segunda-feira, 4 de março de 2013

Nascimento de Surya - Parto Domiciliar

Tudo começou em novembro de 2010, quando a banda do meu marido Silvio Rocha foi convidada para tocar em Buenos Aires e eu e minha amiga Bianca, que namora o baixista Rene, iríamos acompanhá-los. Dois dias antes dessa viagem, encontrei Bianca no supermercado. Nós conversamos um pouco sobre nossos preparativos e logo eu fui embora. Nós só nos vimos novamente no dia da viagem, no aeroporto de Londrina, onde cada uma pegou um voo para São Paulo.

Uns 20 minutos após a decolagem, comecei a sentir um pouco de enjoo e quando chegamos a Guarulhos, onde seria feita a conexão, eu e o Silvio encontramos Bianca e Rene no saguão do aeroporto, aguardando o voo para Buenos Aires. Houve um atraso “básico” no embarque e nós ficamos lá por umas 2 horas! E eu ainda estava meio estranha por causa do enjoo, mas isso já havia acontecido comigo antes em aviões. Vendo meu estado, a Bia fez uma pergunta inusitada e crucial:

- Fer, você tá grávida? Eu logo franzi a testa e respondi:

- Não! ... Não que eu saiba! Porém, Bianca tinha algo revelador para me contar, algo que mudaria minha vida para sempre! E então ela começou:

- Sabe por que perguntei? Porque aquele dia no mercado eu senti sua presença, antes de você se aproximar de mim e tapar meus olhos (tipo advinha quem é?)! E quando eu virei pra conversar com você, “vi” uma luz muito intensa ao seu redor e uma menininha de cabelo cacheado, olhos claros e o com o seu “queixinho” brincando de se esconder atrás das suas pernas! Na hora eu gelei e logo em seguida, eu fui contar pro Silvio, que conversava com o Rene. Ele ficou mexido com a história, mas depois conseguiu relaxar.

Depois dessa espera infinita, nosso voo saiu de São Paulo. Meu marido comprou um bilhete de 1ª. classe sem perceber naqueles sites de promoções e seguimos rumo a “ mi Buenos Aires querido”! Mas minha alegria durou pouco, pois minutos após a decolagem, comecei a ter enjoos de novo e dessa vez foi pior porque a viagem era mais longa, umas 2 horas e meia. E eu de  1ª. classe, vendo meu marido comer um jantar super fino e tomando vinho, enjoando sem parar! Eu não tava acreditando naquilo! Kkkkkkkkkkk.. E quando chegamos a Buenos Aires, logo que a gente saiu do aeroporto e eu respirei ao ar livre, meu enjoo passou na hora! Incrível! E correu tudo bem nos 3 dias em que ficamos lá, só a dúvida da possível gravidez que me incomodava um pouco. E pra resumir, a volta para Londrina foi igual à ida, enjoos com direito a turbulência tipo escorregador tobogã e 2 arremetidas por causa do mal tempo!!! Eu quase desmaiei, quase!!! Antes tivesse..kkkkkk..

Chegamos em Londrina e a 1ª coisa que eu fiz quando acordei foi ir numa farmácia e comprar o teste de gravidez para acabar com essa dúvida infinita! E não deu outra, o resultado foi POSITIVO! Eu estava grávida! Fiquei em estado de choque por alguns minutos, pois não planejamos isso, e assim que o Silvio acordou, eu contei pra ele. Ele arregalou os olhos e surpreso disse:

- É? E eu confirmei:

- É, fiz o exame e deu positivo! E nós sorrimos um pro outro e assim iniciei a gestação da Surya!

Nos 3 primeiros meses senti muito enjoo, mas como num passe de mágica, quando eu entrei no 4º mês, tudo passou! E daí pra frente foi tudo maravilhoso, mesmo quando aos 8 meses, tive uma pielonefrite (infecção no rim em decorrência de infecção de urina). Meu obstetra achou melhor me internar, pois havia risco de aborto espontâneo. E eu fiquei no hospital 1 semana e isso foi fundamental para eu optar pelo PD.

Foi aí que eu decidi ter minha filha em casa! Ganhei o livro “Parto com Amor” (autora Luciana Benatti) da minha grande amiga Ana Carolina Franzon, que me apresentou todo o universo do parto natural humanizado, e esse livro conta 9 relatos de parto, onde um deles me chamou muito a atenção por algumas semelhanças entre a mulher e eu, como: mudança de obstetra, mesma idade que eu, 1ª gestação e demorou para decidir. Ela também pensou muito antes de ter seu bebê em casa! Sem contar que eu fiquei internada na ala da maternidade e vi como era o dia-dia no hospital. Eu tinha receio por ser minha 1ª gestação, mas depois dessa experiência, não havia mais dúvida: a Surya vai nascer em casa! E então fui atrás da equipe para me amparar durante o PD e combinei tudo previamente com o obstetra, com a pediatra e com a doula. Todos eles respeitaram a nossa decisão de ter o bebê em casa e se propuseram a ir até lá no dia do parto. E caso ocorresse algo mais sério, eu seria removida para o hospital, que fica há 5 km da minha casa, ou de carro ou de ambulância, mas dentro de mim, eu tinha certeza de que tudo daria certo! Tudo! Eu iria conseguir cumprir essa missão!

Quando eu entrei na 39ª semana, o Silvio precisou viajar no fim de semana do dia 28/07/11 e eu não sentia nada que pudesse dar indícios de TP. Quer dizer, sentia, mas não sabia! Eu tinha pequenas cólicas/contrações pela manhã, mas como tudo acabava após eu usar o banheiro, eu ficava tranquila. E pouco antes dele sair de viagem, ele pôs a mão na minha barriga e disse pra Surya:

- Filha, espera o papai chegar pra você nascer, tá!? Fica calminha aí! O papai te ama e quer estar aqui quando você for nascer!

E assim foi até domingo, dia 31/07/2011 as 08h30min, quando ele chegou em casa e deitou na cama. Imediatamente, eu senti aquela “cólica matinal” um pouco mais forte, porém fui ao banheiro e mais uma vez, tudo normal! Voltei pra cama, dormi e lá pelas 10h00min, eu levantei com uma “cólica” chatinha, que foi aumentando rapidamente de intensidade até as 11h00min. Eu tentei caminhar e pegar algo pra comer, mas a dor já era forte! Ficava tipo uns 5 minutos doendo e depois parava. Eu sentia vontade de deitar, me encolher pra ver se melhorava um pouco, mas nada fez passar! Eram elas, as contrações! Meu TP havia começado e as dores já eram fortes! Daí 11h30min, liguei para minha querida doula Patrícia Merlin, que mora em Maringá (a 100 km de Londrina), dizendo que eu estava tendo contrações fortes e achava que tinha começado o TP. Ela pediu que eu marcasse o intervalo entre as contrações e a avisasse, caso persistisse a dor intensa. “Pata”, que é seu apelido, disse também, pelo que eu me lembro, para eu tomar um banho e tentar comer alguma coisa. Comecei a marcar num papel e minhas contrações já estavam em 10 em 10 minutos, porém com duração e dores diferentes. E assim foi até as 13h00min, quando liguei pra Pata de novo, quase chorando, falando pra ela vir pra Londrina naquele instante. E ela falou pra eu continuar contando durante a próxima hora, pois ela já estava indo. Estava chuvoso e muito frio neste dia, e eu fiquei até as 14h00min horas deitada na sala, tentando encontrar posição para melhorar as dores. Daí, eu fui acordar o Silvio, que tava dormindo depois d viajar a noite toda, para me ajudar a cortar um pedaço de maça pra comer. Comi com muito sacrifício, tomei um pouco de água e logo em seguida, vomitei tudo! Daí pra frente eu entrei num transe Saí do meu estado de consciência normal e fui para outro mundo! O mundo mágico das contrações doloridas, mais conhecido como Partolândia... kkkkkkkkkkk!! Eu era a contração, eu era o útero! Não sentia mais o ambiente, era só eu e as contrações! Fiquei praticamente muda, não queria conversar com ninguém. O único som que eu emitia era o gemido de dor quando vinha uma contração. Fiquei de olhos fechados, concentrada no que acontecia comigo e deixando meu corpo agir e não minha mente. E por isso, eu não me lembro da sequência exata dos acontecimentos, só me lembro de “flashes”. Então, precisei da ajuda dos que estavam presentes durante o TP para me contar com mais detalhes como tudo aconteceu.

Bom, vamos lá! Meu marido ligou para as pessoas viriam participar do “grande dia” (amiga Ana, mãe, pai e sogra) e quando já era umas 15h00min horas, a Ana resolveu chamar a Thelma, uma enfermeira obstetra queridíssima, que veio em casa me ver. Ela fez o “toque” pra ver como estava a minha dilatação e ouvir os batimentos do bebê. Ela examinou e disse que eu estava com 4 cm e que a Surya estava bem. Nem a dor do toque eu me lembro de sentir! Fiquei no meu quarto o tempo todo, mas como o chuveiro de lá tava queimado, eu fui até o banheiro social da casa e fiquei na ducha e pelo que me disseram, eu gostei! Kkkkkk. Mas estava muito frio nesse dia e a água do chuveiro era pouca para que eu relaxasse. Aliás, nada me relaxava naquele momento, não achei nenhuma posição para amenizar as dores. Eu vi minha família e eles falavam comigo, mas não me lembro de nada do que conversamos. O Silvio falava com eles passando as informações sobre o andamento do TP.

Mais ou menos às 17h00min, minha doula chegou e ela foi o divisor de águas do meu TP. “Pata” me ensinou a respirar empurrando o ar pra dentro do corpo, até o útero e finalmente, tudo foi melhorando. Sem contar os óleos essenciais, o apoio moral e físico que uma doula dá a sua parturiente! Foi fundamental pra mim! As dores ainda eram fortes, claro, mas se tornaram suportáveis. Eu senti que estava mais consciente do que estava acontecendo. Voltei a me comunicar com palavras e quando a Thelma fez o 2º toque, eu já estava com 6 cm de dilatação! Fiquei animada, pois elas (Pata, Thelma e Ana) falavam que estava sendo rápido o processo! E até agora, o Silvio e a Pata falaram com o obstetra só por telefone, e ele havia pedido que eu fosse ao hospital para realizar o exame de Cardiotoco, porém nós ficamos em casa até as 19h00min, e daí fomos pra lá.

Chegando ao hospital, eu já estava exausta! Sentia muita, muita, muita dor; fui de cócoras no banco de trás do carro com contrações de 3min em 3min! Me lembro que o enfermeiro que nos recebeu puxava papo comigo, perguntado de quantas semanas eu tava, se era menino ou menina e eu não respondia nada, óbvio! Em compensação a Pata dava cada “patada” nele que eu ria por dentro! Kkkkkk. Tipo, respostas monossilábicas num tom bem bravo.. Sim! Menina! 39! rsrsrsrsrs.. muito engraçado! Subimos pra maternidade e lá ficamos por cerca de 40min esperando o obstetra chegar. E enquanto isso eu tive que: tirar a roupa, vestir avental, deitar de barriga pra cima numa cadeira reclinável horrível e esperar até que o exame fosse feito. Tudo isso com contrações fortíssimas e nos intervalos uma e outra, eu quase dormia. Sei que ficamos lá até umas 20h30min e eu, já não aguentando mais, falava:

- Eu quero ficar aqui! Eu não aguento mais! Eu não aguento andar de carro de novo! Alguém me ajuda a acabar com isso! Me dá uma anestesia! Kkkkkkkkkkkk... eu quase entreguei os pontos! E eu já tava na fase final do TP, com 9cm de dilatação, mas como eu nunca tinha passado por isso antes, me desesperei! Mas como eu já sabia que isso iria acontecer, por conhecer o relato de parto da Ana, escrevi em meu Plano de Parto que não era pra me dar nada, nenhum remédio, mesmo se eu pedisse, implorasse! E meu marido e a Pata me davam força o tempo todo, muita força! Silvio ficou comigo o dia todo, me ajudando! Todos diziam, inclusive o obstetra, que já havia realizado os exames, que já estava no final. No final mesmo, porque eu saí do hospital com 9 cm para 10 cm de dilatação. O obstetra ainda falou no ouvido do Silvio:

- Vai rápido pra casa porque o bebê pode nascer a qualquer momento, inclusive no caminho! E liga pra pediatra já! Fala pra ela ir pra casa da Fernanda urgente!

Como estava muito frio, não havia quase carros na rua e chegamos a minha casa em 5 minutos. Daí a doula recomendou que eu fosse pro chuveiro e eu fui, porém fiquei apenas alguns minutos e logo saí. Não queria ficar lá, estava muito frio! Então, fui pro meu quarto e lá fiquei por uns 30 minutos. Eu estava de joelhos apoiada na cama, sobre um travesseiro, quando de repente, senti um calor junto com a contração e saiu sangue. Antes, eu fiquei de roupa o tempo todo, mas a partir desse momento, eu tirei tudo, senti calor e comecei a andar pelo quarto. Não sei quando minha bolsa estourou porque não saiu líquido abundante em nenhuma hora. Foi tudo bem limpinho até. Mas logo voltei a ficar de cócoras apoiada na cama por um bom tempo. Saiu mais sangue e aí me sentei na banqueta de parto que a Pata trouxe. Fui me acomodando nela e por alguns minutos, minhas contrações pararam! Foi quando eu consegui recuperar um pouco das minhas forças, mas como a Surya já estava quase nascendo, a doula apertou um ponto na base da minha coluna que fez com que a contração voltasse na hora com força total! Eu andei um pouco e logo sentei novamente na banqueta de parto e finalmente a equipe teve uma grande ideia: deram-me um espelho pra eu ver o cabelinho da Surya e acreditar que tudo estava acabando! Aquilo me revigorou, mas havia chegado o momento de fazer força e eu estava com muito medo! Eu sentia a sensação de que eu iria explodir se eu fizesse força. Quase chorando eu falava:

- Eu não vou fazer força, vai doer! Kkkkkkkkkkkk.. como se não tivesse doído nada até aquela hora! E a
Pata respondia:

- Parece que vai, mas não vai! Pode acreditar em mim! Faz força!

O obstetra também falava que aquele era o momento, que eu podia ficar calma que daria tudo certo e que minha bebê precisava de mais essa ajuda para nascer!

Então, quando já eram 21h00min, meu marido ficou atrás de mim sentado na cama me segurando pelas axilas e eu fiz força a 1ª vez. Logo senti o Círculo de Fogo! Queimou todo o meu corpo! E no embalo, fiz a 2ª. força e a cabeça da Surya saiu! Daí  respirei fundo um tempo e logo fiz força mais 2 vezes e enfim, pela graça divina, a Surya nasceu as 21h18min do dia 31/07/2011! Os parentes entraram no quarto assim que ouviram o choro do bebê. Ela era perfeita, estava limpinha e chorando, (sinal de que ela estava respirando bem)! Peguei-a em meus braços e enquanto meu marido cortava o cordão umbilical, eu dizia chorando emocionada, em extase:



- Eu consegui! Eu consegui!!!!!!!!!!!! Obrigada Deus!!!! Eu consegui!!!

A pediatra examinou nossa pequena ainda nos primeiros momentos de vida, porém com muito respeito. Não foi necessário usar sondas, não foi aplicada nenhuma injeção de vitamina k ou ainda, colírio. Ela apenas ouviu seus batimentos, viu que seus sinais vitais estavam bem e logo me devolveu o bebê.  Uns 10 min depois do parto da Surya, a placenta saiu. Eu não senti nada, inclusive a anestesia local para me dar pontos devido a uma pequena laceração do períneo. Tudo acontecendo ali mesmo, em minha cama, e eu não senti nem a picada da agulha! Eu estava eufórica, feliz e muito exausta! Todos choraram muito! A emoção do nascimento é contagiante, é muita ocitocina! E estar em casa nesse momento tão especial foi incrível! Peguei minha filha no colo e dei muitos beijos nela! Olhei bem pro rosto dela pra ver como ela era! Ela era linda, perfeita, saudável! Olhou para todos no quarto assim que ela se acalmou. Logo ela achou meu peito e começou a sugar instantaneamente! Foi lindo demais! A melhor experiência da minha vida! O ato mais heroico que eu já realizei até hoje! Uma maravilha da natureza!

E como num passe de mágica, tudo voltou ao seu estado normal! Eu via as pessoas de novo.. kkkk.. conversei com todos e eles me contaram tudo! Comi um belo prato de comida, tudo em família, tudo delicioso!

Depois de algumas horas, as coisas se acalmaram e fomos todos dormir, com a Surya entre mim e meu marido. Não dormi a noite toda. Qualquer barulhinho que ela fazia, eu abria os olhos pra ver se estava tudo bem. Mãe de 1ª. viagem é assim, tudo é novo!


Quando nasce um bebê, nasce também uma mãe e um pai! É algo transformador para sempre, uma mudança radical! Mas também é a coisa mais linda que um ser humano pode fazer! Que nós mulheres podemos viver intensamente, com respeito ao nosso corpo e às nossas vontades. E principalmente, com respeito ao nosso bebê que está nascendo.

Viva o parto natural humanizado!

_Fernanda Rocha, mãe de Surya.

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