explica.

A reportagem da RBA entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde, solicitando informações sobre o número de mulheres atendidas pela Casa de Parto de Sapopemba, números de partos, complicações e outras informações, além de autorização para visitá-la. Após quatro dias de insistência, a resposta foi de que uma visita não seria autorizada e que a secretaria não iria apresentar qualquer informação referente à Casa.


Mãe com a filha recém-nascida na Casa Ângela

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Mães relatam 'emoção' do parto humanizado e fora dos hospitais


Experiência do nascimento natural faz mulheres que tiveram bebês em casas de parto da capital dizerem que repetiriram o procedimento em caso de nova gravidez


Por: Rodrigo Gomes, da Rede Brasil Atual
Publicado em 20/12/2012, 09:01
Última atualização às 09:04

São Paulo – Luz suave, ambiente tranquilo, recepção aconchegante. Nas paredes, fotos de mães sorridentes, crianças confortadas, pais felizes. O ar é agradável e nem de longe carrega o odor característico dos hospitais. Atenciosas, as atendentes, enfermeiras e obstetras, respondem aos questionamentos de mães e pais, ansiosos com o momento que se aproxima, além de organizarem oficinas que explicam desde os processos do parto até como fazer papinhas. A Casa Ângela, centro de parto natural, localizado no Jardim São Luiz, região sul da capital, cumpre o ideal de proporcionar às mães um ambiente familiar em um momento tão importante: o nascimento de uma criança.

A atriz Débora Torres estava deitada, um tanto cansada, mas tranquila e sorridente. Ao seu lado, a pequena Carolina, nascida há apenas duas horas, dormia enrolada em um cobertorzinho amarelo, com luvas e touquinha brancas e rosa. “Foi maravilhoso. Meu companheiro ficou comigo todo o tempo, eu caminhei, fiquei na banheira, recebi massagens. Sempre acompanhada por uma obstetriz. Me senti em casa e o processo foi maravilhoso. Tive duas filhas em hospitais antes, mas sentia que era muito invasivo o processo. Agora não troco a casa de parto por nenhum hospital, nem particular”, contou, emocionada.

A enfermeira obstetra Sylvia Maria Furquin, que acompanhou o nascimento de Carolina, estava radiante. “Sinto que ela me escolheu. A Débora veio aqui alguns dias atrás e eu disse, brincando, que eu ia fazer o parto. Ela chegou na madrugada, mas a bolsa só rompeu depois que eu assumi o plantão. Cada criança que nasce aqui é um pouco nosso filho também, cada dia é uma emoção”, conta Sylvia.

A Casa Ângela, batizada em homenagem à parteira Ângela Gehrke, que veio da Alemanha em 1983 para se dedicar ao acompanhamento da gravidez, do parto e do pós-parto de mulheres pobres, na região do Jardim São Luiz, zona Sul de São Paulo, é mantida pela organização não governamental Associação Comunitária Monte Azul, com apoio de parceiros internacionais. A casa foi fundada em 1997, mas Ângela adoeceu no ano seguinte, voltando à Alemanha, onde morreu, em 2000. A unidade fechou em 1999. O projeto foi retomado em 2003, mas a casa só ficou pronta em 2008. Reabriu parcialmente em março de 2009, com os primeiros atendimentos de pré-natal e pós parto, e passou a realizar partos em fevereiro de 2012.

Diversas tentativas de estabelecimento de convênios com a prefeitura de São Paulo foram realizadas. Todas sem sucesso. Com isso a Casa Ângela passou a adotar um sistema em que as mulheres que moram em outras regiões da cidade e que têm condições de pagar pelo parto custeiam os trabalhos para aquelas que moram no entorno da casa e não podem pagar pelo procedimento. Aliada ao já citado apoio internacional, a casa tem conseguido manter a equipe de seis enfermeiras obstetras, uma especialista em pré-natal, uma psicóloga, uma fisioterapeuta, cinco técnicas e uma auxiliar de enfermagem, além dos profissionais administrativos e de serviços gerais.

A casa conta com quatro quartos para parto, sendo dois com banheira, com todos os equipamentos para o trabalho de parto, como banquetas para parto de cócoras, barras de apoio, bolas e chuveiro. Além disso, tem oito leitos pós-parto, sala para recém-nascido com incubadora e berço térmico, além dos procedimentos básicos de pesagem, limpeza e exames. A casa não aplica vacinas, por não possuir licença do Ministério da Saúde. Dentre suas atividades, a casa realiza oficinas de brinquedos e de papinhas, orientação para amamentação, cursos de orientação sobre parto e pós-parto para a gestante e seus familiares, entre outras ações.

As consultas de pré-natal são caracterizadas por conversas sobre diversos temas e não apenas questões técnicas como pesagem (Foto: Gerardo Lazzari/RBA)

Mesmo com a problemática para atuação, a professora de português Juliana Santos é só elogios à atuação das profissionais. “Eu queria viver o parto e não lidar como um acontecimento em si. Fiz o pré-natal em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e na Casa Ângela. Na primeira era só peso, medida, 'tudo bem?' e tchau. A única vez que o médico olhou mesmo para mim foi quando eu disse que queria parir na casa de parto, que ele achou absurdo. Na Casa Ângela fazia-se isso, e também conversávamos sobre o cotidiano, as sensações, o relacionamento durante a gravidez, além dos encontros em que aprendemos a fazer brinquedos, papinhas. Isso contribui muito para essa nova identidade que teremos, porque a maternidade muda muito a gente”, destaca Juliana.

A professora não pôde ter o parto da filha Isis na Casa Ângela porque o local ainda não contava com autorização. Então procurou a Casa de Parto de Sapopemba, no bairro São Lucas, zona leste da capital, ligado à rede do Sistema Único de Saúde (SUS). “Fui muito bem acolhida. Tive liberdade para decidir como fazer o parto, que foi de cócoras. O tempo todo houve uma preocupação em me deixar à vontade, saber se queria comer, caminhar, ficar na banheira. Meu marido ficou todo o tempo comigo. Ao nascer, a Isis ficou nos meus braços e nós cantamos para ela por cerca de 15 minutos”, conta, sorridente e com os olhos marejados. Doze horas depois do parto ela já estava em casa.

Na Casa de Parto de Sapopemba o acompanhamento pré-natal se inicia na 37ª semana. A gestante deve fazer o pré-natal completo em uma UBS e, se não houver nenhum fator de risco, faz o acompanhamento final, com seis consultas em média, e o parto na Casa. A unidade possui dois quartos para parto com banheira, cinco leitos pós-parto, sala para recém-nascido com incubadora e berço térmico, além dos procedimentos básicos de pesagem, limpeza, exames e vacinas. Poderia realizar, com essa estrutura, cerca de 60 partos por mês.

Como a RBA não obteve autorização da Secretaria Municipal de Saúde para visitar a Casa, que é pública, sendo informada, inclusive, que a secretaria não coloca à disposição qualquer informação estatística, nossa reportagem fez uma visita à unidade, sem se identificar como jornalista, com o objetivo de observar o atendimento que recebem as pessoas que buscam a casa, bem como sua condição estrutural.

A monitora de transporte escolar Alessandra Gomes, que mora bem em frente à Casa de Parto de Sapopemba, teve aqui a segunda filha, Ana Clara, hoje com cinco anos. Ela conta que muitas amigas dela tiveram filhos na Casa, além de uma irmã e uma cunhada. Nenhuma teve problemas. “Eu queria ter tido o meu primeiro filho aqui também, mas por conta da asma eles me encaminharam ao hospital da Vila Alpina. O nascimento da Ana foi maravilhoso, as enfermeiras são atenciosas, eu fiz exercícios com bola, fiquei na banheira. Depois dos cuidados normais, nós dormimos abraçadas. Pouco tempo após o parto eu já estava recuperada. Se eu tiver outro filho, com certeza será aqui”, exalta-se Alessandra.

Alessandra Gomes recomenda a Casa de Parto de Sapopemba, onde teve sua filha Ana, a todas as amigas (Foto: Gerardo Lazzari/RBA)
A chef de cozinha Reila Miranda, que teve a filha Maria, de um ano e meio, também em Sapopemba, iniciou um movimento para defender a Casa, organizando rodas de conversa sobre parto humanizado. “Comecei a fazer isso porque a Casa não pode se promover, a procura vem caindo. E com isso vai se justificar o fechamento por falta de procura. É uma forma de exclusão, porque as mulheres mais pobres não têm acesso a esse tipo de informação, mas a classe média cada vez mais procura esse tipo de parto, a preços altos. E aqui temos o serviço público, de excelência, humanizado e respeitoso, que querem impedir de acontecer”, afirma Reila.

Reila fez um convênio médico, depois de esperar três meses por um ultrassom na rede pública. Mas também não se sentiu acolhida no pré-natal particular. “Nunca recebi uma orientação sobre amamentação, uma conversa sobre as mudanças que eu estava vivendo. Na casa, fui bem atendida desde o primeiro momento, fui ouvida e respeitada, sou muito grata pelo carinho das profissionais. Esse trabalho precisa ser expandido”, diz a chef, referindo-se ao fato de que as casas de parto nunca foram expandidas e há uma ocultação de informações sobre parto natural na rede pública de saúde.

Para presidenta da Associação Brasileira de Obstetrizes do Estado de São Paulo, Ruth Osava, o motivo de satisfação da mães está na própria dinâmica do parto natural. “O parto natural é feito sob diversos cuidados que contribuem para o desenvolvimento do bebê, da mãe e o fortalecimento do vínculo entre os dois. A criança é muito maltratada pelo processo da cesariana, pelos medicamentos, pela retirada forçada do útero. O trabalho de parto natural prepara o bebê para a vida, é o primeiro estímulo de sobrevivência e as mães percebem a importância disso”, define Ruth.


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Projeto de lei para municipalizar casas de parto emperra no Legislativo em São Paulo


Por: Rodrigo Gomes, da Rede Brasil Atual
Publicado em 20/12/2012, 09:08
Última atualização às 09:08

São Paulo – Com objetivo de possibilitar a instalação de novas casas de parto na capital, o Projeto de Lei (PL) 542, de 2009, que estabelece diretrizes para a criação do Programa de Parto Normal em Casas de Parto, no âmbito do município de São Paulo, de autoria da vereadora Juliana Cardoso (PT), está tramitando na Câmara dos Vereadores desde 2009. Para a assessora de Articulações Políticas e Relações Públicas da Casa Ângela, localizada na zona sul da capital, Regina Wrasse, o PL é um passo importante na concretização das casas de parto como política pública no município.

De acordo com a vereadora Juliana Cardoso, o PL transformará uma norma federal em legislação municipal, dando base legal para ampliação das casas de parto de administração pública e possibilitando que entidades privadas se tornem parceiras para prestar o serviço, como já ocorre com as Organizações Sociais de Saúde. “A Associação Comunitária Monte Azul já administra serviços de saúde na região do Jardim São Luiz e nada impede que possa assumir mais essa responsabilidade. O que precisa é de procedimento legal para isso”, explica Juliana.

A primeira análise se iniciou em setembro de 2009, com a Comissão de Constituição e Justiça, onde o PL ficou por dois anos e três meses. Depois disso, o projeto recebeu pareceres favoráveis das comissões de administração pública, de saúde, promoção social e trabalho. Falta o parecer da comissão de orçamento e finanças. Porém, de acordo com a assessoria técnica da vereadora, este parecer seria solicitado no momento da votação, não implicando dificuldades. O projeto tem de ser aprovado em duas votações no plenário e então irá para sanção do prefeito.

Para Regina, aprovação do PL é fundamental para garantir a continuidade da prestação dos serviços, o acesso das mulheres à informação parto humanizado e ao próprio parto natural. “Essa regularização é fundamental, pois permitirá estabelecermos convênios com o poder público, desenvolvendo o trabalho com estrutura e condições, garantindo o direito de decisão das mulheres sobre como querem ter seus filhos”, conclui Regina.



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Conselho Regional de Medicina de São Paulo é contrário às casas de parto



Por: Rodrigo Gomes, da Rede Brasil Atual
Publicado em 19/12/2012, 10:00
Última atualização às 10:00

São Paulo – “Uma das decisões mais equivocadas dos gestores de saúde no nosso país”: assim o corregedor do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), Krikor Boyaciyan, descreveu a Portaria 985/99, do Ministério da Saúde, que estabelece parâmetros para instalação das casas de parto no Brasil. Segundo o corregedor, posição contrária das entidades médicas visa a proteger gestantes e nascituros de condições que possam colocá-los em risco.

Boyaciyan entende que a necessidade de se manter o parto nos hospitais está relacionada a questões técnicas e à frequência de complicações nos partos. “Existe uma série de situações onde a intervenção do médico deve ser imediata, pois podem acarretar lesões e até o óbito da mãe e do bebê. Não existe parto sem risco. O ambiente hospitalar proporciona condições para a pronta ação do profissional sobre qualquer intercorrência, coisa que a casa de parto, por sua própria definição, não pode garantir”, considera.

Co-autor da Resolução 111 do Cremesp, que proíbe os profissionais médicos de atuar em casas de parto, o corregedor defende que a proibição é por uma questão de segurança. “Não é um ambiente adequado para o médico trabalhar. Nós não podemos permitir que o profissional atue sem condições minímas de estrutura, sem auxílio de anestesista, de um pediatra, longe de um hospital. Mesmo que os riscos no parto fossem raros, eu não submeteria uma mãe a esse perigo”, justifica Boyaciyan.

O médico pondera que o aumento das cesárias que, na rede pública, atinge 37% do partos na média nacional e 54% na municipal, não pode ser usado para justificar a adoção das casas de parto e que o crescimento se deve a múltiplas condições. “O número é absurdo, não se pode aprovar algo assim. Mas é um processo multifatorial. Tem contribuição do sistema de saúde, que busca lucro na maior rotatividade que a cesária proporciona, dos obstetras, que têm pressa por conta de, muitas vezes, ter outro emprego, e das próprias pacientes, que pressionam para fazer a cesariana por diversos motivos”, avalia Boyaciyan.

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