Hoje vou compartilhar com vocês a história de uma amiga, e de como vi, a partir de minha percepção como necessitamos ressignificar as dores, e como isso não é permitido, quando temos, enfim, um bebê saudável nos braços, depois de uma cesárea bem indicada.
Luana, 21 anos, gestava Miguel.
Passou a gravidez buscando boas informações, além das consultas médicas, em Botucatu, interior paulista. Mesmo assim, lhe faltou oportunidades de estar num grupo de gestantes e casais, para trocar as emoções, sensações, expectativas de gestar um bebê. Ela também optou por não ter uma doula ao seu lado.
A Lua vira, e com mais de 38 semanas ela perde o tampão mucoso, uma espécie de muco que costuma sair, no fim da gravidez, pelo colo do útero, indicando sua abertura, mesmo assim varia de mulher e gestação, e não é indicação de trabalho de parto. Mas, no caso de Luana já veio acompanhado de contrações. Bora correr para o Hospital Universitário da UNESP!
Com um dedo de colo uterino dilatado, foi aconselhada a voltar para casa. Chuveiro, descanso, casa cheia, ansiedade. E, o relógio passa, tic tac tic tac...
Volta para o hospital! As contrações aumentaram!
Mesmo assim, o trabalho de parto estava longe de ser ativo. E, ela e seu esposo desejavam tanto receber Miguel em um parto normal, mas depois de mais de 30 horas, o obstetra observou que sua cabecinha estava mal colocada, além disso, após romper o saco amniótico verificou um líquido esverdeado, e optou por operá-la, imediatamente, assim, o bebê nasceu via cesárea.
Mesmo com toda a emoção que um nascimento provoca, toda alegria contagiante de ver o rostinho de seu filho, tão aguardado, e sim, saber que está tudo bem, e que foi preciso ser assim, é normal e humano se entristecer! Mas, a sociedade nos cobra o oposto, e fundamenta, inclusive,
como a cesárea é ótima, já que seu bebê nasceu de uma, e, claro, agendada,
para não termos imprevistos -
imagina sair no meio da noite para parir, que absurdo, com tanta tecnologia e modernidade tsc tsc...
Pela rede social afora vi quantos comentários Luana recebia com esse mesmo discurso, com essa cobrança, impossibilitada de vivenciar sim seu luto. O luto de que não foi como sonhava, de que seu corpo não atendeu a fisiologia do nascimento, assim a dor tem que ser abafada, dentro do peito...
Obviamente ficamos felizes quando um filh@ nosso nasce, saudavelmente, e se foi preciso uma intervenção como essa, que ótimo que pudemos ser atendidas, e com todo o respeito, mas ressignificar as emoções, o nó na garganta, a lágrima que afoga também são precisos, e preciosos, até mesmo para o vínculo entre mãe-bebê, a descida do leite, a amamentação, as novas noites sem dormir, enfim, os novos desafios que a maternidade nos presenteia, para, junto daquele serzinho, crescer!
E, tratando sobre esse assunto me vem a palavra empatia. O tal de se colocar no lugar do outro, e não dizer com aquele sorrisinho: "
Mas, o importante é que blábláblá...". E, sim: "
Eu imagino sua tristeza!", ou apenas o silêncio, e um abraço - como vi nesta animação muito bacana, que compartilha essa mensagem -
aqui.
Finalizo, com um pequeno relato de Luana Prado Godoi, abaixo:
O último clic!
"E foram 37 horas em trabalho de parto, 37 horas com contração atrás de contração. Mas infelizmente o parto não ocorreu do jeito que eu previa, Miguel teve que nascer de cesárea pois estava encaixado sim mas com a cabeça torta, viradinha. Não tinha como nascer de parto normal naquela posição. Sem falar que a bolsa foi estourada pelo médico e o líquido já estava esverdeado, outro motivo para fazerem a cirurgia. Mas tanto eu, como os médicos e enfermeiros fizemos de tudo e mais um pouco para que o Miguel viesse ao mundo naturalmente, tanto que eu já estava com quase sete dedos de dilatação Pexão (seu esposo) e eu ficamos tão tristes por não ter sido o parto que tanto esperávamos, mas essa tristeza logo passou quando vimos o rostinho do nosso abençoado homenzinho, que nasceu lindão e cheio de saúde. Mas Deus é testemunha de que fiz o possível, aguentei tudo firme e forte, e se não aconteceu: amém! Deus sabe de todas as coisas. O que me alivia é saber que o Miguel veio no tempo dele e que essa cesárea foi uma cirurgia realmente NECESSÁRIA!".
Nasce um bebê, e um pai!
Miguel S2