domingo, 22 de julho de 2012

Nosso modelo de assistência ao parto é adoecedor*

"Nos dias atuais, nascer naturalmente é uma questão de cidadania" Esta é a conclusão a que chega Maria do Carmo Leal, coordenadora da Pesquisa Nascer no Brasil, da ENSP Fiocruz. Aqui, "nascer naturalmente" significa receber uma assistência obstétrica e neonatal de qualidade, com profissional especialista em acompanhar a evolução da fisiologia do parto e detectar qualquer anormalidade que necessite de avaliação médica, com segurança. 

Para além dos indicadores em Saúde Pública, os resultados do nosso modelo de assistência ao parto representam a qualidade do acesso que as cidadãs brasileiras têm nos diferentes segmentos - SUS, plano de saúde, e via pagamento direto - para conseguir um "parto sem cortes", com mãe e bebê saudáveis, e íntegros.

A edição do programa Sala de Convidados que foi ao ar em 13 de julho de 2012, no Canal Saúde da Fiocruz, tem 54 minutos e é uma belíssima aula de Saúde Pública, sobre os diferentes modelos de assistência ao parto. 



Acesse aqui

(Vídeo disponível para download)



Os convidados são Marcos Nakamura, Marcos Dias e Maria do Carmo Leal. Dois médicos parteiros, e uma das mais brilhantes pesquisadoras do Brasil, na área da Saúde Materno-Infantil.

Um vídeo imperdível para quem gosta do tema, e para quem quer saber um pouco mais sobre o porquê nós NÃO nos impactamos negativamente com o UM MILHÃO de cesáreas desnecessárias que são realizadas no país, anualmente.

E de como esta é apenas um dos lados da questão, a mais extrema das intervenções obstétricas, entre tantas outras que são praticadas sem critérios de seleção, contrariando as recomendações de pesquisas científicas atuais. 

Imperdível para entender porque devemos apoiar e valorizar a assistência direta ao parto por enfermeiras, obstetrizes e parteiras.

Marcha das Vadias - autoria e local desconhecidos, publicada no perfil Parto Ativo
Ser perfeitamente saudável e poder escolher uma cesárea, TROCAR seu parto por uma CIRURGIA de grande porte, aqui no Brasil, e em outros países em que há muito desrespeito e violência contra as mulheres, você pode.

Mas estando perfeitamente saudável e poder escolher ter um parto domiciliar, com assistência de qualidade, e a segurança de que o hospital de referência está organizado para te receber muito bem em caso de uma transferência vir a ser necessária, conforme RECOMENDÁVEL por uma recente pesquisa inglesa, NÃO. Você NÃO PODE.

Nem 'parto humanizado' pelo plano de saúde pode!

Mais uma oportunidade que confirma o quanto nós não temos escolha:

- 95% de cesáreas no plano de saúde, significa que as mulheres não estão podendo escolher.
- 90% dos partos normais em posição de litotomia, significa que as mulheres não estão podendo escolher.
- Analgesia só para aquelas que 'descompensam', significa que as mulheres não estão podendo escolher.

Foto de Ana Carolina Franzon, em 02 de junho de 2012, Marcha das Vadias em Londrina-PR

E também são atos de violência obstétrica: uma mulher baixo risco chegar ao ponto de 'desconpensar' durante um trabalho de parto para o qual ela 'não colabora'; e só para encerrar, proibir as mulheres de terem a companhia de uma doula ou outra mulher com experiência de parto.

Tudo isso não precisa ser assim, aliás, deveria ser tudo inadmissívelEspero poder ver o dia em que ter parto de mãe e bebê perfeitamente saudáveis com médico seja algo considerado retrógrado, esquisito, notavelmente antiquado. Brega.

* Porque o nosso modelo de assistência ao parto é iatrogênico. Nos causa danos físicos e emocionais. E também é impossível não aproveitar para falar do nosso padrão de planejamento reprodutivo. Da falta de opção que temos, e de como muitas mulheres se submetem inquestionavelmente ao uso de hormônios anti-concepcionais. É a mesma lógica - do domínio e do controle do corpo das mulheres, só que em favor do homens.


Foto de Marcos AF Gomes, em 02 de junho de 2012, Marcha das Vadias em Londrina-PR 
Fotos - Porque parir e maternar livremente, e conscientemente, são atitudes super-feministas!  

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