Marcela nos contou ontem sobre seu 1o. parto, c/ o Relato: Nascimento de Nahuel. Natural, mas hospitalar. Nos escreveu enviando este relato que postamos hoje, de seu 2o. parto, já domiciliar, e ocorrido neste mês de janeiro, no dia 02. Memória e sensações frescas, Marcela ainda nos alegrou dizendo que tem acompanhado este Especial de Férias, c/ relatos de parto publicados diariamente. Quando sugeriu a publicação deste nascimento pedimos também do 1o. parto. Confiram, então, uma nova história!
Ainda não vi os vídeos e as fotos do nascimento. Acho que muitos detalhes eu já esqueci, mas ainda tenho algumas sensações frescas e nos últimos dias tenho tentado reviver cada momento na minha memória. Começo o relato do nascimento da minha filha usando uma metáfora: "A escalada"...
Eu tinha um mapa, que me mostrava um caminho a percorrer até chegar ao topo de uma montanha muito grande e íngreme. Comecei a seguir as indicações.
Apesar do mapa ser muito detalhado, o caminho parecia muito diferente, e eu não conseguia avistar a alta montanha que o mapa indicava. Quando eu pensava que já estava começando a subir, vinha então uma curva e o caminho descia novamente, me levando de volta ao ponto de partida. Tentei várias vezes seguir o mapa desde o início, dava voltas e voltas e não saia do lugar. Depois de tanto caminhar, comecei a ficar tensa, cansada, frustrada. Chorei, e tive medo de não achar o caminho certo. Precisava me tranquilizar, rever as indicações do mapa e decidi parar. Encontrei uma caverna. Nesta caverna havia uma fogueira que me aqueceu assim que entrei. O cheiro dentro dela era muito agradável, fresco. Tinha algum rio passando ali dentro, e o som das águas me tranquilizava. Entrei na escuridão, me aconcheguei e dormi. Quando acordei, me sentia renovada. Peguei o mapa, que era meu único guia e o joguei no fogo, já não precisava mais dele. Sai da caverna e continuava sem ver montanha nenhuma, mas na minha frente havia uma trilha que entrava numa mata fechada. Fui caminhando por essa trilha, que por vezes era difícil de caminhar, outras, muito fácil e agradável. Fui caminhando, mata adentro, cada vez mais densa, e sem me preocupar em me perder, só seguindo meus pés. Às vezes a trilha se perdia, mas eu continuava, para onde meu corpo queria me levar. Até que lá na frente vi um clarão, algo que indicava que estava próxima ao meu destino. Ao mesmo tempo que aquilo me dava ânimo para continuar, não conseguia acreditar que já estava tão perto. Continuei caminhando em direção àquela luz, o caminho foi ficando mais íngreme e difícil, e nessa hora, eu usava toda minha força para pegar um impulso e escalar com rapidez. E logo após ter subido um ponto difícil, parava para descansar, sem tirar os olhos do clarão. Mais alguns passos, mais alguns impulsos e cheguei ao meu destino: o topo de uma montanha altíssima, majestosa, que me permitia olhar além do que eu imaginava, uma paisagem incrível. Era a minha montanha, e subi-la foi muito mais simples do que eu pensava, era só me deixar levar...
No dia 30, Suely, Thiana e família chegaram na pousada. Almoçamos e acho que nesse mesmo dia a Suely me examinou. Fez o toque e eu estava com seis cm de dilatação. Isso já indicava que faltava pouco, mas eu não sentia nenhuma dor e as contrações que apareciam de vez em quando eram quase imperceptíveis. No dia seguinte, 31 de dezembro, fez calor, e as horas passaram sem grandes novidades. À noite, depois da ceia de ano novo, comecei a sentir algumas pontadas, não eram contrações, eram umas fisgadas bem embaixo. A Suely achou uma boa ideia me examinar, e eu estava com sete ou oito cm de dilatação. Acreditamos que o parto aconteceria naquela madrugada, do dia 1° de Janeiro, e eu comecei a me preparar para as horas de contrações dolorosas. Já tinha convocado minha tia Leone, minha prima Amanda e minha prima agregada Gabriela para ajudarem com as panelas de água, o tambor, o fogo. A Thiana ligou para a Carol, que também participaria do parto. Gonzalo acendeu o fogo e ficamos ali em volta aguardando as contrações. Mas elas estavam muito suaves, indolores e irregulares, longe de serem as contrações que eu esperava/queria... Fiquei caminhando em volta do fogo, passeando pra lá e pra cá. A Amanda tocando tambor, Tia Leone esquentando as águas e enchendo a banheira, Thiana e Carol fazendo massagens pra induzir as contrações, Suely conversando comigo. O tempo passou voando, e nada daquele trabalho de parto que eu tanto esperava, aquela dor que eu tanto me preparei... Já perto das 5:00 da manhã, decidimos ir dormir.
Deitei na cama e me sentia muito elétrica, não conseguia fechar os olhos. Amanheceu, todo mundo foi tomar café, o dia começou, e eu com aquelas contrações fraquinhas, indolores e irregulares. Suely fez mais um toque, e acho que eu já estava com uns oito cm, e segundo ela, a cabeça do bebê estava bem embaixo... Aquilo era muito louco, estava quase com dilatação total, sem dor, sem nenhuma outra sensação e isso às vezes me dava uma sentimento de vulnerabilidade, insegurança...
Quando amanheceu, Suely pediu pra colocar um forró e mandou eu ficar rebolando com o Gonzalo, e isso estimularia o trabalho de parto... As contrações começaram a vir de quatro em quatro minutos, mas sem dor, muito leves... O único incômodo que eu tinha era nas pernas, um tipo de formigamento, que a Thiana e a Carol aliviavam com massagens. Fui ficando cansada, sentei na bola e as contrações se foram. Tentei dormir, descansar, mas não conseguia, seguia elétrica, com a adrenalina lá em cima e cada vez mais tensa. Ficava pensando que não ia conseguir ter as tais contrações e tinha muito medo de que a Suely me mandasse para o hospital. Mas, sempre que ela vinha me examinar, a bolsa continuava perfeita e os batimentos do bebê ótimos! Ela me tranquilizava, explicando que não havia motivo para se preocupar. Era só eu deixar de pensar, parar de querer controlar a situação e permitir que meu corpo trabalhasse.
No fim da tarde, tentei ir dormir mais uma vez. Das 15:00 às 18:00 tive contrações irregulares, indolores, e pra mim, mais uma vez inofensivas...
Até que cheguei à conclusão que precisava dormir de verdade, antes de ficar contanto as contrações... Fui para o quarto, dentei na cama e fiquei rolando de um lado para o outro, sem conseguir relaxar, com a cabeça a mil por hora. Não, o parto não ia acontecer daquela maneira. Anoiteceu, pedi que o Gonzalo me fizesse uma massagem nas costas, que já doíam de tanta tensão. Perto das 23:00, o Gonzalo sugeriu que a Thiana e a Carol me fizessem uma massagem mais completa. Ele aproveitou para dizer a todo mundo (tia e primas) que estava de plantão que fossem dormir. A única que ficou na pousada foi minha mãe. Thiana me mandou entrar no chuveiro, me preparou um escalda pés com sal grosso e fiquei ali, sentada na bola, com os pés no balde. Gonzalo foi se deitar para tentar descansar também. Thiana e Carol prepararam o quarto ao lado, com aromatizante, luz de velas, música relaxante. Deitei num colchão no chão e elas me massagearam, não sei por quanto tempo. Uma delícia, tão relaxante que acho que cochilei. Em algum momento senti uma contração forte, a mais forte que havia sentindo desde então. Senti o sono chegando, senti meus pensamentos lá longe. Percebi que a massagem tinha terminado, mas não percebi elas saindo do quarto. Alguns minutos depois senti mais contrações doloridas, e notei que estavam regulares. Não consegui calcular o tempo entre elas, nem o tempo em que fiquei ali. Elas começaram a ficar mais e mais fortes, e eu fiquei “curtindo” aquela viagem, inspirando fundo, expirando com a boca aberta, como a Thiana tinha me ensinado nas aulas de Yoga. Aproveitei para sonorizar a dor. Inspirava fundo, expirava dizendo “ahhhhhhhhhhh”. Me concentrava no som que saia e isso era muito agradável, tornando as dores muito suportáveis... Agora tinha certeza que a hora tinha chegado. Chamei o Gonzalo, que foi avisar a Suely e as meninas. Não consigo me lembrara exatamente o que acontecia enquanto eu fazia “ahhhhhh”, mas me lembro muito bem das cenas quando as dores davam uma pausa: Suely mandando Gonzalo ir esquentar as águas para a banheira; Thiana me massageando forte na região lombar; Carol me dando algo para tomar; Me lembro do gato observando tudo ao meu lado. Suely perguntando onde doía, me examinado, depois ela chamou o Gonzalo e disse pra ele desencanar das águas, não daria tempo de entrar na banheira, eu já ia ter vontade de fazer força.
-Fazer força? Daqui umas 3 horas, não? – perguntei.
-Não, já já – Suely respondeu.
Escutei o galo cantando e me assustei: “já amanheceu?”.
-Não, o galo é que está cantando antes da hora - me esclareceu Thiana.
Prepararam o quarto, me levantei entre uma contração e outra e me sentei no colo do Gonzalo. Na minha frente, 3 anjos...
Por um lado, me sentia incrivelmente feliz, porque a hora tinha chegado. Por outro lado, não conseguia acreditar que já estávamos no fim, porque me preparava para o momento em que a dor seria insuportável, em que eu não fosse conseguir dar conta, o momento em que iria implorar por anestesia. Este momento nunca chegava, nunca chegou. As contrações eram fortes, mas me pareceram curtas e o intervalos entre elas longas o suficiente para respirar e me preparar para a próxima. Então senti a pressão, a vontade de empurrar, fiz força. Gritei várias vezes, pra mim, um grito de bicho. A contração ia embora e eu dizia alguma coisa. Ela voltava e eu gritava com gosto.
A Suely disse que o bebê era cabeludo, coloquei a mão e senti algo muito estranho entre minhas pernas. Suely pediu um espelho, a bolsa ainda estava intacta e era uma imagem incrível. A contração deu uma pausa e pude dizer:
-Nossa, parece uma lichia...
-Sim, parece uma lichia... a bolsa vai estourar a qualquer momento – nos preparava Suely.
Quanto mais minha filha se aproximava, mais vontade eu tinha de empurrar. Elas começaram a cantar algo em espanhol. Me lembro de ter escutado aquela música em algum lugar, tenho que perguntar ainda que canção era aquela - Rosa Zaragoza, em Sabemos Parir. Agarrei no pescoço do Gonzalo, agarrei na perna do Gonzalo, agarrei na minha perna e gritei. Senti ela descendo. Mais uma vez, mais uma vez e a cabeça saiu. A próxima contração veio e empurrei por última vez, e o corpinho deslizou.
Olhei para baixo e a vi, nas mãos da Suely. Que vontade de gritar mais uma vez, de alegria... Gonzalo me dizia que eu tinha conseguido. Ficamos ali hipnotizados.
Alguns instantes depois, ela veio para o meu colo e foi maravilhoso. E ela veio direto para o meu peito. Mamou forte. A placenta saiu, Gonzalo cortou o cordão. Ficamos ali curtindo nossa filha.
Ela é perfeita, forte, linda!
Parece que desde o momento que as contrações doloridas começaram até a hora do nascimento se passou menos de uma hora. Mas, todo o processo de trabalho de parto foi longo, lento, cheio de inícios, pausas e grilos, muito diferente, mas muito melhor do que eu imaginei. Foi mágico! Foi um dos momentos mais intensos da minha vida.
Foram avisar a minha mãe, que também não conseguia relaxar nos últimos dias e estava de plantão. Ela chegou trazendo um leite com aveia e muitas lágrimas. E, então, fomos dormir na nossa cama. O Gonzalo trouxe o Nahuel, que quando deitou ao lado da irmã, abriu os olhos e lhe fez uma carícia na cabecinha: o bebê da barriga da mamãe tinha finalmente chegado.
OBS: Tínhamos escolhido o nome Tainah, caso fosse menina, mas poucos dias antes do parto tive um sonho onde chamava por minha filha, e, no sonho, seu nome era Natália. Assim ficou...
Natália nasceu com apgar 10/10. Peso: 3,375gm. Tamanho: 50cm.
_Marcela Mölk, Designer de Interiores, mãe de Nahuel e de Natália.
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