quinta-feira, 6 de junho de 2013

Respeito ao parto, violência obstétrica e amamentação

Esta semana, a Violência Obstétrica ocupou o jornal venezuelano Correo del Orinoco, uma publicação do governo daquele país. Neste post, publicamos a tradução livre do texto "Respeito ao Parto, Violência Obstétrica e Amamentação". Já sabemos que, desde 2007, o país reconhece, tipifica e condena civilmente os abusos, maus-tratos, negligências, imperícias e imprudências cometidas e praticas por profissionais de saúde durante o atendimento de mulheres para a gravidez, parto e pós-parto. Assinado pelo coletivo La Araña Feminista, o texto fala da realidade de milhares de mulheres venezuelanas, mas poderia perfeitamente representar nossa experiência. La Araña Feminista é também um grupo socialista e partidário que defende a política de Hugo Chávez, e nos chama a atenção, muito positivamente, a forma com que esse governo trata do tema. Aqui no Blog Parto no Brasil, você encontra diversas experiências que trouxemos de lá para cá se procurar pela palavra-chave "Venezuela"; não deixe de conhecer especialmente os posts:






Respeito ao parto, violência obstétrica e amamentação


"A violência obstétrica é, sem dúvida, uma das manifestações mais concretas e corriqueiras do sistema de dominação patriarcal, que se materializa no seqüestro dos processos naturais do trabalho de parto"


A celebração da Semana Mundial pelo Respeito ao Parto e Nascimento é uma oportunidade para chamar a atenção, especialmente da mídia, sobre um drama humano que tem sido naturalizada pela maioria dos cidadãos, governos e organizações sociais. O nome deste terrível problema é "violência obstétrica", delito tipificado na “Lei Orgânica sobre o Direito das Mulheres a uma Vida Livre de Violência”. 
A violência obstétrica é, sem dúvida, uma das manifestações mais concretas e corriqueiras do sistema de dominação patriarcal, que se materializa no seqüestro dos processos naturais do trabalho de parto. A proibição da mobilidade, a aplicação de fármacos e métodos artificiais para acelerar o trabalho de parto, a agressão verbal e física contra as mulheres, a tomada de decisões sem o seu consentimento, a negação da presença de um acompanhante; enfim, um conjunto de práticas do sistema industrial de saúde que anulam a capacidade das mulheres de parir e cuidar de seu bebê.
Um dos principais desafios que enfrentam as pessoas e organizações que trabalham para aumentar a consciência coletiva sobre esse problema é que - ao fazer-se cotidiana - as mulheres não percebem como agressão as ações exercidas pelo sistema de saúde sobre seus corpos, suas famílias e mais gravemente ainda sobre seu bebê, a não ser que sejam realmente extremas.
Ao contrário do que se pensa, as mulheres não são as únicas vítimas da violência obstétrica. Os bebês sofrem agressões semelhantes às vividas por suas mães durante e depois do parto ou cesárea. Esta visão mais ampla do problema está descrita na “Lei Orgânica sobre o Direito das Mulheres a uma Vida Livre de Violência", que também qualifica como crime a separação da mãe de seu bebê sem justificativa médica, o impedimento do contato pele a pele precoce e da amamentação imediatamente ao nascer.
Separar o bebê recém-nascido de sua mãe tem implicações para a saúde física e emocional do binômio mãe-bebê. Impede que a cria, logo ao sair do útero, volte ao corpo materno que constitui seu habitat, onde consegue regular seu metabolismo, a respiração, a freqüência cardíaca, temperatura e onde obterá o alimento permanente (leite materno), que irá garantir sua saúde e sua vida.
Na maioria dos locais de nascimento, tanto públicos como privados, o recém-nascido é separado de sua mãe assim que nasce para que possa ser realizado um conjunto de procedimentos médicos, alguns deles profundamente violentos, praticados sem o consentimento ou a presença da mãe e do pai, realizados por rotina ou protocolo e não devido ao estado de saúde-doença de cada um.
Particularmente dois dos procedimentos realizados na maioria dos centros de saúde no momento do nascimento são determinantes para o início da amamentação.
São eles: o uso de incubadoras e a prática de dar mamadeiras de glicose e/ou fórmulas lácteas para os bebês durante a sua estadia no centro de saúde. Ambas as práticas são não só contrariam à natureza do recém-nascido e da mãe, mas são profundamente violentas, já que produzem nos recém-nascidos inúmeros episódios de choro, e na mãe, ansiedade, estresse e perda de confiança.
Entender que a amamentação é a continuação da gestação do mamífero humano é imprescindível para compreender que a violência exercida sobre as mulheres durante o parto e nos dias seguintes também é uma violência contra os bebês, e por isso deve ser visibilizado em todas as ações que visam humanizar o parto e o nascimento.

Manifestação na Venezuela, com participação de grupo feminista/chavista La Araña Feminsita, foto daqui

Fonte:

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