terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Relato: Nascimento de Nicole - Parto Normal Hospitalar

Vou relatar um pouco da história da minha gravidez para chegar ao parto da Nicole. Em 2004 engravidei sem planejar. Estava tão desligada com minha menstruação que custei a perceber que estava atrasada. Fiz um teste de farmácia e deu positivo. Contei para Deus e o mundo, ficamos todos (marido, mãe, sogros, amigos etc.) muito felizes. Duas semanas depois veio o diagnóstico: gravidez anembrionada. Meu médico me disse que eu teria que fazer uma curetagem e na época eu nem pensei em questioná-lo. O dia da curetagem foi o dia mais triste de toda a minha vida. Hoje entendo por que. Porque ficou tudo parecendo falha do meu corpo. Eu não tinha conseguido “produzir”, “fazer” um bebê, e ainda por cima meu corpo não expulsou o saco gestacional.

Depois desse acontecimento não pensei em engravidar. Na verdade tinha medo de tudo isso acontecer novamente. Tinha medo de passar por toda aquela tristeza de novo. Tinha medo de mais uma vez acontecer uma gravidez anembrionada e eu descobrir que não seria capaz de ser mãe.

Em maio de 2005, acordei de manhã com um pensamento fixo na cabeça: quero engravidar novamente. Passados alguns dias o pensamento fixava e se intensificava mais ainda na minha cabeça. Resolvi conversar com meu marido e ver o que ele achava, pois para mim a gravidez nunca foi um evento isolado. Engravidar significava muito para mim: a construção de uma família, onde ele, o pai, o marido, deveria estar totalmente presente (isso é um mecanismo meu para compensar a falta do meu pai). Ele concordou, ficou muito feliz e acredito eu que desde a outra gravidez ele estava esperando essa minha decisão.

Sendo assim, paramos de usar métodos contraceptivos e já na próxima ovulação aconteceu a fecundação. Eu sei exatamente o dia que aconteceu, pois no dia seguinte já me sentia grávida, apesar de não ter nenhum sintoma na gravidez inteira (enjôo, azias etc.). Só sentia um pouco de sono lá pelo terceiro mês de gravidez.

Pois bem, marquei consulta com o médico e iniciei a bateria de exames que sempre são solicitados. Iniciei uma busca frenética na internet sobre gravidez e parto porque desta vez eu não ia deixar as coisas acontecerem sem que eu soubesse exatamente o que estava acontecendo. Foi então que cai em um blogger que tinha um relato de parto humanizado. De lá, passei pelo site Amigas do Parto e cheguei, finalmente, a lista Parto Nosso.

Nesse meio tempo já havia trocado de médico por pura bobagem. Eu queria um médico especial, chique, pois era a MINHA gravidez tão esperada. Hoje eu vejo e sei que o meu primeiro médico era muito bom, defendia o parto normal (lembro disso porque eu cheguei a comentar que queria cesárea e ele gastou uns 30 minutos me explicando o porquê do parto normal ser melhor). Talvez (e aí eu não sei dizer, pois não cheguei a conversar com ele) ele seja um médico que é adepto ao parto normal, mas faça todas as intervenções. Talvez não.

Sei que depois disso fui parar, por uma indicação (uma amiga minha que tinha um excelente médico – detalhe: ela teve cesárea por falta de dilatação... rsrsrs) em um cesarista e lá fiquei até a 36ª semana. Nessa altura eu já estava bem interada na lista e nos assuntos e percebi que estava numa cilada e com a ajuda da lista mudei de médico pela terceira vez: fui para um médico humanizado.

De longe se via a diferença de tratamento, de opinião, de conduta. Esse último médico realmente assistia ao parto. Quem fazia era a mulher e no discurso dele, a todo o momento, era possível perceber essa postura!

Minha gravidez foi super tranqüila. Não tive nenhum problema, exames todos normais, ultra-sons (necessários ou não) todos normais, tudo bem. Foi então que tive o primeiro problema: pagar por ter a assistência desse excelente médico no meu parto. Conversei muito com pessoas da lista e a opinião de todos era que, não importa o valor e forma de pagamento, mas valia a pena fazer um sacrifício para ter esse profissional ao meu lado.

Eu acho que vale a pena ter essa segurança ao lado, mas eu não estaria totalmente tranqüila, pois não poderia fazer esse “sacrifício”. Na minha cabeça, o meu parto não poderia me deixar preocupada um minuto que fosse e na minha cabeça também estava mais fácil, mais tranqüilo, mais sereno, eu buscar alternativas do que “buscar” dinheiro para esse momento. O “arranjar” dinheiro, naquele momento, para mim, não estava me fazendo bem!

Sendo assim, comecei a cogitar alternativas. Visitei a casa de parto do Sofia Feldman e lá algumas coisas também não me deixaram a vontade. Foi então que comecei a pensar no óbvio: de ter o parto com plantonista de um hospital particular (o mais próximo da minha casa): situação essa que era a principio, a pior de todas. Comecei a me perguntar o que poderia dar errado, o que me impedia de ter esse parto com plantonista, o que iria fugir do que eu estava almejando, enfim, comecei a analisar friamente a situação. E cheguei à seguinte conclusão: eu estava informada e confiante que poderia ter um parto normal nesse hospital particular com o plantonista. Todavia eu tinha um plano B, mas a todo o momento sabia que não seria necessário usar o plano B. Foi algo instintivo mesmo: eu sabia que ia dar certo e isso tudo me bastava!!! Meu marido que estava muito participativo (por insistência minha e depois por muito interesse dele) em toda essa história também estava confiante!!! Então, estava decidido!!!!

A data provável para o parto conforme os dois primeiros médicos era dia 24/02. De acordo com o terceiro médico era dia 27/02. Eu estava trabalhando intensamente no meu trabalho e durante as noites e fins de semana eu estava trabalhando (ajeitando) na minha nova casa. Logo, quando soube que estava grávida aceleramos o término da construção da casa para que Nicole chegasse ao nosso novo lar. Em janeiro terminou a construção e em fevereiro começamos a acertar os detalhes finais para mudar. A cada final de semana ou fim do dia mudávamos uma parte da casa e eu com aquele barrigão subia e descia escada carregando coisas. Estava muito feliz. Cansada também, mas não deixava de fazer, pois sabia que isso muito iria contribuir para o meu parto. Dia 12/02 mudamos definitivamente para a casa nova. Também avisei no meu trabalho que esta seria minha última semana antes da licença, pois eu já estava considerando necessário descansar para o tão esperado dia. Além disso, as pessoas do meu trabalho estavam incomodadas comigo, com aquele barrigão, trabalho, dirigindo e a todo o momento me perguntavam se já não estava na hora de nascer. Eu respondia: não, ainda não está na hora. Fique tranqüila que você não vai precisar fazer meu parto. Chegou uma hora que eu já não agüentava mais responder para quando era, qual era o nome, se era menino ou menina etc.... Eu estava precisando de sossego, pois estive muito agitada nesse finalzinho de gravidez: tanto no trabalho, quanto em casa.

Trabalhei até dia 17/02. Fui para casa e disse para mim mesma: Letícia, agora você precisa descansar. Ainda arrumei algumas coisas na casa nova, coisas leves, tranqüilas. Sábado (18/02) à noite me senti extremamente cansada. Então deitei na minha cama, apaguei as luzes, liguei o rádio e comecei a relaxar. Antes fiz uma depilação nas minhas pernas (com a luz apagada), só sentindo minha pele. Pedi ao meu marido que fizesse uma massagem nos meus pés e pernas para que eu relaxasse e dormi.

Dia 19/02, as 02:00 am acordei com uma colicazinha. Achei normal, pois essas cólicas já estavam acontecendo há algum tempo, inclusive, na minha última consulta, no dia 16/02 eu já estava com 2 cm de dilatação. Fiquei muito feliz com essa notícia, pois eu já estava sentindo muito desconforto, já estava tendo contrações e já sentia Nicole bem baixa. Inclusive quando eu esvaziava a bexiga a sentia descendo e se posicionando. Então voltei a dormir. Mas não tive aquela noite de sono. De tempos em tempos eu acordava sentindo cólicas e comecei a pensar: mas será que estou entrando em trabalho de parto? Lá pelas 5:00 hs levantei e fui ao banheiro fazer xixi e também para ver se tinha algum sangramento ou se o tampão tinha saído ou se a bolsa tinha rompido. Percebi um catarro, bem pequeno e claro. Não parecia com o tampão que tinham me descrito. Percebi que eu estava mais úmida, mas isso já estava acontecendo a mais ou menos uma semana. Pensei: não é o trabalho de parto ainda não. Deitei para tentar dormir, mas não consegui. Ficar deitada doía. Então, por curiosidade comecei a anotar o intervalo entre as contrações e a duração também. Estavam de cinco em cinco, de seis em seis... Às vezes de 10 em 10 e duravam 20, 30 segundos. O que me deixou muito na dúvida era a dor. Era uma dor totalmente suportável e nada parecia com aquelas dores horríveis que ouvi várias mulheres falarem. Fiquei muito na dúvida se era ou não trabalho de parto. O meu último médico disse que as contrações do trabalho de parto são inconfundíveis e que eu saberia que estava tendo. Mas, isso não estava acontecendo. Era algo diferente, mas não tão doloroso assim.

Em certo momento, eu espirrei e senti que fique muito molhada. Fui ao banheiro e senti uma pequena quantidade de água descendo pelas minhas pernas. Também não parecia com as descrições que eu tinha sobre rompimento de bolsa. Fiquei achando aquilo tudo muito estranho. Acordei meu marido e começamos a conversar sobre o assunto: era ou não trabalho de parto?

As contrações continuaram. Era dolorido, mas nada assustador. Totalmente suportável. Eu ficava pensando: será que é isso o início do trabalho de parto? Nesse momento senti muito a falta de uma doula ou do médico para que eu pudesse ligar e conversar sobre o que estava acontecendo. Então, às 07:00 hs, decidi que ia ao hospital fazer uma consulta para saber se eu estava ou não em trabalho de parto, para saber se a bolsa tinha ou não rompido, para o medico auscultar o coração do bebê e sabermos se estava tudo bem. Se eu tivesse uma doula ou alguém que escutasse o coração do bebê com certeza eu teria ficado mais tempo em casa, pois as dores estavam super tranqüilas. Hoje digo com plena convicção que é muito importante ter alguém que conhece do processo do trabalho de parto na prática ao seu lado. Eu tinha muita teoria, muita informação, mas não bastou nesse momento.

Eu estava muito tranqüila. Cheguei ao hospital por volta de 08:00 hs. Na recepção, ao me sentar, senti mais uma leva de líquido escorrendo pelas minhas pernas. Fui ao banheiro e aí tive quase certeza que se tratava do líquido da bolsa. Fui encaminhada para o médico, conversamos, expliquei a situação e ao ser examinada, durante o exame de toque, senti muito líquido saindo e o médico disse que realmente minha bolsa havia rompido e que eu estava com os mesmos dois cm de dilatação. Confesso que fiquei desanimada, pois depois de algum tempo de contrações eu continuava com a mesma dilatação.

Era domingo e não tinha ninguém no hospital além de mim, meu marido, minha mãe e médicos e enfermeiros. O Dr. Renato optou por me deixar na sala de pré-parto para ver como evoluía. Como eu estava bem, concordei que poderia ficar lá sim. Antes de terminar a consulta eu disse a ele que eu queria parto normal, que eu diria a hora que queria tomar anestesia, que não ia ficar no soro e perguntei se ele fazia episio em 100% dos partos (foi aí que cometi um erro: eu deveria ter dito que não aceitaria episio e que preferia uma eventual laceração). Ele respondeu que depende da evolução do parto. Ele concordou com todas as minhas determinações, nem mencionou enema e tricotomia. Prescreveu que eu poderia me alimentar como quisesse. Compartilhou comigo minhas decisões e disse que era possível ser do jeito que eu queria, pois ele estava lá para ajudar e não atrapalhar. Fiquei muito feliz e extremamente tranqüila, pois apesar de não ter tido outro contato anterior com ele, ele foi super receptivo e calmo.

Fui para a sala de pré-parto e minha mãe e meu marido ficaram comigo e começamos a anotar o intervalo e duração das contrações novamente. Tava tão tranqüilo que fiquei andando pelo corredor do hospital e lendo os quadros de aviso interno deles. Depois de uma hora mais ou menos cansei de ficar lá e mandei chamar o médico. Eu já não tinha mais o que fazer para passar o tempo e estava ficando aborrecida. As contrações continuavam nas mesmas: uma ou outra que durava mais, chegando há uns 40 segundos. O intervalo entre elas era de cinco em cinco minutos, às vezes três, às vezes dois. Eu ficava me perguntando se estava cronometrando certo, pois era fato: eu estava em trabalho de parto, mas estava tudo tão tranqüilo que eu não estava acreditando. Cheguei a dizer: se for isso o trabalho de parto quero mais uns três filhos... rsrsrsrsrs.

Então fui encaminhada para o quarto. Lá eu podia ver televisão, usar o chuveiro e ficava mais à vontade. Depois de um tempo que eu estava lá chegou o médico e veio fazer um novo exame de toque. Eu estava com esperanças de estar com uns cinco cm de dilatação já, devido ao tempo e a duração das contrações. Fiquei super desanimada quando obtive a seguinte resposta: “Você está com quase quatro cm de dilatação”. Como assim, quase?????????? Depois de tanto tempo eu estava com quase quatro cm. Nem era quatro cm!!!!! Fiquei irritada e pensei, se for nesse ritmo, não vou dar conta de chegar nos 10 cm. Já estava cansada.

Mandei chamar o anestesista, pois queria conversar com ele sobre como seria (olha só: eu já estava com a idéia fixa na minha cabeça de tomar a anestesia). Ele veio me explicou tudo e foi embora. Junto com ele veio o Dr. Renato e outro médico obstetra que brincou ser residente do Dr. Renato. Esse outro médico trabalhou no Sofia Feldman por dois anos e acredito que ele estava lá para conhecer e conversar com a moça que queria parto natural!

Por volta de 13:00 hs (de acordo com meu marido, pois aí eu já não me lembrava que existia algo chamado relógio e que isso servia para registrar horas) a coisa começou a ficar “punk”. As contrações estavam bem intensas e demoradas. A essas alturas eu só ficava no chuveiro, o que aliviava muito as dores. Depois de certo tempo comecei a ficar cansada de ficar em pé, então, durante as contrações, eu ficava em pé no chuveiro, quando elas passavam sentava no vaso. (É, lá não tinha uma banqueta para eu sentar no chuveiro). E aí, assim, eu fiquei: sentava no vaso, levantava e ia para o chuveiro. Meu marido lá, me ajudando a levantar e a sentar. Minha mãe no quarto, tentando manter a calma e pensando em como ela poderia ajudar. E eu só sentindo as contrações. Tentava me lembrar de todas as dicas que eu li, então, quando vinha uma contração eu tentava relaxar e repetia para mim, na minha cabeça: “Pode vir Nicole. Já estamos preparados para receber você! Pode vir que você será muito amada!!!!”. Eu não gostei de massagem (não sei se é porque não souberam fazer). Aliás, em um determinado momento eu não queria que encostassem em mim. Ficava de cócoras, rebolava e dá-lhe chuveirada. Para mim não teve coisa melhor que a água quente batendo nas costas, porém, faltou muito uma banqueta para eu sentar embaixo da água.

Depois de um tempo, mandei chamar o médico. Precisava saber se o bebê estava bem e as quantas andavam os quase quatro cm de dilatação (aí que raiva... rsrsrsrs).

Então veio o médico com uma enfermeira maravilhosa, doce, um anjo. Quando ele chegou estava no chuveiro (pra variar) então ele esperou acabar uma contração e eu sair e me enxugar. A enfermeira me ajudou a deitar e me ajudou a relaxar para ele fazer o toque (como doía o toque...). Foi quando ele veio com a seguinte frase: “Você está com quase seis cm”. O que??????? Como assim??????? De novo quase????????? Isso não é possível!!!!! Nem são seis cm?????????

Ai eu descambei: “Doutor, eu achei que já estaria com sete cm. Já não estou agüentando de dor mais. Não está muito lento isso? Agora não agüento mais. Quero a anestesia”. Ele disse: “Ok! Vamos para o segundo andar (andar dos partos)”. Quando eu estava indo (de maca) tive que escutar de uma enfermeira: “Ah, agora ela quer anestesia.” Nem me dei ao trabalho de responder, pois a opinião dela pouco importava para mim. Além do mais, sei que é pura ignorância e isso não me incomodou e sim, me deu dó.

Chegando ao segundo andar, eu fui novamente para a sala de pré-parto o que me deixou irritada, pois apesar de lá ter chuveiro, eu não queria ficar lá (sei lá eu por que...). Dr. Renato entrou no quarto e disse: “Você vai mesmo querer a anestesia?”

Esse momento merece um parêntese: acredito eu que ele não queria que eu tomasse a anestesia já que tudo estava indo muito bem. Já tínhamos conversado antes e compartilhávamos da opinião de que o parto é muito melhor sem a anestesia. Porém, ele falhou nesse momento, pois ele poderia ter conversado melhor comigo e em um intervalo de contração. Lembro que ele me fez essa pergunta DURANTE uma contração e eu ainda consegui lembrar que no meu plano de parto estava escrito que qualquer decisão e/ou pedido meu deveria ser levado em conta apenas no intervalo da contração. Nunca durante a contração. Pois bem, diante dessa pergunta, na situação que foi feita, eu dei um berro: “Quero sim, rápido!”

Em um momento desses, não me lembro que foi antes ou depois da pergunta sobre anestesia, eu disse a ele que estava sentindo vontade de fazer coco. Eu sabia que se tratava dos puxos, mas como eu estaria com os puxos se eu estava com apenas “quase seis cm”? Algo me soa estranho nisso e se alguém da lista puder me ajudar a entender agradeço. Ele me disse que isso era um bom sinal e que quando eu sentisse isso, que eu fizesse força. Eu sabia que isso era um bom sinal e sabia também que eu deveria agir conforme eu achasse melhor e me sentisse bem, então, eu não fiz força, pois não me sentia bem. Estava insegura. Não entendia o porquê dos puxos com seis cm de dilatação...

Foi nesse momento que meu parto começou a me assustar. Eu me preparei demais para as contrações, mas não me preparei para os momentos finais (puxos, dilatação final, expulsivo). Na minha cabeça (e hoje eu tenho clareza disso - no dia eu não tinha) eu não me preparei para isso porque eu sabia que ia tomar anestesia. Ou seja, eu não estava preparada para um parto sem anestesia. Não estava preparada porque isso nem passou pela minha cabeça. Meu discurso era um, mas minha intenção era outra.

Mas, Deus é impecável. Ele sabe o que faz e faz tudo para que possamos crescer e evoluir. Eu fui para o bloco cirúrgico tomar a bendita da anestesia. Doíam muito às contrações e eu tinha que ficar deitada no caminho e chegando lá eu tinha que ficar curvada para o anestesista poder trabalhar. E, além disso, eu tinha que ficar quieta. Como ficar quieta com as contrações??????????? Impossível! Doía muito. Os puxos estavam muito fortes! Pois bem, depois de umas duas contrações o anestesista aplicou a anestesia e eu deitei (eu tinha pedido para o Dr. levantar a cama na hora do parto, mas ele não estava lá nessa hora). Quando eu deitei senti muita dor. Fiquei super assustada. Pronto: eu tinha entrado na Partolândia e nesse momento eu já não conseguia raciocinar nada, dizer nada, apenas gritar que ainda estava doendo e se a anestesia não iria fazer efeito. O anestesista disse que aplicou uma dose muito pequena (conforme eu havia conversado antes e solicitado que assim fosse) e que demoraria uns cinco minutos para fazer efeito, mas que eu continuaria sentindo a pressão, menos a dor. Mal ele acabou de dizer isso, a enfermeira soltou a seguinte frase que fez meu coração acelerar de medo e susto: chama o médico que está no expulsivo.

Como assim no expulsivo????????? Que expulsivo o que?????????? Eu tinha acabado de fazer um toque e estava com “quase seis cm” de dilatação. Não era possível!!!!! E a anestesia???????? Não vai fazer efeito???????

Nesse momento, comecei a gritar. Meus gritos eram de pavor, susto, medo. Fez muita falta uma doula nesse momento. Muita falta! Eu gritava: “Tá doendo, tá doendo ainda!!!!!!!! Chama meu marido!!!!!!!!!” Quando Paulo (meu marido) entrou, Nicole já estava coroando e ele viu a cabeleira dela.

Depois comecei a fazer uma checagem na sala de parto: “Cadê meu marido?” Paulo respondeu: “Estou aqui (realmente ele estava segurando a minha mão e eu não tinha visto)”. Aí eu gritei: “Cadê o pediatra?” Alguém respondeu: “Está ali.” Levantei a cabeça e vi um homem no cantinho da sala. Aí gritei: “Cadê o anestesista?” Ele respondeu, aparecendo do meu lado: “Estou aqui.” Gritei: “Cadê o médico?” O Dr. Renato respondeu, levantando o dedo como que respondendo a uma chamada: “Estou aqui.”.

Eu olhei nos olhos dele e disse (gritando): “Faz alguma coisa logo porque está doendo demais!” Então, em um determinado momento, uma enfermeira, outro anjo que caiu do céu, me disse num tom calmo e sereno: “Talvez se você usar sua força para fazer força ao invés de gritar será melhor para você.” Nesse momento eu entendi que eu tinha parado de participar do parto para gritar e que eu deveria esquecer se tinha ou não dado tempo da anestesia fazer efeito e cuidar do meu parto! Eu gritava porque achei que não ia sentir mais dor e estava sentindo. Então, eu não entendia nada!!!!

Quando ouvi o que a enfermeira me disse fiz força. Acho que nesse momento o Dr. Renato fez a episio, pois conforme ele era necessário. (Essa foi a segunda falha dele. Eu só fui saber que tinha feito episio depois que Nicole tinha nascido e eu fui perguntar a ele o que ele estava fazendo e ele me disse que estava dando pontos. Eu perguntei: “Que pontos?” E ele disse: “Da episio.” Me senti traída, mas ao mesmo tempo eu estava ciente desse risco. Segundo meu marido era impossível conversar comigo naquele momento e por isso o médico não me disse nada). Fiz mais uma força e a Nicole nasceu, às 14:55 hs. Foi um momento de alívio, êxtase, felicidade, emoção e outras coisas mais que nem consigo descrever. Olhei para ela na mesa, vi aquelas bochechas e aquele tanto de cabelo. Minha visão estava meio turva, mas achei-a linda, linda, linda. Fiz a pergunta idiota: “Ela não vai chorar?” (Eu sei que o bebê não tem que chorar quando nasce, mas sei lá porque eu soltei essa pérola...). Alguém me respondeu: “Calma, ela tem que ser aspirada.” Meu coração doeu. Pensei: “Agora ela vai para os procedimentos de rotina ... que dó.” Mas, ao mesmo tempo eu não iria argumentar contra isso em momento algum (nem antes, nem na hora e nem agora), pois não estou segura da real necessidade, ou não, desses procedimentos. Hoje eu sei que é porque também não me informei bem a respeito disso. Mais uma vez repito: eu estava muito preparada para as contrações (que era o que me metia mais medo), mas não estava preparada e informada para o que vinha depois das contrações.

Depois de o pediatra aspirá-la e fazer não sei mais o que, colocaram ela no meu colo. Ela parou de chorar instantaneamente. Isso é muito mágico. Ofereci o seio, mas ela não quis. Só ficou olhando para mim com aqueles olhões que ela me olha até hoje. Ficamos lá, alguns minutos, uma namorando a outra e, então levaram ela. Mandei meu marido ir junto e ele ficou olhando pelo vidro todos os outros inúmeros procedimentos que fizeram com ela.

Eu passei da cama que eu estava para a maca sozinha. Sentia minhas pernas um pouco dormentes, mas nada que me atrapalhasse. Hoje eu tenho certeza que pari praticamente sem anestesia. Ela começou a fazer efeito um pouco depois do nascimento e acabou o efeito rapidinho, tão pouco era a dose. Confesso que me arrependi de ter pedido a anestesia. Na verdade, meu pedido veio oficializar o que já estava certo na minha cabeça, independente de qual médico estivesse comigo.

Fui levada para uma sala ao lado para recuperação e uns cinco minutos depois trouxeram a Nicole. Colocaram-na do meu lado e ela mamou até eu chegar ao quarto. Chegando ao quarto lá estavam minha mãe, meu marido, meu sogro, minha sogra e meu sobrinho. Todos ansiosos por ver a mais nova integrante da família!!!!!!

Às 20:00 hs eu tomei banho (tive que esperar a enfermeira para me acompanhar no banho) e a partir daí sou só orgulho do meu parto. Consegui e consigo cuidar da minha filha sozinha, não preciso da ajuda de ninguém para me locomover e adoro contar para as pessoas que tive um parto normal e que estou muito bem, obrigada!!!!

Eu elaborei um Plano de Parto e iria fazer na semana que estaria de licença uma carta de intenções para entregar ao médico quando chegasse ao hospital. Porém, esqueci de levar o Plano de Parto no dia e não deu tempo de fazer a carta. Acho que meu parto foi muito tranqüilo, apesar da confusão que eu fiz no final. Acho também que cada uma tem o parto para qual está preparada. Sei que meu próximo parto será diferente e melhor, mas esse parto foi para mim muito especial. Tenho orgulho de mim por ter conseguido e tenho orgulho de mim por ter intuído que o atendimento do plantão seria bom. Para mim o doutor plantonista foi o médico mais humanizado que encontrei desde que soube que estava grávida, pois tivemos uma sintonia que aconteceu ali, na hora, porque ele foi receptivo. Ele não atrapalhou, apenas fez o seu papel de assistir ao parto, apesar das duas intervenções. Creio que nós, mulheres, devemos lutar por partos cada vez mais dignos e acho que isso pode ser feito de diversas formas: partos domiciliares, equipe de parto humanizado, Casas de Parto e agora também tem mais uma opção: fazer valer nossos direitos em qualquer hospital, com qualquer médico. Nessa minha experiência concluí que o trabalho da doula é fundamental, pois apesar de meu marido e minha mãe estarem preparados para me ajudarem (e terem ajudado muito) faltou alguém com experiência prática no assunto. Alguém que pudesse passar mais segurança. Talvez uma boa luta seja exigir que os hospitais permitam, não só a presença do pai, mas também da doula durante o parto.

No mais, agradeço a lista pelo enorme aprendizado, agradeço a meu marido que foi um companheirão e agradeço a minha mãe por estar comigo nesse momento tão especial. Agora, vem uma parte muito difícil e que está sendo um enorme aprendizado: aprender a cuidar de um recém nascido!!!!

_Leticia Dawahri Menezes, nascida de Parto Normal Hospitalar, em 1980, esposa de Paulo, nascido de Parto Normal Hospitalar, em 1976, mãe de Nicole, nascida de Parto Normal Hospitalar, em 2006 e de Yasmim, nascida de Parto Domiciliar, em 2008.

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