sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Parto no Brasil entrevista Adriana Vieira - Agosto de 2013


Publicamos hoje uma entrevista realizada em agosto c/ a querida Adriana Vieira, doula, educadora perinatal, instrutora de Yoga e coordenadora do Namaskar Yoga, na Baixada Santista. Na ocasião ela estava em seu puerpério da filhota Dora, nascida de um parto normal após duas cesáreas!








PARTO NO BRASIL Adriana é um prazer ter você neste espaço para nos contar como foi gestar após os 40 anos, e, também buscar um parto natural, após duas cesáreas anteriores! Conte-nos como foi este processo!

ADRIANA R: Obrigada pela oportunidade em estar aqui também. Sempre li o blog, e por aqui aprendi muito com outras mulheres, com as informações que vocês passam, então, fico feliz em estar falando sobre o meu parto e minha vivência e espero poder ajudar também. 
O processo foi longo e cheio de aprendizado. Posso dizer agora que havia uma Adriana antes do parto normal e outra agora. Renasci como mulher! Foi a experiência mais divina que já tive.
Bem, tive duas cesárias: uma há 22 anos e outra há 20. Na época achei que a cesariana era o melhor pra mim e para meu bebê, pois ouvia isso constantemente, tanto de amigas, familiares, como de médicos, e não questionei. Por sorte, entrei em trabalho de parto em ambas gestações, mas como tive uso de ocitocina (o que chamam de sorinho, no hospital) não aguentei a dor e acabei indo pra cesariana. 
Mas tudo começou há sete anos, quando estive na Holanda e acabei fazendo um curso de Iyengar Yoga em Amsterdã.  Lá comecei a ouvir falar sobre Yoga pré-natal e Yoga para casais grávidos, e então comecei a estudar por lá. Assim, conheci o trabalho das midwifes e das doulas.
Fiz um curso em Amsterdã e me encantei com esse mundo das gestantes, e dos casais que se preparavam pra ter seu parto, pra serem protagonistas desse momento. E vi uma realidade por lá muito diferente do que via aqui: a maioria das mulheres queriam o parto normal e tinham seus bebês em casa, com todo apoio da família, marido, e também do governo.
Quando voltei ao Brasil comecei a dar aulas de Yoga bem direcionadas para as gestantes,  e elaborei alguns cursos para os casais grávidos, pois em Santos, onde moro, não havia nenhum curso que realmente preparasse os casais pra um parto natural, ou normal. 
Então, conheci um grupo em São Paulo que falava a língua que eu estava começando a entender, e lá fiz vários cursos para começar atuar como doula aqui no Brasil. 
Realmente aprendi a importância do parto normal para a mulher, para o bebê, para o casal em si! Me apaixonei por esse mundo e há cinco anos abri a Namaskar Yoga, com esse intuito: levar informações para que as mulheres e casais pudessem fazer suas escolhas conscientes em relação ao seu corpo, ao seu parto. Por isso, temos grupos gratuitos, encontros para gestantes e casais que realmente buscam essas informações.
Bom, essa viagem a Holanda que mudou minha vida profissional, mudou ainda minha vida pessoal. Me casei com um holandês e viemos morar no Brasil, e então, quando completei 42 anos, em 2012, decidimos ter um bebê, já que meu marido ainda não tinha filhos, e eu estava realmente louca pra ser mãe de novo!
A gravidez foi de baixo risco, sem nenhuma intercorrência, ou seja, saúde perfeita: pressão ótima, peso ok, nenhuma doença crônica.
Bom, com tudo normal, minha médica, um anjo na minha vida, me liberou para uma viagem que eu já tinha marcado antes de saber que iria engravidar. Então, com quatro meses de gestação fui para Dubai e Índia, onde estive por 22 dias, estudando mais sobre Yoga e saúde da mulher, bem como passeando bastante com Dorinha na barriga.
Continuei a levar minha vida normalmente, mas claro, sem excessos. Doulei alguns partos durante a gravidez, até completar 30 semanas. Mas como dou aulas de Yoga para gestantes, continuei com essa atividade, e acrescentei a caminhada na praia e mais meditação. Mas depois, com 36 semanas parei de dar aulas de Hatha Yoga e Yoga para crianças, pra descansar um pouco mais, fisicamente. Senti essa necessidade e assim fiz.
Eu e meu marido queríamos tentar o parto em casa e já tinha o apoio de uma equipe, com quem trabalho já aqui na minha cidade, Santos. 
Como eu já tinha duas cesárias anteriores, durante o trabalho de parto eu não poderia ter nenhum medicamento, caso precisasse ajudar a dilatar, então, decidimos ficar em casa. Entrei em trabalho de parto num domingo, e tive minha bebê na madrugada de terça-feira, 23 de julho. Passamos a segunda-feira toda em TP (trabalho de parto). A equipe trabalhou muito comigo, e me ajudou bastante, pois foi um parto longo. E meus dois filhos, Aline, 22 anos e Thales, 20, ficaram comigo o tempo todo também me ajudando, bem como meu marido. Cada momento foi importante. 
Num trabalho de parto longo como foi o meu, todo o preparo anterior é de total importância! Eu praticava Yoga e meditação, e ambos me ajudaram muito, pois o parto é físico e mental! Ambos precisam estar em sintonia. 
Bom, outra coisa que me ajudou muito foi a total sintonia com meu marido e meus filhos. Cada olhar, cada palavra. 
Num longo TP , qualquer coisa poderia ter me desanimado, mas com uma boa equipe, pessoas te ajudando e preparo físico e mental anterior, resultou no que tive: um parto normal vaginal.

PARTO NO BRASIL Compartilhe conosco seu parto, e nos conte como foi a participação de seu companheiro, e filh@s durante o trabalho de parto e parto.

ADRIANA R: Ficamos em casa domingo e segunda, e eu entrei em trabalho de parto franco, na segunda-feira. Liguei para a doula na segunda de manhã, mas as contrações ainda estavam espaçadas, porém, ritmadas. Como eu já não havia dormido bem de noite, devido às contrações, resolvi ligar pra ela. Ela chegou em casa, ficamos fazendo alguns movimentos na bola, eu caminhava, agachava etc. Eu ainda estava conversando e interagindo bem com todos em casa. Quando as contrações começaram a ficar mais fortes, comecei a querer ficar mais em silêncio, e a usar mais o chuveiro. Aliviava muito as dores, a água quente na lombar. E então, depois do almoço, eles montaram a banheira no meu quarto. Foi excelente também! Tomamos um lanche, feito pela minha mãe, já no final da tarde, pois entre uma contração e outra, parece que nada havia acontecido. Com isso, aguentei bem as contrações nesse período. Depois das 18hs, aí sim comecei a achar que as contrações estavam bem fortes, e a coisa foi ficando pior e pior! Enfim, a equipe auscutava sempre os batimentos da bebê, e ela colaborava sempre. Coraçãozinho sempre ótimo. Então, eu poderia continuar meu TP. E então, comecei a fazer força. Chegava ao período expulsivo. Contrações mais perto umas das outras e muito doloridas. Nessa hora lembro que o que eu mais queria é que alguém da equipe, ou meus filhos, marido, continuassem a acreditar em mim e que eu iria passar essa fase, e então minha filha ia nascer. E foi exatamente o que fizeram. Me falavam que já estavam vendo o cabelinho do bebê, e brincavam comigo, enfim, me incentivavam sempre. 


Mas, a equipe viu que eu estava com um edema na vagina, e que a dor que eu sentia era também do edema, e esse período do expulsivo foi se tornando mais e mais longo. A bebê estava bem, mas já há muito tempo no canal vaginal, então, resolvemos ir para o hospital e tomar uma analgesia pra não sentir mais tanta dor. Foi tudo bem rápido. Cheguei no hospital depois da 1 da manhã, e ela nasceu antes das duas. Na terceira força que eu fiz Dora coroou. Parto vaginal, sem episiotomia, sem corte nenhum na vagina. Um bebê bem esperto, sadio e lindo! Minha Dora chegou e foi o momento mais emocionante da minha vida, do meu marido, da minha mãe e dos meus dois filhos mais velhos. Eles não  haviam assistido um parto anteriormente. E viram e vivenciaram tudo comigo, na sala de pré-parto, pois nem entramos no centro obstétrico. Tive ela no quarto.
Meu filho, Thales, foi quem cortou o cordão, e foi extremamente emocionante pra mim assistir de certa maneira, meu filho e minha filha. Detalhe:  eu tirei a foto dele cortando o cordão, uma cena inesquecível! Minha filha e minha mãe estavam comigo e adorei tê-las por perto. Maridão o tempo todo pertinho, e logo que Dora nasceu, ele a segurou no colo, e só largou para que ela viesse mamar, o que aconteceu logo nos primeiros minutos.
Me senti a mulher mais feliz do mundo, mais poderosa, mais forte e vi que minha família toda vibrou com minha alegria! Foi divino. Nos trouxe uma união incrível.

PARTO NO BRASIL Você também atua como doula e educadora perinatal, além de instrutora de Yoga. Como está sendo a vivência da maternidade durante o puerpério, e os primeiros dias amamentando Dorinha, aliado à vida profissional, nessa área.

ADRIANA R: Como mulher, mãe e doula, fico feliz em ter tido essa experiência, e aos 42 anos. Me percebi ainda mais. Senti o poder que temos sobre nossa mente, sobre nosso corpo, e também como podemos aprender sobre nossos limites, medos e como ultrapassá-los. Percebi, que tudo que venho aprendendo e ensinando com o Yoga foi fundamental pra que eu tivesse essa percepção, física e mental, e como é importante sermos responsáveis pela nossa decisão do que queremos, do que podemos fazer por nós mesmas. E como é importante escolher bons profissionais pra ter nesse momento, e apenas as pessoas importantes e essenciais pra você nesse momento tão importante, tão privado, que é nosso parto e o nascimentos de seu bebê, de uma nova família. 
Percebi ainda mais a importância da privacidade e do silêncio durante o trabalho de parto e no parto realmente. E o respeito à gestante para que ela possa ficar consigo mesma e perceba o que seu corpo pede, que posição ficar, como agir, pois no fundo, cada mulher sabe o que precisa fazer e como agir.


Dora nasceu num ambiente amoroso, sem intervenções desnecessárias e veio logo pro meu peito mamar. Ficou comigo o tempo que quisemos. Pôde mamar, pôde parar de mamar quando quis. Fomos pra casa no dia seguinte. Tomei banho sozinha, claro, e me sentia inteira, física e mentalmente. Sem cortes ou cicatrizes, sem dores, sem medos, pelo contrário, me sentia a super mulher, super mãe. Percebi a admiração também de meu marido por tudo que fiz, que consegui. Na verdade, tudo o que juntos conseguimos! 
Hoje me sinto uma profissional também mais completa, como doula e educadora perinatal me sinto plena. Pude passar pelas duas experiências diferentes, e assim, sinto-me mais capaz pra ajudar muitas mulheres, pois saber na prática o que a teoria nos diz e isso é realmente algo profundo. Espero assim, poder ajudar ainda mais as gestantes e os casais grávidos.
Vejo hoje, ainda mais, também que devemos dar uma extrema importância para o período pós-parto. Pois, começamos uma nova fase,  tanto para o casal, que se torna uma família, como para o binômio mãe-bebê, que tem que se adaptar a tudo: amamentação, dormir menos etc. 
Como eu já havia amamentado meus dois primeiros filhos, e já sabia que queria amamentar exclusivamente também até os seis meses, e que no início, nem sempre amamentar é fácil, então, tive bastante paciência, até eu e Dorinha nos adaptarmos uma a outra, nesse balet que é o amamentar. Depois de uma semana, tudo já estava fluindo naturalmente, sem dores, sem medos, sem ansiedade. Ela mama bem, e claro, dorme muito bem. 
E adoro fazer massagem nela, a Shantala, pra que ela não tenha muitas cólicas. Ela ama receber. Também logo dei o banho de ofurô nela, com três dias, pois acredito que remeta o bebê ao útero, e eles amam esse tipo de banho. Embalo ela numa fralda e a mergulho até o pescocinho, deixando o rostinho de fora, claro, e mantendo o corpinho dela imerso no baldinho. Ela fica paradinha, apenas sentindo, e ama também.
Como casal também conversamos muito sobre as mudanças que passamos. Acho isso importante, principalmente pra quem é pai ou mãe de primeira viagem, pois meu marido, que é pai agora, pela primeira vez, aos 47 anos, está percebendo como as mudanças são grandes para o casal. E ele tem aprendido muito e cuidado muito bem da Dorinha também, pois achamos importantíssimo para que eles dois criem um bom vínculo, que ele também faça todas as atividades e tenha os cuidados com ela, como dar banho, trocar fralda, fazê-las dormir, etc.
O pós-parto é um período que requer muito cuidado de ambos, marido e mulher, para que passem bem por essa fase, com um novo serzinho a ser cuidado, uma fase sem sexo pelo menos nos 40 primeiros dias, enfim, muitas mudanças e novidades. Bater papo é o melhor para um bom entendimento e para que a nova família se vincule e se fortifique. Se tivesse que dar um conselho diria pra o casal e bebê terem sempre um tempo sozinhos, sem visitas, sem compromissos e preservem o bebê desses tumultos, por pelo menos 15 a 20 dias. Isso, acredito, faz o trio se vincular mais e melhor! 
Eu me sinto privilegiada por tudo que passei. Me sinto privilegiada por ter conhecido esse caminho, meu marido, essa família que tenho, e pela profissão que estou trilhando. E creio que toda mulher que tiver essa vontade, esse desejo de ter seu parto normal, corra realmente atrás de informações úteis para realizar esse sonho, que nos realiza como fêmeas realmente. 
E claro, aprendi e aprendo muito com as mulheres que doulei, e também com as alunas que ministrei aulas de Yoga pré-natal, e quero cada vez mais retribuir tudo isso. E através do meu trabalho, penso que posso dar um pouco do que recebi!
Se tive meu parto lindo e tão gratificante dessa maneira, foi porque outras mulheres me ensinaram muito! E isso me faz amar mais e mais o trabalho que faço como doula. E acredido muito, que nosso "trabalho" na vida seja realmente nossa "missão". Algo muito maior do que "ganhar" dinheiro pra viver. O trabalho depende da nossa energia e essa depende de como lidamos com o que fazemos, então, quanto mais amor, melhor você se doa, e mais você recebe. Uma roda cíclica de linda em nossas vidas!
E assim tudo foi acontecendo em minha vida. O espaço Namaskar Yoga foi se moldando dia após dia. E fico feliz, porque, se tem tido procura pelas aulas e cursos que ministramos por lá, é porque as mulheres e os casais grávidos estão realmente buscando ser protagonistas de seus partos. Isso vai fazer mudar a triste realidade do nosso país, que hoje é um campeão de cesárias desnecessárias. 
Eu estou retomando as atividades na Namaskar aos poucos, percebendo o ritmo que seja bom pra minha bebê Dora também. Quando ela fez 15 dias participamos do encontro mensal e gratuito que transmitimos ao vivo, via internet, e é dedicado aos casais grávidos, nossa Roda de Mães da Baixada. 


Quanto às aulas de Yoga também volto a dar em setembro, quando completo 40 dias de pós parto.
Em setembro vamos voltar ainda com as aulas de Babyoga, que é pra ser feita pela mãe com o bebê.
Mas claro, devemos perceber nosso bebê, e sentir como eles se comportam, se essas saídas atrapalham ou não o sono e a mamada deles. Por enquanto, Dora fica muito bem no meu colo, no wrap ou sling, quando participamos desses eventos. 


E assim é a fase de puerpério, um eterno aprendizado entre pais e bebês, com uma linda jornada pela frente: a Vida!


(Re)leia outras entrevistas!

Rebeca Celes

Janet Balaskas

Kalu Brum

Mayra Calvette

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