sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Relato: Nascimento de Joana Vitória - Parto Domiciliar




Era véspera do meu aniversário e estávamos organizando os preparativos para um churrasco em comemoração. Como poderia entrar em trabalho de parto, confirmei o convite somente na véspera. À noite, fomos ao supermercado comprar o que faltava. Eu estava com 39 semanas e cinco dias e, além de algumas contrações, sentia apenas algumas cólicas que não eram regulares.

No dia seguinte estava marcado um encontro do grupo de grávidas que eu organizava. O local era um pouco distante de onde morávamos e meu esposo Wellington achou melhor eu ir com uma amiga, pois ele e nosso filho Ernesto iriam para o clube organizar as coisas por lá.

A reunião foi tranqüila e o tema discutido foi “intervenções no trabalho de parto e parto”. Minha doula também estava presente. Ela veio a Brasília a nosso convite para me acompanhar e eu estava bem confiante de que nos próximos dias entraria em trabalho de parto. A reunião começou às 9h e, com um atraso habitual, terminou quase ao meio dia. Nesse intervalo, senti umas três contrações, mas não dei muita atenção. Eu estava me sentindo bem. Ao final do encontro seguimos para o clube e no percurso de meia hora senti mais umas três contrações. Chegando ao clube continuei sentindo contrações, mas nada tão dolorido. Pensei: será hoje o dia de Joana?

Chegando lá, já haviam chegado algumas pessoas, mas o churrasco ainda não estava pronto. Comecei a cortar verduras para fazer a salada, conversei com o pessoal, ganhei presentes, ri, almocei. Senti que as contrações estavam ficando mais regulares, mas continuei sem dar muito crédito. Quando pedi para Wellington marcar no relógio elas estavam de três em três minutos! Ele decidiu ligar para a parteira e deixá-la avisada. Minha doula que foi convidada, ainda não tinha chegado. Tentei manter a tranqüilidade, comecei a rebolar, caminhar, mudar o foco da dor, lembrando das aulas de yoga, da respiração. Quando eu rebolava o quadril sentia como se minha pelve estivesse dando estalos, como se a cabeça de Joana estivesse lá embaixo e cheguei a comentar isso com uma amiga. Resolvi tomar banho de piscina, mas precisava fazer o exame de pele para ser liberada. Fui ao banheiro, troquei de roupa, senti uma contração bastante dolorida, mas fui fazer o exame. Torcia para não sentir outra contração na frente da médica, senão seria reprovada. A contração não veio. Fui até a piscina, deixei a água de um dos chuveiros cair nas minhas costas imaginando que iria relaxar, mas foi pior: as dores aumentaram. Resolvi sair da piscina e disse a Wellington que deveríamos ir para casa. Nem me despedi dos convidados, fiquei caminhando, dando voltas ao redor de uma árvore e tentando lidar com as contrações. Nesse momento, minha doula chegou. Eu disse a ela que estavam começando a ficar insuportáveis as contrações e que iríamos para casa. Wellington deixou Ernesto com um casal amigo nosso e avisou que depois ligaria. Todos ficaram lá no clube, comendo churrasco e se divertindo sem entender direito o que estava acontecendo.

Entrei no carro e tentei relaxar no banco de trás. Saímos rapidamente, pedi que Wellington corresse para casa, pois as contrações estavam intensas. Assim que saímos senti um estalo e pensei: a bolsa estourou! No caminho eu conseguia sentir a cabecinha dela no canal de parto e quando as contrações vinham eu fechava as pernas, com medo que ela nascesse ali, no carro. De lá para casa foi uma eternidade, apesar de o percurso ser curto e durar, no máximo, cinco minutos! Eu pedia para Wellington acelerar e logo depois andar mais devagar. Comecei a gritar, chamar palavrões, pedir para ele correr. Corre! Devagar nas curvas! O sinal fechou e eu me desesperei! As contrações estavam uma atrás da outra e a minha filhinha não podia nascer no carro. Enfim, chegamos ao estacionamento do prédio, saí do carro, coloquei a mão no banco, procurando, mas não senti nada úmido. A bolsa não tinha estourado! Peguei a chave da mão da doula e pedi a Deus para não sentir contrações quando subisse as escadas. Será horrível! Chegamos ao 2º andar, abri rapidamente a porta e senti uma contração enorme. Soltei um grito, quase um uivo! Ouvi a doula dizer: É agora! Vai nascer!

Imediatamente, tentei tirar a roupa, mas era difícil. Senti uma pressão. Fiquei de cócoras e ela chegou! Gritei de alívio! Numa jorrada de líquidos, vi Joana no chão. Eu estava na porta do banheiro e pensei: será que ela caiu no chão?  Será que ela bateu a cabecinha?

Não ouvi o choro. Mal conseguia vê-la direito, pois a roupa nem chegou a passar do joelho. A doula me apoiou pelas costas, Wellington a pegou no chão e colocou no meu colo. Ela chorou! Quando eu a peguei vi que ela era pequenininha. Tão pequenininha. O cordão era curto e eu mal consegui coloca-la no colo. Fiquei lá, imóvel. Tentaram cortar a roupa que eu usava para dar mais espaço, pois estava deixando o cordão mais curto ainda. Ela fez seu primeiro xixi sobre mim e ficou lá, quietinha. Trouxeram uma toalha e a envolveram. Coloquei-a para sugar meu seio e ela aceitou rapidamente.

Resolvemos ir para o quarto, tentar ficar de cócoras em algum lugar para a placenta sair. A parteira chegou 10 minutos depois do nascimento de Joana. Ela nasceu às 14:45. Resolvemos ir para o banheiro sentar no vaso sanitário para a fase de dequitação de a placenta ser feita. Estava demorando e a doula sugeriu que fizéssemos a Oração de Santa Margarida.

Minha Santa Margarida
Não estou prenha nem estou parida
Tira essa carne morta
De dentro da minha barriga

Rezamos com fé, todos, no banheiro, por duas vezes e a placenta saiu cerca de 40 minutos depois de Joana ter nascido. A parteira examinou a placenta que se apresentava normal. Wellington cortou o cordão umbilical, como havíamos planejado. Fomos para o quarto, deitei na cama, continuei com Joana no colo sugando o colostro. Devido à rapidez do expulsivo tive alguns pontos no períneo.

Ernesto chegou trazido pelo casal amigo. Eles ficaram impressionados e demonstravam não acreditar que Joana tinha nascido ali, em nossa casa, tão rapidamente.

Ernesto estava radiante de alegria. Queria tocar Joana, pega-la, sentir a irmãzinha que horas atrás estava na barriga da mamãe

Ela foi pesada e medida: 2,7 Kg e 47 cm, confirmando a pequinês que tínhamos observado.  O teste do capurro indicou 40 semanas.

Brindamos sua chegada com licor de amarula!

Mais uma vez, não tivemos um parto na água e, dessa vez, a piscina nem chegou a ser inflada. Apesar do parto não ter ocorrido segundo nosso plano de parto, ficamos muito felizes porque ela chegou naturalmente e foi o maior presente que eu poderia ter recebido no meu aniversário!

No total foram cerca de 3 horas de trabalho de parto intenso e tivemos a certeza de que Joana chegou na hora dela, em casa, num parto quase que desassistido, mas com muito amor!

Bem vinda, Joana!

20 de fevereiro de 2010.

_Sylvana, mãe de Ernesto e Joana.

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