Mesmo contra a vontade de muitas pessoas que nos discriminam, nós, parteiras tradicionais, continuamos existindo. Nós tivemos uma inquisição que dizimou milhões de parteiras na Europa e no Ocidente. Nós transmitimos o nosso saber por meio da oralidade. Eu me sinto honrada por ser herdeira das minhas antepassadas, em que muitas são parteiras. Eu tenho uma filha que é parteira e uma neta de 20 anos que é aprendiz de parteira. É assim que nós passamos a nossa tradição, de avó pra neta, de mãe pra filha. Nas cidades grandes, esse é um ofício que não é valorizado, e as mulheres que tem o dom de ser parteiras não descobrem esse dom.
Nós viemos da água. O ventre materno é sagrado porque todo ser humano passou pelo ventre de uma mulher. Portanto, todas as pessoas devem respeitar isso. A mulher precisa respeitar o seu próprio ventre. Se o trabalho de parto for bem feito, sem intervenções desnecessárias, a criança pode nascer dentro da bolsa das águas. É lamentável que os médicos rompem as bolsas das águas, seja em partos normais seja em partos cesáreos.
A mulher tem o corpo perfeito para a gestação e para o parto. Os partos em hospitais não são saudáveis, as pessoas devem nascer e morrer junto com seus familiares. Eu desejo que as águas do parto sejam respeitadas”.
Por Suely Carvalho, parteira tradicional e fundadora do CAIS do Parto, em Olinda/PE.
Fonte: http://acervodesaberes.wordpress.com/2012/10/05/a-agua-nas-tradicoes-culturais-brasileiras/
Foto: Acervo de Bianca Lanu, julho de 2010.
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