Por Cláudia Rodrigues *
Bianca Lanu, convidou-me a escrever um texto sobre a
entrada de médicos no Brasil para suprir, não a carência de médicos no país --temos
médicos brasileiros em número suficiente-- mas para garantir cobertura de
medicina básica nos rincões do país, carentes dos nossos elevados
profissionais.
Nossos médicos não querem ir aos rincões. Os motivos são muitos e os argumentos fazem algum sentido. Falta de garantias trabalhistas, estabilidade, plano de carreira e principalmente falta de equipamentos de ponta. No interior não há hospitais equipados. Dentro desse paradigma, estão cobertos de razões.
Formados por universidades tecnicistas, por uma medicina focada mais na doença do que na saúde, nossos médicos saem das universidades sem condições mínimas de atender um parto natural sem intervenções. Passam cinco anos viciando-se no uso de equipamentos, são inseguros para fazer exames clínicos, aprendem a ver o corpo humano como uma máquina que precisa se adequar, menos ao ambiente familiar, ecológico em que estão inseridos e mais às premissas de uma medicina extremamente invasiva, muito focada no achado da doença e menos no restabelecimento da saúde, na auto-regulação, no equilíbrio do corpo humano.
Nossos médicos de maneira geral -- excetuam-se aí os médicos de família, os homeopatas, os humanistas que foram contra o Ato Médico e são favoráveis a uma interdisciplinaridade entre todas as profissões da saúde -- fazem parte de um nicho mercadológico, crias de conselhos corporativos que nos últimos anos cresceram dentro do paradigma consumista que está a ruir.
Nesse nicho de mercado dominante a química de um medicamento se sobrepõe aos benefícios químicos dos alimentos, por exemplo. O corpo humano, essa máquina antiga que sempre vai precisar de água pura, entope-se de líquidos açucarados, salgados, comidas literalmente envenenadas. Não importa, mais química é preciso. Comeu sal, a pressão está alta? Tomemos remédios, química para regular a pressão. É o menos mal sobre o mal já feito, o nosso doutor também bebe coca-cola, o nosso doutor não sabe ajudar a jovem mãe a amamentar, ele precisa ter em mãos no posto de saúde um leite artificial. O nosso doutor não pode visitar a casa do doente e reparar se ali é possível ter uma horta, dar dicas sobre o assunto, ele não é agrônomo, esse não é o serviço dele.
Assim que não vou escrever sobre a medicina e o caso dos médicos argentinos, espanhóis, portugueses e cubanos que estão chegando para viver a aventura de prestar serviços médicos básicos de saúde, mas sobre como nós todos, cidadãos do país, leigos em medicina, usuários de serviços médicos, passamos a comprar e crer nessa medicina que nos foi passada como ideal, para não dizer perfeita, para não mencionar que no fundo já acreditamos em elixir da vida eterna via entubação e cirurgias em velhinhos de 90 anos.
Quero escrever sobre o medo que essas corporações têm
apresentado diante de soluções simples e eficazes, principalmente de baixo
custo e que nos fazem muito mais bem do que mal nos recolocando no lugar de
onde nunca deveríamos ter saído. Somos bípedes que andam 4 km/h. Podemos e a
maioria de nós nasce bem melhor de parto natural humanizado, sem intervenções,
com notáveis vantagens, do que via cirurgia. Isso mudou na medicina moderna. O
paradigma tecnicista conseguiu transformar o parto em doença de alta
periculosidade. Depois disso é preciso ter duas pulgas atrás da orelha para
qualquer recomendação médica, especialmente se ela vem atrelada a dezenas de
exames, vinculadas à máquinas que emitem radiação, o que é o caso dos
mamógrafos.
Ano passado morreram em acidente no RS algumas mulheres de 40 anos que estavam viajando para fazer mamografias preventivas na capital. Elas não haviam lido estudos da Força- Tarefa canadense, que não recomenda esse exame para mulheres de menos de 50 anos, que vê a recomendação desse exame para mulheres entre 50 me 65 anos com restrições e novamente não recomenda a partir dos 65 anos, posto que o número de sobrediagnósticos e superdiagnósticos é muito alto. O sacrifício de deixar o trabalho, os filhos, a casa, não valia a pena de morte do acidente, mas elas morreram sem saber e os jornais noticiaram o problema: falta de mamógrafos nos rincões do Brasil.
Milhares de pessoas no mundo têm migrado para o questionamento às vacinações em massa, estão se dando o direito de pensar, ler e estudar sobre os eventuais efeitos colaterais das vacinas, escolhendo que vacinas querem tomar ou dar em seus filhos. Não é coisa de natureba, as vacinas não são inócuas, pesquisas independentes, não vinculadas aos interesses dos grandes laboratórios, estão disponíveis para consulta e reflexão. Difícil decisão, vacinas têm salvado a humanidade de calamidades, mas em nome disso muitas falcatruas vêm tomando conta do mercado em altas negociatas em nome da saúde. Milhares de pessoas no mundo estão migrando para outras formas de prevenção de doença, manutenção e restabelecimento da saúde. Essas pessoas são formadoras de opinião, essas pessoas não temem questionar seus médicos, essas pessoas querem saber mais e se recusam a ser peça no jogo econômico.
O grande boom do mercado da medicina está sendo ameaçado e nos últimos meses isso ficou muito claro. Dezenas de presidentes de conselhos e sindicatos que representam a categoria médica no país escreveram artigos, deram entrevistas para rádios e televisões criticando o programa “Mais Médicos”. Esses profissionais não falam de saúde, não falam de agrotóxicos, não estão engajados em programas sociais, não fazem parte de comunidades de bairro Defendem claramente um mercado, não uma ideologia, defendem a complicação das doenças, não falam de gente, não falam para as gentes, não inserem as pessoas no território em que estão, em seu ambiente, não criticam o sistema que adoece, lucram com ele, investem nele.
Não é estranho que tendo como público os ricos que frequentam lindos consultórios particulares ou sejam atendidos via planos de saúde, eles se ressintam tanto com o futuro do Brasil de pés descalços. O projeto era maior e estava encravando-se no sistema público de saúde como uma peste. A exemplo das fundações nas universidades, o mesmo vem ocorrendo no SUS, a medicina privada com vínculos estapafúrdios com o SUS. Reformas em hospitais públicos com dinheiro privado dão uma cara de assistencialismo e benfeitorias, mas são na realidade sugadoras do SUS com intenções e modos de operação muito bem definidos para sucatear o que é público e de direito e vender serviços. A classe C e D estavam migrando maciçamente para os planos de saúde, enquanto a A e a B começavam a questionar e debandar, com milhares de processos e queixas.
Ao importar médicos, ao investir em postos de saúde com interdisciplinaridade, o governo trai o sistema privado, retirando dos conselhos o poder político de gerir a saúde. É pouco ainda, merecemos e queremos mais médicos humanizados, mais médicos de família, mais liberdade para as parteiras, para os enfermeiros, mais valor ao trabalho dos psicólogos, dos nutricionistas, dos fisioterapeutas, dos terapeutas, dos optometristas, dos acupunturistas e de todos aqueles que podem tratar o ser humano de forma realmente preventiva, antes que ele vire um doente que realmente necessita de médico e serviços médicos.
A ideia de que a prevenção de doenças se dá exclusivamente por máquinas, exames, remédios e cirurgias em larga escala está na berlinda e isso é assustador para um sistema que gera bilhões de reais. Isso é amedrontador para uma classe profissional que cresceu como rainha absoluta no mercado.
Isso causa pânico naquele jovem urbano que fez medicina pensando mais em trocar de carro anualmente do que em olhar nos olhos de dezenas de seres humanos carentes e pobres do nosso país. É um medo imenso que surge na classe médica brasileira porque afinal os formadores dessa opinião que aprendemos a ouvir, estão sendo desmascarados em seus reais interesses, que são evidentemente corporativos e extremamente capitalistas.
Mas afinal, os médicos estrangeiros vão resolver os problemas de saúde no Brasil?
Não, eles vão no máximo atenuar. Eles não são deuses. Haverá casos de pessoas que precisarão ser relocadas para hospitais, para grandes centros, haverá uma série de problemas que só poderão emergir com diagnósticos médicos graças a esses médicos importados.
Ano passado morreram em acidente no RS algumas mulheres de 40 anos que estavam viajando para fazer mamografias preventivas na capital. Elas não haviam lido estudos da Força- Tarefa canadense, que não recomenda esse exame para mulheres de menos de 50 anos, que vê a recomendação desse exame para mulheres entre 50 me 65 anos com restrições e novamente não recomenda a partir dos 65 anos, posto que o número de sobrediagnósticos e superdiagnósticos é muito alto. O sacrifício de deixar o trabalho, os filhos, a casa, não valia a pena de morte do acidente, mas elas morreram sem saber e os jornais noticiaram o problema: falta de mamógrafos nos rincões do Brasil.
Milhares de pessoas no mundo têm migrado para o questionamento às vacinações em massa, estão se dando o direito de pensar, ler e estudar sobre os eventuais efeitos colaterais das vacinas, escolhendo que vacinas querem tomar ou dar em seus filhos. Não é coisa de natureba, as vacinas não são inócuas, pesquisas independentes, não vinculadas aos interesses dos grandes laboratórios, estão disponíveis para consulta e reflexão. Difícil decisão, vacinas têm salvado a humanidade de calamidades, mas em nome disso muitas falcatruas vêm tomando conta do mercado em altas negociatas em nome da saúde. Milhares de pessoas no mundo estão migrando para outras formas de prevenção de doença, manutenção e restabelecimento da saúde. Essas pessoas são formadoras de opinião, essas pessoas não temem questionar seus médicos, essas pessoas querem saber mais e se recusam a ser peça no jogo econômico.
O grande boom do mercado da medicina está sendo ameaçado e nos últimos meses isso ficou muito claro. Dezenas de presidentes de conselhos e sindicatos que representam a categoria médica no país escreveram artigos, deram entrevistas para rádios e televisões criticando o programa “Mais Médicos”. Esses profissionais não falam de saúde, não falam de agrotóxicos, não estão engajados em programas sociais, não fazem parte de comunidades de bairro Defendem claramente um mercado, não uma ideologia, defendem a complicação das doenças, não falam de gente, não falam para as gentes, não inserem as pessoas no território em que estão, em seu ambiente, não criticam o sistema que adoece, lucram com ele, investem nele.
Não é estranho que tendo como público os ricos que frequentam lindos consultórios particulares ou sejam atendidos via planos de saúde, eles se ressintam tanto com o futuro do Brasil de pés descalços. O projeto era maior e estava encravando-se no sistema público de saúde como uma peste. A exemplo das fundações nas universidades, o mesmo vem ocorrendo no SUS, a medicina privada com vínculos estapafúrdios com o SUS. Reformas em hospitais públicos com dinheiro privado dão uma cara de assistencialismo e benfeitorias, mas são na realidade sugadoras do SUS com intenções e modos de operação muito bem definidos para sucatear o que é público e de direito e vender serviços. A classe C e D estavam migrando maciçamente para os planos de saúde, enquanto a A e a B começavam a questionar e debandar, com milhares de processos e queixas.
Ao importar médicos, ao investir em postos de saúde com interdisciplinaridade, o governo trai o sistema privado, retirando dos conselhos o poder político de gerir a saúde. É pouco ainda, merecemos e queremos mais médicos humanizados, mais médicos de família, mais liberdade para as parteiras, para os enfermeiros, mais valor ao trabalho dos psicólogos, dos nutricionistas, dos fisioterapeutas, dos terapeutas, dos optometristas, dos acupunturistas e de todos aqueles que podem tratar o ser humano de forma realmente preventiva, antes que ele vire um doente que realmente necessita de médico e serviços médicos.
A ideia de que a prevenção de doenças se dá exclusivamente por máquinas, exames, remédios e cirurgias em larga escala está na berlinda e isso é assustador para um sistema que gera bilhões de reais. Isso é amedrontador para uma classe profissional que cresceu como rainha absoluta no mercado.
Isso causa pânico naquele jovem urbano que fez medicina pensando mais em trocar de carro anualmente do que em olhar nos olhos de dezenas de seres humanos carentes e pobres do nosso país. É um medo imenso que surge na classe médica brasileira porque afinal os formadores dessa opinião que aprendemos a ouvir, estão sendo desmascarados em seus reais interesses, que são evidentemente corporativos e extremamente capitalistas.
Mas afinal, os médicos estrangeiros vão resolver os problemas de saúde no Brasil?
Não, eles vão no máximo atenuar. Eles não são deuses. Haverá casos de pessoas que precisarão ser relocadas para hospitais, para grandes centros, haverá uma série de problemas que só poderão emergir com diagnósticos médicos graças a esses médicos importados.
A saúde no Brasil só vai melhorar quando a consciência sobre
o que é a prática da medicina for aprofundada antes dos estudantes prestarem
vestibular, durante a faculdade e com estágios obrigatórios em hospitais
públicos. Infelizmente a vocação para a profissão, mais voltada para status e
poder, precisa ser repensada e isso diz respeito a toda sociedade, que aprendeu
a mitificar a figura do médico e a desqualificar outras importantes figuras na
saúde preventiva. Ainda falta algo muito importante a ser feito, que é apertar
ainda mais o cerco à medicina privada no Brasil, encarar a privataria,
questionar os conselhos e se for o caso, instalar CPI.
Encerro o texto com a narrativa de uma amiga, mãe de um estudante de engenharia da computação e de um estudante de medicina.
“Sabe, Cláudia, que coisa estranha isso do status do médico no Brasil, parece até uma doença. Imagine você, eu tenho igual apreço pelos cursos que meus filhos escolheram, os dois estão bem com o que escolheram, em ambas as profissões há coisas boas e más, mas no elevador do meu prédio, estava descendo com meu filho que faz engenharia da computação, e isso aconteceu duas vezes, duas vezes com o mesmo filho, a vizinha perguntou...É esse o seu filho que vai ser médico? Eu respondi que não, esse é o que vai ser engenheiro de computação e daí ela fez assim uma cara de decepcionada. Na segunda vez, o mesmo filho, a mesma pergunta, a mesma vizinha, ainda estiquei explicando que esse filho havia feito um estágio fora do país e estava já se formando e ia casar, de tão bem que estava. A mulher de novo fez cara de decepção”
É isso, é a mentalidade “mais médico” infiltrada nas entranhas da população que fez com que o governo necessitasse desse programa emergencial, cujo nome não poderia ser mais ironicamente adequado. É um nome homeopático, um tratamento homeopático, similibus.
Encerro o texto com a narrativa de uma amiga, mãe de um estudante de engenharia da computação e de um estudante de medicina.
“Sabe, Cláudia, que coisa estranha isso do status do médico no Brasil, parece até uma doença. Imagine você, eu tenho igual apreço pelos cursos que meus filhos escolheram, os dois estão bem com o que escolheram, em ambas as profissões há coisas boas e más, mas no elevador do meu prédio, estava descendo com meu filho que faz engenharia da computação, e isso aconteceu duas vezes, duas vezes com o mesmo filho, a vizinha perguntou...É esse o seu filho que vai ser médico? Eu respondi que não, esse é o que vai ser engenheiro de computação e daí ela fez assim uma cara de decepcionada. Na segunda vez, o mesmo filho, a mesma pergunta, a mesma vizinha, ainda estiquei explicando que esse filho havia feito um estágio fora do país e estava já se formando e ia casar, de tão bem que estava. A mulher de novo fez cara de decepção”
É isso, é a mentalidade “mais médico” infiltrada nas entranhas da população que fez com que o governo necessitasse desse programa emergencial, cujo nome não poderia ser mais ironicamente adequado. É um nome homeopático, um tratamento homeopático, similibus.
* Jornalista e terapeuta reichiana desde 1998. Além disso, escreveu os livros: "O lado esquerdo da asa da borboleta amarela" e "Bebês de mamães mais que perfeitas", tendo realizado Brasil afora oficinas de Gravidez, Parto & Simbiose, e Inscrições Corporais.
Olá!
ResponderExcluirAcabei de ver no face que terá uma oficina com a Claudia.
Onde acontecerá??
Em respeito ao post, eu tinha esse pensamento: "Nossa, fulano é DOUTOR, é MÉDICO. Que chique!"
Hoje continuo admirando, assim como admiro todas as outras profissões que contribuem de alguma forma.
Beijos!
Olá Brenda!
ResponderExcluirA oficina acontece em São Paulo, capital, no Tatuapé - próximo ao metrô.